Vinhos tintos de verão: Conheça 5 rótulos refrescantes que combinam perfeitamente com a estação mais quente do ano

Vinhos tintos de verão: Conheça 5 rótulos refrescantes que combinam perfeitamente com a estação mais quente do ano

Alguns vinhos tintos combinam perfeitamente com o verão, basta escolher rótulos refrescantes

Com a chegada da estação mais quente do ano vem sempre aquele senso comum de que vinho tinto é para beber no inverno e os brancos, no verão. Claro que um gostoso espumante, um refrescante branco e um sedutor rosé nos vem à mente nesses dias, na beira de piscina, na cadeira da varanda, na praia, no piquenique, porém gostaria de apresentar alguns rótulos tintos que se adequam ao verão, especialmente por sua estrutura.

 

FOTO SOLOVYOVA | ISTOCKPHOTO

 

É o caso da uva Gamay, aquela dos deliciosos vinhos do estilo francês Beaujolais. Aqui no Brasil, a Miolo produz um gama com as próprias leveduras – é um vinho fresco e frutado que deve ser consumido em temperatura mais baixa do que normalmente consumimos os tintos.

Outros exemplos são os vinhos da casta Pinot Noir, com suas diversas alternativas, como os Aurora Pinot Noir Varietal, ou o Pinto Bandeira e o Talise Pinot Noir (Vinci Vinhos). Há também os vinhos da gostosa uva País do Chile, como o Pedro Parra (WorldWine), e o Dolcetto D’Alba – italiano com grande frescor e sedutora fruta, além do Dogliani San Luigi (Mistral).

 

 

Da esquerda para a direita: Vinho Gamay, da Miolo; Aurora Pinot Noir Varietal; Pinto Bandeira; Talise Pinot Noir; e Dogliani San Luigi | Foto Divulgação

 

Todas essas castas citadas acima lhe darão grande prazer, sempre refrescados a 12ºC ou 13ºC, o que se consegue em 15 minutos de balde com gelo e água. Um vinho refrescado realça a acidez e a fruta, isso possibilita curtir perfeitamente um tinto no verão.

Para harmonizar, priorize sanduíches, saladas que incluam mozzarella e tomates, além de bruschettas, quiches diversas, saladas de batata com rosbife, e mesmo os antepastos italianos tão gostosos como as caponatas, os pimentões sem pele e temperados, as azeitonas temperadas e o queijo parmesão.

Aproveite sua taça no verão sem medo. Saúde!

Série documental “O Canto Livre de Nara Leão” homenageia os 80 anos da cantora, desconstrói o título de Musa da Bossa Nova e inspira futuros dias de festa

Série documental “O Canto Livre de Nara Leão” homenageia os 80 anos da cantora, desconstrói o título de Musa da Bossa Nova e inspira futuros dias de festa

Enquanto a folia nas ruas não é possível, algumas músicas e produções audiovisuais para inspirar futuros dias de festa

“Quem me vê sempre parado, distante
Garante que eu não sei sambar
Tou me guardando pra quando o Carnaval chegar
Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando
E não posso falar
Tou me guardando pra quando o Carnaval chegar”

 

Como na música de Chico Buarque, estamos aqui parados, só esperando esse Carnaval que não chega. É o segundo ano que minha coluna carnavalesca encontra a folia adiada. Mas não vamos desistir agora, aproveitamos para falar de música e cinema. Nara Leão, a fundamental, esteve com Chico e Bethânia no filme de Cacá Diegues que inspira este texto e que também é o nome da música “Quando o Carnaval Chegar”. Os três protagonizam uma deliciosa fábula em que esperam um rei para uma grande festa de Carnaval. O rei não chega e a história se desenvolve deliciosamente com romances, apresentações mambembes, um ônibus colorido e muita música boa cantada pelo trio.

Lançado em 1972, em plena ditadura, o longa foi um respiro de alegria. O disco com a trilha sonora tem Assis Valente, Tom e Vinicius, Braguinha, Lamartine e várias de Chico Buarque.

Nara Leão também está no ar agora com um belíssimo documentário em capítulos, “O Canto Livre de Nara Leão”, dirigido por Renato Terra e disponível no GloboPlay. Mais do que uma cantora importante, Nara é um grande exemplo como artista e mulher. Aos 12 anos já apresentava o jazz para Roberto Menescal, amigo e parceiro da vida toda. Aos 15, recebia os amigos no apartamento de seu pai, onde nasceu grande parte do que foi a Bossa Nova. Recusou o título de musa e foi cantar o samba do morro com Zé Kéti e o sertão nordestino com João do Vale no espetáculo Opinião.

 

Foto Divulgação

 

Nara performou a vitoriosa “A Banda” com o amigo Chico nos festivais da canção. Fez parte da Tropicália, gravou “Lindonéia”, mas não apareceu para a foto da capa como também não foi à passeata contra as guitarras. Gravou Roberto e Erasmo quando toda a chamada “MPB” achava cafona e popular demais. Não gostava que lhe exigissem maquiagem nem figurino.

Não fazia o que não acreditava. Feminista, libertária, honesta, de voz deliciosa, violão muito bem tocado e uma sensibilidade artística rara e vanguardista.

É lindo ver Nara Leão hoje admirada, ouvida, aclamada. Esse documentário é um sucesso, porque é muito bem feito, com imagens e depoimentos incríveis. Mas é também porque Nara Leão é uma mulher que dá alegria e orgulho de conhecer. Por isso o documentário “O Canto Livre de Nara Leão” é como o filme de Cacá Diegues. Um sopro de esperança para quem está guardando tanta alegria adiada, abafada, para quando o Carnaval chegar. Até lá seguimos cantando e ouvindo Nara, Chico, Bethânia e tantos outros que corajosamente nos fazem rir e chorar em tempos duros.

Pousadas aconchegantes próximas a São Paulo para aproveitar neste feriado de Carnaval

Pousadas aconchegantes próximas a São Paulo para aproveitar neste feriado de Carnaval

Vamos aproveitar que ainda não vencemos a pandemia para curtir o Carnaval em refúgios próximos a São Paulo

Este vai ser o nosso segundo ano sem Carnaval. Quem tem sua casa no campo, na serra ou na praia já tem destino certo para aproveitar o feriado mais disputado do ano nas estradas paulistas, mas quem ainda não decidiu aonde ir e quer se isolar das ondas da Covid-19, pode se inspirar por aqui. Sugiro regiões serranas, onde o calor do verão é ameno, mas suficiente para curtir o dia em trilhas, cachoeiras ou piscinas.

Começo com São Francisco Xavier, na Serra da Mantiqueira, que é uma versão de Campos do Jordão sem agito e sem aglomerações, e dá total preferência ao sossego e à natureza. Fica a 150 km da capital, no município de São José dos Campos. Para se hospedar, indico a Pousada Serra do Luar, a Varanda da Mantiqueira, o Teto do Cafundó, o Chapéu de Palha e A Rosa e o Rei. Essas pousadas oferecem uma comida caseira bem honesta, o que se procura em um lugar como esse.

Outra pérola no mesmo estilo e na serra da Mantiqueira, mas em Minas Gerais, é a cidade de Gonçalves. A 210 km de São Paulo e a 1.350 metros de altitude, a vista encanta. Pela quantidade de araucárias, parece até que estamos na serra gaúcha.

Gostoso de dia e bem fresquinho à noite, esse é outro local ideal para quem gosta de caminhadas com direito a muitas cachoeiras. Pertinho do centro se encontra a Sete Quedas, que reúne as mais famosas.

Como as pousadas em geral estão no ponto mais alto, é comum poder olhar para os vales, principalmente de manhã, cobertos de nuvens. Além de lindo, dá a sensação de estarmos muito mais longe e mais isolados do que realmente estamos. Por ali, destaco o “birdwatching”. Os amantes dos pássaros contam com mais de 250 espécies de aves catalogadas para avistar! E o que não faltam são ateliês, artesanato e quitutes.

A culinária da região levanta uma bandeira orgânica em meio ao cardápio de comida mineira. São várias boas surpresas pela cidade, como o Sauá, dentro da pousada Bicho do Mato, e o Nó de Pinho, por sua vez na Solar d’Araucária. Não precisa estar hospedado para frequentar, ambos ficam abertos para o público e merecem a visita.

Essas duas pousadas fazem parte das minhas indicações de hospedagem no município, assim como a Casa Campestre, que acredito que seja a mais confortável, tanto que ganhou vários prêmios, como o da Traveller’s Choice.

Pousada Casa Campestre, em Gonçalves | Foto Divulgação

 

Para os amantes da mesa é obrigatória a parada no Geminus Gastroarte. Além de terem estagiado com Alex Atala, os chefs Fernando e Juliano Basile trabalharam em alguns restaurantes estrelados na Europa e oferecem menus degustação de 3, 5 e 7 etapas.

Qualquer um desses destinos irá tornar seu feriado tão tranquilo e gostoso, que você provavelmente não vai se lembrar que existiu alguma restrição ao Carnaval. Até!

Uma das promoters mais requisitadas do Brasil, Carol Sampaio diversifica seu trabalho e abre agência digital

Uma das promoters mais requisitadas do Brasil, Carol Sampaio diversifica seu trabalho e abre agência digital

Conhecida por ser uma carioca, flamenguista e carnavalesca de corpo e alma, a empresária Carol Sampaio abraça oportunidades no digital e foca em uma rotina saudável para seguir trabalhando muito

Quem vê festa pronta não vê ralação. Ou melhor, quem vê post glamuroso não vê labuta. Essas são frases que definem a rotina de Carol Sampaio. Uma das promoters mais requisitadas do Brasil e responsável pelas listas de famosos em eventos como Rock in Rio, Lollapalooza e por camarotes na Marquês de Sapucaí, Carol também está à frente da festa mais carioca do país, o Baile da Favorita – que lança e impulsiona grandes nomes do funk nacional, como as cantoras Ludmilla e Anitta, e há 10 anos transforma a relação de marcas e da sociedade com o ritmo que é a cara do Rio de Janeiro. Tudo é fruto de muito trabalho, que vai do networking, do marketing a toda produção – consolidados na CS Eventos, que traduz o olhar atento e sensível da empresária para a Cidade Maravilhosa.

“Gosto dessa diversidade e da mistura. Estamos todos na mesma praia! Temos a mesma cidade para curtir, e o samba e o funk são elementos culturais muito representativos desse lifestyle que tanto amo”, define. Hoje, Carol não é “apenas” PR, seu trabalho se desdobrou e desmembrou na supervisão de diferentes setores de sua empresa. “Ainda sou promoter, mas a CS também cuida do cerimonial, do marketing, assim que recebemos um evento, nos dividimos para entender o que o cliente quer atingir”. Além das festas icônicas que marcam o Rio, a empresa atende casamentos, aniversários e organiza encontros corporativos.

No meio dessa multiplicidade toda, há quatro anos ela também abriu a Stage Digital – agência que conecta marcas a celebridades e influenciadores. Durante a pandemia, a paralisação dos eventos foi compensada pela demanda de trabalho da Stage, que viu crescer suas operações em quase 100% em um ano. Como inovação é sempre bem-vinda, a agência foi a primeira a trazer lives de vendas ao país. “Eu abraço oportunidades, não limito a minha carreira.”

E foi mesmo preciso resiliência para enfrentar as restrições impostas à realização de eventos durante muitos meses entre 2020 e 2021. “Foi muito desafiador, todo o setor precisou se ajudar, é preciso entender que há muita gente envolvida, não tivemos para onde ir. A princípio o online funcionou, mas agora é necessário tirar forças e encontrar caminhos para eventos seguros. Entretenimento é um trabalho, não é inimigo.”

 

FOTO REPRODUÇÃO INSTAGRAM

FOTO REPRODUÇÃO INSTAGRAM

 

Foliã desde pequena

Hoje com 38 anos, Carol desfila na Sapucaí desde os 13. “A Grande Rio é a escola de samba do meu coração e foi no Sambódromo que comecei a trabalhar com eventos, organizei o primeiro camarote, depois fui convidada para estar à frente de outros, foi um grande boom na minha vida.”

Duas mulheres foram fonte de inspiração para o trabalho da empresária – as promoters Alicinha Calvacante e Fernanda Barbosa. “Mas hoje o que mais me estimula é ver tantas mulheres trabalhando em agências e nas produções, o que era incomum até há pouco tempo. As garotas estão tomando à frente e percebo que também inspiro, recebo esse impacto do meu trabalho!”

 

Foto divulgação

Foto divulgação

 

Apaixonada pelo Rio de Janeiro, os eventos com assinatura Carol Sampaio carregam o amor ao Carnaval e à cidade. “Luto pelo Rio de Janeiro e valorizo a cidade em tudo o que eu faço”, resume. É, principalmente, esse o trabalho que coloca a empresária em destaque: ela é quem seleciona quem aparece nos camarotes e áreas exclusivas de eventos gigantes que acontecem e já aconteceram no Brasil, como Rock in Rio, Copa do Mundo, Carnaval e Olimpíadas. “Fazer parte da realização da Copa foi muito especial, sou apaixonada por futebol, mesmo com o 7×1, valeu muito a pena!”

A disposição para conhecer tantos lugares e estar entre tantas pessoas veio da inquietude de sempre. Na escola, Carol adorava esportes. Praticava vôlei, luta, futebol. “Fui para a faculdade ainda querendo ser atleta, e o destino me fez festeira, mas não queria ser festeira, queria ter escritório, queria ter equipe”, lembra.

 

Carol Sampaio em Montevidéu, no jogo do Flamengo - Foto divulgação

Carol Sampaio em Montevidéu, no jogo do Flamengo – Foto divulgação

 

Negócios carnavalescos

O cancelamento do Carnaval de 2021 teve grande impacto na cadeia produtiva do setor de eventos do país. Pelo menos R$ 8 bilhões deixaram de circular na economia brasileira no ano passado, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). E cerca de 25 mil empregos temporários deixaram de ser criados em janeiro e fevereiro do ano passado.

A empresária é sócia em um dos camarotes mais badalados da Marquês de Sapucaí, o Nosso Camarote. O line-up de 2022 já inclui os cantores Luan Santana, Pocah, Anitta e Ludmilla. “Estamos a todo vapor para organizar as festas deste ano, é possível fazer os eventos na Sapucaí com passaporte de vacina e ampliação da testagem, é um caminho intermediário. Ainda não há segurança para blocos na rua, mas podemos preservar a realização dos desfiles”, enxerga. Carol reforça ainda que muitas famílias esperam por esse momento para trabalhar. “Geramos empregos e isso é muito importante.”

 

Carol ao lado dos cantores Ludmilla e MC Marcinho, no Baile da Favorita de 2018 - Foto divulgação

Carol ao lado dos cantores Ludmilla e MC Marcinho, no Baile da Favorita de 2018 – Foto divulgação

 

Pé no chão

Quem acompanha Carol Sampaio nas redes sociais supõe que ela não troca as festas por nada. Mas, em momentos de lazer, a empresária faz o oposto que a maioria e escolhe o descanso. “Gosto de ficar em casa com minhas amigas, adoramos uma jogatina, e amo ver Netflix e tomar vinho com meu namorado (o chef Frederico Xavier Rocha), ele sempre faz os melhores pratos, hoje mesmo fez risotto de funghi delicioso.”

Para aguentar o ritmo intenso de trabalho e dos eventos, o segredo é, sem dúvidas, o equilíbrio. Tomar água de coco no Arpoador, correr na praia, dar uma volta na Lagoa, pedalar e malhar são atividades que fazem parte da rotina de Carol, e das quais ela não abre mão. “Nunca bebi durante as festas que organizo, enquanto os outros festejam, estou trabalhando. É preciso ter pé no chão, porque a agenda é cheia, as demandas não param e já não tenho a mesma energia de quando era mais nova. O conselho sempre é estar centrada.”

 

Carol Sampaio em Fernando de Noronha - Foto divulgação

Carol Sampaio em Fernando de Noronha – Foto divulgação

 

Aos 75 anos, Alceu Valença celebra sucesso planetário com quatro novos álbuns

Aos 75 anos, Alceu Valença celebra sucesso planetário com quatro novos álbuns

Nascido em julho de 1946, o cantor, compositor, advogado, cineasta, poeta e jornalista Alceu Valença celebra seus 75 anos agora em 2021. Confinado em seu apartamento no Leblon desde o início da pandemia, aproveitou para rever toda sua obra e compor canções inéditas. Enquanto isso, o mundo todo também mergulhou nos velhos sucessos desse trovador natural de São Bento do Una, no Agreste pernambucano. Na bruma leve das paixões que vêm de dentro, mais e mais pessoas dos quatro cantos do planeta – da Suécia à Argentina, do Canadá aos Emirados Árabes – se juntaram aos fãs de Alceu após “descobrirem” e se apaixonarem por alguns de seus clássicos, como “Belle de Jour” e “Anunciação”.

Agora, com o avanço da vacinação e a flexibilização das restrições sanitárias, o músico volta aos palcos, para shows no dia 25 de setembro em São Paulo (no Espaço das Américas) e nos dias 22 e 23 de outubro na capital fluminense (na casa de espetáculos Vivo Rio).

 

Alceu Valença - Foto: Leo Aversa | Divulgação

Alceu Valença – Foto: Leo Aversa | Divulgação

 

Na entrevista a seguir, Alceu fala sobre seus novos álbuns, discute o passado e o futuro, filosofa sobre o seu DNA nordestino e tenta explicar a viralização global de seus antigos hits.

Como foi sua quarentena, foi um período produtivo?
Todo mundo aqui se contaminou com esse vírus antes da pandemia se instaurar, logo depois do Carnaval de 2020. Eu, meus dois filhos e minha mulher testamos positivo, mas tivemos sintomas leves. Para mim, esses meses de confinamento foram improdutivos e produtivos. Improdutivos porque tive de cancelar 40 shows pelo Brasil e outros 14 na Europa. Mas foi também uma fase muito produtiva, porque compus cerca de 30 novas canções. Viajo muito e, nessas turnês, nunca sou eu quem cuida do meu violão. Eu só me encontro com ele na passagem de som, pouco antes dos shows. Nesses últimos meses, trancado em casa, tive a oportunidade de me reconectar com o instrumento. Há décadas não tocava tanto violão. Como resultado desse grande encontro nasceram 4 álbuns. Dois que já estão nas plataformas digitais e mais dois que serão lançados em breve.

E como foi a escolha do repertório desses álbuns?
Cada álbum tem um roteiro sentimental, as músicas contam uma história que se formou na minha cabeça, misturando releituras de velhos sucessos, tesouros garimpados nos lados B dos meus discos e composições inéditas. O primeiro, “Sem Pensar no Amanhã”, lançado em março, começa na praia de Boa Viagem com “Belle de Jour”, sobrevoa igrejas de Olinda em “Mensageira dos Anjos”, viaja com “Táxi Lunar” e vai a Itamaracá com “Ciranda da Rosa Vermelha”. A música me levou a lugares que a quarentena me impedia de visitar. Não há vírus capaz de deter a poesia. Já “Saudade”, o segundo álbum, lançado agora em agosto, começa com o samba “Era Verão”, que fala da minha mudança do Recife para o Rio, no começo dos anos 1970. Daí eu encontro uma morena com “Tropicana”, nós nos amamos “Como Dois Animais”, vivemos os conflitos de “Tesoura do Desejo”, mergulhamos em “Solidão” e “Saudade” e, ao final, nos reconciliamos no meu Pernambuco com “Ladeiras” e “Olinda”. Nos próximos dois discos, vou explorar mais a fundo os ritmos do Nordeste profundo, com baiões, xotes, martelos agalopados, toadas e emboladas.

Pelos títulos dos álbuns, parece que você não quer falar sobre o futuro (“Sem Pensar no Amanhã”), mas aceita sem problemas falar de passado (“Saudade”). Você está em um momento nostálgico?
Quando falo de saudade, não estou me referindo a algo distante, estou falando do meu presente, de hoje, de ontem, da falta que sinto de fazer shows, de poder andar na rua, de encontrar os meus amigos. A letra dessa música é bem clara: “Saudade da estrada, saudade da rua / saudade de amigos, como eu confinados / que mesmo distantes estão ao meu lado / Respiro o presente / esqueço o passado, os meses e as horas”.

Também na faixa “Saudade”, você diz que projeta um mundo mais civilizado, com mais saúde e menos miséria. Na sua opinião, o que é que mais está faltando no mundo neste momento?
Falta empatia, falta fraternidade. Quem tem muito deveria dividir mais com quem tem pouco ou nada. A desigualdade é uma doença pior do que a Covid. A riqueza precisa ser distribuída de uma forma mais justa. A solidariedade deveria ser a seta que orienta a nossa vida no “novo normal”. Se isso acontecesse, seria um “legado positivo” da pandemia.

Alceu Valença com a bandeira de Pernambuco - Foto: Divulgação

Alceu Valença com a bandeira de Pernambuco – Foto: Divulgação

E agora que você vai enfim sair do confinamento, quais são as suas expectativas para os shows de SP (em setembro) e do Rio (em outubro)?
Estou ansioso para reencontrar a plateia. Apesar de coincidir com o lançamento do álbum “Saudade”, não serão shows de voz & violão. Estarei no palco com Leo Lira (guitarra), Tovinho (teclados), Nando Barreto (baixo), André Julião (sanfona) e Cássio Cunha (bateria). Tenho vários formatos de shows – uns mais intimistas, outros mais festeiros – mas esses agora vão ser do tipo “resumão”. Vamos passear por sucessos de todas as fases da minha carreira – como “Coração Bobo”, “Táxi Lunar”, “Cavalo de Pau”, “Anunciação” e “Papagaio do Futuro” – e por clássicos de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, como “Baião”, “Vem Morena” e “Canto da Ema”.

Como será o Carnaval em 2022? Já enxerga uma volta à normalidade?
Se dependesse de mim, o Carnaval de 2022 seria igual ao de 2020. Celebraríamos a retorno a uma vida bem próxima daquela que podíamos levar antes da pandemia, como muita alegria e muita animação. Festa é sinônimo de encontro, de gente, de confraternização, de toque e de calor humano. Em 2020, meu trio foi seguido por mais de 200 mil pessoas no Parque do Ibirapuera e outras centenas de milhares no Recife e em Olinda. Ainda não temos nada definido, mas acredito que vai ser possível fazermos festa com segurança. Nos Estados Unidos, sobra vacina porque a população parece não estar muito interessada na imunização. Mas aqui a vacinação só não é mais rápida pela falta de imunizante. Todo mundo adora vacina! Até o Carnaval, toda a população brasileira já terá recebido devidamente suas duas doses. O povo quer se proteger para se livrar da tensão causada por essa moléstia. E o Carnaval será o marco dessa “libertação”. A alegria vai ser mais contagiante do que o corona!

Após ouvir “Sem Pensar no Amanhã” e “Saudade”, me pareceu que o timbre da sua voz está ficando mais agudo. Foi só uma impressão minha?
Que curioso, alguns dizem que a minha voz ficou mais grave, enquanto outros – como você – falam que está mais aguda. A verdade é que eu estou cantando diferente nesses álbuns de voz & violão. É um canto mais macio, mais intimista, mais doce, em harmonia com o violão. Não preciso fazer força nem disputar espaço com guitarras, percussão, teclados e naipes de sopros. Imagino que seja isso o que as pessoas estejam estranhando…

Você nasceu em São Bento do Una, cresceu e se formou em Direito no Recife, fez curso de verão na Universidade de Harvard, já morou em Paris e há décadas vive no Rio de Janeiro. Onde você se sente mais à vontade? Hoje você se considera mais carioca ou pernambucano?
Sabe, meu cabra, a verdade é que eu não moro em cidades, eu namoro cidades. Meu relacionamento com elas normalmente é muito breve. Estou sempre viajando, mas em geral eu chego num lugar, vou para o hotel, me apresento de noite, faço um ou outro passeio durante o dia, visito um restaurante ou museu e é só. Quando rola uma paixão, é algo efêmero, fugaz. E, apesar de ter passado mais da metade da minha vida tendo um apartamento no Rio como meu endereço residencial oficial, ainda me sinto um pernambucano. Jamais vou perder as minhas raízes. Esse DNA está presente na minha música e impregnado na minha personalidade.

Você passou por todas – ou quase todas – as grandes gravadoras, como Som Livre, EMI, Sony, Polygram… agora está na Deck. O que piorou e o que melhorou na indústria fonográfica nesses seus 50 anos de carreira?
Por um lado, hoje é muito, mas muito mais fácil para um artista gravar seu trabalho, produzir um álbum, um clipe, sem interferências de alguém do departamento de marketing. Depois é só publicar em uma das plataformas de streaming e o mundo todo terá acesso à sua obra, sem perrengues de prensagem ou distribuição. Isso é algo que melhorou muito. Por outro lado, a concorrência hoje é imensa e, muitas vezes, seu trabalho fica perdido num mar de canções de todo tipo, dos mais diversos ritmos, gêneros e procedências. Você fica meio que refém de um algoritmo ou de um sei-lá-o-quê que define quem vai te ouvir. Muitas vezes, algo medíocre faz um sucesso enorme e um trabalho da melhor qualidade fica esquecido e escondido nesse oceano virtual de arquivos sonoros. É complicado…

Como você explica esse novo “hype” de “Anunciação”, quase 40 anos depois de seu lançamento? A canção virou trilha do ‘Big Brother Brasil’, hino da seleção brasileira de futebol feminino em Tóquio e ‘bomba’ até nas pistas de dança no Brasil e no mundo, em versão dançante. Você fatura mais com ela hoje do que faturou nos anos 1980?
A música viralizou. Foi isso o que aconteceu. De repente, saltou para 55 milhões de visualizações no YouTube e outras dezenas de milhões no Spotify, na Deezer e na Apple Music. “Belle de Jour” também virou um grande hit planetário, com mais de 175 milhões de views no YouTube. Qual a explicação? Viral não tem explicação. Não existe receita para fazer um vídeo viralizar. Simplesmente acontece. Uma vez, em Portugal, eu, a Elba [Ramalho] e o Geraldo [Azevedo] gravamos um vídeo com o celular num Miradouro com uma vista linda e postamos, certos de que aquilo ia arrebentar na internet. Nada! Outro dia, fui à padaria aqui perto de casa, no Leblon, e vi um turista francês tocando ‘Anunciação’ no clarinete. Me apresentei a ele, disse que era o autor da música e, segundo depois, estávamos fazendo um vídeo, no improviso, acompanhados por uma menina da Argentina e um canadense ao violão. Este vídeo, gravado pela Yanê, minha esposa, teve muito mais repercussão e mais likes do que aquele que produzimos em Lisboa no capricho e com grandes artistas. Vai entender… Quanto à sua pergunta sobre dinheiro, infelizmente não estou um Real mais rico por causa desse ‘boom’. As plataformas digitais remuneram muito mal os artistas. Mas fico feliz com o sucesso, por atingir um público novo e por ter ajudado a elevar o ânimo das meninas do futebol feminino.

A propósito, a que se refere a letra de “Anunciação”? Ela é apenas uma epifania sobre a chegada de uma mulher ou é um hino de esperança pela volta de dias mais felizes?
Eu não sei compor músicas sob encomenda. Para mim, não existe isso de escolher um tema, sentar e escrever uma nova canção. A inspiração vem quando ela quer, do jeito que ela quer. Eu componho como o Chico Xavier, sou tomado por um surto criativo que me leva a lugares que nem o meu inconsciente sabe explicar. “Morena Tropicana”, por exemplo, foi composta num quarto de hotel em São Paulo, numa época em que eu estava namorando uma loira. Ou seja, não tinha nem uma morena e nada tropical por perto! [risos] A inspiração veio porque me lembrei das obras de um artista plástico recifense, Sérgio Diletieri Lemos, famoso por pintar frutas tropicais como mangas, cajus, sapotis, umbus e cajás. No caso de “Anunciação”, eu tinha acabado de comprar uma flauta transversal e saí com meu novo instrumento pelas ruas de Olinda para ver se algo ali me estimularia a compor. Passei pelo sino da catedral, pelo quintal onde a roupa estava estendida no varal, depois uma amiga sussurrou no meu ouvido que a melodia que eu estava executando era muito bonita e assim foi. A música é uma colagem do que vi naquela manhã de domingo. Mas, como eu me envolvi profundamente com a campanha pelas “Diretas Já” e viajei o Brasil todo com Ulysses Guimarães e outras lideranças desse movimento na época do lançamento da música, muita gente associou a letra ao retorno da Democracia. Já falei mil vezes que a letra não tem nenhuma conotação subversiva, mas até hoje tem gente insistindo que ela tem. Não sou político e nem profeta – sou poeta!