Memória paulistana: bairro Campos Elíseos guarda ecos de um passado de glória

Memória paulistana: bairro Campos Elíseos guarda ecos de um passado de glória

No Campos Elíseos, bairro que já foi o orgulho de São Paulo, é possível visitar alguns templos da cultura brasileira 

O nome Campos Elíseos sugere a nobreza que essa região central representou quando era o endereço certo dos barões do café e dos empresários proeminentes do começo do século 20. A elite paulistana era fã da cultura e da arquitetura francesa e, não à toa, o nome da localidade dos mais poderosos era a tradução da mundialmente admirada avenida parisiense dos Champs-Élysées.

O bairro, maltratado assim como todo o centro da cidade, ainda guarda ecos de um passado de glória. Uma de suas mais imponentes mansões pertencia à família Alves de Lima, cujo patriarca era um dos grandes barões do café, além de presidente da Café Paulista S/A e da Cooperativa Central dos Cafeicultores. Construída na rua Guaianases, em 1912, essa mansão foi projetada pelo famoso arquiteto Ramos de Azevedo e foi batizada de Casa de Don’Anna pelo neto do barão, que reformou o imóvel em 2015, homenageando a sua avó e permitindo assim um uso comercial.

 

Ambiente do restaurante Ama.zo, nos Campos Elíseos – foto divulgação

 

E é ali que nasceu o Ama.zo – Cozinha Peruana, sob o comando do reconhecido chef peruano Enrique Paredes, em que a proposta é unir clássicos da culinária andina a sabores da Amazônia. A casa é maravilhosa por dentro e aproveite uma ida ao toalete para dar uma volta pelos cômodos luxuosos, que remontam ao ambiente chique de outrora. O restaurante se situa no incrível jardim repleto de jabuticabeiras e abacateiros, protegido por um telhado translúcido quase imperceptível. O ideal é chegar cedo (até às 12h45) em um dia bonito e começar beliscando uns chicharrones de calamares, acompanhado do ótimo pisco sour da casa.

Após escolher um dos vários ceviches de entrada, sugiro pedir o ceviche e pulpo, que mistura ceviche com polvo na brasa e mousse de batata doce e abacate. Outra pedida de sucesso é o chaufa e panceta, que traz arroz salteado ao estilo oriental com vegetais e é servido com panceta laqueada em molho teriyaki, couve frita e alho crocante. A ambientação é agradável e, na minha ida, estava tocando um trio de soft blues, apresentando J.J. Cale e Eric Clapton.

 

Ceviche com polvo do Ama.zo – foto divulgação

 

A área de jardim serve também como extensão do café inaugurado no porão da casa, denominado Café Paulista, em memória ao bisavô do atual proprietário. A visita vale muito a pena e, se estiver por lá em um sábado ou se tiver a tarde livre, aproveite para fazer um tour cultural no bairro e vá conhecer o lindíssimo Theatro São Pedro, que é uma casa centenária com uma das histórias mais ricas da música nacional, ou visite a imponente Pinacoteca do Estado, próxima aos Campos Elíseos.
Caso você esteja com menos tempo disponível, mesmo assim curioso pelo cardápio do Ama.zo, pode conhecer a filial recentemente inaugurada do restaurante no shopping Pátio Higienópolis. Aproveite!

Dia dos Namorados: use a criatividade e aproveite a data para vivenciar passeios diferentes a dois

Dia dos Namorados: use a criatividade e aproveite a data para vivenciar passeios diferentes a dois

Restaurantes e bares costumam lotar no Dia dos Namorados, assim é preciso inovar para impressionar o seu amor sem estresse

Inúmeras sugestões de bares, restaurantes e destinos românticos surgem para celebrar o amor neste Dia dos Namorados. Sempre tive restrições para indicar um lugar para comemorar a data pelo simples fato de que todos os estabelecimentos, e ainda mais os charmosos, ficam lotados, barulhentos e provavelmente com serviço sofrido. É preciso inovar para impressionar o seu amor sem estresse.

Se eu tivesse que escolher um restaurante para jantar nesse dia seria o velho e bom La Casserole, de frente para a banca de flores do Largo do Arouche. Sugiro ainda o primeiro serviço das 19h para fugir do pico do movimento. E, acredite, essa dica vale para qualquer restaurante. Mas para surpreender, proponho um programa que venho planejando faz um tempo! Alugar duas bikes e aproveitar a ciclovia que beira a Marginal Pinheiros para passar o dia na represa. Um passeio diurno e saudável a dois, sem pressa aproveitando algo que São Paulo nos oferece e nunca temos tempo para vivenciar.

 

Ciclovia do Rio Pinheiros – foto divulgação

 

É possível acessar a ciclovia do rio Pinheiros pelas pontes Cidade Universitária ou pelo Parque do Povo, dali cruze para o Parque Linear Bruno Covas, mais conhecido como Ciclovia Bruno Covas, pela passarela flutuante após a Usina da Traição. Uma vez no Parque Mário Covas, siga até o fim e cruze a passarela Friedrich Bayer, e pedale até a ponte do Socorro. Siga a ciclovia até chegar ao destino, o Parque da Barragem. O lugar é ideal para descansar, curtir o visual das águas da Guarapiranga e homenagear seu parceiro e por que não esticar uma toalha com o piquenique ou então atravessar o parque em sentido Avenida Atlântica.

Por ali, em uma viela super charmosa, fica o Kleine Gasse, um delicioso e autêntico restaurante alemão frequentado por toda a colônia alemã que ainda mora nessa região da cidade. O ambiente é simples e bucólico e a comida é deliciosa. Caso você exagere no chope, no vinho ou mesmo na feijoada e a preguiça bater, vá até a Estação Socorro, que fica a 2,5 km do restaurante, e pegue a linha 9 da CPTM. É tranquilo e, aos finais de semana, o transporte de bicicletas é livre em alguns vagões dos trens e metrôs.

E dependendo do interesse de cada um, pode-se ainda ir ao Museu do Ipiranga e ao Parque da Independência. Recém reformado em 2022, o museu conta com acervo impecável e, bem em frente, está o parque, com seu lindo jardim, a Casa do Grito, o bosque e o Monumento da Independência.

 

Vista da Represa de Guarapiranga – foto divulgação

 

Para terminar esse rolê delicioso, passe no Sebo Pura Poesia, que fica a 600 metros do museu, tome um café, um sorvete, veja os livros e aproveite. Se a fome após o pedal bater, a minha sugestão é parar no La Galetta Ipiranga, que fica a 500 metros de distância. Quem gosta de frango com polenta vai adorar! Essa delícia de programa ainda deve ser beneficiado com as temperaturas amenas do mês de junho, propícias para o amor. Sem contar que esse tipo de romance ainda traz saúde e todos nós sabemos que quem gosta cuida.

Os bistrôs de São Paulo: opções para comer muito bem em ambientes típicos franceses

Os bistrôs de São Paulo: opções para comer muito bem em ambientes típicos franceses

Com os bistrôs, a cozinha francesa e seus ambientes mais típicos parecem estar mais em alta do que nunca na capital paulista

A popularização da comida francesa chegou a São Paulo nos anos 2000 com a rede de bistrôs Le Vin, que trouxe da França o conceito de “bistronomia” – que já tinha tido o seu sucesso internacional coroado em Nova York. “Bistronomia” nada mais é do que cozinha francesa com presença de pratos clássicos em ambiente de bistrô, sem demora em ambientação despretensiosa e a preços acessíveis.

Infelizmente, o Le Vin fechou as portas em 2019, mas o caminho já estava aberto. Em 2002, o Ici Bistrô abriu as portas em Higienópolis e, em 2012, o Le Jazz inaugurou a sua primeira unidade na Rua dos Pinheiros, iniciando o movimento que levou a maioria dos restaurantes de preços na mesma faixa para o bairro. De lá para cá, foram abertos dezenas de bistrôs, sendo importante fazer uma ressalva que, na verdade, é o recado principal desta coluna.

 

Pratos do Ici Bistrô, em Higienópolis – foto Victor Collor

 

São Paulo tem um público tão grande e eclético que nessa classificação de “bistrô” encontramos dois tipos de ambientes com dois públicos diferentes. Um deles é o que mais representantes tem na cidade, tais como os da rede Le Jazz, o Bistrot de Paris, o Rendez Vous, o Canaille, o Bistrot de Ville, o Ça Va, o Bonaparte e muitos outros. Todos apresentam no cardápio os imprescindíveis steak tartare, o steak frites, o bœuf bourguignon, o steak au poivre ou à la moutarde… enfim, os clássicos. Mas também têm em comum as mesas pequenas e apertadas, assim como os jogos americanos e os guardanapos de papel.

A comida é muito boa, mas o ambiente é barulhento e a fila de espera não se acomoda ao bar, normalmente sem lugares para se sentar. Come-se bem, porém a experiência é bem diferente da outra vertente de bistrôs mais classudos e confortáveis. O preço é ligeiramente acima dos outros, uma vez que toalhas e guardanapos de pano geram um custo elevado de lavanderia e mesas e cadeiras ou sofás confortáveis também ocupam mais lugar e reduzem o volume de público. Sem contar que nessa categoria a espera conta com um lugar no bar para tomar o seu drinque ou a sua taça de vinho e, normalmente, o serviço se adequa ao público mais maduro e exigente.

 

Ambiente confortável do Ici Bistrô – foto Victor Collor

 

Nessa levada cito o Tonton, nos Jardins, o Votre, em Pinheiros, e o Ici Bistrô, em Higienópolis – agora em novo endereço na rua Mato Grosso. E é esse último que cito como meu predileto, porque além da cozinha impecável e decoração aconchegante e confortável, é o único que serve “jambonettes de grenouilles” à provençale, que é uma iguaria da cozinha francesa e da qual tinha saudades desde que o bistrô Tartar&Co fechou. Sem contar o bom gosto da trilha sonora de jazz/blues do chef proprietário Benny Novak no volume certo. Aproveite e à la prochaine!

Em Florianópolis, praia do Campeche se transforma na verdadeira “Bali brasileira”

Em Florianópolis, praia do Campeche se transforma na verdadeira “Bali brasileira”

Jovens profissionais de todos os cantos do Brasil e do mundo migram o home office para o sudeste da ilha de Florianópolis 

Florianópolis sempre foi conhecida pelo resto do Brasil como a “ilha da magia”. Afinal, reúne segurança, praias lindas e gente bonita, sendo o lugar ideal para quem busca qualidade de vida. Mas sempre foi considerada um destino de férias e curtição, não para se viver – com algumas exceções, como aposentados ou universitários em função de um mercado de trabalho restrito e poucas opções de entretenimento para além do trivial oferecido aos turistas.

Foi a partir de 2018 que os profissionais ligados à internet e ao comércio eletrônico, em busca de um estilo de vida melhor, começaram a migrar para a ilha. De acordo com a plataforma Nomad List, referência no tema, Florianópolis é o segundo destino que mais cresceu no mundo entre 2018 e 2023. E foi com a pandemia e a onda do home office que a turma dos nômades digitais, que antes viviam em cidades como Bali, na Indonésia, ou Tulum, no México, passou a escolher também a ilha como opção de residência.

Em um trecho do sudeste de Floripa, mais precisamente entre a Lagoa da Conceição e a praia do Campeche, esse êxodo fixou seu epicentro. O eixo Campeche/ Rio Tavares /Lagoa da Conceição começou a receber jovens profissionais de todos os cantos do Brasil e do mundo ao ponto de ver uma disparada absurda do mercado imobiliário e os preços triplicaram de 2021 para cá. Lugares com formatos de sucesso comprovados para esse público vêm se multiplicando para acolher o volume crescente de novos moradores. Só para constar, eu que sou fã de viennoiseries, comi croissant e pain au chocolat em uma boulangerie do Rio Tavares, chamada Uma – do naipe dos melhores de São Paulo!

 

Vista da praia do Campeche, em Florianópolis – foto Shutterstock

 

O interessante é que a preocupação com a alimentação saudável e natural, assim como o ritmo cool e relax do público e dos atendentes, é constante. É o caso do Mana’o, café muito “bali style”, para tomar um smoothie ou um matcha (chá japonês) com calda de tâmaras e leite de aveia. E do Anómada, que de dia é padaria e restaurante, com pães peculiares (tipo cacau com laranja), e de noite, uma pizzaria de fermentação natural. É normal um cliente entrar para tomar o seu café da manhã e ficar trabalhando ali até depois do almoço.

Para quem é ainda mais radical na alimentação, sugiro a Paradiso – misto de padaria e mercadinho com delícias veganas e orgânicas, provenientes de pequenos produtores, como tortas e bolos. Também me levaram para almoçar em um restaurante chamado Cumbuca, que serve pratos do dia super saborosos e com mensagens espalhadas convidando os clientes a trazerem o computador e passar a tarde inteira com direito a café e docinhos.

Esses estabelecimentos parecem ter sido feitos sob medida para essa turma. É claro que não faltam estúdios de yoga, massagem e práticas holísticas variadas. Outro fato que chama a atenção é que o meio de transporte preferido nesse eixo é a bicicleta ou o scooter, assim como em Bali. Ainda bem, porque o trânsito na ilha já se tornou um problema, mesmo fora de temporada. Até!

As belas praias e ilhas no trecho do litoral norte paulista, logo antes da divisa com o Rio de Janeiro

As belas praias e ilhas no trecho do litoral norte paulista, logo antes da divisa com o Rio de Janeiro

Com suas paisagens intocadas e refúgios rústicos, os últimos 40 km que vão da praia de Itamambuca até Picinguaba merecem a descoberta

Não é novidade para ninguém que o trecho de litoral entre São Paulo e o Rio de Janeiro, a partir da Barra do Una, é um dos mais lindos do Brasil. São paradisíacos os últimos 40 km que vão da praia de Itamambuca até Picinguaba, a 10 km da divisa com o estado do Rio.

A primeira dica para quem quer chegar nesse trecho da forma mais tranquila é descer a Serra do Mar pela rodovia Oswaldo Cruz, que já sai no limite norte de Ubatuba e que, portanto, evita toda a lentidão do trânsito pesado de Caraguatatuba até o centro de Ubatuba, que é inevitável quando se utiliza a rodovia dos Tamoios.

Logo após descer a lindíssima serra, já começa o festival de cores com a intocada Mata Atlântica verde escura que se contrapõe ao azul e ao verde claro do mar manchado apenas pelas dezenas de ilhas que acompanham a viagem. É a chamada Costa Verde e, acredite, é surreal!

O encanto começa com a praia de Itamambuca, que é deslumbrante. É o paraíso dos surfistas, mas também dos amantes da natureza, com um lindo rio indo ao encontro do mar com cores incríveis e em encostas onde é comum ver tartarugas nadando.

 

Praia de Picinguaba, no litoral norte de São Paulo – foto Shutterstock

 

A próxima é a praia do Félix (também conhecida como a praia do Lúcio) cheia de charme e beleza. De lá saem duas trilhas, uma em cada ponta da praia, que levam a outras duas pérolas desse litoral: a praia das Conchas e a incrível praia do Português, que não chega a ter 50 metros e mesmo assim é considerada uma das mais belas do litoral.

Depois dessas, quase todas as praias são acessadas apenas por trilha ou pelo mar. Eu me hospedei em Picinguaba, que é uma linda vila tombada pelo patrimônio histórico, logo antes da divisa com o Rio de Janeiro. A estradinha em mau estado que leva para a vila tem 3 km e fica a 20 km de Paraty. O lugar sedia a associação dos barqueiros que vende 100% dos ingressos para os passeios e é dali que saem os barcos levando turistas para essa baía tão fértil de ilhas. A mais procurada é a ilha das Couves, onde se encontram praias realmente especiais como a praia de Terra e a praia de Fora. Também é a ilha com a maior infraestrutura para receber os turistas.

Mais 5 minutos e chegamos a uma ilha bem maior, mas não menos encantadora, chamada ilha dos Porcos. É um passeio estonteante e o que não faltam são opções de ilhas para quem tiver tempo e gasolina para passear pela baía toda de Picinguaba. Isso sem falar das praias do continente que somente dão acesso por longas trilhas ou de barco, como a praia da Almada ou a praia do Engenho.

Na volta para Picinguaba existem boas opções de restaurantes, simples, mas de execução precisa como o Deco da Villa e o Petiscos Beira Mar, onde a proprietária prepara peixes na brasa e ótimas caçarolas de frutos do mar.

A dica final é lembrar que chove bastante no verão, dada a proximidade com a Serra do Mar, e que o ideal para curtir o sol e as cores é marcar o seu passeio entre os meses de abril e outubro. Até!