“Djavan, o Musical: Vidas pra Contar” celebra a vida e a obra de um dos artistas mais aclamados da música brasileira

“Djavan, o Musical: Vidas pra Contar” celebra a vida e a obra de um dos artistas mais aclamados da música brasileira

Espetáculo musical leva ao palco do Teatro Multiplan a trajetória de Djavan, desde sua infância humilde em Maceió até os hits que levaram sua riqueza rítmica ao mundo todo

Em cartaz no Teatro Multiplan a partir do dia 5 de junho, “Djavan, o Musical: Vidas pra Contar” é um espetáculo que celebra a vida e a obra de um dos artistas mais aclamados da música brasileira, o alagoano Djavan Caetano Viana. Idealizado por Gustavo Nunes, com direção artística de João Fonseca e texto de Patrícia Andrade e Rodrigo França, o musical tem uma trilha sonora vibrante e fiel à diversidade rítmica do artista.

A montagem mergulha na trajetória de Djavan, desde suas origens humildes em Maceió até sua consagração como um dos grandes nomes da MPB. O ator mineiro Raphael Elias, de 30 anos, foi o escolhido entre mais de duas centenas de candidatos para encarnar o músico no palco.

 

foto divulgação

 

A dramaturgia do musical explora a riqueza de estilos presentes na obra do artista, que passeia pelo jazz, samba, ritmos afro-brasileiros e pop. A produção é uma celebração da beleza, da poesia, da brasilidade e da musicalidade presente nas composições de Djavan.

Teatro Multiplan
Avenida das Américas, 3.900, Barra da Tijuca.
Tel. 21 3030-9970.
Ingressos de R$ 21 a R$ 300.

Atriz Mariana Xavier estrela monólogo “Antes do Ano que Vem”, em cartaz no Teatro Copacabana Palace

Atriz Mariana Xavier estrela monólogo “Antes do Ano que Vem”, em cartaz no Teatro Copacabana Palace

Em cartaz no Teatro Copacabana Palace até julho, “Antes do Ano que Vem” é um monólogo cômico em que a atriz Mariana Xavier mostra sua versatilidade

Durante um plantão de Réveillon no CAD (Centro de Apoio aos Desesperados), a psicóloga responsável não aparece e Dizuite, funcionária do local, resolve atender as ligações e auxiliar os pedidos de ajuda que surgem na Noite de Ano Novo. Esse é o ponto de partida de “Antes do Ano que Vem”, monólogo cômico escrito por Gustavo Pinheiro especialmente para a atriz Mariana Xavier emprestar toda a sua versatilidade para várias personagens e situações. A peça fica em cartaz até o dia 13 de julho no Teatro do Copacabana Palace.

O espetáculo tem direção de Ana Paula Bouzas e Lázaro Ramos e retorna ao Rio de Janeiro para uma temporada especial em que celebra seus três anos de sucesso. Após passar por 23 cidades e alcançar 50 mil espectadores desde março de 2022, a montagem se utiliza do humor para falar de saúde mental, autocuidado e acolhimento.

 

foto divulgação

 

Teatro Copacabana Palace
Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 261, Copacabana.
Tel. 21 2257-0881.
Ingressos de R$ 21 a R$ 160.

Mel Lisboa traz para o Rio o musical que celebra a vida e a obra de Rita Lee, após estrondoso sucesso em São Paulo

Mel Lisboa traz para o Rio o musical que celebra a vida e a obra de Rita Lee, após estrondoso sucesso em São Paulo

Com sua carreira até alguns anos ainda marcada pelo seu primeiro papel na TV, a minissérie “Presença de Anita”, exibida em 2001, Mel Lisboa estreia este mês no Teatro Casa Grande o espetáculo “Rita Lee – Uma Autobiografia Musical”, incorporando com impressionante fidedignidade essa extraordinária personagem, fazendo o público acreditar piamente que a roqueira paulistana ainda está entre nós

Depois de ser assistido por quase 90 mil espectadores em São Paulo, o espetáculo musical “Rita Lee – Uma Autobiografia Musical” chega ao Rio, com estreia no dia 26 de junho no Teatro Casa Grande. Nessa montagem, a atriz gaúcha Mel Lisboa interpreta com espantosa verossimilhança a inesquecível roqueira paulistana, numa encenação que mistura história e hits como “Menino Bonito”, “Ovelha Negra”, “Todas as Mulheres do Mundo” e “Mania de Você”.

No palco, Mel impressiona a plateia com sua personificação de Rita — personagem que ela já havia encarnado na TV (na minissérie “Elis: Viver É Melhor que Sonhar”, de 2019) e em outra peça teatral – “Rita Lee Mora ao Lado” – que foi assistida pela própria cantora em 2014. Sua atuação no musical que agora estreia no Rio lhe rendeu o Prêmio Shell de melhor atriz em 2025.

 

foto Mauricio Nahas

 

Com 43 anos e dois filhos adolescentes, a atriz tem uma carreira muito profícua e eclética no cinema (com filmes como “Cães Famintos”, “Atena” e “Conspiração Condor”, que deve estrear só em 2026), no teatro (com interpretações marcantes em peças como “Misery”, “Peer Gynt” e “Dogville”) e no streaming (com participações em produções como “Maníaco do Parque”, da Amazon Prime Video, “Coisa Mais Linda”, da Netflix, e “A Vida Secreta dos Casais”, da HBO Max).

Em conversa com a reportagem da 29HORAS realizada bem no dia em que fãs lembravam os dois anos da morte de Rita, a emocionada Mel Lisboa falou sobre sua afinidade com Rita, seus projetos como produtora e outros trabalhos no teatro, como “Madame Blavatsky – Amores Ocultos” –, monólogo que ela também vai encenar durante esse seu breve retorno ao Rio, onde viveu entre os anos de 2000 e 2004. Confira nas páginas a seguir os principais trechos da entrevista.

Qual a sua explicação para esse sucesso todo de “Rita Lee – Uma Autobiografia Musical”?
Não existe uma explicação. Um sucesso dessa magnitude se dá por causa de muitos acertos simultâneos. Não é só em razão do texto afiado, da direção precisa, da trilha sonora fantástica, do elenco entrosado. O sucesso se deve ao inexplicável. Não existe uma fórmula para agradar crianças, adultos, idosos, fãs da Rita e gente que nunca se ligou muito no trabalho dela.

A montagem carioca vai ser idêntica à paulistana?
Absolutamente idêntica. Tudo igualzinho.

 

A atriz Mel Lisboa na pele da eterna Rita Lee, no espetáculo “Rita Lee – Uma Autobiografia Musical”, que chega ao Rio este mês – foto Priscila Prade

 

E o que mudou desde a estreia, em abril do ano passado em São Paulo, até hoje? Dá para dizer que é um espetáculo mutante?
Todo espetáculo é mutante e evolui com o tempo. O teatro é vivo, é orgânico. Quando a gente estreia, o espetáculo está ensaiado, mas não está pronto. Ele só fica pronto mesmo quando entra em cartaz e conta com a energia dos espectadores. A plateia é um agente ativo na evolução da montagem. Com os feedbacks que recebemos, fazemos pequenas mudanças e adaptações na luz, no figurino, na movimentação e até no texto. E, com o tempo, os atores também vão ficando mais à vontade. Hoje, por exemplo, eu brinco muito mais com a plateia do que nas primeiras apresentações. E eu sei muito bem o que funciona e o que não funciona nessa interação.

A própria Rita não teve a oportunidade de ver o espetáculo, mas o que o Roberto de Carvalho achou da montagem?
Ele ficou muito feliz. Se emocionou muito. Ele já havia acompanhado um dos nossos últimos ensaios e, na nossa estreia, ele foi com a família inteira. Gostei muito quando ele me disse que a nossa montagem estava do jeitinho que a Rita gostaria que sua autobiografia fosse encenada.

O que você e a Rita têm em comum? E o que você absorveu da Rita e incorporou ao seu jeito de ser, ao longo desse último ano de “convívio” tão intenso com ela?
Nós duas somos capricornianas e temos em comum várias características típicas das pessoas desse signo. A Rita me ensinou e me ensina um monte de coisas todo dia. Eu queria ser mais como a Rita, mas não é fácil ser parecida com uma pessoa tão ‘fora da curva’. Ele era uma mulher muito inteligente, rápida, irreverente e debochada. Eu tento ser como ela, é uma grande inspiração para mim, mas eu tenho meus limites…

 

foto Priscila Prade

 

O que foi mais difícil na hora de criar a sua Rita? Cantar foi um desafio ou você ficou à vontade, já que atuou em outros musicais?
Nunca fico à vontade cantando! O ideal seria se eu cantasse igual à Rita, mas nossas vozes são diferentes. Então eu tento reproduzir a música da voz dela, o jeito dela falar, o sotaque diferente do meu. Uma vez, recebemos na plateia um grupo de pessoas com deficiências visuais que são fãs da Rita. Eu fiquei preocupada, pois muito da minha composição vem do figurino, da caracterização, mas isso eles não enxergam. Aí, no final, uma garota desse grupo me disse uma coisa linda, que me deixou comovida. “Eu não via a Rita, mas eu ouvi a Rita”, disse ela. Voltei para casa com aquela sensação de missão cumprida.

Depois de interpretar a Rita Lee no palco e no cinema, não tem receio de ficar estigmatizada como “aquela atriz que é cover da Rita Lee”?
Minha trajetória foi marcada por duas personagens muito fortes – a Anita de “Presença de Anita” e a Rita Lee. Eu tive algo que muitos passam uma vida inteira sem ter. Me sinto uma privilegiada! E, a propósito, para mim não é problema nenhum ter a minha imagem associada à da Rita. Muito pelo contrário. Me sinto muito honrada!

Por falar nessa outra personagem forte da sua trajetória, durante anos você foi conhecida como a moça de “Presença de Anita”, mesmo depois de vários outros trabalhos. Isso te incomodava?
Quando eu te digo que me sinto privilegiada e honrada de ver a minha imagem e o meu nome associados à Rita e à Anita, essa é uma visão que tenho hoje. Até alguns anos, isso era de fato um problema, eu me questionava muito se isso era bom ou ruim, se eu havia cometido algum erro ao aceitar esses papeis. Não foi um processo fácil e suave essa mudança de pensamento, mas o fato é que hoje isso não é mais uma questão na minha cabeça. Estou muito bem resolvida com minhas escolhas.

 

foto Priscila Prade

 

Quando foi que você deixou de priorizar a TV e veio para São Paulo fazer teatro e se tornar uma musa da cena alternativa, com peças de baixo orçamento, mas muito bem recebidas pela crítica, como “Após a Chuva”, “A Boca do Lixo”, “Luz Negra” e “Cenas de uma Execução”?
Morei no Rio até 2004, onde fiz várias novelas. Em 2003 fui fazer uma peça em São Paulo e logo me identifiquei com a cidade e me encantei pelas pessoas e pelo jeito que as coisas funcionavam por lá. Aí me mudei definitivamente em 2004 e, aos poucos, fui tendo a oportunidade de trabalhar e aprender com grandes diretores e atores. Um dia, percebi que não era mais uma forasteira, eu já me sentia perfeitamente inserida na cena teatral paulistana. Hoje, de fato, sinto que pertenço a esse lugar.

Ultimamente você vem assumindo a função de produtora. Como é produzir cultura em um país que não a valoriza.
É sempre difícil, né? Precisa ter muito amor pelo teatro para entrar nessa atividade. Para mim esse foi um caminho natural. Assim como outros tantos atores e atrizes, também quero ser dona dos meus projetos. Mas isso não significa que eu não quero mais trabalhar para outros produtores, realizadores. Eu só quero que essa seja mais uma alternativa para mim, sem impedir ou anular a minha participação em projetos capitaneados ou produzidos por outras pessoas. A ideia é ampliar o leque de possibilidades, não restringi-lo.

Me fale de “Madame Blavatsky – Amores Ocultos”, peça que você produziu e vai encenar no Rio paralelamente ao musical sobre a Rita Lee?
No Rio, “Madame Blavatsky” terá apenas quatro apresentações, em noites de quarta-feira, no Teatro Prio, no Jockey Club. Se der certo, depois a gente pode voltar à cidade para uma temporada de verdade. É uma peça que brinca com os limites da ficção, investigando convenções da representação teatral e simulando, através do texto, uma incorporação mediúnica. Em cena, o espírito de Helena Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica, exige retornar a um teatro, utilizando-se do corpo de uma atriz, para colocar a sua controversa história em pratos limpos.

 

A atriz em cena do monólogo “Madame Blavatsky – Amores Ocultos” – foto Gatú Filmes

 

Helena Petrovna Blavatsky foi uma mulher bem menos solar e bem mais introspectiva que a Rita Lee. Tem sido difícil incorporá-la no palco? E, neste caso, o termo “incorporar” está em seu sentido bem literal, já que você encarna o espírito dela na peça, não?
A Rita e a Blavatsky são diferentes, mas conectadas em muitos aspectos. Ambas são meio bruxas, e as duas, por serem capricornianas, têm em comum muitas das características típicas das pessoas desse signo. E as duas morreram no mesmo dia, 8 de maio, olha só! A peça tem muito metateatro, o tempo todo a gente fala do ato de fazer teatro. E, ao contrário do que acontece com o musical da Rita Lee, eu não preciso tentar falar ou me mexer como a Blavatsky. Ninguém sabe como era a voz dela, como se movia, qual era o seu gestual. Ela morreu em 1891, tudo o que temos dela são seus escritos e algumas fotos. Eu me sinto muito livre para interpretá-la. Aliás, eu não a interpreto, no palco eu sou a Mel encarnando o espírito dela.

Trazer uma mulher ucraniana aos palcos nesse momento foi uma escolha intencional por causa da situação do país, invadido pela Rússia desde 2022?
Não. A primeira vez que encenei essa peça foi como solo on-line, na pandemia, quando os teatros estavam fechados. Foi antes do início dessa guerra.

Quais outras mulheres poderosas você gostaria de viver no palco?
Várias outras, felizmente! É difícil enumerá-las. Mas digo que Medéia [de Eurípedes] é um personagem que me cativa.

Para encerrar, a Rita Lee fechou sua autobiografia dizendo se orgulhar de ter feito muita gente feliz. E você? Se orgulha de quê? De ter feito muita gente refletir? Recordar? Se divertir?
A arte tem o poder de tocar e transformar as pessoas. Eu me orgulho de, ao longo desses vinte e tantos anos de trabalho na TV e no teatro, ter auxiliado de alguma maneira na transformação de muita gente. A vida presta. É um trabalho árduo, mas que vale a pena.

 

Mel Lisboa com sua musa Rita Lee – foto reprodução Instagram

No Teatro das Artes, Carmo Dalla Vecchia encabeça o elenco da misteriosa “Corte Fatal”

No Teatro das Artes, Carmo Dalla Vecchia encabeça o elenco da misteriosa “Corte Fatal”

Espetáculo que já fez sucesso em mais de 30 países com seu mix de suspense, humor e interatividade ganha nova montagem no Teatro das Artes

Segundo o “Guinness Book of Records”, o espetáculo “Shear Madness” é a peça não-musical com maior tempo contínuo em exibição num mesmo teatro: 45 anos, em Boston. No Brasil, foi encenada apenas uma vez, há mais de 30 anos. Até o dia 1º de junho, ela ganha nova montagem, no Teatro das Artes, como “Corte Fatal”, uma versão assinada pelo ator e diretor Pedro Neschling e estrelada por Carmo Dalla Vecchia, Fernando Caruso, Douglas Silva, Paulo Mathias Jr, Hylka Maria e Cristiana Oliveira.

Nessa versão, o público atua como o “sétimo personagem” e ajuda a determinar o rumo da história, que pode ter vários finais diferentes. A trama de “Corte Fatal” é centrada em um salão de beleza situado no térreo de um pequeno prédio no bairro de Botafogo, onde mora uma famosa cantora reclusa. Pelo salão circulam o cabeleireiro, uma cliente endinheirada casada com um deputado, um vendedor de antiguidades, dois clientes enigmáticos que chegam sem hora marcada e uma manicure — e é exatamente ela quem anuncia: “A cantora foi assassinada!” A partir daí, todos se tornam suspeitos e começa a caça ao criminoso misterioso.

 

Carmo Dalla Vecchia e Cristiana Oliveira – foto divulgação

 

Teatro das Artes
Rua Marquês de São Vicente, 52 (Shopping da Gávea, 2º piso).
Tel. 21 98921-5494.
Ingressos a partir de R$ 70.

Cláudia Abreu volta às novelas com “Dona de Mim” e estreia no Rio o espetáculo “Os Mambembes”

Cláudia Abreu volta às novelas com “Dona de Mim” e estreia no Rio o espetáculo “Os Mambembes”

De volta às novelas e estreando no Rio o espetáculo que produziu originalmente só para ser encenado em ruas e praças de cidades do interior do país, Cláudia Abreu festeja este momento especial de sua carreira fazendo teatro da maneira mais genuína ao lado de queridos colegas de profissão e interpretando uma personagem que leva à TV o debate sobre um tema importante como a saúde mental

Com 54 anos, quatro filhos e dezenas de prêmios conquistados por seus trabalhos na TV, no teatro e no cinema, Cláudia Abreu é uma mulher bem-sucedida e realizada profissionalmente e também no plano pessoal. Capaz de interpretar com a mesma desenvoltura a cantora de eletroforró de uma novela como “Cheias de Charme” ou uma escritora à beira do suicídio em uma peça teatral densa como o monólogo “Virginia”, ela acaba de retornar à TV aberta para ser uma das protagonistas da nova novela da faixa das 19h da TV Globo, “Dona de Mim”, e estreia no Rio o espetáculo “Os Mambembes”, originalmente concebido para ser encenado em praças de pequenas cidades do Brasil Profundo.

Soberana dos rumos de sua trajetória, Cláudia é também a produtora dessa adaptação da comédia clássica escrita em 1904 por Artur Azevedo, que conta as aventuras de uma trupe mambembe viajando pelo Brasil. A vida imita a arte para o elenco composto por atores consagrados como Cláudia, Deborah Evelyn, Julia Lemmertz, Leandro Santanna, Orã Figueiredo e Paulo Betti, que literalmente caíram na estrada em novembro de 2024, para apresentações no interior de Minas, Pará, Maranhão e Espírito Santo. No dia 15 de maio, a montagem chega ao Rio, ficando em cartaz no Teatro Casa Grande até 22 de junho, com apresentações de quinta a domingo.

 

Cláudia Abreu – foto Manoella Mello

 

“Montar ‘O Mambembe’ com amigos queridos era um sonho antigo. Uma celebração ao teatro e à alegria de atuar. Essa peça é um clássico brasileiro. Fizemos um espetáculo pensando para todo tipo de público, seja ele popular, sofisticado, jovem, idoso, de uma cidadezinha do interior ou da Zona Sul carioca”, sintetiza Cláudia.

Em conversa com a reportagem da 29HORAS, a atriz fala sobre Filipa, a mulher sonhadora e emocionalmente instável que ela interpreta na novela “Dona de Mim”, analisa os desafios que pais e mães têm de enfrentar para criar seus filhos em um mundo cheio de perigos virtuais/digitais e reflete também sobre as dificuldades crônicas vivenciadas por quem se propõe a produzir Cultura neste país. Confira nas páginas a seguir os principais trechos da entrevista.

Seu último trabalho na TV foi na novela “A Lei do Amor”, em 2016. Além da pandemia, quais as outras razões desse seu afastamento?
Quando terminei a novela “A Lei do Amor”, ficou acertado com a Globo que meu próximo trabalho seria uma série. Daí fiz duas temporadas de “Desalma”, sendo que a segunda foi gravada durante a pandemia. Depois, fui morar por um ano em Lisboa. Na volta, produzi e escrevi meu monólogo “Virginia”, sobre a escritora Virginia Woolf, que estou fazendo há dois anos e meio por todo o Brasil. Uma alegria! Já levei a peça até para o México e Portugal. Fiz ainda os filmes “Silêncio da Chuva” e “Tempos de Barbárie” e fui convidada para protagonizar meu primeiro trabalho na Amazon Prime, a série médica “Sutura”. E no final do ano passado estreamos o espetáculo “Os Mambembes”, no qual atuo e também produzo. Eu tenho uma produtora, a Zola Filmes, para a qual escrevi, atuei na série infanto-juvenil “Valentins”, que criei junto com a Flávia Lins e Silva para o canal Gloob.

Sempre gostei de fazer muitas outras coisas além de novela, mas estou feliz em voltar. Quando chegou o convite do diretor artístico Allan [Fiterman] e da autora Rosane [Svartman], foi irresistível, um combo impossível de recusar. Ele é um parceiro antigo e eu já tinha um desejo de trabalhar com a Rosane. Além disso, tinha uma cobrança muito forte do público de TV aberta me pedindo para voltar às novelas. Percebi isso claramente ao rodar o Brasil com a trupe de “Mambembes”. Comecei na TV com 16 anos, esse trabalho é um reencontro com o público que me acompanha há tantos anos, muita gente que não tem acesso ao streaming, ao cinema ou aos teatros e encontra na novela o seu principal entretenimento.

 

Cláudia Abreu na peça teatral “Virginia” – foto divulgação

 

Fale um pouco para a gente sobre a Filipa, de “Dona de Mim”.
A proposta é discutir saúde mental, já que é uma personagem instável emocionalmente, com picos de euforia e tristeza. Ela tem muitas questões profundas, como o fato de nunca ter se realizado como mãe, nem como artista. Mesmo assim, ela é luminosa, forte. Achei uma boa oportunidade de voltar à TV aberta falando de um tema tão relevante e que pode ser de grande ajuda para muitas pessoas. Mas obviamente não deixa de ser uma novela das sete — divertida, com cenas mais curtas e ritmo frenético. As novelas dessa faixa têm uma linguagem própria, mais leve e lúdica, e isso é muito bom. A Rosane é uma autora com uma antena fantástica para captar tudo o que está acontecendo na sociedade, a diversidade, a cultura, em segmentos diferentes.

A relação de Filipa com a filhinha adotiva de seu marido na trama, Abel (Tony Ramos), é ruim? É isso que leva a garotinha a se ligar tanto à babá Leona (Clara Moneke)?
A Filipa é uma personagem alegre e solar, mas que convive com várias frustrações do seu passado. Não deu certo como artista quando nova, depois não foi capaz de criar a própria filha, que vai morar em Portugal com a avó, e, por fim, não conseguiu se fazer aceitar pela própria enteada. A Sofia é uma criança que se sente muito sozinha naquela casa, onde todos são muito diferentes dela. A relação entre as duas não encontra um ponto de afinidade ou identificação, o que acaba frustrando a Filipa nas suas tentativas de aproximação. No entanto, Filipa mantém a esperança dentro de si. Ela sempre encontra uma novidade para se agarrar, na esperança de que finalmente conseguirá realizar algo. Sempre inventando novos sonhos e propósitos. Eu acredito que, apesar da enorme fragilidade e instabilidade emocional que a caracterizam, ela nunca perdeu a fé na vida.

Você trouxe para a Filipa alguma coisa da sua relação com os seus filhos na vida real, Maria, José Joaquim, Pedro Henrique e… Felipa?
Tenho uma relação completamente diferente com meus filhos, somos muito próximos, ligados. Já a experiência da Filipa como mãe não foi feliz.

 

A atriz ao lado de Tony Ramos, seu marido na novela “Dona de Mim”, que acaba de estrear na faixa das 19h da TV Globo, com texto escrito por Rosane Svartman – foto TVGlobo / Manoella Mello

 

Criar uma criança e um adolescente hoje em dia é uma tarefa cada vez mais complexa e desafiadora. Você assistiu à série “Adolescência”, da Netflix? Qual a sua “receita” para uma boa formação e um bom relacionamento entre pais e filhos?
Nada é mais difícil do que educar sem ser autoritária e, ao mesmo tempo, ter autoridade para poder dar limites. Sempre converso com os meus filhos, mas nunca sabemos até onde vai a escuta deles. O ideal é ter uma relação de confiança. Assisti à série e fiquei ainda mais ligada nesse assunto. É preciso ter muito cuidado com a internet. Mesmo com os seus filhos dentro de casa, ninguém está protegido, nem livre de fazer uma besteira achando que não vai ter consequências. Todo cuidado é pouco.

E como vai ser dividir o seu tempo entre as gravações da novela durante a semana e, de quinta a domingo, as apresentações do espetáculo “Os Mambembes”, no Teatro Casa Grande?
E ainda estou fazendo uma pequena turnê com “Virgínia”, que acaba na semana anterior à estreia de “Mambembes”! (risos) Sem dúvida, é um momento profissional especial. Estava programada para fazer as peças e montar o documentário que dirigi sobre a turnê de “Mambembes” pelas praças do país, mas fui surpreendida pelo convite da novela. Achei que seria uma boa oportunidade para voltar ao lado de pessoas de que gosto muito e falar desse tema de humor instável que atinge tantas pessoas. Mas agora é respirar fundo e dar conta de tudo com energia, dedicação e alegria.

Como foram as apresentações em cidadezinhas do Maranhão, do Pará, de Minas e do Espírito Santo? Conta para a gente algum fato inusitado ou imprevisto que rolou nessas performances de rua….
Inesquecíveis! Era o teatro feito da forma mais genuína, de graça e para plateias de duas, três mil pessoas. Passamos por muitos perrengues, com o ônibus da peça quebrando na estrada, chuva caindo de repente durante a apresentação etc. O documentário vai mostrar tudo isso. Foi muito lindo.

 

Na série “Sutura” da Amazon Prime Video – foto divulgação

 

Na Globo e nos filmes que você fez para o cinema, a produção é sempre caprichada e altamente profissional. Como foi fazer a turnê por esses locais sem infraestrutura, sem mimos e sem assistentes?
Em primeiro lugar, não gosto dessa coisa de mimos e assistentes. Nunca foi a minha. E fazer teatro dessa maneira me reconectou ao desejo primeiro e mais profundo da minha escolha de atuar profissionalmente como atriz. No entanto, apesar de ter sido concebida para ser apresentada na rua, a peça tem uma produção super caprichada. A maior diferença foi estarmos todos disponíveis para o inesperado que podia rolar durante as apresentações.

Além de produtora, você é uma das idealizadoras do espetáculo. Como surgiu a ideia de fazer essa recriação quase literal da peça sobre uma trupe de artistas mambembes?
A idealização foi minha e do diretor, o Emílio de Mello, e se traduz no desejo antigo de montar “O Mambembe” de maneira mambembe. Sair pelo Brasil com um ônibus que seria meio de transporte, camarim e cenário, com um grupo de atores amigos, parar nas praças e fazer teatro de graça. Nada mais divertido, mas bem trabalhoso também.

E o que mudou agora, nessa transposição de um espetáculo concebido para praças do interior para uma montagem num teatro de shopping no Leblon?
O ideal seria continuar fazendo na rua, mas para isso dependemos de patrocínio, como o que tivemos na turnê. A solução foi adaptar a peça para um teatro, pois como muitas pessoas estão envolvidas no projeto e contam com esse trabalho, não fazia sentido parar até aparecer outro financiador. Agora passamos a ter duas versões: para a rua e para o teatro!

 

Cláudia Abreu com Paulo Betti em cena de “Os Mambembes” – foto Annelize Tozetto

 

Depois de rodar o interiorzão do país, o chamado Brasil Profundo, se apresentando para pessoas que, em muitos dos casos, estavam assistindo pela primeira vez a um espetáculo teatral, podemos dizer que a cultura é uma atividade mambembe aqui no país, por ainda ser acessível a apenas uma pequena parcela da população?
Infelizmente, nem todos têm acesso à cultura, por isso foi tão importante levar teatro a lugares onde nem sempre tem um e, mesmo quando tem, nem todos podem pagar. Isso é um problema desde que “O Mambembe” foi escrito. Ter condições básicas para fazer teatro é o tema da peça, os artistas sempre estão com pires na mão. A cultura é tratada como algo menor ou como artigo de luxo que não merece um investimento permanente. Mas é justamente para poder ter condições de ser acessível a todos que a cultura precisa de investimento e de leis adequadas. É preciso também reforçar o entendimento de que cultura é a identidade de um país. Jamais poderíamos ter ido fazer teatro na beira do rio Tocantins, em Marabá, no Pará, se não tivéssemos um patrocínio.

Para finalizar, quais projetos você já tem engatilhados para depois do final da novela
Após “Dona de Mim”, levaremos “Os Mambembes” a São Paulo, para uma temporada no Tuca. E pretendo montar e lançar o documentário sobre essa aventura que foi fazer a turnê da peça. Vai ser minha estreia como diretora.   

 

Cláudia com a trupe toda do espetáculo “Os Mambembes” após a apresentação em Açailândia (Maranhão) – foto reprodução Instagram