Alessandra Negrini, estrela de “Cidade Invisível”, aponta a necessidade de preservar a cultura e o meio ambiente

Alessandra Negrini, estrela de “Cidade Invisível”, aponta a necessidade de preservar a cultura e o meio ambiente

Alessandra Negrini segue atuando em trabalhos no streaming e em formatos online com resiliência e intenso dinamismo.

Na vida virtual e on demand que levamos, Alessandra Negrini está em todas. A atriz paulistana está no elenco de “Cidade Invisível”, série da Netflix que estreou este ano e narra as investigações de um assassinato, que se desenrola em uma batalha entre o mundo real e um reino habitado por criaturas folclóricas brasileiras, que vivem entre as pessoas comuns. Sua personagem, Inês, é dona de um bar em um bairro boêmio do Rio de Janeiro. A empresária se revela meio bruxa, até que mostra sua identidade folclórica – ela é a Cuca. “Nana neném/Que a Cuca vem pegar/ Papai foi na roça/ Mamãe foi trabalhar”, Inês cantarola nas cenas.

Além da bruxa, que não tem cabeça de jacaré na série – diferente das histórias de Monteiro Lobato – “Cidade Invisível” traz a sereia Iara, o saci, o curupira, entre outros personagens da cultura popular do Brasil. E se engana quem pensa que a produção foi assistida apenas por quem ouviu essas lendas desde cedo. A série foi distribuída para 190 países e esteve entre os conteúdos mais visto da plataforma em 40. “É muito lindo levar nossas histórias e as raízes brasileiras para fora. Uma aventura fascinante e eu me sinto muito honrada em fazer parte desse projeto”, conta. A segunda temporada já foi confirmada pela Netflix.

Desde que a pandemia restringiu as atividades culturais, grupos teatrais criaram peças encenadas virtualmente. Espetáculos online assumiram uma linguagem cinematográfica, criando um híbrido entre cinema e teatro. Foi o caso da peça “A Árvore”, protagonizada e produzida por Alessandra, que esteve em cartaz de fevereiro a abril no teatro Faap. A atriz interpretou uma escritora que, ao ser enredada por uma planta, começa a se transformar em uma árvore. A personagem passa a maior parte da trama dentro de seu apartamento — instalação que foi montada no teatro –, mas cenas gravadas em que ela aparece em uma floresta também atravessam a narrativa. “Tentamos fazer esse diálogo da palavra com a imagem”, explica.

 

Foto: Pablo Saborido | Amaro

Foto: Pablo Saborido | Amaro

 

Entre saudades da rua, do Carnaval de São Paulo, de estar com amigos e família, Alessandra segue encarando a realidade com sua conhecida naturalidade, mas com muito trabalho. Neste mês, estreia nos cinemas o filme “Acqua Movie”, o sexto longa do diretor pernambucano Lírio Ferreira, em que Alessandra interpreta uma mãe que viaja de carro com seu filho, saindo de São Paulo até Pernambuco em uma travessia para resgatar o afeto mútuo. Veja a seguir os principais trechos da entrevista que ela concedeu à reportagem da 29HORAS.

Sua relação com a cidade de São Paulo sempre foi intensa, como rainha do bloco Baixo Augusta e moradora. O que mudou com a pandemia? Você vê a cidade de outra forma agora?

Tudo mudou. Primeiro ficou claro que a presença da natureza é importante, vital para a sobrevivência! Comecei a reparar nas árvores, tão generosas, no meio das grandes avenidas, do ar poluído. Como fazem diferença e, às vezes, a gente nem percebe. Passei a andar muito a pé, vejo as pessoas fazendo isso, virou uma questão de saúde mental. E o que é São Paulo sem a cultura? Sem exposições, cinema, teatro, bares? O que sobra? Os parques, a arquitetura, as luzes da cidade. Temos essa beleza também, temos que reeducar o nosso olhar para uma vida do lado de fora. Toda grande cidade tem isso! Nossa cidade pode melhorar muito nesse quesito. Imagina se os rios fossem despoluídos? Que diferença!

A pobreza nas ruas também aumentou muito. São Paulo é incrível, eu amo, mas só vai ser a grande cidade que ela pode ser quando acolher a todos, sem exceção.

Qual é o seu lugar preferido em São Paulo?

É difícil escolher apenas um. Adoro o Parque do Ibirapuera, o Estádio do Pacaembu, o Edifício Copan, a Rua Augusta e o Parque Buenos Aires.

 

Paulistana de corpo e alma, Alessandra é rainha do bloco de rua Baixo Augusta; na foto, ela no carnaval de 2018 - Foto: Frâncio de Holanda

Paulistana de corpo e alma, Alessandra é rainha do bloco de rua Baixo Augusta; na foto, ela no carnaval de 2018 – Foto: Frâncio de Holanda

 

De 2013 até 2020, como foi sua relação com o bloco? O que ele representa para você?

O Baixo Augusta acabou se tornando uma parte importante da minha vida, do meu ano, aconteceu de maneira inesperada, absolutamente espontânea. Aquilo foi crescendo, crescendo e nos últimos carnavais levamos mais de um milhão de pessoas para a rua! É uma explosão de alegria e uma experiência amorosa com a cidade. Ocupamos a rua com respeito, alegria e música! Não é lindo?! Só posso dizer que tenho muito orgulho de fazer parte dessa história que, sem falsa modéstia, se confunde com a própria história do crescimento do carnaval de rua de SP. Hoje é um dos maiores do Brasil. E para aqueles que ainda insistem em falar mal do carnaval, vale a lembrança da importância econômica desse evento para a cidade.

Além do Baixo Augusta, o que mais sente falta no carnaval? Como espera aproveitar os próximos quando as condições sanitárias permitirem?

As pessoas estão com saudade de ocupar as ruas, de estarem juntas sem medo, seja lá quando for, não precisa ser no carnaval! Precisamos estar uns com os outros, senão a vida perde o sentido. Queremos trabalhar e amar, é isso o que a gente quer e é o básico! A pergunta é: se já existe vacina, por que ainda estamos assim? Por que estamos tão longe do fim dessa pandemia? Até quando teremos que ver a vida dos brasileiros devastadas? É inadmissível! Não dá nem para pensar no carnaval do ano que vem!

Por falar em protocolos, quando você for vacinada, qual é a primeira coisa que pretende fazer ou qual lugar pretende ir?

Quando eu estiver vacinada…não sei, talvez encontrar amigos também vacinados e dançar um pouco, dar risada, mas enquanto todos não estiverem vacinados, não vai mudar muita coisa.

 

A atriz em "A Árvore", projeto híbrido de teatro e cinema - Foto: Divulgação

A atriz em “A Árvore”, projeto híbrido de teatro e cinema – Foto: Divulgação

 

O espetáculo “A Árvore” foi adaptado para o formato online neste ano. Como tem sido a experiência híbrida de teatro e cinema? Como é atuar com o intermédio da tecnologia no teatro?

Acabou não sendo uma peça e, sim, um híbrido com o audiovisual. Precisávamos fazer com que existisse uma conversa. No teatro nós temos o texto, as palavras são muitas; e no cinema a imagem é o que importa. Tentamos fazer esse diálogo da palavra com a imagem. Falo muitas vezes para a câmera, o que poderia ser um recurso teatral, mas também nos preocupamos muito com a beleza e a força da imagem. Tem uma viagem na criação das imagens que é, a meu ver, cinematográfica. E a trilha sonora é bem presente e embala tudo isso. Tivemos uma equipe de teatro e de cinema mesmo, atuando e criando de forma conjunta. Uma diretora de teatro, a Ester Lacava, e um de cinema, o João Wainer, isso foi um diferencial. A luz está bem ousada. Foi uma aventura muito interessante para nós, e espero que para o público também. Fiquei muito satisfeita com o resultado.

Como é a sua relação com as redes sociais? Por que ter 50 anos é assunto? Para você, quais são os temas urgentes que precisam ser discutidos por lá?

Fui descobrindo aos poucos. No começo, eu tinha vergonha de ficar postando, fazendo cara de linda, me enaltecendo. Pensava, ‘meu Deus, que coisa ridícula, esse exibicionismo todo!’. Aí eu fui me acostumando, vendo que o jogo é esse e eu tinha que fazer parte dele mesmo. O mundo vai mudando e a gente também muda. Descobri um lado legal, que é a brincadeira, o bom humor e a relação direta com os fãs. É divertido e me sinto querida, me faz bem. Quem não gosta disso? Além de ser um lugar para defender suas ideias e convicções, mostrar um pouco de quem você é. As pessoas gostam. Comecei a enxergar na rede social um espaço eficiente de comunicação e, mesmo que eu enfrente algum dilema diante da relevância de postar uma selfie, ainda assim, quando alguém diz ‘obrigada, você me traz esperança, alegrou o meu dia’, é bacana, passa a fazer algum sentido.

Discutir idade é um assunto antigo, fora de moda. O Brasil precisa se atualizar, mas aos poucos as pessoas vão se acostumando e, quem sabe um dia, a gente vire um país adulto, como são os países europeus onde as pessoas aprenderam a desfrutar com prazer e sem culpa as suas diferentes idades. E o público me acompanha não pela minha idade. Pelo menos eu quero acreditar, acho que é mais profundo do que isso, do que essa superficialidade. As pessoas gostam de mim pelo que sou. Eu sou um conjunto de coisas, sou várias coisas, não quero ser reduzida a apenas isso.

 

Alessandra Negrini no papel de Inês, na série "Cidade Invisível", ao lado do ator Marco Pigossi - Foto: Alisson Louback | Netflix

Alessandra Negrini no papel de Inês, na série “Cidade Invisível”, ao lado do ator Marco Pigossi – Foto: Alisson Louback | Netflix

 

“Cidade Invisível”, da Netflix, traz personagens que são entidades do folclore brasileiro. Na sua opinião, como o público do streaming interagiu com essa narrativa? A série foi muito vista fora do Brasil também…

O folclore é algo vivo, são histórias que passam de geração para geração. A receptividade pelo público do streaming foi muito boa, e certamente isso tem a ver com o fato de tantos de nós termos crescido escutando essas histórias. Eu sou muito grata a minha mãe, que me apresentou todos esses personagens desde cedo. Ela era uma grande contadora de história e fez com que eu me apaixonasse por esse universo. Sobre a série, o que tenho a dizer é que é muito lindo levar nossas histórias, as raízes brasileiras, para mais de 190 países. Um orgulho mesmo!

A série também traz um recorte muito atual, da degradação ambiental e do assédio do mercado imobiliário em regiões antes preservadas. Como você vê essas questões hoje no país?

Esse é o ponto central da série e é tratado de uma maneira muito inteligente, porque nos pega pelo coração e nos faz pensar. Não temos um planeta B. Não teremos uma segunda chance, mas temos escolhas. A questão ambiental é uma questão política, social e econômica que precisa ser encarada pelos nossos governantes como algo prioritário. É a vida humana nesse planeta, é o ar que a gente respira, a água que a gente bebe, a comida que a gente come. Como isso pode não ser tratado como algo de extrema importância? Para o Brasil de hoje não é, o que me faz pensar o que será o Brasil de amanhã.

Antes de ser atriz, você estudou Jornalismo e Ciências Sociais, e foi professora de inglês. O que você traz dessas diferentes atuações?

Tudo. Tudo o que estudei e aprendi ao longo da vida me ajuda na hora de conceber um novo projeto, de preparar uma nova personagem. Me abriu a escuta, me treinou o olhar para o mundo, me ajudou a entender que a gente sempre tem algo a aprender e nunca está pronto.

Qual é o seu desejo para 2021? Já tão difícil e intenso, mas que ainda não acabou.

Vacina! Vacina para todos.

 

Foto: Pablo Saborido | Amaro

Foto: Pablo Saborido | Amaro

Grandes músicas de nostálgicas folias para uma festa intimista com a família

Grandes músicas de nostálgicas folias para uma festa intimista com a família

Aqui na praia vamos fazer um carnaval caseiro. Como temos na Ilhabela o tradicional banho da Dorotéia, as crianças vão se fantasiar de papel crepom e se jogar na piscina. O quintal vira o clube para a matinê e para folias do baile de máscaras. Confetes e serpentinas vão enfeitar o chão e se misturar com os galhos da goiabeira, do pé de pitanga, e vamos sujar os pés com as amoras maduras.

Não tem como ir para a rua ainda em fevereiro. Mesmo que façam falta o suor e a cerveja de velhos carnavais, a vacina ainda leva um tempo para liberar a folia. Quem tem a chance e a sorte de ter uma família animada pode se ajeitar assim. Uma bela seleção de marchinhas para dançar em roda tem que ter as maravilhosas e eternas “Noite dos Mascarados”, “Bandeira Branca” e “Máscara Negra”. As crianças adoram “Chiquita Bacana”, aquela que veio da Martinica e se veste de banana nanica, e “Touradas de Madri”, em que aparece a espanhola natural da Catalunha e aquela que a gente atravessa andando o deserto do Saara.

Acho incrível como o Carnaval no Brasil ainda mantém esses clássicos no repertório. Composições antigas como os cordões, como o “Rosas de Ouro” que desfilava com “Ó Abre Alas” de Chiquinha Gonzaga em 1899! É uma maravilha também o carnaval de rua em Recife e Olinda, com aqueles bonecos gigantes, com o Galo da Madrugada, com o frevo e as demais manifestações tradicionais de Pernambuco. Já assistimos a tantas aberturas históricas… Naná Vasconcelos, Lenine, Spok Frevo Orquestra e convidados de todo o país e de gêneros tão diversos da música brasileira.

 

Chiquinha Gonzaga, grande referência do Carnaval e das folias do Brasil

Chiquinha Gonzaga – Foto divulgação

 

Rio de Janeiro e São Paulo com suas grandes escolas. A Mangueira verde e rosa de Beth Carvalho emocionando sempre, a bela Portela de Paulinho da Viola. Uma playlist de samba enredo também é bacana. Lembro de muitas madrugadas com meu pai, carioca, assistindo aos desfiles pela TV. Lembro de torcer por Joãozinho Trinta e sua Beija Flor. Lembro de Tom Jobim e Maria Bethânia sendo homenageados na Avenida.

 

Beth Carvalho, símbolo dos desfiles de Carnaval

Beth Carvalho – Foto divulgação

 

Uma coluna um tanto nostálgica, sim, mas nada triste, porque a alegria de saber que temos a possibilidade de ver a população vacinada traz uma esperança e faz dessa festa pequeninha em casa uma ocasião com motivo e razão de ser.

Escute a playlist, junte seu pequeno núcleo familiar com a benção de estar com saúde, se fantasie, coloque uma máscara, distribua confete e ritualize a vida possível. A música anima sempre e dançar joga as dores para longe!

Beijos de longe! Bebam muita água e se divirtam – com segurança e boa música!

Opções de viagens seguras para um final de semana ou folga

Opções de viagens seguras para um final de semana ou folga

O calor do verão segue bombando, mesmo sem Carnaval, que estaria chegando. Qualquer pessoa de bom senso sabe que não é viável pensar em folia. As festas e até os desfiles foram suspensos. Mas como já estamos cansados de não fazer viagens, de não ver a maioria dos amigos e de sair o mínimo possível, eu proponho um final semana ou até mesmo uma folga com menos sacrifício e de baixos riscos.

Não precisamos renunciar ao nosso destino favorito. Apenas teremos que escolher a praia mais deserta que tiver por perto. E acredite, tem praias escondidas em diversas regiões. Basta fugir das areias mais badaladas e encontrar um cantinho de paraíso para chamar de seu. Leve o que precisa ou simplesmente vá de máscara até a barraca mais perto e volte para o seu guarda sol.

Aqui estão algumas praias isoladas que conheço nas regiões mais procuradas do litoral de São Paulo e do Nordeste:

A Praia Brava do Camburi é bem escondida e vale muito a pena. Fica a 40 quilômetros de Ubatuba.

 

Praia Brava do Camburi, em Ubatuba

Praia Brava do Camburi, em Ubatuba – Foto divulgação

 

Para a quem estiver em Ilhabela (que lota absurdamente nessa época, cuidado!), a dica é a praia do Bonete.

Quem vai para o sul da Bahia, tem de fugir das praias da moda como Trancoso e Caraíva. De baixo para cima, estas são as mais lindas e desertas: A praia da Barra do Cahy, com direito a rio desembocando no mar, mas é dica para quem se hospeda em Cumuruxatiba, já que a região vale passar uns dias. Abaixo de Trancoso, com acesso pela praia do Espelho, ficam a praia do Satu e a praia do Camarão, que são esplêndidas.

Finalmente, se você for para Maceió, é obrigatório fazer uns 30 quilômetros de carro e curtir a tranquilidade do lado direito da praia do Gunga. O lado esquerdo é movimentado, então compre água e coma algo por ali e pegue um buggy-táxi para voltar para o lado deserto da praia, que tem falésias e um mar transparente. Você só vai sair dali no pôr do sol. Aproveite!

 

Foto da Praia do Gunga

Praia do Gunga – Foto divulgação

 

 

A cantora pernambucana Duda Beat lança novo álbum em 2021 e está a todo vapor

A cantora pernambucana Duda Beat lança novo álbum em 2021 e está a todo vapor

QUEM PODERIA IMAGINAR que a música veio do silêncio? A recifense e estudante de Ciência Política Eduarda Bittencourt Simões teve um momento de revelação em um curso de meditação, em meados de 2016, e decidiu ser aquilo que tanto admirava nos homens pelos quais se apaixonava: cantora e viver da música. Arrumou as malas e foi viver definitivamente na casa das tias no Rio de Janeiro, virou Duda Beat e com apenas um álbum, “Sinto Muito”, de 2018, estourou. Para a sorte dos fãs, em 2021 vem um novo trabalho, carregado de amor e sofrência – letras que a tornaram conhecida. “Ainda é sobre se apaixonar, mas de forma mais realista e sem idealizações, um amadurecimento que passei em minha vida”, antecipa.

 

Duda Beat Rainha da Sofrência

Foto Ivan Erick

 

Com ritmo pop, brega e eletrônico, as canções de Duda Beat expõem um lado um pouco difícil para os dias desprendidos de hoje: querer ser correspondida e desejar se vincular a alguém. Talvez as respostas estejam nos astros, já que a menina de Recife sempre foi assim. “Deve ser porque sou libriana, quando era adolescente já me apaixonava, então vou sempre cantar sobre amor”, conta. Seus ritmos refletem a efervescência cultural de Pernambuco e a diversidade de estilos de sua terra natal. “Minha formação musical vem de lá, adoro maracatu, frevo, pagode, forró… ninguém gosta de um estilo só, é uma mistura honesta.”

A cantora de 33 anos traz essa festa também de casa, de sua família. “Minha avó era uma foliã master, ia sempre ao Bloco da Saudade (um dos blocos de Carnaval mais tradicionais da cidade)!”, lembra. No ano passado, Duda Beat representou bem suas raízes e agitou os blocos de rua de Recife e do Rio de Janeiro. “Quanto mais diverso e multicultural, mais agregador é o Carnaval, eu amo muito essa época do ano.”

 

Duda Beat sorrindo

Foto Ivan Erick

 

 

ACOLHIMENTO E PAUSA

Só que a Quarta-Feira de Cinzas foi longa em 2020 e parece que ainda seguimos esperando pelo novo momento de festa. Durante a pandemia, Duda Beat fez sete lives abertas ao público, e permaneceu em quarentena com seu marido, Tomás Tróia (também seu produtor), no Rio. “Vivemos na casa que era da família de Tomás, seguimos quietinhos aqui com nossos gatos.”

De Recife, a cantora hoje ama a Cidade Maravilhosa, lugar que visitava sempre durante as férias escolares, já que parte da família materna migrou para a capital fluminense em busca de novos sonhos. “Me identifico muito com minhas avós, uma tinha coração carnavalesco e outra veio ao Rio de Janeiro para construir a vida, sou pouco das duas.”

Hoje, a nova cidade significa o encontro com a carreira e o amor. Em suas idas e vindas ao Rio, ainda adolescente, conheceu Tomás, que tocava na banda de seu primo, Gabriel Bittencourt, atualmente baterista na banda de Duda. Mas foi preciso mais tempo até o amor se concretizar. “Passei anos sofrendo por caras que não me correspondiam, Tomás era meu amigo e até ouvia as lamentações, demorei para perceber que o meu parceiro já estava ali, do meu lado, o maior clichê aconteceu comigo, e agora estou vivendo algo que nunca tinha vivido, amar e ser amada.”

 

Duda Beat e seu marido Tomás Tróia

Duda Beat e Tomás Tróia – Foto Fernando Tomaz

 

Antes do distanciamento social, a cantora passeava pela Praia de Botafogo, Parque Lage e pela Lagoa. “A vista mais bonita do Rio é a de Botafogo, dá para ver a Urca, é um retrato, muito lindo da cidade, e é onde minha avó materna morava, me desperta muitas memórias boas”, diz, e recorda que foi patinando na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas que se inspirou e fez algumas músicas de seu primeiro álbum. “A cidade, para mim, é uma mistura de clima praiano com muito trabalho, que desenvolvo por suas ruas. Eu também frequentava muito os bares, como o Colab (em Botafogo), onde o universo da música é intenso e tem muita troca interessante.”

 

DIVERSÃO REUNIDA

Duda Beat é também cantora de parcerias. Lançou singles em 2019 e 2020, que mantiveram seu trabalho a todo vapor, como “Meu Jeito de Amar”, com o DJ carioca Omulu; “Só Eu e Você na Pista”, com a baiana Illy (ambas com remix dos produtores Tomás Tróia e Lux Ferreira); “Chega”, com Mateus Carrilho e Jaloo; e “Tangerina”, com Tiago Iorc. O recente “feat” com as jovens de Tocantins Anavitória, “Não Passa Vontade”, agitou a internet com um clipe cheio de referências cinematográficas – elas recriaram momentos de produções aclamadas que vão de “Os Excêntricos Tenenbaums”, de Wes Anderson, passando por “A Pequena Miss Sunshine”, “As Vantagens de Ser Invisível”, até “Os Sonhadores”, de Bernardo Bertolucci.

 

Duda Beat com a dupla Anavitória

Duda Beat com a dupla Anavitória – Foto Breno Galtier

 

O novo ano traz ainda mais música. No finalzinho do mês passado, Duda apresentou ao público um EP com Nando Reis, com músicas já conhecidas dos dois, mas em novos arranjos e com Duda e Nando cantando juntos. “As canções foram escolhidas de uma forma muito suave e fluida, e ele foi super amoroso durante todo o processo. Passamos cinco dias em estúdio nos conhecendo e apurando os rearranjos, foi uma química linda”, conta.  A música “Segundo Sol”, por exemplo, ganhou novo tom no EP e já é preferida da cantora.

 

Duda Beat com Mateus Carrilho e Jaloo

Duda Beat com Mateus Carrilho e Jaloo

 

Em uma imersão de vinte dias em Teresópolis, na região serrana do Rio, com toda a banda, as inspirações para o novo álbum vieram. “Me acostumei a precisar do silêncio para criar, foi assim também para esse segundo trabalho. Ficamos hospedados em uma casa linda logo antes da pandemia, mas quando voltamos o mundo já era completamente outro”, lembra. O álbum (ainda sem nome definido) vai ser lançado neste semestre, depois de adiamentos necessários causados pelo isolamento social, mas Duda Beat garante novas parcerias: “Gente da Bahia e de Recife, pessoas que admiro muito e me ajudaram a cantar sobre amor, histórias que já vivi e a relação de paz que hoje vivo com esse sentimento.”

 

Duda Beat quando ganhou o prêmio de artista revelação do Multishow, em 2019

Duda Beat quando ganhou o prêmio de artista revelação do Multishow, em 2019 – Foto Divulgação

 

A música de Duda Beat se reflete também em seus conhecidos looks, assinados pelo estilista Leandro Porto. Vestidos coloridos, mangas bufantes e laços fazem parte de sua estética nos palcos. “Gosto do exagero e tenho o lema de que a moda é para se divertir, achando gostoso, está valendo”, ri. Cyndi Lauper, Lady Gaga, Drew Barrymore e a cantora espanhola Rosalía são musas inspiradoras, assim como a atriz Sônia Braga, já que carregam muita autenticidade em suas roupas. “Como a gente se veste também diz muito sobre o que pensamos, é algo político e acho que é uma extensão da minha arte.”

Quando vier a tão desejada vacina, a primeira coisa que a cantora pretende fazer é justamente vestir um dos seus looks e subir no palco. “Ando muito emotiva e estou morta de saudades dos shows, só de ver vídeos me emociono! Será com certeza o primeiro desejo a colocar em prática quando todos estiverem imunizados”, conta. O último show de Duda Beat foi na capital paraibana, João Pessoa, com a presença de seus pais na plateia. “É muito perto de Recife, eles estavam lá e foi uma despedida linda sem saber! Agora com disco novo, vai dar frio na barriga, não vejo a hora, vai ser incrível!”

 

Duda Beat e Banda

Banda de Duda Beat – Foto divulgação

 

 

Com humor afiado e talento para o improviso, Marcelo Adnet é uma das personalidades de 2020

Com humor afiado e talento para o improviso, Marcelo Adnet é uma das personalidades de 2020

Uma das personalidades mais influentes de sua geração, o ator, roteirista, compositor e apresentador, Marcelo Adnet, tem chacoalhado a cena política com suas paródias cheias de crítica a figuras do alto escalão do governo e seus correligionários. Depois de destilar seu humor perspicaz imitando os postulantes a presidente nas eleições de 2018 (com “Tutoriais dos Candidatos”), quebrou a internet durante a quarentena com “Sinta-se em casa”. Exibida pela Globoplay, a série teve 60 milhões de visualizações e chegou a arrancar lágrimas (de tanto rir) de Caetano Veloso, um fã notório.

A inteligência e o raciocínio ágil, além do talento para fazer rir, tem se mostrado uma arma poderosa nas mãos deste carioca de 39 anos. Formado em jornalismo pela PUC-Rio, o humorista nunca chegou a exercer a profissão, mas traz da universidade o faro jornalístico para criar uma crônica bem humorada (e sarcástica) deste Brasil de tintas surreais. Para o “Sinta-se em casa”, foram 110 episódios, criados diariamente a partir dos assuntos mais relevantes. “Elencava os temas, criava de improviso e em poucas horas estava no ar. Foi uma loucura, mas é impressionante a força que tem o conteúdo instantâneo”, lembra.

Filho do músico Francisco Adnet – de quem acredita ter herdado o senso crítico e a capacidade para o improviso – e da ex-modelo e figurinista Regina Cocchiarale, nasceu e cresceu em Botafogo, bairro da zona sul do Rio que batiza seu time de futebol e sedia a escola de samba do coração, a São Clemente. Foi para a agremiação que escreveu, em parceria com um grupo de compositores, o samba-enredo do último Carnaval.

Em uma conversa por vídeo-chamada de sua casa, onde mora com a esposa, a universitária Patrícia Cardoso, Adnet fala desse mergulho no mundo do samba-enredo, de assuntos sérios como política, pandemia e fake news, e de como tem se preparado para o maior projeto de sua vida: a paternidade.

 

Foto Sergio Zallis | TV Globo

 

“Sinta-se em casa” foi todo gravado em sua casa, de forma improvisada, somente com a ajuda da sua esposa. Quais lições você tirou dessa experiência?

A primeira é que a precariedade e a limitação podem ser fatores muito positivos para o humor. Outra foi compreender melhor a valorosa importância dos profissionais que trabalham nos bastidores. Como sentimos falta de um continuísta, de um bom áudio… Foi um grande aprendizado fazer um programa diário, em formato de crônica e sem recursos. Só eu e a Patrícia. Não tínhamos equipamento profissional, fazia do celular… Comprei um tripé para apoiar o telefone, nem isso eu tinha.

 

Foram 110 episódios diários. De onde veio tanta inspiração?

O cenário político entregou muita cena surreal, muita notícia que dá pano para manga. Mas, em paralelo ao noticiário tradicional, temos as redes sociais, que são uma fonte inesgotável de assuntos que, muitas vezes, não são absorvidos pela televisão. É muito interessante poder levar o que bombou na internet para a TV, ou fazer o inverso. Gosto desse diálogo entre mídias.

 

Qual a função do humor em um momento como este, de crise sanitária global, descrença política e discursos de ódio?

A premissa do humor é fazer rir. Mas, claro, pode ter outras funções. A crítica é muito importante e por meio do humor pode ter um efeito muito mais poderoso e abrangente do que a crítica científica ou acadêmica, por exemplo. Mas, ao mesmo tempo, também serve para aliviar as tensões, tornar assuntos complicados mais leves. Em uma pandemia, pode nos dar um respiro, nos alienar até, dessa realidade tão dura. Talvez até nos informar em meio à tanta desinformação.

 

Você tem uma capacidade incomum para o improviso, sempre cheio de referências. É um talento nato ou requer estudo?

Sempre fui monomaníaco. Tinha pequenas manias que duravam pouco, até eu abandonar e grudar em outra. Sempre fui muito curioso com todos os assuntos. Então ia fundo até exauri- lo. Futebol, xadrez, geografia, línguas…. Acho que criei um repertório.

 

Quais línguas você fala?

Uma vez pedi para meu pai para estudar russo. Ele comprou cadernos e fitas cassete e aprendi um pouco. Falo espanhol, inglês e papiamento (língua falada em Aruba e Curaçau, no Caribe). E me viro no italiano, francês, croata…

O humorista de presidente da república, no desfile da São Clemente, no Carnaval deste ano (FOTO RIOTUR)

 

Como você cria as imitações?

Meio por osmose. No “Tutorial dos Candidatos”, eu pegava um pedaço de papel e ia anotando as frases mais marcantes ou um tique que a pessoa tinha. E ficava assistindo até absorver um pouco daquilo. É um trabalho muito semelhante ao do caricaturista, que vai pegar um nariz que é grande e aumentar mais ainda.

 

Apesar de campanhas na TV, do esforço conjunto da imprensa, a sensação é que não estamos conseguindo conter a disseminação de fake news. Você enxerga uma solução para freá-las?

A solução é educação e isso demora muito. A notícia falsa é muito sedutora, mais até que o conteúdo real, que geralmente é mais maçante, por vezes até decepcionante. As fake news são bombásticas. E já existem há tempo, né? Tinha o pessoal da indústria da fofoca e os boatos sobre celebridades. Mas naquela época o prejuízo era individual e agora é coletivo. Isso é preocupante. Há governos eleitos em cima de notícia falsa. É um quadro que só vai ser resolver quando as pessoas tiverem interesse em questionar, duvidar, buscar comprovações.

 

Como avalia a condução do governo federal na pandemia?

Péssima, pouquíssimo clara, que despreza a ciência, a pesquisa e as normas internacionais. Primeiro recomenda um remédio, agora está recomendando outro. Perdeu completamente o sentido e a moral. As pessoas não ouvem o governo federal. Ele pensa uma coisa e a população, em sua grande maioria, está fazendo outra. Está usando máscara e cobra de quem não usa, fica chocada com aglomerações. O governo está dando mal exemplo, alguns seguem, mas a maioria acho que não. Não ouve nem confia mais nele.

 

Com tem sido o seu período de quarentena?

Quem pode ficar em casa, como eu, deve ficar. Eu fiquei, radical mesmo. Não peguei Covid. Eu passei muito tempo trabalhando para lá e para cá, me movimentando. Aí a vida vem e fala: “Quer ficar de preguiça, então toma”! Foi um tempo para acalmar. Assisto a filmes, faço terapia, compus um monte de samba como nunca tinha composto. Ano passado, um cara que ficava no sofá vendo televisão era um improdutivo. Este ano é um cidadão exemplar. Mas o trabalho me toma tempo também.

 

E como estão os planos para o cinema?

Tem um longa-metragem para sair no início do ano que vem, o primeiro filme que criei e co-roteirizei. Chama “Nas Ondas da Fé” e conta a história de um rapaz, que eu interpreto, do subúrbio do Rio de Janeiro, casado com sua esposa evangélica, que o leva para a igreja e, por um acaso da vida, ele se torna pastor da igreja. Cresce lá dentro a ponto de brigar com a cúpula e ter que fundar a sua própria. Uma história de altos e baixos. É uma comédia, mas que foca mais no drama dos acontecimentos.

 

Na pele de Rolando Lero, na Escolinha do Professor Raimundo (FOTO GLOBO | JOÃO COTTA)

 

 

É verdade que você será o novo diretor de humor da Globo, no lugar de Marcius Melhem?

Não. Não quero ter um cargo executivo, não tenho interesse. Eu tenho um espírito de menino, livre. Sou do samba. Acho que para mim seria péssimo.

 

Falando em samba, como foi sua aproximação com esse universo?

Acho que minha primeira imitação, ainda criança, foi de um sambista. Na faculdade fiz um samba para o trote com um amigo, o André Carvalho. Anos depois esbarrei com ele, que me falou de outro amigo, o Gabriel Machado, que já tinha composto sambas para a Mangueira e estava formando um grupo. Disputamos na São Clemente para o Carnaval deste ano e ganhamos. Foi o primeiro que assinei, na minha escola de coração, que fica em Botafogo, bairro em que nasci e vivi durante 30 anos. Foi lindo! Depois fizemos o samba da Botafogo Samba Clube, escola do que seria a terceira divisão do samba do Rio, com enredo sobre Beth Carvalho. Este ano fui convidado para ser o carnavalesco da escola e aceitei. Nosso enredo será João Saldanha. Também entregamos um samba para a Império Serrano. Concorrência dificílima, vinte sambas na disputa. A Império é uma escola gigante, tem sambas históricos maravilhosos. É uma emoção nova.

 

Soube que até no Carnaval de São Paulo terá samba seu.

Pois é. Nessa pandemia ainda fui chamado por diferentes compositores de São Paulo para fazer parte de grupos de composição. Entramos em seis disputas e ganhamos 4! Gaviões da Fiel, Dragões da Real, Rosas de Ouro e Leandro de Itaquera. Foi tudo por Whatsapp!

 

Como tem sido a experiência?

Fazer música em grupo, e popular, é um aprendizado incrível. Foi algo que pulei de cabeça, estou amando compor. Quase um sonho de menino que virou realidade. Acho super importante eu estar na Globo, mas também na Serrinha, na quadra da Impero Serrano. Estar na premiação do Emy, em Nova York, mas também na quadra da São Clemente bebendo latão.

 

FOTO SERGIO ZALLIS | TV GLOBO

 

Como é ter Caetano Veloso como fã?

Fiz a paródia da Paula Lavigne na quarentena, que rendeu um episódio especial para anunciar a live de Caetano. Acabou virando uma amizade. Tenho tanto respeito e admiração por ele…É uma das poucas pessoas que considero realmente um ídolo. Mas sou super tímido nesse sentido. Não quero mandar uma mensagem para ele. É um gênio, por que eu vou encher o saco do Caetano? O que vou falar? Ouve meu samba? Vou ficar com vergonha. Se bem que é uma boa ideia, né?

 

De onde vem sua verve artística?

Meu avô paterno era pediatra, mas contava piada muito bem. Piada clássica, de salão, coisa que eu não sei fazer. Meu pai sempre foi uma cara mais crítico, ácido, de humor super afiado. Acho que puxei mais ele, porque ao mesmo tempo que ele é tudo isso, ele também é reservado. Ele e meus tios são todos músicos. Minhas tias cantavam com Tom Jobim. Fui à casa do Tom em Nova York, lembro de ter ficado fascinado com a mesa bagunçada, caótica dele. A música sempre foi muito presente – meu pai faz jingle, música publicitária, então sempre pensei na música como ofício. Minha mãe foi modelo, mas depois figurinista. Cheguei a pensar que seria um cara de exatas, mas logo vi que não era nada disso. O dia a dia do meu pai que fazia música sob demanda me ensinou muito e ele tinha que se virar em poucos dias, tem muito a ver com improviso, com o que eu faço. Um dia tem que fazer um forró para um sabão em pó no outro dia um samba enredo, tudo isso me inspirou.

 

Sua primeira filha, Alice, nasce em breve. Como está se preparando para a paternidade?

Acho que o melhor que posso fazer é estar disponível. Então vou tirar um mês de férias para estar junto cem por cento no início. E, claro, aprendi o básico. A botar para arrotar, a trocar uma fralda. Penso que primeiro eu posso mostrar algumas coisas do mundo para ela, mas depois eu quero é que ela me mostre. Estou ansioso para que chegue esse dia.

 

Com a esposa Patrícia Cardoso, grávida de nove meses, à espera da primeira filha, Alice (FOTO BABUSKA)