Enquanto a folia nas ruas não é possível, algumas músicas e produções audiovisuais para inspirar futuros dias de festa
“Quem me vê sempre parado, distante
Garante que eu não sei sambar
Tou me guardando pra quando o Carnaval chegar
Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando
E não posso falar
Tou me guardando pra quando o Carnaval chegar”
Como na música de Chico Buarque, estamos aqui parados, só esperando esse Carnaval que não chega. É o segundo ano que minha coluna carnavalesca encontra a folia adiada. Mas não vamos desistir agora, aproveitamos para falar de música e cinema. Nara Leão, a fundamental, esteve com Chico e Bethânia no filme de Cacá Diegues que inspira este texto e que também é o nome da música “Quando o Carnaval Chegar”. Os três protagonizam uma deliciosa fábula em que esperam um rei para uma grande festa de Carnaval. O rei não chega e a história se desenvolve deliciosamente com romances, apresentações mambembes, um ônibus colorido e muita música boa cantada pelo trio.
Lançado em 1972, em plena ditadura, o longa foi um respiro de alegria. O disco com a trilha sonora tem Assis Valente, Tom e Vinicius, Braguinha, Lamartine e várias de Chico Buarque.
Nara Leão também está no ar agora com um belíssimo documentário em capítulos, “O Canto Livre de Nara Leão”, dirigido por Renato Terra e disponível no GloboPlay. Mais do que uma cantora importante, Nara é um grande exemplo como artista e mulher. Aos 12 anos já apresentava o jazz para Roberto Menescal, amigo e parceiro da vida toda. Aos 15, recebia os amigos no apartamento de seu pai, onde nasceu grande parte do que foi a Bossa Nova. Recusou o título de musa e foi cantar o samba do morro com Zé Kéti e o sertão nordestino com João do Vale no espetáculo Opinião.
Nara performou a vitoriosa “A Banda” com o amigo Chico nos festivais da canção. Fez parte da Tropicália, gravou “Lindonéia”, mas não apareceu para a foto da capa como também não foi à passeata contra as guitarras. Gravou Roberto e Erasmo quando toda a chamada “MPB” achava cafona e popular demais. Não gostava que lhe exigissem maquiagem nem figurino.
Não fazia o que não acreditava. Feminista, libertária, honesta, de voz deliciosa, violão muito bem tocado e uma sensibilidade artística rara e vanguardista.
É lindo ver Nara Leão hoje admirada, ouvida, aclamada. Esse documentário é um sucesso, porque é muito bem feito, com imagens e depoimentos incríveis. Mas é também porque Nara Leão é uma mulher que dá alegria e orgulho de conhecer. Por isso o documentário “O Canto Livre de Nara Leão” é como o filme de Cacá Diegues. Um sopro de esperança para quem está guardando tanta alegria adiada, abafada, para quando o Carnaval chegar. Até lá seguimos cantando e ouvindo Nara, Chico, Bethânia e tantos outros que corajosamente nos fazem rir e chorar em tempos duros.
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