Os sabores únicos de Santiago do Chile, que desponta na cena gastronômica mundial

Os sabores únicos de Santiago do Chile, que desponta na cena gastronômica mundial

Muito mais do que um destino de passagem para estações de esqui e de passeios por vinícolas próximas, a capital chilena Santiago é um excelente e pulsante polo gastronômico

Sobrevoar a Cordilheira dos Andes deve estar na lista de qualquer viajante que aprecia os encantos naturais do mundo. E para os brasileiros, o percurso é rapidinho e pode ser desfrutado em uma viagem a Santiago, a capital do Chile. Em menos de quatro horas, ao espiar pela janela do avião – não deixe de escolher o assento que tem vista direta –, a majestosa formação montanhosa coberta por neve branquinha enche os olhos. São mais de 3 milhões de quilômetros quadrados de área e quase 7 mil metros de altitude.

Apesar de ser destino certo no inverno em razão de suas estações de esqui, como Valle Nevado e Ski Portillo, o país pode ser apreciado o ano todo. Muito mais do que uma cidade de passagem, Santiago é vibrante e cosmopolita e merece alguns dias de atenção. Especialmente agora, que desponta na cena gastronômica com diversos restaurantes em importantes listas dos melhores da América Latina e do mundo.

 

Skyline de Santiago – foto Tifonimages / iStockPhoto

 

É o caso do premiado Boragó, que já foi eleito o melhor restaurante do Chile e figura sempre entre os melhores do mundo – este ano, ficou em 29º lugar na lista The World’s 50 Best Restaurants, e em 2021 foi considerado o restaurante mais sustentável do mundo pelo mesmo ranking.

Em 2006, o chef Rodolfo Guzmán inaugurou o estabelecimento no sofisticado bairro Vitacura com o objetivo de repensar a comida chilena, introduzindo novos métodos de cozimento, ingredientes nativos milenares e produtos locais. Tal interesse o levou a criar posteriormente o CIB – primeiro centro de pesquisa alimentar do Chile, que transforma os ingredientes nativos em novas possibilidades culinárias.

 

Entrada em formato de abelha no Boragó – foto Reprodução Instagram

 

A cozinha-laboratório sazonal e ancestral é definida como “um ensaio permanente sobre o momento do território chileno” e serve pratos de forma criativa, em um extenso menu degustação que muda cinco vezes ao ano – nas quatro estações, além de um pré-primavera, que dura apenas algumas semanas. As comidas são verdadeiras obras de arte e diferentes de tudo o que se pode experimentar por aí!

A título de curiosidade, o menu de outono deste ano apresentava um suco outonal quente de guanaco patagônico (um camelídeo nativo da América do Sul, parecido com uma lhama) e uma das entradas era em formato de abelha. Outros destaques do jantar foram o ouriço da praia de Quintay; a maçã selvagem da Patagônia; a lagosta do arquipélago Juan Fernández cozida dentro de uma alga; e o cordeiro patagônico cozido à perfeição. Todas as etapas podem ser harmonizadas com vinhos, mas há ainda a opção de harmonização não alcoólica, com sucos e chás divinos. Para acompanhar o processo de degustação, é servida a todo momento água tratada da chuva da Patagônia.

Também com uma proposta contemporânea e sazonal e listada no ranking The World’s 50 Best, a Pulperia Santa Elvira é um destino certo em Santiago para quem quer apreciar uma excelente gastronomia, mas com um charme a mais. Localizada no bairro patrimonial Matta, afastada dos luxuosos e badalados Vitacura e Las Condes, o local ocupa um casarão encantador de mais de 100 anos e seu espaço aconchegante e com jeitinho de “casa de vó” dá o tom da experiência culinária igualmente encantadora.

 

Ambiente aconchegante da Pulperia Santa Elvira – foto Vivian Monicci

 

Uma pulperia, ao contrário do que se pode imaginar, não está relacionada a polvo – que, em espanhol, é “pulpo”. Na verdade, é um termo utilizado para designar o estabelecimento comercial típico das regiões latinas, que vendia tradicionalmente itens como comida, bebida, vela, carvão e remédio.

A cozinha comandada pelo chef e proprietário Javier Avilés é criativa, mas utiliza elementos tradicionais e indígenas, priorizando sempre produtos de cooperativas sustentáveis. De suas panelas saem criações como Chupe de Zapallo (sopa com base de pão embebido em leite e diferentes texturas de abóbora) e o cozido de cogumelos silvestres com crocante de cacau.

 

Prato Chupe de Zapallo – foto Vivian Monicci

 

Muito bem executados e com apresentação impecável, os pratos harmonizam perfeitamente com a decoração e atmosfera do ambiente. Aqui, é necessário exaltar o trabalho minucioso e extremamente interessante para os olhos feito por Florencia Velasco, decoradora e esposa do chef, que embarcou junto na aventura de sustentar um restaurante fora da curva em um bairro também fora do eixo mais óbvio da cidade.

Deliciosas descobertas

Próximo à região da Pulperia, está o bairro Franklin, que deve ser incluído na lista de lugares a visitar na capital, mesmo estando mais afastado da badalação. Lá, você encontra o shopping Persa Víctor Manuel – um edifício histórico que abriga milhares de lojinhas de antiguidades, no melhor estilo mercado de pulgas. Após circular por suas vielas, vale a pena procurar em uma delas o DeMo, pedida ideal para quem ama brunch e comidinhas rápidas.

 

Ambiente do DeMo – foto Reprodução Instagram

 

Aberto apenas aos sábados e domingos, das 10h às 16h, o espaço em formato de cubo transparente e de cozinha aberta serve somente sete mesas e é comandado pelo chef Pedro Chavarría – com passagem pelo Boragó –, que elabora menus que destacam sempre os melhores produtos da semana e incluem sanduíches, docinhos e cafés, além de frutos do mar. Não deixe de pedir o inesquecível pão quentinho com patês artesanais, que aquece o corpo e o coração nos dias mais frios.
Desde sua inauguração, em 2021, o lugar chama a atenção dos locais e dos turistas e coloca Franklin no radar gastronômico de Santiago. Este ano, o DeMo foi incluído na lista 50 Best Discovery, que destaca os points para ficar de olho e que valem a descoberta.

Para experimentar uma culinária mais tradicional e regional, o Mesón de la Patagonia é outra escolha certeira. Inaugurado nos anos 1980, na região de Punta Arenas, serve comida caseira tradicional da Patagônia chilena, como a centolla (king crab do Chile) fresca – preparada das mais diferentes formas – e o cordeiro feito de maneira tradicional patagônica: preso inteiro em uma cruz de ferro e assado em uma fogueira. O preparo pode ser visto bem de pertinho, já que fica logo na entrada do restaurante e ao lado de algumas mesas externas.

 

Cordeiro feito de maneira tradicional patagônica, na fogueira, do restaurante Mesón de la Patagonia – foto divulgação

 

É com essa carne suculenta que eles preparam seu jamón caseiro – uma festa para o paladar – e a maioria dos pratos, como o surreal Garrón de Cordero, servido com uma igualmente saborosa polenta cremosa. Caso ainda sobre um espacinho no estômago ao final da farta refeição, vale provar de sobremesa a mousse de ruibarbo e a panqueca acompanhada de sorvete de baunilha e calda de framboesa ou ruibarbo.

Seguindo a linha carnívora tradicional, o Don Carlos Carne y Vino é um restaurante de parrilla argentina e se destaca pelos cortes nobres, como bife ancho, flat iron e prime rib. Com quase 40 anos de história, é um clássico da cidade e excelente escolha para quem passeia por Las Condes.

 

Carne nobre do argentino Don Carlos – foto divulgação

 

O giro gastronômico termina com a deliciosa pizzaria Capri, que está no ranking das 50 Top Pizza da América Latina de 2024. Fundada pelo jovem Nicolás Saavedra, engenheiro de profissão e apaixonado por gastronomia, o lugar nasceu de seu encantamento pela cultura italiana e sua rica tradição gastronômica, especialmente as pizzas. Após uma viagem ao país, ele retornou a Santiago determinado a aprender as técnicas das pizzas originais. Com seu desenvolvimento nesse universo, transformou o hobby em profissão e, em 2021, abriu um ponto de entrega em Vitacura.

Com o enorme sucesso, abriu em 2022 o Capri Restobar, no bairro Lo Barnechea. O negócio familiar se propõe a ser um ponto de encontro jovial, com uma boa oferta gastronômica e de bar, mas sempre destacando as redondas tradicionais de Nápoles. Vale a pena experimentar, porque são de fato deliciosas e muito leves. Sem dúvida, é mais um ótimo exemplo de como Santiago tem muito a oferecer ao viajante que se permite descobrir suas texturas diversas e seus ricos sabores.

 

Pizza Catalina (com burrata) do Capri Restobar, no bairro Lo Barnechea – foto Oscar Doussang

Novidade quente!

Em alguns países, é muito comum encontrar mercados urbanos, como o famoso Time Out Market, presente em cidades como Lisboa e Barcelona. A boa notícia é que Santiago inaugurou recentemente o primeiro mercado urbano do Chile, localizado em Las Condes, o centro financeiro da capital.

O MUT (Mercado Urbano Tobalaba) fica integrado à estação de metrô Tobalaba e tem design moderno e descolado, superatrativo aos turistas. Por lá, você encontra diversas lojas – de grandes marcas e de pequenos produtores –, feiras de artesanato, restaurantes, além de atividades culturais, oficinas e exposições.

 

Mercado Urbano Tobalaba – foto Sfs90 / Wikimedia Commons

 

Avenida Apoquindo 2730, Las Condes, Santiago.

Entrevista com a diretora de branding da Heineken: “Nosso papel é promover experiências únicas e momentos de conexão”

Entrevista com a diretora de branding da Heineken: “Nosso papel é promover experiências únicas e momentos de conexão”

Diretora de comunicação e branding da Heineken no Brasil, Beatrice Jordão fala sobre a relevância do mercado brasileiro para a marca e o investimento em eventos marcantes para o público no país

Heineken completou 150 anos em 2023 e, hoje, o Brasil representa o maior volume de venda da marca no mundo. As razões por trás de tamanha aderência dos consumidores brasileiros às “verdinhas” são muitas e o próprio tamanho do mercado justifica os elevados números. Mas há estratégia de marketing consistente nos bastidores, com destaque para a “premiumnização” da bebida – que destaca a melhor qualidade dos ingredientes da cerveja – e a aposta e os investimentos robustos em eventos de alto impacto, como o G1 de Fórmula 1 – da qual a marca é parceira desde 2016 e, em Interlagos, apresenta um verdadeiro camarote aos fãs, o Heineken Village. Por aqui, a cerveja foi consumida até mesmo por Madonna em seu emblemático show na Praia de Copacabana, em maio – em um memorável brinde feito pela rainha do pop junto aos súditos. Em entrevista à 29HORAS, Beatrice Jordão, diretora branding da Heineken, compartilha as tendências de marketing no mercado de bebidas e as estratégias ousadas da marca.

 

Beatrice Jordão, diretora de branding da Heineken – foto divulgação

 

Quais são as principais ações da Heineken por aqui?
Realizamos ações de impacto que possam contribuir com a sustentabilidade nas cidades, dentro da plataforma de sustentabilidade e cultura de marca ‘Green Your City’. Essa iniciativa visa gerar reflexão sobre o papel das pessoas nas cidades em que vivem, por meio de grandes ações. Uma das metas centrais da plataforma é promover a circularidade, incluindo estratégias de reciclagem e retornabilidade de embalagens. Até 2030, temos o compromisso de tornar 80% das embalagens de vidro da Heineken circulares. No Brasil, onde apenas 47% dos vidros são reciclados, implantar um sistema de economia circular para embalagens, como garrafas long necks, é uma prioridade para a marca.

Quais são as particularidades utilizadas na comunicação no Brasil?
Procuramos estar sempre mais próximos de nossos consumidores com campanhas e ações que possam celebrar e brindar junto à marca. Um exemplo disso foi a nossa campanha de 150 anos. Nessa celebração de aniversário, destacamos as diversas formas pelas quais os consumidores a chamam, como ‘verdinha’ aqui no Brasil, e como se relacionam com uma série múltipla de ações, mostrando que o que verdadeiramente importa são os bons momentos em que a cerveja está presente no dia a dia das pessoas.

A Heineken marca presença em eventos memoráveis no país, como o show da Madonna e o GP de Fórmula 1. Como é feita a escolha dessas ativações?
Nosso papel de marca é ser pioneira e inovadora, quebrando estereótipos, para oferecer experiências únicas e promover momentos de conexão e celebração. A gente quer, como marca, criar boas memórias. Não é só vender a cerveja no festival, é proporcionar a melhor experiência, as memórias daquele evento ou show, acompanhado de uma Heineken. A nossa escolha de ativações faz parte disso, além de buscarmos iniciativas que estão conectadas com nossos valores e visão de mundo.

Hoje, quais são as principais tendências de marketing no mercado de bebidas?
Um exemplo que estamos olhando sempre dentro do Grupo Heineken vem junto com o anúncio do lançamento da Sol Zero. Com o crescimento da cerveja sem álcool, a companhia escolheu o Brasil para iniciar a sua produção, a partir de setembro deste ano. A primeira versão zero álcool da cerveja Sol em 125 anos de história da marca também contará com vitamina D e B (B3 e B6) em sua composição e chega com a proposta de oferecer novas ocasiões de consumo no cotidiano.

Frente à grande concorrência e comunicação pulverizada, qual é o papel do marketing?
É de criar conexões profundas com os consumidores por meio de campanhas criativas e experiências inovadoras, além de contar histórias inspiradoras que comunicam os valores da marca e possam abrir a mente das pessoas para o novo. Não queremos apenas promover os nossos produtos, mas sim criar conexões emocionais nos momentos de socialização entre as pessoas. Investimos em estratégias específicas como o marketing direcionado, explorando novas tendências de consumo e inovação de produto.

Como você já comentou, o consumo de álcool diminui no mundo, principalmente entre as pessoas mais jovens. Como a Heineken tem explorado novo cenário?
Temos observado essa crescente nos últimos anos e estamos expandindo cada vez mais o nosso portfólio com a Heineken 0.0, que busca ampliar opções de consumo por meio de um lifestyle mais consciente e saudável, junto de um produto de altíssima qualidade, trazendo o sabor inconfundível da tradicional Heineken. Buscamos ativá-la sempre que possível em campanhas, eventos e comunicações da marca. Por se tratar de uma bebida sem álcool e com menos calorias, podemos estar em territórios como o esporte, conectando diretamente a marca e consumidores com bem-estar e a um estilo de vida balanceado.

Anunciamos no primeiro semestre que a Heineken 0.0 foi a cerveja sem álcool mais vendida de 2023, de acordo com dados apurados pela NielsenIQ. Desde 2010, a marca investe 10% de toda sua verba de marketing em ações de consumo responsável. A meta até 2030 é que 90% da população seja impactada anualmente pela mensagem de responsabilidade e consciência sobre o consumo de álcool.

HEINEKEN
• Fundada em 1864, em Amsterdã, na Holanda
• O Grupo chega ao Brasil em 2010
• Mais de 85 mil funcionários no mundo
• Cervejas apreciadas em mais de 192 países e presente em todos os continentes
• 31 centros de distribuição e 15 cervejarias espalhadas pelo Brasil

Happy Hour em cenário com história no Eleninha, novidade no Horto, no Rio

Happy Hour em cenário com história no Eleninha, novidade no Horto, no Rio

Como a personagem homônima da novela “Vale Tudo”, Eleninha valoriza os bons drinques e ocupa um bonito casarão em um dos bairros mais charmosos do Rio

Estrategicamente posicionado em frente ao hypado Elena, o Eleninha é a novidade no Horto. Ocupando um casarão tombado pelo Iphan que faz parte do conjunto arquitetônico e histórico da Chácara do Algodão, o bar tem um bonito salão com pé-direito alto, paredes de pedra e janelões de vidro. As mesas na varanda são perfeitas para quem quiser uma vista do Cristo Redentor emoldurada pela exuberante vegetação do Jardim Botânico.

A casa, mais casual e descontraída que sua irmã mais velha, serve almoços, belisquetes, chopes geladinhos e drinques criados pelo fera Alex Mesquita. No cardápio assinado pelo chef Itamar Araújo, destaque para o crudo de peixe do dia com molho cítrico e crocante de arroz, para o clássico fish & chips, para os espetinhos de frango, filé mignon, copa-lombo suína ou cogumelos, para os buns de camarão com alface e para os sandos de frango frito e coleslaw. Para deixar o ambiente ainda mais leve e agradável, o Eleninha tem também uma programação de pocket shows ao vivo.

 

foto divulgação

 

Eleninha
Rua Pacheco Leão, 780, Horto.

Erick Jacquin comemora os 60 anos de uma vida com muito ‘tompêro’ e celebra também seus 30 de Brasil e 10 como jurado do ‘MasterChef’

Erick Jacquin comemora os 60 anos de uma vida com muito ‘tompêro’ e celebra também seus 30 de Brasil e 10 como jurado do ‘MasterChef’

Em 2024, o chef Erick Jacquin comemora marcos importantes de sua trajetória pessoal e de sua carreira profissional. Ele completa seis décadas de vida, 30 anos de Brasil, 10 de TV e 20 de união com sua amada Rosangela

Desde criança, Erick Jacquin sabia que ia trabalhar como cozinheiro quando fosse adulto. Mas agora, prestes a completar 60 anos, ele confessa que nunca imaginou que chegaria a ser chef conceituado e, mais do que isso, uma celebridade planetária, reconhecido nas ruas de Salvador, de Lisboa e de Tóquio.

É que, de sua infância em Dun-sur-Auron, cidadezinha no interior da França, até os dias de hoje, aconteceu muita coisa. Foram hectolitros de vinho, toneladas de foie gras, centenas de amigos, milhares de charutos, milhões de reais investidos em empreendimentos de sucesso (outros tantos em fiascos) e bilhões de visualizações na TV e nas redes sociais.

Chegou a hora do sessentão colher os louros dessa glória toda. Em 2024, ele apresenta mais duas edições do “MasterChef Brasil” na Band, inaugura mais sete restaurantes com as bandeiras Ça-Va e Steak Bife, lança novos produtos com a sua marca e também festeja. Muito.

 

foto Renato Pizzutto | Comunicacao Band

 

Afinal, não são somente seis décadas de vida. Jacquin está completando 45 anos de trabalho com gastronomia, 30 anos de sua chegada ao Brasil, 10 de televisão e 20 de sua relação com Rosangela, com quem tem dois filhos – o casal de gêmeos Elise e Antoine, de 4 anos.

Na entrevista que ele concedeu à 29HORAS, o chef rememora sua chegada a São Paulo, relembra a surpresa dos paulistanos ao conhecerem o petit gateau, fala da alegria que sentiu ao ser convidado para fazer TV e rebate quem o acusa de ter se tornado um personagem patético do universo das celebridades. Confira nas páginas a seguir os melhores trechos dessa reveladora conversa.

Em 1994, quando você trabalhava no estrelado Au Comte de Gascogne, em Paris, recebeu um convite para vir trabalhar no Brasil. Qual foi o argumento que te convenceu a aceitar a proposta?
Eu já estava naquela mesma cozinha havia uns 5-6 anos, queria algo diferente. Aí um fornecedor nosso, que vendia trufas e outros itens, me indicou para um restaurateur que estava à procura de alguém para levar para o Brasil. Essa pessoa era o Vicenzo Ondei, dono do Le Coq Hardy. Ele provou minha comida e disse que eu ia adorar o Brasil, que ficaria rico se viesse para cá. Me ofereceu um salário que era mais ou menos cinco vezes o que eu ganhava à época na França. Falou para eu vir conhecer São Paulo, e que poderia voltar se não gostasse da cidade. Na véspera de embarcar, perguntou se me incomodaria de trazer um pouco de foie gras para ele. Eu disse que tudo bem, e horas depois chegaram três grandes caixas de isopor na minha casa, recheadas com quilos de fígado de ganso e pato.

 

Erick Jacquin quando ainda era um aprendiz de cozinheiro, na França – foto Arquivo Pessoal

 

Quais foram as suas primeiras impressões da cidade de São Paulo?
Logo na chegada já vi que aqui as coisas eram bem diferentes. Estava morrendo de medo de passar pela alfândega com aquele carregamento de foie gras, mas enquanto ainda estava na esteira, esperando minha mala e as caixas, fui recebido pelo sr. Ondei e um amigo dele da Receita Federal. Tudo foi liberado na hora. Depois ele me levou para conhecer vários restaurantes e eu fiquei impressionado com a agitação da noite paulistana. Quando o sr. Ondei me levou de volta ao aeroporto, dias depois, colocou no meu bolso um chumaço de dólares e disse que era para comprar uma joia bem bonita para a minha mulher com aquele dinheiro. Ele sabia como convencer as pessoas… poucas semanas depois desembarquei aqui de novo, dessa vez para ficar e acompanhado de Katia, minha esposa à época.

Você se lembra do que os clientes falaram quando você lançou o petit gateau no Brasil? O que a sua receita tem de diferente da original, do coulant au chocolate, criado pelo lendário Michel Bras?
Quando propus ao sr. Ondei fazermos o coulant no Le Coq Hardy, ele me disse que brasileiro gosta de sobremesa farta, que aquilo era um negocinho muito pequeno. Então desenvolvi algo maior e mudamos o nome para petit gateau au chocolat chaud, que significa “pequeno bolo de chocolate quente”. As pessoas ficaram maravilhadas, me perguntando como podia aquilo de ter uma parte mole dentro do bolo! Outro dia, uma amiga minha foi ao L’Avenue (restaurante na sofisticada Avenue Montaigne, em Paris) e o maître perguntou a ela o que é petit gateau. Disse que toda semana algum brasileiro aparece, pede isso e eles não entendem nada. Aí ela explicou que no Brasil esse nome é usado para designar o coulant au chocolat.

 

Seu famoso petit gateau – foto reprodução Instagram

 

Hoje, depois de 30 anos em São Paulo, você é mais brasileiro ou o seu DNA francês ainda fala mais alto?
Me sinto dividido, afinal estou completando 60 anos de vida, sendo que os primeiros 30 foram na França e os 30 mais recentes no Brasil. Quando estou na França, fico louco para voltar ao Brasil, e quando estou no Brasil, sempre sinto vontade de ir à França. Não deixo o Brasil por nada, mas jamais esquecerei o que vivi na França. O fato é que a minha vida é toda aqui: minha mulher, meus filhos, meus negócios e meus melhores amigos estão todos em São Paulo. Quase tudo que tenho devo ao Brasil e aos brasileiros.

E o que mudou na sua vida com o casamento com a Rosangela e com a chegada dos seus dois filhos mais novos? Ser pai amoleceu o seu lado “general”?
Quando conheci a Rô, foi amor à primeira vista. Já em um dos primeiros encontros, eu a convidei para ir a Paris comigo. Ela me disse “Eu nem te conheço”, e respondi “Existe algum lugar melhor do que Paris para a gente se conhecer?”. Depois que ela entrou na minha vida, tudo ficou muito melhor. Quanto às crianças, sou um paizão bem amoroso. Não sou um general – é que na cozinha esse negócio de democracia e igualdade não funciona, é um ambiente onde a hierarquia e a disciplina são fundamentais.

 

O chef com sua mulher, Rosangela, e os filhos Antoine e Elise em Tignes, nos Alpes franceses – foto reprodução Instagram

 

Como foi o convite para você integrar o time do “MasterChef Brasil”?
Depois que saí do Le Coq Hardy, montei o Cafe Antique com a Nancy e o Francisco Barroso. Foi um sucesso! Depois abrimos também o Le Vin, que virou uma rede de restaurantes. Aí parti para um caminho mais pessoal e, em 2004, abri a La Brasserie Erick Jacquin, na Rua Bahia. No começo foi tudo muito bem, mas lá sofri com duas coisas: os moradores de Higienópolis adoram pegar o carro e ir comer nos Jardins, é por isso que a região não tem muitos restaurantes, apesar de o bairro ter muita gente com alto poder aquisitivo. E a casa era muito mal administrada, uma tragédia. Mudei para o Itaim, e a coisa ficou pior ainda. Estive à beira da falência, muito decepcionado com tudo e cheio de dívidas. Foi quando, em 2014, apareceu esse convite de uns produtores argentinos lá da Band. Tinha medo de que eles fossem me rejeitar por causa do meu sotaque forte, mas eles também tinham sotaque! Dei umas caipirinhas para eles e logo fechamos o contrato. Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida!

A propósito, como será a edição do “MasterChef” que estreia este mês?
A edição que entra no ar este mês será no formato tradicional, com cozinheiros amadores. No segundo semestre teremos uma edição apenas com confeiteiros, será a nossa primeira vez nesse modelo.

Hoje a audiência e a repercussão do programa são bem menores do que as das primeiras edições. Está sendo feito algo para conter essa queda?
De fato o Ibope na TV aberta caiu bastante, mas hoje esse dado já não é o mais importante. O programa continua gigante no YouTube, é muito visto no mundo todo pelos canais Discovery e ainda gera milhões de postagens, comentários e visualizações no Twitter, Instagram e TikTok. Sou reconhecido na rua quando saio em Portugal e até no Japão! Ano passado fizemos três edições (amadores, profissionais e cozinheiros sênior), e realmente acho que foi demais. Este ano serão somente duas. Não sou eu quem decide isso, mas acredito que essa é a opção mais acertada. Hoje eu nem sei dizer ao certo se sou um cozinheiro que faz TV ou se sou uma celebridade que toca uma rede de restaurantes.

 

Jacquin com Henrique Fogaça e Helena Rizzo, o trio de jurados do “MasterChef Brasil” – foto Melissa Haidar | Comunicacao Band

 

Ser um celebrity chef é colocar a sua cara em uma vidraça, sujeita a muitas pedradas e ofensas nas redes antissociais. O que você gostaria de dizer para aqueles que te “acusam” de não ser mais um cozinheiro, de só vir aos restaurantes para posar fazendo biquinho em selfies com os clientes? E para quem critica o fato de você emprestar seu nome para molhos de tomate industrializados, temperos prontos, panelas e até comida canina?
Muitas pessoas que vêm aos meus restaurantes querem fazer selfies comigo. Seria muito deselegante eu me recusar a realizar esse desejo delas. Eu cozinho cada vez menos, OK, mas sou adepto daquela frase do grande mestre Paul Bocuse, quando perguntado sobre quem cozinha quando ele não está no restaurante. A resposta dele é genial: “São as mesmas pessoas que cozinham quando eu estou e quando eu não estou”. Não interessa quem cozinha, o importante é que a equipe seja bem treinada e a comida seja bem-feita. É assim que trabalhamos em todos os oito estabelecimentos que eu comando [o mais novo deles é o Ça-Va Café no Brascan Mall, no Itaim, inaugurado no final de abril]. Quanto aos produtos, não empresto meu nome, eu vendo! Quem não tem como pagar uma refeição no meu restaurante ao menos pode sentir por meio desses produtos um pouquinho do meu “tompêro”, seja num molho Pomarola ou numa pimenta Latinex. E vem mais por aí: vamos lançar em breve o espumante do Jacquin, os charutos do Jacquin e até o miojo do Jacquin!

A propósito, porque você mudou o nome do restaurante Président para Les Présidents? Foi alguma treta com a marca de manteiga?
Bem lembrado! Quando abrimos o restaurante, a Lactalis [empresa de laticínios] reclamou que estávamos usando indevidamente a marca dela. Aí entramos em uma longa batalha judicial e, em dezembro, finalmente saiu uma decisão e fomos comunicados que deveríamos mudar o nome do restaurante. Agora, só para me vingar, estou lançando a Manteiga do Jacquin em parceria com outro laticínio, a Manteigaria Nacional. 

 

O chef Erick Jacquin no Les Présidents – foto reprodução Instagram

 

Ainda este mês, sai a nova lista dos restaurantes estrelados pelo Guia Michelin. Qual é a sua expectativa? E o que você acha dessa “corrida de cavalinhos” da gastronomia atual, dos restaurantes investirem pesado para conseguir posições mais elevadas nos rankings regionais e mundiais?
Espero que o Les Présidents receba uma estrela na próxima edição do guia. Ficaria muito contente se conquistássemos esse reconhecimento. Acho que merecemos, e seria um grande incentivo para a equipe. Agora, aquela outra premiação, o 50Best, não me interessa. É uma grande mentira! Para participar, o restaurante precisa trabalhar com as águas Panna e San Pellegrino. Que critério é esse? Deve ser por isso que há tantos restaurantes fantásticos fora dessa lista. Eu não gosto, não bebo, não compro e não vendo essas águas. Meus restaurantes são todos carbono neutro, é ambientalmente muito errado trazer água mineral italiana para vender no Brasil. Para mim, essa premiação é puramente baseada em lobby e marketing. É só moda, espuma…

Com 45 anos de carreira e muitos prêmios no currículo, qual você diria que é a receita do seu sucesso? Qual o ‘tompêro’ especial que cativa a sua legião de fãs e explica as filas nas portas dos seus restaurantes?
A receita do meu sucesso tem três ingredientes principais: exigência, perseverança e muito trabalho. Talvez tenha também um 4° componente: a sorte. Tem uma estrela lá em cima que me ilumina e me protege. Deve ser a minha mãe, que faleceu no ano passado. Mas não quero falar de morte, eu gosto muito de viver e não quero que isso aqui acabe nunca! Sempre que penso na minha mãe, me vêm à cabeça memórias, aromas e sabores deliciosos. A verdadeira comida é a comida de família! Tenho pensado muito sobre isso. A nossa formação, desde a infância até o que vivenciamos nos dias atuais, é o que cria e aprimora o nosso ‘tompêro’ pessoal.   

Foto de capa: Lucas Lima

Bar Maravilha, em Botafogo, é ideal para saborear um chope gelado e beliscar clássicos da Baixa Gastronomia carioca

Bar Maravilha, em Botafogo, é ideal para saborear um chope gelado e beliscar clássicos da Baixa Gastronomia carioca

Bar Maravilha tem um cardápio de petiscos que faz um instigante mix de tradição com contemporaneidade – exemplo disso é o croquete de mortadela com molho de pistache

O Bar Maravilha se define como um boteco em estilo tradicional: um local perfeito para quem gosta de pôr a conversa em dia, saborear um chope gelado e beliscar clássicos da Baixa Gastronomia carioca. O empreendimento é mais uma iniciativa dos proprietários do Xepa Bar, em parceria com alguns novos sócios. O ambiente, com chão de caquinho e paredes azulejadas, é uma homenagem aos velhos botequins que ainda resistem ao tempo. Já o cardápio mistura tradição e contemporaneidade: tem croquete de mortadela com molho de pistache, pastel de cupim com sofrito, bolinho de arroz biro biro com cabelinho de anjo bem crocante por fora, bolinho de bacalhau espiritual com aioli de pimenta, galeto à passarinho, manjubinha frita e sanduíche de linguiça de cordeiro. Se a fome for grande, peça um dos pratos da casa, como o pernil com batatonese ou o arroz meloso de moela com ovo mollet. Para beber, tem bons chopes e batidas em sabores como maracujá ou café.

 

Bar Maravilha – foto divulgação

 

Bar Maravilha
Rua Mena Barreto, 90, Botafogo.