Em vida, eles nunca se encontraram pessoalmente, mas numa peça em cartaz no teatro Poeirinha, a escritora e o dramaturgo carioca debatem e expõem suas opiniões divergentes
No espetáculo “Clarice & Nelson”, em cartaz no Teatro Poeira, um ator (Marcos Pitombo) e uma atriz (Carol Cezar) se unem no desafio de criar uma história unindo dois ícones da literatura brasileira: Clarice Lispector e Nelson Rodrigues. Esse encontro nunca aconteceu, mas o texto cria essas conversas a partir dos trechos de entrevistas concedidas pelos escritores ao longo de suas vidas.
O espetáculo, em cartaz até o dia 18 de dezembro, às terças e quartas-feiras no Teatro Poeirinha, transpõe os dois personagens e seus conflitos para o palco, com diálogos marcantes e certeiros, cheios de críticas e posicionamentos divergentes, assim como eram suas ideias: ele um homem com seus conceitos e julgamentos; ela com sua audácia de falar sobre sentimentos, o que as mulheres queriam e sonhavam, quebrando paradigmas.
Marcos Pitombo como Nelson Rodrigues e Carol Cezar como Clarice Lispector – foto divulgação
A direção é de Helena Varvaki e Manoel Prazeres e o texto é assinado por Rafael Primot e Franz Keppler, dupla que anteriormente já trabalhou junto em “Chuva Negra” e em “Baby, Você Precisa Saber de Mim”.
Teatro Poeirinha
Rua São João Batista, 104, Botafogo.
Tel. 21 2537-8053.
Ingressos de R$ 20 a R$ 60.
Ferramentas de transformação, a arte e a cultura se materializam em projetos relevantes para o país, que apenas são possíveis com o envolvimento coletivo
Fui apresentada aos palcos pela minha irmã, a bailarina Dalal Achcar, e fiquei fascinada imediatamente. Porém, minha carreira aconteceu atrás dos palcos. E fui e sou muito feliz assim! Passei 20 anos à frente do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, começando como iluminadora e terminando como diretora de produção. Montei diversas óperas e balés, recebi inúmeras companhias internacionais. Aprendi muita coisa que, hoje, coloco em prática na Aventura – empresa que fundei há 15 anos, com meu sócio Luiz Calainho. Produzimos mais de 40 espetáculos e reabrimos teatros icônicos no país!
Não foi fácil superar as barreiras que enfrentei por ser mulher em um contexto majoritariamente masculino. Hoje, tenho o privilégio de ter pessoas incríveis comigo, que apostam na cultura como ferramenta de transformação. Parte importante dessas conquistas vem do patrocínio de marcas comprometidas, sem as quais não poderíamos manter nossos projetos, que são essenciais na construção de um cenário cultural vibrante e democrático.
Apresentação de peça infantil no Eco Villa Ri Happy, no Rio de Janeiro – foto reprodução Instagram
O futuro é promissor e cabe a nós, gestores, artistas, produtores e marcas, garantir que seja repleto de novas histórias. Por falar em próximos passos, acabamos de anunciar a reabertura do icônico Teatro Alfa, agora integrado ao Beyond The Club – um clube de alta experiência em lazer, esporte, bem-estar e entretenimento, em São Paulo. O teatro, com duas salas – com 1.110 lugares e 200 lugares –, receberá um novo nome, após o roadshow para naming rights e patrocínios, liderado pelo meu sócio Luiz Calainho, Co-CEO da Aventura.
Esse ano também celebramos os oito anos do Teatro Riachuelo Rio, que ultrapassou a marca de 1 milhão de espectadores. Em novembro, parte da programação especial será em homenagem ao Mês da Consciência Negra, com a tão esperada volta de “Macacos”. Teremos também o espetáculo “Musicais in Concert”, com a orquestra Petrobras Sinfônica e grandes nomes do musical brasileiro. Já no Teatro Adolpho Bloch, no Rio, os espetáculos vão de clássicos até produções contemporâneas, com opções de altíssima qualidade.
E, na EcoVilla Ri Happy, que tem como missão manter uma curadoria cuidadosa para o público infantojuvenil, preparamos uma agenda cheia de atividades e espetáculos de fim de ano.
Vamos juntos! Afinal, a cultura é um substantivo feminino cujo resultado só acontece no coletivo. Ainda bem!
*Aniela Jordan é presidente do Instituto Evoé, diretora artística da Aventura e diretora da EcoVilla Ri Happy, único hub cultural voltado exclusivamente para crianças no Rio.
Adriana Esteves comemora seus 35 anos de carreira interpretando na nova novela das 21h uma vilã que promete ser tão perversa quanto a icônica Carminha
Com 35 anos de carreira, a carioca Adriana Esteves é uma das atrizes brasileiras mais completas da atualidade. Na TV, no cinema e no streaming, ela consegue se dividir em diferentes projetos e interpretar uma ampla gama de personagens, desde mocinhas carismáticas até vilãs memoráveis, como a emblemática Carminha, de “Avenida Brasil”, do autor João Emanuel Carneiro – produção indicada ao Emmy Internacional à época.
Adriana Esteves – foto Marcos Serra Lima / globo
Doze anos depois, a atriz repete a parceria na atual novela das 21h, “Mania de Você”, da TV Globo. A trama se inicia em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro. “Como em todas as obras do João Emanuel, o público pode esperar muitas surpresas e uma permanente dualidade. Temos camadas dos personagens que vão se revelando ao longo dos capítulos. Em termos de conceito artístico, isso também é um norteador: toda a leveza da atmosfera de Angra dos Reis e suas praias paradisíacas contrasta com a tensão dos mistérios do roteiro”, conta o diretor artístico Carlos Araujo.
No papel de Mércia, Adriana explora justamente essas camadas que evidenciam a complexidade da personagem, que de imediato parece fria e solitária, mas que esconde carência e força desvelados pouco a pouco. “Trabalhar com João é excelente, não apenas porque ele é um autor e um grande artista, mas porque deposita, nos atores e na equipe, uma confiança que acho muito especial para o nosso mergulho criativo. Ele é democrático! Temos todos a sensação de pertencimento. Cada um de nós se sente importante e indispensável dentro da obra que está sendo feita”, afirma a atriz.
Adriana Esteves ao lado do autor da novela “Mania de Você”, João Emanauel Carneiro – foto Manoella Mello / Globo
Para ela, que tem em seu currículo trabalhos em diversas plataformas, o atual papel é sempre o mais desafiador. “Porque ainda está em fase de estudo e experimentação, mas todas as personagens que aceito fazer são as que consigo vislumbrar um mergulho e uma profundidade”, explica.
Com formato diário e roteiro aberto, as novelas criam uma conexão mais imediata com o público, o que exige entregas rápidas dos atores e uma rotina de gravações bastante intensa –diferentemente das séries do streaming, outra aposta de Adriana. “As produções para streaming oferecem um tempo mais dilatado para a construção dos papéis e das tramas, e vejo que as séries permitem aprofundamento e uma elaboração maior da história. No caso de ‘Os Outros 2’, tive a oportunidade de vivenciar a volta de Cibele, a minha personagem, com sua história ampliada. Isso foi e vem sendo uma experiência incrível!”
O céu e o inferno são os outros
Sucesso no Globoplay no último ano e agora em sua segunda temporada, a série “Os Outros”, criação de Lucas Paraizo, foi escrita por Fernanda Torres e conta com direção artística de Luisa Lima. A narrativa une drama e suspense em um roteiro que aborda a intolerância e a dificuldade de diálogo na sociedade atual. O ponto de partida é a história de duas famílias que vivem em um mesmo condomínio de classe média na Barra da Tijuca. Dois casais vizinhos — um formado por Wando (Milhem Cortaz) e Mila (Maeve Jinkings), outro por Cibele (Adriana Esteves) e Amâncio (Thomás Aquino) — entram em conflito após uma briga entre seus filhos. A situação escala até um nível extremo, trazendo consequências para outros moradores do local.
A temática de “Os Outros” é bastante contemporânea ao contexto social e político do Rio de Janeiro com reverberações em todo o país, com a violência infiltrada no cotidiano de muitas pessoas. “‘Os Outros’ foi a série mais autoral que escrevi até hoje. Nasce de uma reflexão sobre o que acontece quando todos acham que têm razão, uma característica dos dias de hoje. Tentei unir uma narrativa popular à densidade dos assuntos que escolhi tratar: a classe média brasileira endividada, polarizada e cheia de medo, mas com sonhos e ambições legítimas”, comenta Lucas Paraizo.
Com os atores Letícia Colin e Eduardo Sterblitch, em “Os Outros 2”, da Globoplay – foto Daniel Klajmic / Divulgação
Cibele, personagem de Adriana Esteves, é consumida pela violência de seu convívio.A interpretação da atriz contribui significativamente para o clima psicológico da série, destacando as dificuldades das relações e o impacto do passado na vida presente. A habilidade de Adriana em transmitir vulnerabilidade e força é um dos pontos altos da produção. “É um verdadeiro microcosmo, com todos os nossos reflexos sendo expostos nos espelhos. A intolerância e o medo estão presentes nos indivíduos, essas dores e rivalidades que existem nas relações sociais. Os condomínios e as comunidades são ambientes realmente capazes de representar o mundo”, reflete a atriz.
Boa mistura de leveza e drama
Aos 54 anos de idade, a carioca passeou por uma variedade significativa de papéis ao longo da sua carreira. O primeiro foi na novela “Top Model”, exibida em 1989. Na trama, ela interpretou a personagem Malu, uma jovem que sonha em ser modelo. Mais tarde, em 2000, veio Catarina, em “O Cravo e a Rosa”, escrita por Walcyr Carrasco – uma adaptação da peça “A Megera Domada”, de William Shakespeare. Na comédia romântica, a personagem de Adriana é uma mulher decidida e determinada, que se apaixonada por um homem rústico. A novela foi um grande sucesso, teve algumas reprises e é lembrada por sua leveza e pelos personagens carismáticos.
Já símbolo da teledramaturgia brasileira e verdadeiro ícone cultural, Carminha, de “Avenida Brasil”, ainda faz sucesso, seja em reprises na TV ou mesmo na internet com memes e compartilhamentos relembrando cenas da personagem. “A novela foi uma das genialidades que foram produzidas na televisão brasileira nesses últimos tempos. O elenco foi espetacular, a direção e a produção foram impecáveis, e eu tive essa honra de fazer parte e receber essa personagem, que foi mais um presente. ‘Avenida Brasil’ reflete o enorme acerto e sintonia do João Emanuel de falar com o Brasil sobre assuntos que o país estava com vontade de ver, ouvir, curtir… Tudo isso com muita alegria! É um grande exemplo de como arte e entretenimento podem se misturar.”
A atriz como Carminha, contracenando com Débora Falabella, em “Avenida Brasil” – foto Estevam Avellar / globo
Para o futuro, Adriana deseja pausar suas atuações em novelas, mas reconhece o impacto e a aderência do formato na audiência brasileira e ainda se divide em diferentes plataformas. “Quando terminei‘Amor de Mãe’, achei que não faria mais novelas. Após a pandemia, percebi o quanto ajudaram na saúde mental das pessoas e mudei de ideia. Agora, após ‘Mania de Você’, pretendo dar uma parada”, comenta. “Mas vejo que o nosso país ainda gosta muito de novelas, fazem parte de nossa história. O crescimento de obras nos streamings é algo muito rico para o nosso mercado audiovisual. Os teatros, hoje lotados, e nosso cinema, com grandes produções sendo realizadas, também é bastante animador para a nossa cultura. Tenho muito entusiasmo com essa cena cultural atual tão diversificada e estou animada para os trabalhos e encontros que estão por vir”, comemora.
Templo da música erudita quase destruído por um incêndio em 2008, Teatro Cultura Artística ressurge modernizado e com uma programação recheada de grandes atrações internacionais
Depois de uma grande reforma que durou 16 longos anos, o Teatro Cultura Artística reabre suas portas e cortinas para apresentações de grandes nomes da música. O ícone da cultura e da arquitetura paulistana está de volta, restaurado e modernizado após o terrível incêndio que o destruiu parcialmente, em agosto de 2008.
Fachada com mural de Di Cavalcanti – foto Nelson Kon / divulgação
Tombado pelo patrimônio histórico nas esferas municipal, estadual e federal, o novo prédio preservou os elementos estruturais desenhados pelo arquiteto modernista Rino Levi e incorporou novidades que embasam o projeto contemporâneo concebido pelo arquiteto Paulo Bruna. A obra “Alegoria das Artes”, de Di Cavalcanti, que adorna a fachada do teatro, passou por uma restauração que demorou 18 meses e consumiu 1,2 milhão de pastilhas de vidro. Os foyers do térreo e do primeiro andar também foram mantidos. Mas as salas de espetáculo e as áreas de circulação e apoio foram reprojetadas com o que há de melhor e mais moderno em termos de tecnologia, acústica e segurança.
Com 7.544 metros quadrados de área construída, a edificação abriga duas salas de espetáculo (com 750 e 150 lugares). As paredes da sala principal são revestidas por uma obra abstrata da artista plástica Sandra Cinto em tons de amarelo e dourado, reforçando a ideia de que aquele espaço é um “templo sagrado” da música e das artes. O térreo tem ainda um café e uma filial da livraria Megafauna, que permanecem abertos ao longo do dia, independentemente da programação de espetáculos.
Interior da sala com obra da Sandra Cinto – foto divulgação
Neste mês de setembro, as grandes atrações são a Amsterdam Sinfonietta (nos dias 16, 17, 18 e 19) e o concerto dedicado a Schubert do pianista finlandês de ascendência cubana Anton Mejias e do barítono alemão Matthias Goerne (nos dias 26 e 29). A temporada 2024 inclui ainda recitais e concertos de outros grandes expoentes da música erudita internacional, como a Orquestra de Câmara de Basel (nos dias 6, 7, 9 e 10 de outubro), a Internationale Bachakademie Stuttgart Gaechinger Cantorey (dias 27, 28, 30 e 31 de outubro), o violinista-celebridade Joshua Bell em duo com o pianista norte-americano Peter Dugan (dias 17 e 18 de novembro) e, por fim, a pianista francesa Hélène Grimaud (dias 27 e 28 de novembro).
Criada em 1912, a Sociedade de Cultura Artística já trouxe para o Brasil estrelas como Kurt Masur, Zubin Mehta, as irmãs Katia e Marielle Labèque, Wynton Marsalis, Lang Lang e Anne-Sophie Mutter, entre tantos outros.
Os músicos da Amsterdam Sinfonietta – foto divulgação
Teatro Cultura Artística
Rua Nestor Pestana, 196, Centro.
Tel. 3256-0223.
Companhia norte-americana de dança contemporânea faz homenagem ao Brasil com coreografia criada a partir de músicas do genial cantor e compositor mineiro Milton Nascimento
Fundada em 1985 pelo aclamado dançarino David Parsons e pelo premiado iluminador Howell Binkley em Nova York, a Parsons Dance é considerada uma das principais companhias de dança contemporânea de todo o mundo. Depois se apresentar em 445 cidades de 30 países, a trupe retorna este ano ao Brasil, dançando no Rio de Janeiro nos dias 24 e 25 de agosto. O repertório do espetáculo encenado no palco da Cidade das Artes mistura o clássico e o moderno, com pitadas pop.
foto divulgação
O público terá a oportunidade de ver coreografias como “Wolfgang” (tributo a Mozart), “Caught” (considerada uma das mais emblemáticas peças da companhia), “Balance of Power” (coreografia percussiva lançada em 2020) e , reconhecida como um dos solos mais intrigantes da Parsons Dance; “Juke” (concebida por Jamar Roberts, veterano do Alvin Ailey American Dance Theater, a partir de músicas de Miles Davis) e “Nascimento” – o grande destaque dessa apresentação, que faz uma homenagem ao Brasil, a partir de músicas de Milton Nascimento.
Cidade das Artes
Avenida das Américas, 5.300, Barra da Tijuca.
Tel. 21 3328-5300.
Ingressos de R$ 40 a R$ 300.
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