Memória paulistana: bairro Campos Elíseos guarda ecos de um passado de glória

Memória paulistana: bairro Campos Elíseos guarda ecos de um passado de glória

No Campos Elíseos, bairro que já foi o orgulho de São Paulo, é possível visitar alguns templos da cultura brasileira 

O nome Campos Elíseos sugere a nobreza que essa região central representou quando era o endereço certo dos barões do café e dos empresários proeminentes do começo do século 20. A elite paulistana era fã da cultura e da arquitetura francesa e, não à toa, o nome da localidade dos mais poderosos era a tradução da mundialmente admirada avenida parisiense dos Champs-Élysées.

O bairro, maltratado assim como todo o centro da cidade, ainda guarda ecos de um passado de glória. Uma de suas mais imponentes mansões pertencia à família Alves de Lima, cujo patriarca era um dos grandes barões do café, além de presidente da Café Paulista S/A e da Cooperativa Central dos Cafeicultores. Construída na rua Guaianases, em 1912, essa mansão foi projetada pelo famoso arquiteto Ramos de Azevedo e foi batizada de Casa de Don’Anna pelo neto do barão, que reformou o imóvel em 2015, homenageando a sua avó e permitindo assim um uso comercial.

 

Ambiente do restaurante Ama.zo, nos Campos Elíseos – foto divulgação

 

E é ali que nasceu o Ama.zo – Cozinha Peruana, sob o comando do reconhecido chef peruano Enrique Paredes, em que a proposta é unir clássicos da culinária andina a sabores da Amazônia. A casa é maravilhosa por dentro e aproveite uma ida ao toalete para dar uma volta pelos cômodos luxuosos, que remontam ao ambiente chique de outrora. O restaurante se situa no incrível jardim repleto de jabuticabeiras e abacateiros, protegido por um telhado translúcido quase imperceptível. O ideal é chegar cedo (até às 12h45) em um dia bonito e começar beliscando uns chicharrones de calamares, acompanhado do ótimo pisco sour da casa.

Após escolher um dos vários ceviches de entrada, sugiro pedir o ceviche e pulpo, que mistura ceviche com polvo na brasa e mousse de batata doce e abacate. Outra pedida de sucesso é o chaufa e panceta, que traz arroz salteado ao estilo oriental com vegetais e é servido com panceta laqueada em molho teriyaki, couve frita e alho crocante. A ambientação é agradável e, na minha ida, estava tocando um trio de soft blues, apresentando J.J. Cale e Eric Clapton.

 

Ceviche com polvo do Ama.zo – foto divulgação

 

A área de jardim serve também como extensão do café inaugurado no porão da casa, denominado Café Paulista, em memória ao bisavô do atual proprietário. A visita vale muito a pena e, se estiver por lá em um sábado ou se tiver a tarde livre, aproveite para fazer um tour cultural no bairro e vá conhecer o lindíssimo Theatro São Pedro, que é uma casa centenária com uma das histórias mais ricas da música nacional, ou visite a imponente Pinacoteca do Estado, próxima aos Campos Elíseos.
Caso você esteja com menos tempo disponível, mesmo assim curioso pelo cardápio do Ama.zo, pode conhecer a filial recentemente inaugurada do restaurante no shopping Pátio Higienópolis. Aproveite!

Encantos catalães: Barcelona é um destino completo de arquitetura, cultura, gastronomia e vida noturna

Encantos catalães: Barcelona é um destino completo de arquitetura, cultura, gastronomia e vida noturna

Barcelona se mantém uma cidade vibrante que combina arquitetura singular, gastronomia excepcional com espumantes especiais, vida noturna animada e uma cena cultural dinâmica

Os olhos do mundo se voltam vez ou outra a Barcelona, com interesses renovados por uma cidade que reúne o melhor da arte, arquitetura, cultura e gastronomia. A atenção da vez é o restaurante Disfrutar – reconhecido como o melhor do mundo pela premiação gastronômica World’s 50 Best Restaurants 2024, passando à frente do também espanhol Etxebarri. Com três estrelas Michelin, a casa é comandada pelos chefs Eduard Xatruch, Oriol Castro e Mateu Casañas, que misturam de forma elegante técnicas modernas e de vanguarda com ingredientes tradicionais da Catalunha.

O menu degustação do Disfrutar apresenta a culinária mediterrânea em pratos divertidos e reinventados, como o “Pesto multiesférico con pistachos tiernos y anguila” (enguia com pistaches macios e pesto) e o “Panchino relleno de caviar y crema agria” (pão recheado de caviar e creme azedo). No entanto, é necessário o aviso: uma ida ao restaurante pode ultrapassar R$2.500, uma vez que menu sai por 290 euros, cerca de R$ 1.660 por pessoa. Quem optar pela refeição harmonizada com vinhos, acrescenta 160 euros (R$ 910) à conta. Mas a experiência vale o investimento e é importante reservar mesa antes de aparecer no local.

 

Vista aérea de Barcelona, que evidencia seu famoso plano diretor – foto iStockPhoto

 

O Disfrutar se confunde com outros charmosos cafés, wine bars e livrarias do bairro L’Eixample – eleito pela revista Time Out o mais cool do mundo em 2020, com sua vida noturna vibrante, proximidade do centro e colado na famosa Passeig de Gràcia. É nessa agradável avenida que se afiliaram lojas grifadas e expoentes da arquitetura e da hotelaria. Por ali, turistas se concentram para visitar as brilhantes materializações de Antoni Gaudí, como a Casa Batlló – edifício que pertenceu a um industrial catalão e que recebe atualmente mais de 1 milhão de pessoas por ano – e a Casa Milà, conhecida como La Pedrera, que abriga diferentes exposições artísticas.

No coração do Quadrat d’Or, também na Passeig de Gràcia, o emblemático Majestic Hotel, com 106 anos de história, destaca-se com sua arquitetura neoclássica em meio aos icônicos edifícios modernistas da região. Com 258 acomodações – distribuídas em diferentes categorias – o hotel guarda uma surpreende coleção de arte com mais de mil peças, assinadas por artistas como os espanhois Modest Urgell e Jaume Plensa.

O Majestic inaugurou em abril deste ano um espaço totalmente dedicado ao bem-estar com piscina semiaquecida e uma jacuzzi, onde todos os procedimentos e tratamentos utilizam prestigiadas marcas catalãs. Porém, é inevitável se voltar para fora, e um dos destaques do edifício é o disputado terraço La Dolce Vitae, com vista panorâmica para Barcelona. De lá, avistam-se a Sagrada Família, a Praça Catalunha e até mesmo o Museu Nacional de Arte da Catalunha (MNAC) – paisagem que é acompanhada por um menu descomplicado de tapas, como croquete de presunto ibérico, sanduíche de rosbife no pão baguete com molho chimichurri, espetinhos de lula, e presunto ibérico com ovo de codorna.

 

Rooftop e espaço de bem-estar do Majestic Hotel – foto divulgação

 

A poucos passos outro ícone se revela, o Mandarin Oriental Barcelona. Com entrada imponente em meio a obras da galeria de arte Villa del Arte – inaugurada há um ano e focada em artistas multimidia –, o hotel dispõe de espaços comuns e quartos com design claro e minimalista, em consonância com o “quiet luxury” – verdadeira tendência em diferentes segmentos do luxo. No topo do prédio, é possível conhecer o Terrat, que destaca coquetéis clássicos e internacionais e comida peruana com influências asiáticas, como ceviches e jalea chifera (mix de peixes, mariscos com salsa e maionese), além de baos de carne de porco, quinoa e peixe fresco.

E, se a ideia for curtir um happy hour e estender até a noite no mesmo bairro, o badalado Boca Grande, na interessante Passatge de la Concepció, oferece uma verdadeira mistura. Nos últimos andares, bares de coquetéis e tapas animam os visitantes, mas há restaurante de frutos do mar e até mesmo uma balada eletrônica no subsolo.

 

Drinque e tapas do Terrat, no Mandarin Oriental – foto divulgação

 

Para bebericar e beliscar na região, há ainda os bares El Cangrejo Loco, que apresenta caranguejos, frutos do mar, peixes e arroz, e a Cerveceria Catalana, onde brilham o polvo à galega e a alcachofra frita. Àqueles que buscam equilibrar as refeições, é possível também encontrar sempre por perto um restaurante da rede espanhola Honest Greens, que serve saladas, frangos, sopas e sanduíches rápidos.

Andar e descobrir

O urbanismo de Barcelona é mesmo invejável e admirado no mundo inteiro. A cidade que conhecemos hoje se deve ao Plano Cerdà de urbanização, criado em 1858, que melhorou sua organização e trouxe mais qualidade de vida para os moradores.
O plano diretor possibilitou ruas largas e espaços verdes, mantendo a geometria de ruas paralelas e perpendiculares que fazem interseção com grandes avenidas principais, que atravessam a cidade de maneira diagonal. O projeto urbano incorporou quadras sempre idênticas octogonais e até mesmo as esquinas foram planejadas, sendo chanfradas (recortadas em meia-lua) para facilitar a circulação.

 

Bairro Gótico – foto iStockPhoto

 

Em resumo, caminhar por Barcelona é natural e convidativo há muito tempo. Um dos grandes destaques é a área antiga da cidade, a Ciutat Vella, que reúne ruas estreitas medievais que revelam museus, catedrais, restaurantes, mercados de rua, cafés e lojas. A região abriga dois bairros principais, La Ribera e El Gótic (bairro gótico).

Uma boa maneira de adentrar as ruelas é partindo das Ramblas – avenida central dominada por pedestres, que divide a cidade e se inicia ao norte na Praça Catalunha. Ao caminhar, os tons claros se tornam mais terrosos com prevalência de rochas e construções robustas. Entre essas ruas, chama a atenção a Basílica de Santa Maria del Pi, uma construção do século 14 que representa bem o estilo gótico catalão, com uma agradável praça em sua frente, que é bastante ocupada por moradores locais.

Com sapatos confortáveis, a andança e suas descobertas continuam. A poucos metros, é possível avistar a Catedral de Barcelona que, apesar de se manter à sombra da magnífica Sagrada Família, também impressiona em seus detalhes. Com um chamativo conjunto de cadeiras de madeira talhada, o coro é um dos lugares mais valiosos do interior da catedral.
Há também o Museu Frederic Marès, que reúne uma interessante coleção de esculturas e inclui algumas obras realizadas pelo próprio colecionador que dá nome ao local. As peças estão divididas em diferentes âmbitos, como Antiguidade, Românico, Gótico, Renascimento, Barroco e Século 19. A entrada é gratuita aos domingos.

 

Catedral de Barcelona – foto Shutterstock

 

Para jantar nas proximidades, vale conhecer o restaurante El Cercle, localizado em um palácio antigo do Real Círculo Artístico de Barcelona – um edifício do século 16, com janelas góticas e relevos renascentistas. O lugar conta com mesas externas em um terraço e destaca no menu as clássicas tapas, paellas, saladas e peixes.

 

Paella do restaurante El Cercle – foto divulgação

 

Já o boulevard El Born, no bairro La Ribeira, tem chamado a atenção dos gourmets de todo o globo. Nesse quarteirão, o Mercado de Santa Caterina se revela uma boa oportunidade para comer no meio do dia ou ainda garantir uma mesa no restaurante Cuines de Santa Caterina, em um loft dentro do mercado. No cardápio, as verduras ganham merecido espaço, como o queijo tomino com aspargos, tomate e cebolinha grelhada, e a salada de tomates com barriga de atum.

A região garante um circuito dedicado à arte, com endereços relevantes como o Museu Picasso, com amplo acervo do pintor espanhol e entrada pelo valor de 14 euros; o Moco Museum Barcelona, que reúne obras de arte moderna e contemporânea; e o Born Centre de Cultura i Memòria – que conserva a estrutura do antigo edifício do mercado El Born, projetado por Josep Fontserè em 1876.

 

Fachada do Born Centre de Cultura i Memòria – foto iStockphoto

 

Patrimônio na taça

O estilo de vida mediterrânea, com gastronomia variada e atenção às artes, não deixaria de lado os vinhos. Situada a cerca de 30 km ao sul de Barcelona, a região de Penedès é origem de uma parcela significativa dos vinhos da Catalunha. Como boa parte do solo nessa localidade foi fundo de mar há milhares de anos, há alta concentração de calcário, assim como na Champagne, o que favorece o cultivo de uvas brancas.

Com terroir de qualidade, a produção de espumantes no local feita de forma tradicional resultou na denominação de origem Cava – com as variedades de uvas locais, Macabeo (a mesma Viura de outras regiões), Xarel·lo e Parellada. E, desde 1911, uma das maiores produtoras de cava do mundo é a Freixenet – fruto de uma união de duas famílias espanholas com uma longa tradição em viticultura, os Ferrers e os Salas.

 

Sede e casa-museu da Freixenet, em Penedès, nas proximidades de Barcelona – foto Freixenet, S.A. / Saint Sadurní d’Anoia

 

Após as inovações introduzidas na década de 1970, a marca foi a primeira empresa na Espanha a adotar tanques refrigerados visando controlar a fermentação, e tornou-se uma das líderes no desenvolvimento da própria levedura na região. A casa “La Freixeneda”, onde a marca foi fundada em 80 hectares de vinha, floresta e olival, continua ativa com uma produção de cavas emblemáticos e como casa-museu.

Por lá, é possível conhecer mais sobre a história da Freixenet, avistar as plantações e mergulhar nas particularidades da marca – com a facilidade de ter uma estação de trem em frente à entrada do local para poder beber sem preocupar. Degustar os rótulos, como Elyssia Gran Cuvée, Elyssia Pinot Noir e Reserva Real, é como resumir as sensações aguçadas em uma viagem a Barcelona.

Belezas surreais

A Costa Brava abrange a parte mais ao norte do litoral da Catalunha, sendo um dos trechos mais bonitos da Espanha. É onde está Cadaqués, uma pequena cidade cercada por uma paisagem natural impressionante, formada por montanhas escarpadas que cortam a região de Alt Empordà e terminam em penhascos que se precipitam no mar. A área é ideal para praticar diversos esportes e atividades aquáticas, como mergulho, vela e windsurf.

Salvador Dalí deu a fama internacional a esse belo povoado. Sua casa-museu, situada em frente à baía de Port Lligat, ao norte de Cadaqués, permite conhecer uma parte da obra do mestre do Surrealismo. A forma mais rápida de chegar, partindo de Barcelona, é de carro, em uma viagem de duas horas.

 

Cadaqués, na Costa Brava – foto Adobe Stock

 

*Parte da viagem realizada pela jornalista foi financiada pela União Europeia e a convite da Freixenet

MAC de Niterói recebe a maior exposição de arte da Coreia do Sul já realizada no Brasil

MAC de Niterói recebe a maior exposição de arte da Coreia do Sul já realizada no Brasil

Em cartaz no MAC de Niterói, a exposição “Luzes da Coreia – Festival de Lanternas de Jinju” proporciona uma imersão em uma das mais tradicionais celebrações culturais do país asiático

A maior exposição de arte da Coreia do Sul já realizada no Brasil ocupa o salão principal do MAC de Niterói (Museu de Arte Contemporânea). Até o dia 25 de agosto, a mostra “Luzes da Coreia – Festival de Lanternas de Jinju” permite que o público mergulhe em uma das mais populares tradições culturais coreanas a partir da imersão em instalações site specific. Milenares lanternas coloridas de seda dialogam com elementos cenográficos contemporâneos, transportando os visitantes à famosa cidade de Jinju, que desde 2003 sedia uma das principais festividades culturais do país.

“Luzes da Coreia – Festival de Lanternas de Jinju” cria uma ponte luminosa que une passado e presente. Atravessa o oceano para nos conectar a uma cultura milenar por meio de delicadas lanternas, produzidas manualmente a partir de uma seda fabricada exclusivamente na pequena cidade de Jinju. Acesas, geram trilhas de memória e emoção. Um universo em que cores e formas conduzem a uma experiência única de imersão.

 

foto divulgação

 

Museu de Arte Contemporânea
Mirante da Boa Viagem, s/ n°, Niterói.
Tel. 21 2274-1122.
Ingressos a R$ 16.

Grupo de hospitalidade OCanto oferece viagens imersivas em suas três pousadas

Grupo de hospitalidade OCanto oferece viagens imersivas em suas três pousadas

Até o final do ano, o grupo OCanto oferece viagens imersivas com nomes da gastronomia, cultura, natureza, fotografia e bem-estar 
Inspirado pela diversidade dos biomas brasileiros, OCanto tem como objetivo preservar e restaurar os territórios em que está presente e criar experiências de conexão em todo país, por meio do conforto, de serviços exclusivos e de hospedagens e restaurantes de alto padrão.
Até o final do ano, o grupo oferece 10 viagens imersivas com nomes da gastronomia, cultura, natureza, fotografia e bem-estar nos três estabelecimentos que fazem parte de seu portfólio: Pousada Literária, em Paraty, Pousada Trijunção, no Cerrado, e Pousada Tutabel, em Trancoso.

Pousada Trijunção, no Cerrado – foto divulgação

Os amantes de uma boa culinária podem descobrir sabores da Mata Atlântica e do Cerrado com a chef e ativista Bel Coelho e o chef Onildo Rocha. Já quem não dispensa um bom livro pode conversar sobre literatura com Carla Madeira, autora de “Tudo é Rio”, Socorro Acioli, autora de “Ela Tem os Olhos no Céu”, e Pedro Pacífico, criador do perfil Bookster.
Os quesitos bem-estar e desenvolvimento humano são liderados por Camila Espinosa, coach de saúde e especialista em alimentação consciente; Ana Raia, coach e idealizadora do videocast “Nua”; Raissa Rossi, bailarina, criadora do método Barre Class e professora da plataforma Queima Diária; e André Sanches, triatleta, do portal Garage Training. Para se inscrever, basta acessar www.ocantodobrasil.com.br/imersoes

Pousada Literária, em Paraty – foto divulgação

 

Imersões Pousada Literária
Gastronômica: de 22 a 25/08, a partir de R$ 7.252
Fotografia de Natureza: de 16 a 19/09, a partir de
R$ 5.803
Bem-estar: de 5 a 8/12, a partir de R$ 8.054

Imersões Pousada Trijunção
Astrofotografia de Paisagem: de 1 a 4/08, a partir de R$ 10.275
Gastronômica: de 31/10 a 3/11, a partir de R$ 10.387
Literária: de 12 a 15/12, a partir de R$ 10.052

Imersões Pousada Tutabel
Gastronômica: de 15 a 18/08, a partir de R$ 7.118
“Nua”: de 3 a 6/10, a partir de R$ 10.991
Corpo & Alma: de 21 a 24/11, a partir de R$ 9.222

Muito além de Tóquio: Quioto e Hokkaido são paradas obrigatórias para quem vai ao Japão

Muito além de Tóquio: Quioto e Hokkaido são paradas obrigatórias para quem vai ao Japão

Descanso em Niseko, agito dosado em Tóquio, espiritualidade em Quioto e Nara, e inovação em Osaka revelam uma viagem surpreendente e diversificada pelo Japão

Após longa ausência, a Famiglia Giramondo retorna para compartilhar dicas diversas sobre entretenimento, gastronomia e hospedagem, sempre em destinos cobiçados. Nesta edição, a nossa seleção foi o Japão. Programamos três semanas para esse destino encantador e diverso, que passa por mudanças perceptíveis nos últimos anos.

 

Vista do Monte Fuji – foto Daniel Hehn | Unsplash

 

Começamos a jornada pela majestosa Ilha de Hokkaido, ao norte do país. Pousamos no moderno aeroporto de New Chitose e rumamos para a vila de Niseko – a primeira parada. O período que selecionamos para a viagem foi a primavera, que talvez seja o mais agradável de todos. A paisagem evidencia a natureza, com montanhas e lagos que começam a degelar, e os rios ficam rodeados por árvores florescendo.

Niseko é conhecida como reduto dos amantes de esqui. A escolha por essa cidade se deu basicamente por uma maravilhosa e confortável hospedagem e por ser o apoio central para visitarmos as cidades de Otaru e Sapporo – também em Hokkaido.
A última visita dos Giramondo ao Japão foi há treze anos e a busca por Hokkaido foi especial, uma vez que a localização foge das grandes cidades e de atrativos lotados. O serviço, a gastronomia e a hotelaria com direito a um onsen inacreditável (hospedagem com circuito de águas termais) no Park Hyatt Niseko, já valeriam toda a viagem.

 

Canal de Otaru, cidade portuária em Hokkaido – foto Shutterstock

 

Poder se locomover facilmente para o Porto de Otaru foi um grande diferencial. Depois de uma hora de trem, chegamos à estação principal onde se encontra o Mercado de Peixes. Pequeno e charmoso, esse local transcende qualquer expectativa. Apresentações de king crab, uni (ovas de ouriço-do-mar), vieiras e ikura (ovas de salmão) alucinarão seus pensamentos. O lugar deveria ser tombado como patrimônio mundial da cultura gastronômica!

Otaru é uma cidade portuária que merece um dia inteiro de visitação. Restaurantes como o Otaru Masazushi são imperdíveis, com seus incríveis 85 anos de existência. Por ali, os chefs servem não apenas nigiri de peixe sazonal, mas também grelhados, petiscos e outros pratos do dia de acordo com os gostos e preferências dos clientes.

 

Mercado de Peixes em Sapporo – foto Shutterstock

 

No dia seguinte, é recomendado um descanso no delicioso spa e onsen do hotel, regado a chás maravilhosos e, para quem curte, um espetacular cigar club, com uma curadoria especial de charutos cubanos.

Com as energias restabelecidas, pegamos um táxi e fomos direto para Sapporo, também a uma hora de distância de Niseko. É um destino sonhado dos amantes de cerveja, saquê e uísque japoneses – por causa da qualidade da água cristalina da região. O lugar pode ser ainda uma opção de estadia para quem quiser um pouco mais de agito na ilha.

Iniciamos a exploração de Sapporo, como sempre, pelo Mercado de Peixes de Nijo Fish Market. Além das exposições de peixes e acessórios gastronômicos, esse mercado oferece restaurantes onde é possível provar o melhor uni do mundo. Digno de comer três bowls seguidos!

 

Domburi de Ikura e Uni, típico de Hokkaido – foto Natale Giramondo

 

Sapporo merece também uma visita pelo centro, com avenidas largas, shoppings e belíssimos parques, que compõem suas ruas. Nos arredores, está a Torre do Relógio, que foi instalado em 1881 e comprado da E. Howard Watch & Clock Company de Boston, com um mecanismo impulsionado por peso. É o relógio de rua mais antigo do Japão.

A medida certa do agito

O próximo destino é Tóquio, a uma hora e meia de voo de Hokkaido. Na capital, optamos pelo tradicional bairro de Shinjuku – o hub de mobilidade para todas as localidades da cidade e do Japão.

Vale dizer que a capital japonesa está repleta de turistas. Basicamente 50% de chineses e 50% do restante do mundo. Outro dado alarmante sobre o destino é que o número de turistas internacionais já está 27% acima do período pré-pandemia.
Um ótimo exemplo dessa “loucura” é o Mercado de Tsukiji – o maior comércio de peixe do mundo, transferido para Toyosu em 2018. A cena de centenas de pessoas se acotovelando para comerem o que é possível comprar ficou bastante comum por ali. O mais bizarro é que você pode encontrar tudo em diversos locais da cidade, sem esse estresse.

 

Torre de Tóquio, na capital japonesa – foto JNTO

 

Mas Tóquio se supera mesmo nas opções de restaurantes. Viciados em sobas (massa japonesa), tonkatsu (costeleta de porco empanada), unagui (enguia) e sushi se deliciam nessa megalópole. As ruas de Roppongi, Ginza, Harajuku e uma visitação à Torre de Tóquio fazem parte também desse roteiro de quatro dias. Perca-se pelas estações centrais e pelos parques!

Sugerimos uma visita ao Omoide Yokocho – também conhecido como Yakitori Alley. O local é um amontoado de izakayas e restaurantes, todos minúsculos, em um aperto charmoso de becos e ruas bem próximos à estação de Shinjuku – a maior da metrópole e a mais movimentada do mundo. Há ainda as ruínas da 2ª Guerra, na saída oeste da estação.
Outra atração noturna com direito a prédios de karaokês e restaurantes com ótimos sushis é a região de Kabukicho, vizinha a Shinjuku. O lugar é conhecido como o distrito da luz vermelha no Japão, em razão de sua iluminação neon e do agito de seus bares com música. Dirija-se à grande avenida Yasukuni Dori e você verá a enorme loja Don Quixote, que marca a rua principal de Kabukicho.

 

Rua de Omoide Yokocho, em Tóquio – foto Natale Giramondo

 

Ancestralidade e conexão

Plenamente satisfeitos com o que a capital tinha a nos oferecer, seguimos à última etapa de nossa viagem. A bordo de um trem bala (Shinkansen), chegamos a Quioto, agora nossa base para visitarmos Nara e Osaka.

Essa cidade foi capital do Japão entre o século 13 e 17, onde a família imperial residia e guarda parte significativa da história desse país mágico. Com menos de 2 milhões de habitantes, Quioto encanta com seus templos, bairros escondidos, rios surpreendentes e gueixas pelo centro histórico, tornando-se a localidade que revela o Japão antigo. Histórias milenares se misturam com a cultura contemporânea.

Passear pela floresta de bambus de Arashiyama (Patrimônio Munidial da Unesco) é mágico. Na região, é recomendado ainda visitar o templo Tenryu-ji – construído em 1339, que já foi um enorme complexo de templos formado por mais de 100 subtemplos. Hoje, restam apenas algumas estruturas e a principal razão para fazer o passeio é o jardim, um dos melhores exemplos de design tradicional japonês. Por ali, admirar as inúmeras quantidades de árvores e flores também valeria o destino.

 

Templo Kinkaku-ji, em Quioto – foto Shutterstock

 

Outra parada obrigatória é o templo de Sanjusangen-do com suas 1001 estátuas de guerreiros que guardam a estátua de Buda. E o templo dourado Kinkaku-ji, que parece flutuar sobre o lago. É possível observar o reflexo espelhado do Pavilhão Dourado na serena Lagoa Kyoko-chi e visitar os seus jardins exuberantes, cobertos de musgo, e a casa de chá no local.

Indicamos passeios ao Mercado de Nishiki, que apresenta uma variedade de alimentos frescos e em conserva, além de doces japoneses. Pode-se encontrar ainda excelentes utensílios de cozinha e elegantes artigos em cerâmica, especiarias e condimentos e artigos de papel. Restaurantes exclusivos de wagyu, unagui, grelhados de king crab são os destaques desse mercado.

 

Kakinoha sushi, sushi embrulhado em folhas de caqui, típico de Nara – foto Shutterstock

 

E Quioto está a apenas 50 minutos de trem para Nara, cidade maravilhosa que surpreende pelos parques e templos. Saindo da estação, rume para o templo de Todai-ji. Nesse caminho, cervos cercam os visitantes o tempo todo. São centenas de animais livres, passeando ao seu lado, lhe acariciando por apenas algumas bolachinhas!

 

Templo Todai-ji, em Nara – foto Natale Giramondo

 

A visitação ao templo Todai-ji impacta pela imponência da estátua gigante de Buda – a maior no interior de um templo no Japão. O Grande Buda tem 14,98 m de altura e até suas orelhas têm 2,54 m de comprimento. Deve-se ainda subir as escadas até o Salão Nigatsu-do e apreciar as vistas fantásticas da bacia de Nara. A cidade merece um dia inteiro e, obrigatoriamente, prove seu sushi típico, embrulhado em folhas de caqui.

 

Estátua do Grande Buda no interior do Templo Todai-ji, em Nara – foto Shutterstock

 

Para encerrarmos essa temporada no Japão, ainda com base em Quioto, fomos para Osaka, a um pouco menos de uma hora de trem. A segunda maior cidade do Japão sediará em novembro do ano que vem a Expo25. Ao longo de sua história, as Exposições Mundiais têm sido o evento global em que novas tecnologias e produtos são apresentados e popularizados, levando a avanços importantes. O tema desta edição é “Projetando a sociedade do futuro para nossas vidas”. O arquiteto Sou Fujimoto é o responsável pelo projeto, coordenando as diretrizes para os países participantes.

Osaka abriga uma série de arranha-ceús espetaculares e uma culinária especial. Não deixe de provar os típicos okonomiyaki (panquecas de repolho, carne e frutos-do-mar) e os takoyakis (bolinho assado de polvo), que são os melhores do Japão e representam muito bem a deliciosa gastronomia do país.

 

O Pavilhão do Brasil para a Expo Osaka 2025, autoria do Studio MK2 e Magnetoscópio, cujo projeto é liderado pelo arquiteto Marcio Kogan – foto divulgação

 

Pena que tudo que é bom sempre acaba cedo. Como em uma deliciosa mordida, a viagem termina, inspirando as próximas!

Recomendações essenciais

Dinheiro
Os cartões são utilizados em todos os estabelecimentos no país, mas é possível trocar dinheiro físico em qualquer aeroporto ou nas grandes estações. E o momento é vantajoso para a viagem, uma vez que o Iene desvalorizou cerca de 40% nos últimos anos.

Mobilidade
Vale muito a pena optar por voos internos para grandes distâncias (acima de 800km), pois ganha-se tempo. Também é importante garantir o passe de trem e metrô, que pode ser adquirido nas principais estações. Basta entrar em qualquer box de informações para turistas. Já os serviços de táxi são relativamente baratos e servem para distâncias curtas.

Comunicação
Para uma viagem 100% sem estresse, esteja com seu celular conectado no Google Tradutor e nas IAs. O japonês é seguramente o povo mais solícito do mundo, mas muitos não falam inglês.

Tips
No Japão, não se aceita gorjeta, é um hábito cultural enraizado em todos os serviços. Eles trabalham com muito orgulho e prazer e recusam as famosas “tips”.