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Viajante e moradora dos mares, Família Schurmann se prepara para nova expedição
É impressionante e urgente. Estima-se que 14 milhões de toneladas de lixo são jogados nos oceanos todos os anos. Desses resíduos, 8 milhões de toneladas são plásticos. Segundo o estudo “Breaking the Plastic Wave”, publicado pela Fundação Ellen MacArthur, Universidade de Oxford, Universidade de Leeds e Common Seas, até 2040 os números quadruplicarão se nada for feito. Mas “não fazer” e “ficar parado” não existem no vocabulário da família Schurmann – brasileiros famosos por velejar ao redor do mundo há quase quatro décadas.
Para testemunhar e registrar o que está acontecendo nos oceanos, conscientizar as pessoas ao redor do planeta e principalmente buscar soluções inovadoras, Heloísa, Vilfredo, David e Wilhelm Schurmann sairão em uma nova expedição em agosto deste ano. Com o projeto “Voz dos Oceanos”, pais e filhos pretendem estimular novas vozes da sustentabilidade e da limpeza dos mares – viajando a bordo do veleiro sustentável Kat (que conta com 75% a 100% da energia renovável), do litoral de Santa Catarina até Fernando de Noronha – Patrimônio Mundial da Humanidade onde em seis meses foram recolhidos 200 quilos de plásticos nas praias.
Com duração de dois anos, a expedição vai ainda para Nova York, nos Estados Unidos, passando pela costa da Guatemala e de Honduras até a Ilha Dulcie, no Oceano Pacífico – uma das ilhas mais isoladas do planeta, distante 354 quilômetros de outra ilha deserta onde foram retiradas 18 toneladas de plástico. “Será a primeira e única expedição brasileira para o mundo, que mobilizará parceiros, como a Natura e a Ambev, que são empresas que já estão empenhadas na busca por soluções, além da sociedade civil, todos em prol do conhecimento científico”, conta David Schurmann.
Casa flutuante
Tudo começou em 1984. A pedagoga Heloísa e o economista Vilfredo transformaram a paixão por velejar em projeto de vida. “Não foi da noite para o dia, nos preparamos muito para viver em família em um barco cruzando o mundo, antes de tudo acompanhei professores e médicos para estar apta a educar e cuidar dos meus filhos”, lembra Heloísa.
Partiram de Florianópolis e passaram dez anos velejando pelos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. Os três filhos, Pierre, David e Wilhelm cresceram a bordo, estudando por correspondência. Wilhelm, o mais novo e então com 7 anos, permaneceu uma década inteira no veleiro. “A gente lia muito sobre navegações e aventuras, como os livros de Júlio Verne, estudávamos de manhã, em uma rotina regrada. Vejo que aprendemos a valorizar a incrível diversidade que encontrávamos em cada porto. Hoje somos adultos menos apegados aos bens materiais e às posses”, pontua David.
Foram ao todo três grandes expedições ao redor do mundo. Em 1997, partiram para outra grande aventura. Dessa vez, com uma nova tripulante: a filha Kat, então com apenas 5 anos. A “Magalhães Global Adventure” durou quase dois anos e meio, sendo concluída em Porto Seguro, na Bahia, no dia 22 de abril de 2000, quando os Schurmann chegaram dentro das comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, sendo recebidos por milhares de pessoas.
Em 2015, a família atravessou os mares na “Expedição Oriente”, inspirada pela teoria de que os exploradores chineses teriam sido os primeiros a navegar ao redor do mundo, conhecendo lugares como Caribe, América do Sul e Antártica, décadas antes dos europeus. “Nossas expedições remontavam as grandes navegações do passado, queríamos desvendar pistas, em contraponto a nossa próxima será sobre o presente e o futuro”, diz Vilfredo.
Aprendizados
Viver em poucos metros quadrados, em família o dia inteiro, é uma realidade ainda muito viva para muitas pessoas. Durante a pandemia, todos aprendemos a conviver mais, encarando manias alheias e falta de privacidade em casa. Mas isolamento e distanciamento social já eram realidade para os Schurmann antes mesmo da terrível Covid-19. “Mesmo assim, a experiência foi diferente, escolhemos levar a vida a bordo, agora todos nós não tivemos escolha, o que torna tudo mais difícil. Passamos o isolamento separados, alguns em terra e outros a bordo”, conta David.
O respeito ao espaço de cada um é um aprendizado essencial que a família vivenciou na prática. “Era uma época sem internet, mas cada um tinha seu momento, minha mãe costumava ficar na proa do barco um pouco sozinha, eu ouvia música na cama.” Outro conhecimento adquirido em anos no veleiro foi a responsabilidade. “Nossos filhos eram tripulantes tanto quanto nós, contávamos com eles para tarefas e precisavam estar atentos se fosse necessário salvar alguém no mar ou consertar o barco”, lembra Heloísa.
Foram centenas de lugares conhecidos, sem falar dos desafios enfrentados, como a fúria da natureza e até ataques de piratas. “As ondas enormes que pegamos na Nova Zelândia me marcaram, e as paisagens da Patagônia Chilena e da Polinésia Francesa me impactaram muito, jamais esquecerei”, conta Vilfredo. “Para mim, o ciclone que enfrentamos nos mares de Samoa no Pacífico Norte foi um momento desafiador, só que as pessoas podem ser ainda mais difíceis que a natureza, então os ataques de piratas que sofremos nas Filipinas me marcaram para sempre, precisamos fugir durante a noite”, lembra David.
Potências
Os oceanos garantem a sobrevivência de toda a raça humana. “Podemos dizer que eles são os pulmões do mundo, responsáveis por 54% de todo o oxigênio”, ressalta Vilfredo. Com o “Voz dos Oceanos”, soluções como barragens de plástico para que o lixo não chegue nos mares, entre outras inovações serão analisadas em parceria com a aceleradora Spin, que busca tecnologias industriais, fomentando empreendedores e startups que tenham como proposta encontrar soluções para diminuição ou eliminação do plástico no âmbito e escala industrial. “Soluções no Brasil e no exterior já estão no nosso radar, desde novos biomateriais substitutivos ao plástico, a novos processos de design utilizando inteligência artificial, até bactérias que consomem polímeros, são inúmeras as possibilidades tecnológicas que podem ajudar indústrias a se posicionarem como protagonistas na limpeza dos mares e oceanos”, afirma Beny Fard, CEO da Spin.
O projeto ainda terá grande caráter educacional, em que será desenvolvido material bilingue sobre cuidados com o plástico, e como reduzir o uso – disponibilizado gratuitamente online. E como a expedição é científica, pesquisadores serão convidados para participar de momentos da viagem para utilizar o veleiro como base para seus estudos. “Temos orgulho de grande parte da expedição ocorrer em litoral brasileiro, de usar tecnologia brasileira e vemos que o país é uma grande potência de voz dos oceanos, temos uma população jovem, que pode se engajar, adaptar e podemos ser exemplo nessa década do oceano”, finaliza David.
Facundo Guerra inaugura opções de hospedagem sustentáveis
O CENTRO DE SÃO PAULO ABRIGA muitos dos projetos do empresário Facundo Guerra. No subsolo do Teatro Municipal, ele abriu o Bar dos Arcos. Num cinema desativado da Liberdade, ele montou a casa de shows Cine Joia. Estes e outros empreendimentos saíram da mente criativa do fundador do Grupo Vegas. Porém, após três crises seguidas de Burnout e a recomendação de seu médico para dar uma descelerada, o empresário decidiu aplicar a expressão do latim “fugere urbem” a sua vida: construir uma casa no campo e escapar da cidade grande.
O local escolhido foi o município de Joanópolis, a 120 quilômetros da capital paulista, no meio da represa de Jaguari. O pedido médico foi seguido em partes, pois o que era para ser sua residência no campo, acabou virando negócio. O Altar é uma casa com paredes de vidro que permite que seu morador acorde flutuando nas águas. A tiny house (casa minúscula) fica ancorada a 30 metros da terra firme, e possui 38 m² de área interna e 26 m² de área externa, além de toda uma represa ao redor. “A escolha do local foi pela proximidade de São Paulo, e pela represa ser um lugar calmo e inspirador. Como um dos sócios já tinha uma casa por perto, foi mais fácil viabilizar o projeto”, conta o empresário.
É possível ainda alugar outra casa na mesma propriedade na Serra da Mantiqueira, a Prainha, que acaba de ser mobiliada em parceria com a curadoria de design Westwing. Trata-se de uma residência térrea de vidro, que permite total integração com a represa e a mata ao redor. Ambas foram construídas com madeira de reflorestamento, possuem captação e armazenamento de energia solar, geração de biogás para a cozinha por meio do lixo orgânico, e produtos como snacks e sabonetes de produtores da região.
Para quem deseja ir além de Joanópolis, Facundo conta que até 2022 pretende inaugurar mais cinquenta casas para aluguel temporário no litoral brasileiro, como em Sertão do Una (em São Sebastião – SP), em ilhas próximas a Paraty e em Fernando de Noronha.
As diárias no Altar flutuante e na Prainha saem a partir de R$ 1.1663 e R$980, respectivamente, e as reservas podem ser feitas pelo aplicativo Airbnb.
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