Cauã Reymond encarna um Dom Pedro I solitário, fragilizado e quase nada heroico no longa “A Viagem de Pedro”
No mês do Bicentenário da Independência, Cauã revive Dom Pedro I em longa com direção de Laís Bodanzky. O filme ainda marca o início da carreira do ator como produtor e showrunner
Na manhã do dia 22 de agosto, o Palácio de Itamaraty se alvoroçou com a chegada de um célebre visitante. Às vésperas do Bicentenário da Independência, aterrissou em Brasília, ao som do Hino Nacional e sob escolta da cavalaria, Dom Pedro I. Mergulhado em formol e conservado dentro de um cálice de prata, o coração do imperador veio diretamente da cidade do Porto para duas semanas de homenagem. “Arauto da independência e representante primeiro da nossa democracia, ele deve ser tratado como se estivesse vivo e presente”, ressaltou, na ocasião, o Chefe do Cerimonial do Ministério de Relações Exteriores, Alan Coelho de Séllos.
Essa não foi a primeira vez que os restos mortais de Dom Pedro I passearam pelo Brasil – em 1972, durante a ditadura, seus ossos rodaram o país em um cortejo saudosista. “Curioso ato de devoção a uma figura tão dúbia”, reflete Cauã Reymond à 29HORAS. A partir do dia 1° de setembro, o ator estreia nos cinemas vestindo a pele do imperador – mas do avesso. No longa “A Viagem de Pedro” – que também marca a estreia mundial de Cauã como produtor –, heroísmo e glória são postos à prova, em uma superprodução de tom ácido e intimista.
“O filme se passa nove anos após a Proclamação da Independência, durante a viagem de Pedro de volta a Portugal. Naquele momento, ele se prepara para guerrear contra seu irmão, Dom Miguel, pela sucessão ao trono português, e já se vê enfraquecido pela doença que o mataria três anos depois”, explica Cauã. No roteiro idealizado por ele em parceria com Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi e grande time, o ex-imperador, vendo-se sozinho no oceano, parte em uma viagem por seus erros e suas angústias. “Não há nenhum registro histórico que descreva esse período. Tudo que narramos é nossa versão do que poderia ter se passado em seu subconsciente ali.”
Despido do glamour, da saúde e dos nobres títulos, Pedro ganha camadas de fragilidade, vulnerabilidade e insegurança. “Nossa ideia era desnudá-lo de qualquer sacralidade ou reverência. No longa, Pedro é humano, e apenas isso.” Idealizado em 2013, rodado em 2018 e lançado oficialmente em 2022, durante o Festival de Gramado, “A Viagem de Pedro” vem em momento oportuno. “Não foi algo planejado, mas era para ser assim. Nosso filme propõe uma reflexão sobre quem o Brasil tem chamado de herói da pátria”, medita.
Mulheres a bordo
Se nas epopeias clássicas, os poetas rogavam às deusas e musas do Olimpo o êxito de suas jornadas, em “A Viagem de Pedro” quem guia essa travessia interior são as muitas mulheres de seu convívio. Amélia, Leopoldina e Domitila são invocadas para confrontá-lo nesse solitário mergulho pelo passado. “O feminino teve papel crucial na vida e no governar de Pedro. Nada mais natural que ele retornar ao seu subconsciente nesse momento de desamparo e aflição”, analisa a diretora e co-roteirista do longa, Laís Bodanzky.
A mente brilhante por trás das produções premiadas “Chega de Saudade” (2007) e “Como Nossos Pais” (2017) foi a escolhida por Cauã para lançar luz sobre essas figuras que, em palavras dela, “sempre tiveram sua relevância histórica reduzida a seu gênero”. “Pintadas pelos documentos da época como ‘amantes’ do imperador, essas mulheres ao redor de Pedro foram, na realidade, grandes articuladoras do poder. Leopoldina, por exemplo, foi quem firmou as bases para nosso processo de independência. Enquanto mulher, nas rédeas de uma produção dessas, me sinto honrada por expor essa outra face da história.”
Sob essa nova e feminina ótica, debates sobre masculinidade tóxica, misoginia e racismo ganham destaque inédito. Em cenas inteiramente rodadas em dialetos originários, atrizes de ascendência africana – destaque para a angolana Isabél Zuaa – homenageiam a cultura de sua terra e falam, sem tabu, sobre prazer, sexo e ancestralidade. “Pedro é uma das maiores representações do domínio patriarcal brasileiro. Dizia-se liberal, antirracista, devoto ao povo, mas, para que tivesse a chance de ser lembrado e glorificado, quantas narrativas tiveram de ser silenciadas? No filme, essas vozes são amplificadas à medida que esse ‘herói’ é desconstruído e, sozinho com suas tormentas, se mostra dúbio, frágil e vacilante”, conclui Laís.
Vida de navegante
Em 42 anos de travessia pessoal, Cauã também teve de enfrentar seus revezes particulares. Filho de pais distantes, viveu boa parte da adolescência à sua própria sorte, em terras que não eram suas. “Eu havia abandonado minha carreira como modelo e passei alguns anos nos Estados Unidos, vivendo do que dava. Trocava lâmpada e limpava o chão em troca de aulas de teatro. Com o pouco que ganhava, uma refeição por dia às vezes era luxo, mas conseguia manter o sonho vivo.”
De lá para cá, foram onze novelas, 23 longas e oito participações em séries globais. Vieram junto uma legião de fãs e o lisonjeiro – porém taxativo – rótulo de galã. “Minha aparência me rendeu personagens memoráveis, mas também limitou meus desafios”, desabafa o ator, que tem encontrado, atrás das câmeras, um meio de se revelar por inteiro, em suas muitas faces. “Descobri que sendo produtor ou diretor, posso mergulhar em personas ainda mais complexas, e ir além da imagem que o público construiu e espera de mim.”
Em 2008, coroou essa descoberta no premiadíssimo “Se Nada Mais Der Certo”. No filme – dirigido por José Eduardo Belmonte, produzido com auxílio financeiro de Cauã, e, à época, laureado Melhor Longa de Ficção no Festival do Rio –, o ator vive um jornalista perturbado, que se envolve em um triângulo amoroso golpista. “Foi a minha primeira produção desse outro lado, oferecendo não só minha arte na prática, mas meu apoio e olhar de fora. Pude, assim, encarnar um personagem com suas dores acima de seus amores, diferente de tudo que já havia feito até ali. Sem dúvidas, esse foi meu trabalho mais marcante. Esse e ‘A Favorita’, novela que está em reexibição nas tardes da Globo e marcou minha estreia como protagonista jovem”, conta o multiartista.
Sem a menor pressa para escolher entre as telas e os sets, nos próximos meses Cauã retorna às noites globais na pele do gerente de uma plataforma de petróleo Dante, na segunda temporada de “Ilha de Ferro”, ao mesmo tempo que se lança como showrunner em duas produções para o streaming. Em uma delas – a documental “Mata-Mata”, para o Globoplay –, ele descortina os bastidores da negociação futebolística; na outra, ainda sem nome ou data de estreia prevista, viaja de volta ao universo da moda e do entretenimento.
Seja como tripulante ou capitão dos sets, Cauã é do time dos navegantes ousados em mares tranquilos. Ao mesmo tempo que aponta para novos e instigantes caminhos, mantém as bases firmes, ancoradas no chão. Se quer retornar ao estrangeiro para ampliar seu império? Anunciem o “não” à Hollywood: ele declara que fica. “Me lançar no mercado internacional já foi uma ambição, mas há 10 anos deixou de ser meu objetivo de vida. Quando Sofia, minha filha, nasceu, eu percebi que o mundo era pequeno e o tempo, curto demais. Claro que posso viajar ao exterior por alguns meses para um trabalho ou outro, mas é no Brasil que meu coração está. Entre ser visto por milhões e ser lembrado por ela, escolho a segunda opção. É esse legado que me fará sentir herói, um dia.”
Rock in Rio: Confira um roteiro com os melhores shows de cada um dos 7 dias do maior festival de música do país
Edição 2022 do festival Rock in Rio tem a participação de mais de 200 bandas, artistas solo e DJs. Veja a seleção que a 29HORAS fez com as melhores atrações para cada noite
Depois de um hiato de quase três anos, o Rock in Rio está de volta! Os números do festival são superlativos: cerca de 100 mil pessoas por dia conferindo os shows ao vivo na Cidade do Rock; um palco principal com a mesma altura de um edifício com 10 andares e uma estrutura que inclui 200 toneladas de aço (o equivalente a 200 carros); 28 mil empregos gerados (desde a organização e os operadores de som e luz até a limpeza e a segurança) e um impacto econômico na economia da cidade do Rio de Janeiro, estimado pela Fundação Getúlio Vargas, em R$ 1,7 bilhão.
Mas o que a galera quer mesmo saber é do timaço de aproximadamente 200 bandas, artistas solo e DJs que comandam a festa entre a quinta (dia 2 de setembro) e o domingo, dia 11, nos vinte espaços de entretenimento da Cidade do Rock, como o já citado Palco Mundo, o Rock District, o Espaço Favela, a tenda New Dance Order, o Palco Sunset e a Rock Street.
Praticamente todos os ingressos colocados à venda no início de abril se esgotaram rapidamente. Mas algumas compras feitas via boleto não foram pagas e, com sorte, você ainda pode encontrar alguns últimos bilhetes nessas vendas extraordinárias. Cruze os dedos, acesse https://rockinrio.com/ e descubra se ainda restou algo.
Agora, se você já tem um ingresso digital baixado no seu celular, veja nas páginas a seguir o que te espera. Conheça as sugestões da equipe de 29HORAS para você curtir o melhor de cada um desses sete dias de som e fúria.
NOITE DAS TREVAS – Dia 2/set (sexta-feira)
Os headliners da noite são os metaleiros britânicos do Iron Maiden, famosos por clássicos como “Fear of the Dark”. Mas a pauleira tem também a colaboração dos americanos do Dream Theater, dos franceses do Gojira e dos brasileiros do quinteto Oitão (comandado pelo chef Henrique Fogaça, no palco Rock District) e do quarteto de death metal Sepultura, que é acompanhado pela Orquestra Sinfônica Brasileira. Outra boa pedida é o pouco divulgado show da banda de funk metal Living Colour, com a participação do lendário guitarrista Steve Vai.
BAILE DA QUEBRADA – DIA 3/set (sábado)
Os principais shows desse segundo dia de Rock in Rio têm como destaque a sonzêra que nasce das ruas e das comunidades. A festa começa no palco Sunset, que recebe o carioquíssimo funk de Papatinho & L7nnon –autor do hit “Desenrola, Bate, Joga de Ladinho”. Depois segue com o show sempre matador dos Racionais MCs, com seu rap típico das periferias paulistanas. Aí, para fechar a noite, o Palco Mundo recebe o cantor e produtor musical norte-americano Post Malone, conhecido por seu original mix de hip-hop, rap, pop, R&B e trap. Aos 27 anos, ele já ganhou vários prêmios importantes, mas é acusado por ativistas da causa racial de ser um “abutre” que se apropria da cultura negra. “É uma luta ser um rapper branco”, costuma dizer o artista, autor de sucessos como “Wow” e “Circles”. Para a alegria da playboyzada, a programação inclui também uma apresentação do DJ Alok.
DIRTY GIRL & BAD BOY – Dia 4/set (domingo)
Demi Lovato foi uma atriz mirim que contracenava na TV com o dinossauro roxo Barney, e Justin Bieber estreou nas paradas aos 13 aninhos, entoando o inocente hit “Baby”. Hoje ela compõe canções que falam de morte, bebida, heroína, rehab, masturbação e sexo. Já ele se tornou um popstar planetário por causa de suas músicas cheia de atitude e de suas aparições nas páginas policiais, sempre envolvido com barracos, carrões em velocidade acima do permitido e drogas. Ela traz ao Rio o show da turnê “Holy Fvck”, e ele faz mais uma energética performance da “Justice World Tour”.
Nesse mesmo dia, o palco Supernova recebe o show de Lil Whind, alter ego musical do humorista Whindersson Nunes, que tem 60 milhões de seguidores no Instagram. Ele apresenta composições como “Piauí” e “Trap do Gago’’. Para quem não quer saber de novidades e prefere letras que não falem só de “raba” e de “sentada”, vale acompanhar o show de Gilberto Gil celebrando os seus 80 anos no palco Sunset.
DIVERSIDADE – Dia 8/set (quinta)
Os headliners dessa noite são os veteranos do Guns N’ Roses, com suas dúzias de inquestionáveis clássicos do hard rock. Mas o line-up desta quinta inclui também performances vigorosas do andrógino quarteto italiano Måneskin, da empoderada cantora britânica Jessie J e da drag mais exuberante da zona leste paulistana, a fabulosa Gloria Groove. Com a regravação do velho sucesso “Beggin”, de 1967, o Måneskin conquistou ouvintes de variadas gerações e do mundo todo com sua sonoridade crua, seu estilo rocker meio vintage e seu look plurissexual. Já Jessie J, com seu acessível e sofisticado mix de pop e soul, faz sucesso por onde vai soltando a voz para falar de suas obsessões, desejos e fantasias. E a gloriosa rainha do Groove estreia no Rock in Rio fazendo o povo pular ao som de hits como “A Queda”, “Bonekinha” e “Vermelho”.
ETERNOS REBELDES – Dia 9/set (sexta)
Levar uma vida em estilo rock’n roll significa ter uma visão e uma posição crítica ao sistema, certo? Foi seguindo esse princípio que se estruturaram as carreiras das estrelas dessa penúltima noite de Rock in Rio. O trio Green Day, formado em 1986 na Califórnia, é conhecido por suas letras raivosas e irônicas contra os políticos e os caipiras dos Estados Unidos, como fica claro em hits como “Welcome to Paradise” e “American Idiot”. O palco Mundo terá ainda o punk sessentão Billy Idol e a banda Capital Inicial, celebrando seus 40 anos de estrada e de revolta contra a imundície que emana da cidade onde o quarteto surgiu: Brasília. No palco Sunset, quem faz protestos em forma de canção é a canadense Avril Lavigne, a eterna musa de skatistas, das vítimas de bullying e de todas as pessoas que se sentem incompreendidas.
JORNADA ÉPICA – Dia 10/set (sábado)
Hoje vai ser um desfile de camisas polo e sapatos caramelo na Cidade do Rock: a atração principal do dia é o Coldplay, sucesso absoluto entre o público coxinha. Maledicências à parte, os shows dessa banda britânica são sempre cheios de emoção e de efeitos visuais. Invariavelmente terminam com a plateia rouca após cantar junto com Chris Martin hinos pop como “Fix You”, “Yellow”, “Viva la Vida” e “Higher Power”. O line-up inclui também a apresentação do quarteto londrino Bastille, conhecido por seu equilibrado mix de rock alternativo com pop, presente em sucessos como “Pompeii” e “Happier”. No Rock District, quem sobe ao palco é o ator global Thiago Fragoso, que interpreta bem-comportadas covers de Oasis, U2 e… Coldplay!
POTÊNCIA FEMININA – Dia 11/set (domingo)
No encerramento desta edição do Rock in Rio, as mulheres vão comandar a p*##@ toda! A estrela maior da noite é a britânica de origem albanesa Dua Lipa, dona de hits como “ Don’t Start Now” e “One Kiss’’ e conhecida por suas posições feministas e na defesa dos direitos da comunidade LGBTQIA+. Antes dela, quem domina o palco Mundo é a monumental rapper norte-americana Megan Thee Stallion, que esbanja sensualidade enquanto canta letras sobre o empoderamento feminino e já gravou parcerias com divas como Beyoncé e Cardi B. E a programação do Palco Sunset inclui ainda um showzaço em tributo a Elza Soares, às suas lutas e à sua trajetória musical. A homenagem contará com a participação de artistas como Mart’nália, Gaby Amarantos, Majur e Larissa Luz.
Rodolfo Medina, presidente do Grupo Dreamers e um dos sócios do Rock in Rio, detalha as inovações do festival
O jovem executivo Rodolfo Medina exalta a indústria brasileira presente em todos os processos do Rock in Rio, e define o evento como um projeto de comunicação de um ano, que envolve diversas marcas
Neste mês, acontece o festival de música mais aguardado do país. Depois de adiamentos por causa da pandemia, o Rock in Rio chega ao Parque Olímpico, na zona oeste da capital fluminense, nos dias 2, 3, 4, 8, 9, 10 e 11. Rodolfo Medina, presidente executivo do Grupo Dreamers – maior grupo independente de comunicação e entretenimento do país e detentor de 18 empresas, entre elas Rock in Rio, Artplan e Dream Factory – é um dos rostos por trás do sucesso do festival, já que é responsável por manter, como pilar do evento, as interações de marcas com seus consumidores no meio do ambiente festivo e musical.
O carioca de 46 anos começou sua vivência no mercado publicitário dentro de casa. De tanto acompanhar as experiências profissionais do pai, Roberto Medina, passou a se interessar pela carreira. Em 1997, abriu um empreendimento, o Rock in Rio Café, em que atuava também como Diretor de Marketing. Ele ingressou na agência Artplan como Diretor de Novos Negócios, em 2002. Quatro anos depois, estava à frente da empresa, quando assumiu o posto de presidente. Rodolfo também atua como VP de Parcerias e Marketing do Rock In Rio há mais de 15 anos.
À frente de inovações no evento, ele exalta, em entrevista à 29HORAS, a disrupção da edição de 2022, que deve marcar o público não apenas que estará presente nas plateias, mas também quem vai acompanhar digitalmente. “Haverá ativações no metaverso, transmissões dos nossos parceiros de mídia e coberturas especiais das experiências, que serão feitas pelo TikTok. Acreditamos que nosso engajamento será bem maior do que nos demais anos”. Confira, a seguir, os principais trechos da conversa:
Como foi crescer em meio a mentes inovadoras na comunicação, no entretenimento e no varejo, com seu avô e seu pai, Roberto Medina?
Desde pequeno, tive o privilégio de acompanhar as histórias da nossa família. Tínhamos como tradição almoçar e jantar em casa todos os dias e acompanhamos de perto, não somente as realizações, mas os desafios e as dores da Artplan e do Rock in Rio. Lembro-me de duas histórias envolvendo uma grande cadeia de lojas de eletrodomésticos que era do meu avô, chamada Rei da Voz. Não existiam eletrodomésticos de outra cor a não ser branca. Meu avô, então, comprou e pintou as geladeiras de amarelo, para vender. O primeiro anúncio colorido do jornal “O Globo” foi de uma geladeira amarela da Rei da Voz.
Nessa mesma loja, quando lançaram a televisão aqui no Brasil, meu avô ficou muito empolgado e comprou vários aparelhos de TV. Em determinado momento, esses produtos pararam de ser vendidos, pois a programação era muito escassa. A solução que ele encontrou foi criar um programa semanal de televisão, chamado “Noite de Gala”, que virou líder de audiência e foi exibido durante muitos anos. Uma história interessante motivada pela conexão entre varejo e entretenimento.
Atualmente, fora do expediente, ainda falamos muito de trabalho, especialmente de Rock in Rio e The Town. O Grupo Dreamers também está muito presente. É um privilégio podermos fazer trocas ricas com o fundador do Grupo, Roberto Medina, que é muito atuante, principalmente na liderança do Rock in Rio.
Ingressar na publicidade e no universo das agências foi natural para você? Como foi e é essa troca de experiências e expectativas profissionais dentro de casa?
Foi natural, mas eu não entrei na publicidade diretamente. Ingressei no Rock in Rio Café – restaurante temático que tinha muitas marcas envolvidas na experiência do espaço. Ali, começou a minha relação com patrocinadores. Depois, fui trabalhar no Rock in Rio, em 2001, cuidando da área de Parcerias. Em seguida, eu fui para a Artplan, para atuar na área de Novos Negócios, envolvido diretamente na prospecção de clientes. Foi dando certo e eu fui mudando de áreas na agência.
O Brasil e, especialmente, o Rio de Janeiro estão muito atrelados ao trabalho do Grupo Dreamers. O primeiro Rock in Rio materializou o desejo por festejar um momento de abertura política, por ocupar as ruas e mostrar tudo isso ao mundo. Na sua visão, quais outros momentos importantes o festival acompanhou?
O Rock in Rio foi um marco no entretenimento do Brasil, principalmente no show business. Na primeira edição do festival, 100% das coisas eram importadas, não tínhamos indústria. Hoje, temos a oportunidade de termos uma indústria que é capaz de entregar um dos maiores festivais de música do mundo e já chegamos ao patamar de exportamos tecnologia brasileira.
Quando fazemos o Rock in Rio Lisboa, o som é brasileiro, por exemplo. O intercâmbio com Portugal sempre foi muito importante, trazemos muita coisa de lá e levamos muita coisa também. Quando fomos a Las Vegas, foi uma empresa brasileira que fez o som e a cenografia para eles, o que já configura a virada de chave sobre a nossa indústria, que passa a se movimentar e começa a ganhar escala para atender o mercado como um todo, não apenas localmente.
Como você já disse em outras entrevistas, o Rock in Rio nasceu de um briefing de um cliente, então uma marca de cerveja. De lá para cá, como as empresas se relacionam com o festival?
O Rock in Rio é um projeto de comunicação de um ano. Desde o primeiro festival até hoje, temos o objetivo de construir uma narrativa em que marcas possam aproveitar esse conteúdo ao longo desse período. E, mais que isso, é um projeto em que as marcas fazem parte da experiência do consumidor.
É impensável um Rock in Rio em que as pessoas não possam interagir com as marcas, brincar nos stands, andar na roda gigante e receber brindes. A Cidade do Rock abre ao meio-dia e fecha às 4h por causa de toda essa interação do público com as marcas. Hoje em dia, isso é muito forte porque entendemos o valor da experiência, da construção de conteúdo e narrativas.
Em 1985, isso não existia como conceito. Foi um meio disruptivo de realizarmos a comunicação desse cliente e abriu o caminho para que marcas e patrocinadores fossem protagonistas de nossas próximas edições e, também, de outros festivais.
Em tempos de TikTok, de imersões em realidades virtual e aumentada, que têm se inserido cada vez mais no entretenimento e na cultura, como o festival se adapta a essas novas plataformas?
Temos a oportunidade e o compromisso de não deixar a pandemia passar em vão. Temos o Rock in Rio do reencontro, das pessoas celebrando a vida e da união. Por falar em pandemia, ela nos ofereceu a possibilidade de uma nova audiência, que não era capaz ou disposta a consumir conteúdo digital antigamente.
Nós teremos o mesmo número de pessoas na Cidade do Rock de todas as edições – 700 mil. Por outro lado, temos a possibilidade de atingir muito mais pessoas que estão dispostas a absorver o conteúdo do festival de forma real time, a partir da operação do NOW – por exemplo –, do metaverso, das transmissões dos nossos parceiros de mídia e das coberturas especiais das experiências, que serão feitas pelo nosso parceiro TikTok. Acreditamos que nosso engajamento será bem maior do que nos demais anos.
Diversos festivais chegam e se espalham pelo país. Como o Grupo lida com essa concorrência, que parece ter ficado ainda mais intensa no pós-pandemia?
A indústria do entretenimento sofreu muito durante a pandemia, o ao vivo principalmente. Temos que restabelecer toda a cadeia que se perdeu ao longo desse tempo. Então, é muito importante que novos festivais surjam. Nós mesmos estamos trazendo uma nova marca, que é o The Town, um projeto tematizado que vai ocorrer, em 2023, em uma das principais cidades do mundo: São Paulo. É muito importante para a indústria do entretenimento que novas marcas, empreendedores e público se conectem. Isso só deixa todo mundo mais forte.
A edição deste ano do Rock in Rio é a primeira no Brasil depois da pandemia, quais são as novas ativações e experiências para o público?
Temos muitas áreas novas. Podemos destacar a Nave, que é uma experiência imersiva que fala de uma Amazônia forte e cultural, e o Palco Sunset, com encontros incríveis e sempre inéditos. Não podemos nos esquecer das maiores atrações do mundo e da saudade dos nossos ídolos, cantando no Palco Principal e no Palco Eletrônico. Podemos esperar um momento de confraternização, de reencontro, de união, de gente, de tolerância, de diversidade e inclusão. É daí que teremos o maior Rock in Rio de todos os tempos.
Como a internacionalização mudou o festival? Quais foram os desafios de levar o evento a outros países, como Portugal, Espanha e Estados Unidos?
Foi importante para construirmos uma experiência com recorrência – lembrando que o Rock in Rio ocorreu em 1985, 1991 e 2001 no Brasil. Depois, ele foi a Portugal, em 2004 e, a partir daí, o festival passa a ocorrer a cada dois anos. Isso para a construção de uma equipe forte e de cultura foi essencial. Foi muito desafiador levar o evento para outros países, pois são novas culturas e formas de comunicação, mas a essência da festa, da música e da experiência está em todos os lugares.
Como você já falou, o novo festival The Town acontecerá em São Paulo, no ano que vem. Como os eventos se diferenciam? Os line up serão complementares, existirá diálogo entre os festivais?
É um projeto dos organizadores do Rock in Rio, do qual somos sócios da Live Nation. Vamos conseguir beber da credibilidade da nossa organização e da nossa experiência em Rock in Rio, trazendo nosso know how. No entanto, vale ressaltar que o The Town é um projeto completamente independente, com a sua própria personalidade e conceito.
Além do Rock in Rio, o Grupo Dreamers detém outras 17 empresas. Não há concorrência entre elas? Como fica a interação?
O Grupo Dreamers é o maior grupo independente do país, com 100% de capital nacional. Unimos comunicação, entretenimento e experiência em um só lugar e estamos construindo um ecossistema de soluções para o mercado. Cada uma das 18 empresas apresenta um embasamento de complementaridade e sinergia que conversa com as necessidades dos clientes, além de oferecerem leques diversos de possíveis caminhos a serem seguidos, dentro do universo de comunicação de cada anunciante, de acordo com a realidade vivida e os objetivos de negócio que cada cliente quer alcançar.
Somos destaque no mercado de publicidade com a Artplan, há muitos anos. Nosso laboratório de conteúdo – A-Lab – também vem crescendo e atendendo grandes marcas, como Itaú, Burger King, Localiza, entre outras. Recentemente, também lançamos a Convert, focada em digital business e performance, que vem apresentando um crescimento relevante. Vale citar também que acabamos de entrar no cenário de games, com a sociedade com a Black Dragons. Estamos sempre de olho nas oportunidades do mercado de comunicação e entretenimento.
Sendo uma liderança do mercado de comunicação, quais são as suas análises sobre as mudanças intensas que os negócios da área passaram? Como absorver as rápidas transformações?
As mudanças do mercado vêm primeiro por causa da mudança do consumidor. O que tem mudado essencialmente é a forma como o consumidor se relaciona com os meios de comunicação e a forma de ele produzir conteúdo. A partir daí, precisamos mudar os negócios da comunicação como um todo porque o consumidor se transformou. O que temos como necessidade é tentar aprender com os erros e ter a habilidade de tomar decisões rápidas, independente do cenário encontrado.
Para finalizar, como você enxerga as potencialidades do empreendedorismo brasileiro neste momento de retomada da crise e ainda desafiador para muitos?
O Brasil é um país de grandes e criativos empreendedores. O que precisamos é ter um mercado favorável para que os empreendedores brasileiros possam, de fato, gerar empregos e riqueza. Temos que investir em educação e na formação das novas gerações e, assim, teremos a chance de transformar a realidade do país.
Agenda 29h: Programas para todas as horas do mês em São Paulo
Gastronomia, bares, shows, teatros, filmes, exposições, e muito mais! Confira a programação completa para aproveitar o mês de agosto!
Comida & Bebida
Fatias de alegria
A mania das pizzas vendidas em fatias, como nos EUA, está cada vez mais difundida por aqui. Prova disso é a Paul’s Boutique, recém-aberta pelo coreano Paul Cho (ex-Braz Elétrica e treinado na Roberta’s, no Brooklyn novaiorquino). A casa prepara pizzas com 45 cm de diâmetro (10 cm a mais que o padrão paulistano), que ficam expostas numa vitrine. O cliente tem à sua escolha “sabores”, como margherita, stracciatella ou picante (com linguiça diávola e picles de jalapeño).
Rua Dr. Renato Paes de Barros, 167, Itaim.
Fora do circuito
Guilherme, Marcus, Danilo e Vitor Temperani acabam de abrir o Vila Anália, um complexo gastronômico que consumiu investimentos de R$ 14 milhões e abriga o restaurante francês Merci (com cozinha chefiada por Thiago Cerqueira), o japonês Susume (onde brilha o sushiman Fábio Sinbo), o italiano Temperani (comandado por Antonio Maiolica) e o espanhol Tapas 93, pilotado por Ligia Karazawa. Tem ainda loja de vinhos, uma apetitosa vitrine de doces e drinques assinados por Márcio Silva.
Rua Cândido Lacerda, 33, Tatuapé, tel. 2373-5378.
Jeunesse dorée
O Tropikkal Bar é a nova baladinha dos Jardins. A casa capricha na música (garantida pela DJ residente Marina Diniz), nas comidinhas criadas pelo chef Ernesto Soares e nos drinques assinados por Ravenna Martins. Para petiscar, aposte nos pastéis de carne louca ou nas lulinhas braseadas. Para bebericar, prove o Selva (à base de gim, xarope de ervas, limão, bitter de laranja e uvas verdes) ou o Tropical, que mistura Lillet, gim, xarope de gengibre, limão siciliano e tônica.
Rua Vittorio Fasano, 35, Jardins.
Top jap
O Grupo Saints (Tartuferia San Paolo, Boteco São Bento e São Conrado Bar) acaba de inaugurar o restaurante Yu – ‘excelência’ em japonês. No bonito e moderno salão, destaca-se a simpatia do gerente Helio Alves, o Tigrão (ex-Kosushi). Da cozinha, comandada por José Maria Azevedo (ex-Nagayama), saem bem executados sushis e sashimis feitos com peixes fresquíssimos. A carta de drinques é assinada pelo barman Laércio Zulu, com coquetéis clássicos e autorais.
Rua Jerônimo da Veiga, 121, Itaim, tel. 3167-7774.
Yom tov!
A Z Deli Sandwiches agora serve, aos finais de semana, cafés da manhã e brunches, com clássicos judaicos e norte-americanos assinados por Julio Raw, incluindo ovos (fritos, mexidos ou pochê), toasts e blueberry pancakes, além de bebidas como Mimosas, Cosmopolitans, Bloody Marys, cafés, sucos e chocolate quente. Se a fome for grande, prove o completo L.E.O. – um prato com ovos mexidos, salmão defumado, cebola caramelizada, creme azedo, dill, picles e torradas de bagel.
Rua Bento Freitas, 314, República
Flying burgers
Instalada no piso inferior do Aeroporto de Congonhas, a Spark Burger tem cardápio assinado pelos chefs cariocas Andrea Tinoco e Pedro Machado e sandubas feitos com carne bovina argentina ou uruguaia. As sugestões da casa são o Spark Burger (pão, hambúrguer de 150 g, salada, queijo, molho especial e bacon) e o Spark Mex, incrementado com queijo cheddar, guacamole, vinagrete e crispies de batata-doce. Tem ainda hot dogs, wraps’n’salads e gostosos milk-shakes.
Avenida Washington Luís, s/nº, tel. 93208-2674.
Belgian connection
Idealizado pelo casal Charlotte De Cort e Victor Magri – ela belga, ele brasileiro –, o restaurante Motique é uma agradável surpresa. O cardápio inspira-se na diversidade global, mas prioriza ingredientes e fornecedores locais. Para beliscar, tem manjubinhas fritas para chuchar no molho tártaro. De principal, aposte no Stoofvlees, cozido belga de carne bovina com cerveja e mostarda, escoltado por batatas fritas. Outras boas pedidas são o bowl de noodles e a salada de couve-flor.
Rua Simão Álvares, 985, Pinheiros.
Bons drinques
Após o sucesso do Piccini Cucina, nos Jardins, os mesmos sócios acabam de inaugurar o Piccini Bar. Com coquetelaria caprichada – não deixe de provar o Curta, feito com Lillet, suco de maracujá e clara de ovo – e ambiente intimista garantido pelos sofás de veludo vermelhos de veludo. A carta de bebidas é assinada pelo mixologista Valdemir Cabral (ex-Riviera). Para petiscar, o cardápio oferece delícias como as tartines de atum com ovas de mujol e os canapés de carpaccio.
Rua Dr. Renato Paes de Barros, 177, Itaim.
Entretenimento
Mallu mulher
Radicada em Portugal e sem fazer shows no Brasil desde 2018, Mallu Magalhães volta à sua terra natal para divulgar seu mais novo álbum, “Esperança”. No dia 27 de agosto, a cantora sobe ao palco do Tokio Marine Hall para apresentar novidades como “América Latina” e “Pé de Elefante”, além de velhos sucessos, como “Velha e Louca”, “Mais Ninguém” e “Navegador”. Hoje com 29 anos, é ela quem assina a cenografia e a direção musical do show. Ingressos de R$ 50 a R$ 200.
Rua Bragança Paulista, 1.281, Santo Amaro, tel. 2548-2541.
Arte callejera
Até o dia 9 de outubro, o Museu de Arte Brasileira da FAAP apresenta a exposição “Urbana”, com cerca de 40 obras de Tec, artista argentino radicado em São Paulo e conhecido por suas in-tervenções no asfalto e nas empenas de edifícios paulistanos. A mostra reúne trabalhos que extrapolam a técnica tradicional – sobre tela, com uso de tinta acrílica – e ganham destaque em outras superfícies, como murais, fotografias, instalação, video e site-specific. Entrada gratuita.
Rua Alagoas, 903, Higienópolis, tel. 3662-7198.