Rodolfo Medina, presidente do Grupo Dreamers e um dos sócios do Rock in Rio, detalha as inovações do festival

por | ago 30, 2022 | Entrevista, Pessoas, Pessoas & Ideias | 0 Comentários

O jovem executivo Rodolfo Medina exalta a indústria brasileira presente em todos os processos do Rock in Rio, e define o evento como um projeto de comunicação de um ano, que envolve diversas marcas

Neste mês, acontece o festival de música mais aguardado do país. Depois de adiamentos por causa da pandemia, o Rock in Rio chega ao Parque Olímpico, na zona oeste da capital fluminense, nos dias 2, 3, 4, 8, 9, 10 e 11. Rodolfo Medina, presidente executivo do Grupo Dreamers – maior grupo independente de comunicação e entretenimento do país e detentor de 18 empresas, entre elas Rock in Rio, Artplan e Dream Factory – é um dos rostos por trás do sucesso do festival, já que é responsável por manter, como pilar do evento, as interações de marcas com seus consumidores no meio do ambiente festivo e musical.

 

Rodolfo Medina - Foto Rudy Hüholdy

Rodolfo Medina – Foto Rudy Hüholdy

 

O carioca de 46 anos começou sua vivência no mercado publicitário dentro de casa. De tanto acompanhar as experiências profissionais do pai, Roberto Medina, passou a se interessar pela carreira. Em 1997, abriu um empreendimento, o Rock in Rio Café, em que atuava também como Diretor de Marketing. Ele ingressou na agência Artplan como Diretor de Novos Negócios, em 2002. Quatro anos depois, estava à frente da empresa, quando assumiu o posto de presidente. Rodolfo também atua como VP de Parcerias e Marketing do Rock In Rio há mais de 15 anos.

À frente de inovações no evento, ele exalta, em entrevista à 29HORAS, a disrupção da edição de 2022, que deve marcar o público não apenas que estará presente nas plateias, mas também quem vai acompanhar digitalmente. “Haverá ativações no metaverso, transmissões dos nossos parceiros de mídia e coberturas especiais das experiências, que serão feitas pelo TikTok. Acreditamos que nosso engajamento será bem maior do que nos demais anos”. Confira, a seguir, os principais trechos da conversa:

 

Como foi crescer em meio a mentes inovadoras na comunicação, no entretenimento e no varejo, com seu avô e seu pai, Roberto Medina?

Desde pequeno, tive o privilégio de acompanhar as histórias da nossa família. Tínhamos como tradição almoçar e jantar em casa todos os dias e acompanhamos de perto, não somente as realizações, mas os desafios e as dores da Artplan e do Rock in Rio. Lembro-me de duas histórias envolvendo uma grande cadeia de lojas de eletrodomésticos que era do meu avô, chamada Rei da Voz. Não existiam eletrodomésticos de outra cor a não ser branca. Meu avô, então, comprou e pintou as geladeiras de amarelo, para vender. O primeiro anúncio colorido do jornal “O Globo” foi de uma geladeira amarela da Rei da Voz.

Nessa mesma loja, quando lançaram a televisão aqui no Brasil, meu avô ficou muito empolgado e comprou vários aparelhos de TV. Em determinado momento, esses produtos pararam de ser vendidos, pois a programação era muito escassa. A solução que ele encontrou foi criar um programa semanal de televisão, chamado “Noite de Gala”, que virou líder de audiência e foi exibido durante muitos anos. Uma história interessante motivada pela conexão entre varejo e entretenimento.

Atualmente, fora do expediente, ainda falamos muito de trabalho, especialmente de Rock in Rio e The Town. O Grupo Dreamers também está muito presente. É um privilégio podermos fazer trocas ricas com o fundador do Grupo, Roberto Medina, que é muito atuante, principalmente na liderança do Rock in Rio.

Cidade do Rock em sua segunda edição, em 1991 - Foto divulgação/ reprodução

Cidade do Rock em sua segunda edição, em 1991 – Foto divulgação/ reprodução

 

Ingressar na publicidade e no universo das agências foi natural para você? Como foi e é essa troca de experiências e expectativas profissionais dentro de casa?

Foi natural, mas eu não entrei na publicidade diretamente. Ingressei no Rock in Rio Café – restaurante temático que tinha muitas marcas envolvidas na experiência do espaço. Ali, começou a minha relação com patrocinadores. Depois, fui trabalhar no Rock in Rio, em 2001, cuidando da área de Parcerias. Em seguida, eu fui para a Artplan, para atuar na área de Novos Negócios, envolvido diretamente na prospecção de clientes. Foi dando certo e eu fui mudando de áreas na agência.

 

O Brasil e, especialmente, o Rio de Janeiro estão muito atrelados ao trabalho do Grupo Dreamers.  O primeiro Rock in Rio materializou o desejo por festejar um momento de abertura política, por ocupar as ruas e mostrar tudo isso ao mundo. Na sua visão, quais outros momentos importantes o festival acompanhou?

O Rock in Rio foi um marco no entretenimento do Brasil, principalmente no show business. Na primeira edição do festival, 100% das coisas eram importadas, não tínhamos indústria. Hoje, temos a oportunidade de termos uma indústria que é capaz de entregar um dos maiores festivais de música do mundo e já chegamos ao patamar de exportamos tecnologia brasileira.

Quando fazemos o Rock in Rio Lisboa, o som é brasileiro, por exemplo. O intercâmbio com Portugal sempre foi muito importante, trazemos muita coisa de lá e levamos muita coisa também. Quando fomos a Las Vegas, foi uma empresa brasileira que fez o som e a cenografia para eles, o que já configura a virada de chave sobre a nossa indústria, que passa a se movimentar e começa a ganhar escala para atender o mercado como um todo, não apenas localmente.

Primeira edição do Rock in Rio, em 1985 - Foto Divulgação / Reprodução

Primeira edição do Rock in Rio, em 1985 – Foto Divulgação / Reprodução

 

Como você já disse em outras entrevistas, o Rock in Rio nasceu de um briefing de um cliente, então uma marca de cerveja. De lá para cá, como as empresas se relacionam com o festival?

O Rock in Rio é um projeto de comunicação de um ano. Desde o primeiro festival até hoje, temos o objetivo de construir uma narrativa em que marcas possam aproveitar esse conteúdo ao longo desse período. E, mais que isso, é um projeto em que as marcas fazem parte da experiência do consumidor.

É impensável um Rock in Rio em que as pessoas não possam interagir com as marcas, brincar nos stands, andar na roda gigante e receber brindes. A Cidade do Rock abre ao meio-dia e fecha às 4h por causa de toda essa interação do público com as marcas. Hoje em dia, isso é muito forte porque entendemos o valor da experiência, da construção de conteúdo e narrativas.

Em 1985, isso não existia como conceito. Foi um meio disruptivo de realizarmos a comunicação desse cliente e abriu o caminho para que marcas e patrocinadores fossem protagonistas de nossas próximas edições e, também, de outros festivais.

 

Em tempos de TikTok, de imersões em realidades virtual e aumentada, que têm se inserido cada vez mais no entretenimento e na cultura, como o festival se adapta a essas novas plataformas?

Temos a oportunidade e o compromisso de não deixar a pandemia passar em vão. Temos o Rock in Rio do reencontro, das pessoas celebrando a vida e da união. Por falar em pandemia, ela nos ofereceu a possibilidade de uma nova audiência, que não era capaz ou disposta a consumir conteúdo digital antigamente.

Nós teremos o mesmo número de pessoas na Cidade do Rock de todas as edições – 700 mil. Por outro lado, temos a possibilidade de atingir muito mais pessoas que estão dispostas a absorver o conteúdo do festival de forma real time, a partir da operação do NOW – por exemplo –, do metaverso, das transmissões dos nossos parceiros de mídia e das coberturas especiais das experiências, que serão feitas pelo nosso parceiro TikTok. Acreditamos que nosso engajamento será bem maior do que nos demais anos.

 

Diversos festivais chegam e se espalham pelo país. Como o Grupo lida com essa concorrência, que parece ter ficado ainda mais intensa no pós-pandemia?

A indústria do entretenimento sofreu muito durante a pandemia, o ao vivo principalmente. Temos que restabelecer toda a cadeia que se perdeu ao longo desse tempo. Então, é muito importante que novos festivais surjam. Nós mesmos estamos trazendo uma nova marca, que é o The Town, um projeto tematizado que vai ocorrer, em 2023, em uma das principais cidades do mundo: São Paulo. É muito importante para a indústria do entretenimento que novas marcas, empreendedores e público se conectem. Isso só deixa todo mundo mais forte.

 

A edição deste ano do Rock in Rio é a primeira no Brasil depois da pandemia, quais são as novas ativações e experiências para o público?

Temos muitas áreas novas. Podemos destacar a Nave, que é uma experiência imersiva que fala de uma Amazônia forte e cultural, e o Palco Sunset, com encontros incríveis e sempre inéditos. Não podemos nos esquecer das maiores atrações do mundo e da saudade dos nossos ídolos, cantando no Palco Principal e no Palco Eletrônico. Podemos esperar um momento de confraternização, de reencontro, de união, de gente, de tolerância, de diversidade e inclusão. É daí que teremos o maior Rock in Rio de todos os tempos.

 

Como a internacionalização mudou o festival? Quais foram os desafios de levar o evento a outros países, como Portugal, Espanha e Estados Unidos?

Foi importante para construirmos uma experiência com recorrência – lembrando que o Rock in Rio ocorreu em 1985, 1991 e 2001 no Brasil. Depois, ele foi a Portugal, em 2004 e, a partir daí, o festival passa a ocorrer a cada dois anos. Isso para a construção de uma equipe forte e de cultura foi essencial.  Foi muito desafiador levar o evento para outros países, pois são novas culturas e formas de comunicação, mas a essência da festa, da música e da experiência está em todos os lugares.

 

Como você já falou, o novo festival The Town acontecerá em São Paulo, no ano que vem. Como os eventos se diferenciam? Os line up serão complementares, existirá diálogo entre os festivais?

É um projeto dos organizadores do Rock in Rio, do qual somos sócios da Live Nation. Vamos conseguir beber da credibilidade da nossa organização e da nossa experiência em Rock in Rio, trazendo nosso know how. No entanto, vale ressaltar que o The Town é um projeto completamente independente, com a sua própria personalidade e conceito.

Show de Paul McCartney na abertura do Rock in Rio Lisboa, em 2004 - Foto divulgação

Show de Paul McCartney na abertura do Rock in Rio Lisboa, em 2004 – Foto divulgação

 

Além do Rock in Rio, o Grupo Dreamers detém outras 17 empresas. Não há concorrência entre elas? Como fica a interação?

O Grupo Dreamers é o maior grupo independente do país, com 100% de capital nacional. Unimos comunicação, entretenimento e experiência em um só lugar e estamos construindo um ecossistema de soluções para o mercado.  Cada uma das 18 empresas apresenta um embasamento de complementaridade e sinergia que conversa com as necessidades dos clientes, além de oferecerem leques diversos de possíveis caminhos a serem seguidos, dentro do universo de comunicação de cada anunciante, de acordo com a realidade vivida e os objetivos de negócio que cada cliente quer alcançar.

Somos destaque no mercado de publicidade com a Artplan, há muitos anos. Nosso laboratório de conteúdo – A-Lab – também vem crescendo e atendendo grandes marcas, como Itaú, Burger King, Localiza, entre outras. Recentemente, também lançamos a Convert, focada em digital business e performance, que vem apresentando um crescimento relevante. Vale citar também que acabamos de entrar no cenário de games, com a sociedade com a Black Dragons. Estamos sempre de olho nas oportunidades do mercado de comunicação e entretenimento.

Coordenadora de Parcerias, todas da equipe do Rock in Rio, ao lado de Rodolfo Medina - Foto divulgação

Da esquerda à direita, Renata Vianna, Coordenadora de Parcerias; Paula Areias, Gerente de Parcerias; Renata Guaraná, Diretora de Parcerias; Renata Ladogano, Coordenadora de Parcerias, todas da equipe do Rock in Rio, ao lado de Rodolfo Medina – Foto divulgação

 

Sendo uma liderança do mercado de comunicação, quais são as suas análises sobre as mudanças intensas que os negócios da área passaram? Como absorver as rápidas transformações?

As mudanças do mercado vêm primeiro por causa da mudança do consumidor. O que tem mudado essencialmente é a forma como o consumidor se relaciona com os meios de comunicação e a forma de ele produzir conteúdo. A partir daí, precisamos mudar os negócios da comunicação como um todo porque o consumidor se transformou. O que temos como necessidade é tentar aprender com os erros e ter a habilidade de tomar decisões rápidas, independente do cenário encontrado.

 

Para finalizar, como você enxerga as potencialidades do empreendedorismo brasileiro neste momento de retomada da crise e ainda desafiador para muitos?

O Brasil é um país de grandes e criativos empreendedores. O que precisamos é ter um mercado favorável para que os empreendedores brasileiros possam, de fato, gerar empregos e riqueza. Temos que investir em educação e na formação das novas gerações e, assim, teremos a chance de transformar a realidade do país.

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