Tecnologias avançadas como a inteligência artificial estão presentes no Brasil e devem ser cada vez mais frequentes nos próximos anos
Integrada aos mais variados setores, a inteligência artificial (IA) vem transformando os meios de transporte, ajudando as pessoas a se locomover de forma mais rápida, segura e sustentável. Confira alguns dos principais recursos de IA:
Foto divulgação
Mapeamento feito por drones
Na cidade de Londrina (PR), os drones têm sido usados no monitoramento do trânsito, auxiliando na avaliação de medidas que podem melhorar o fluxo. A partir de imagens e vídeos se entende melhor a dinâmica das ruas para implantação e controle de semáforos, além de contagem de veículos e obtenção de ortofotos, que permitem ter as dimensões das vias e o escaneamento das calçadas, avaliando as condições de acessibilidade e os obstáculos que atrapalham a locomoção de pedestres.
Semaforização inteligente
Especializada em sensores de movimentos, a empresa Sensortraffic desenvolve semáforos inteligentes, que monitoram em tempo real o fluxo dos veículos e a velocidade em que os carros estão se movimentando, bem como o controle de pedestres e ciclistas. Quando há mais trânsito, o semáforo fica mais tempo aberto; com menos trânsito, o tempo se reduz.
Deep learning ou inteligência artificial profunda
Baseada em redes neurais, essa tecnologia, que tenta imitar o comportamento do cérebro humano para captar informações e realizar tomadas de decisão, tem sido aplicada em novas pesquisas com carros autônomos, a fim de que eles sejam mais eficientes, confiáveis e inteligentes. No Brasil, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) tem um projeto que envolve a construção desse tipo de veículo e segue realizando pesquisas na área.
IA no ônibus
A Optibus, empresa israelense de tecnologia presente em 2 mil cidades, entre elas algumas capitais brasileiras, usa inteligência artificial, algoritmos de otimização avançados e computação em nuvem distribuída para tornar o transporte público mais eficiente e rápido. No Rio, ela foi contratada pela MOBI-Rio, empresa de transporte municipal administradora do BRT, para dar suporte de dados no trabalho de melhoria da infraestrutura e na expansão da rede.
Registros relacionados ao clima
Com os desafios climáticos que se agravam a cada ano, aumenta a importância dos dados fornecidos por IA sobre condições meteorológicas, problemas com obras e outros contratempos, informações que evitam congestionamentos e sugerem percursos com tempo reduzido.
Automação e integração de pagamentos
Simplificar e facilitar o pagamento de modais de transporte coletivo e estacionamentos por meio de um único cartão ou dispositivo é tendência no mundo todo e garante segurança e agilidade no dia a dia das grandes cidades, reduzindo filas na compra de bilhetes e trazendo eficiência de serviços.
Eventos do universo marketing ocupam a agenda de quem busca conhecimento e quer se manter atualizado sobre tecnologia, mídia e tendências
Os encontros, as feiras, as palestras e as rodadas de negócios do mundo do marketing proporcionam que as marcas contem suas histórias e inspirem aqueles que as ouvem. Para ser um profissional de sucesso, é preciso que as pessoas busquem conhecimento, e eu sempre indico eventos e livros do mercado como as principais fontes de informação.
Nos próximos meses, o Brasil terá eventos muito interessantes, e uso esse meu espaço para falar sobre os três que, para mim, são os principais encontros do país. É uma dica para você, afinal, como escritor, professor e palestrante – além de consultor de marcas – tenho a missão de disseminar tendências.
MaxiMídia
O evento do Grupo Meio&Mensagem é focado no universo da mídia, em que vários veículos expõem ao mercado seus projetos, planos para o próximo ano e fazem relacionamento com agências e clientes diretos, como todos os encontros falo aqui. Esse também é um espaço para gerar negócios, afinal, passa por ali um percentual altíssimo dos bilhões gastos em mídia anualmente no Brasil. Será nos dias 3, 4 e 5 de outubro, no Hotel Unique, em São Paulo. Os ingressos podem ser adquiridos em www.meioemensagem.com.br/maximidia/evento
Proxxima
O meu preferido, entretanto, é o Proxxima, pois traz a tecnologia e a inovação como os seus pilares principais. Normalmente, o evento ocorre em maio, é anual, então se você perdeu a feira neste ano, se programe para ir à próxima. A boa notícia é que tem muito material disponível em perfis de pessoas que lá estiveram, vídeos no YouTube e até mesmo no site do evento para que você possa acompanhar uma parte do que os palestrantes debateram. A cobertura do evento está em www.evento.proxxima.com.br
Digitalks
Tenho um carinho especial pelo Digitalks, pois eu era professor de mídia e planejamento quando o evento era uma escola de negócios. Hoje, o encontro cresceu muito e o tema deste ano será o Metaverso. Serão várias palestras e exposição de patrocinadores que trarão muitas novidades ao mercado, em termos de pesquisas, data inteligence e ferramentas para negócios de todos os tamanhos. A feira acontece em 23 e 24 de agosto, no São Paulo Expo, também na capital paulista. Ingressos em www.digitalks.com.br/expo/
Com apartamentos prontos para morar em localizações privilegiadas, atendimento online 24 horas e serviços sob demanda, o Charlie ressignifica o conceito de hospedagem
ANYWHERE OFFICE (seu escritório de qualquer lugar) e workation (trabalho + férias) são algumas das tendências que transformaram o jeito de trabalhar e se hospedar. De olho nas novidades, o Charlie se consolida como uma referência em short stay no país. Lançada em 2020, a startup opera mais de 1.700 apartamentos equipados para estadas de curto a longo prazo nos melhores bairros de São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro.
Allan Sztokfisz, CEO e co-fundador da startup – Foto divulgação
“O Charlie levou o padrão de qualidade e nível de serviço que vemos em hotéis para o mundo das locações residenciais, com mais conforto, comodidade, flexibilidade e custo-benefício. Desenvolvemos uma solução completa também aos investidores imobiliários, sejam pessoas físicas ou fundos, gerenciando as unidades e entregando alta rentabilidade”, explica Allan Sztokfisz, CEO e co-fundador da startup.
Com apartamentos estúdio e até dois quartos, prontos para morar, em localizações privilegiadas, plataforma digital, atendimento online 24 horas e serviços sob demanda, o Charlie ressignifica o conceito de hospedagem e vem transformando o setor.
Quarto confortável do Charlie Congonhas – Foto divulgação
“A crescente busca por novos formatos de locação por temporada nos levou a ampliar nossa atuação e possibilitar que nossos clientes fiquem por semanas, meses, anos. Inicialmente, mirávamos em quem viaja a lazer, mas percebemos uma demanda cada vez maior do público corporativo, o que acelerou a criação de um departamento focado em atender às demandas B2B”.
O Charlie desenvolveu tecnologia própria para acompanhar em tempo real toda a operação e facilitar o processo de locação sem fricção, em poucos cliques, garantindo que essa experiência seja entregue em larga escala.
Cozinha equipada do Charlie Congonhas, em frente ao aeroporto – Foto divulgação
Para quem vive na ponte aérea, o Charlie tem a melhor solução de acomodação. O Charlie Congonhas, localizado ao lado do Aeroporto, oferece diárias e estadias mensais sem burocracia, fiador ou seguro fiança, basta apresentar comprovante de renda e efetuar o pagamento via PIX ou cartão de crédito. Além dessa unidade o Charlie está presente nos bairros mais disputados de São Paulo como Itaim, Moema, Berrini, Vila Mariana e Vila Nova Conceição.
Riade, capital da Arábia Saudita, sedia o Noor Riyadh, um dos festivais de luz e arte contemporânea mais instigantes da atualidade
A atenção global se volta ao oriente médio neste fim de ano. Para além de receber jogadores e torcedores de futebol para a Copa do Mundo da Fifa, a região também se abre para artistas e apreciadores de inovação, design e cultura. A uma distância curtíssima de um voo de uma hora e meia de Dubai e uma hora de Doha, no Catar Riade, capital da Arábia Saudita, caminha para se tornar uma cidade cosmopolita e vibrante. Com uma população jovem e crescente hoje são mais de 7 milhões de habitantes a maior cidade do país também sedia grandes eventos culturais, como o Noor Riyadh, um dos festivais de luz e arte contemporânea mais instigantes da atualidade.
Esta foi a segunda edição do evento, com quase o triplo do tamanho de 2021, e contemplou mais de 190 obras e 130 artistas sauditas e internacionais distribuídas pela cidade, transformando-a em uma imensa galeria de arte a céu aberto. “Noor” (“luz” em árabe) Riyadh é um dos programas organizados por Riyadh Art uma iniciativa nacional de arte da Comissão Real, com o objetivo de incentivar os artistas locais e ampliar a economia cultural e criativa da Arábia Saudita. Sob o tema “We dream of new horizons” (Sonhamos com novos horizontes), o festival traduziu o sentimento de esperança no futuro.
Grande parte das instalações estiveram expostas pela capital de 3 a 19 de novembro, distribuídas em 40 lugares e cinco eixos principais: Bairro Diplomático (The Diplomatic Quarter ou DQ), Distrito Financeiro Rei Abdullah (King Abdullah Financial District ou KAFD), Distrito JAX um novo espaço criativo com ateliês de artistas, Parque Salam e Parque Rei Abdullah. Foram intervenções arquitetônicas em grande escala, esculturas efêmeras, projeções em 2D e 3D, instalações site-specific imersivas, show de drones e peças de realidade aumentada, entre vários recursos de luminotécnica empregados, que materializaram o que há de mais tecnológico na arte internacional contemporânea.
Para aqueles que ainda pretendem visitar esta edição do evento, uma parte do festival a exposição “From spark to spirit” (Da fagulha ao espírito), com obras de 30 artistas e instalada em JAX 03 pode ser vista até 4 de fevereiro de 2023. Sob curadoria de Neville Wakefield e Gaida Almogren, a mostra contempla a obra “Bold copper lights” da artista brasileira Jac Leirner, que traz sua linguagem minimalista conectando uma tomada a uma lâmpada através de quatro mil metros de fio elétrico, contrapondo o grande caminho percorrido pela energia ao imediatismo da velocidade da luz.
Foto Cortesia do Artista
Foto Cortesia do Artista
Outro brasileiro com presença marcante no Noor Riyadh foi Leandro Mendes, mais conhecido como Vigas, cuja obra multimídia “Apparatus 1010” esteve presente no Distrito Financeiro Rei Abdullah (KAFD), moderno complexo urbanístico de negócios e lazer. Artista multidisciplinar, ele iniciou seus trabalhos como VJ e transita entre videomapping, instalações com luzes e criação de espaços efêmeros que permitem ao público se sentir transportado para um lugar fora da realidade. Para o festival, foi criado um pavilhão onde o espectador pudesse se desconectar do entorno e trazê-lo para dentro de uma experiência sensorial única e viajar entre os universos paralelos. LIGHT FALLS, sua última obra lumínica em formato de cachoeira na fachada de um prédio com oito metros de altura, pode ser vista até janeiro no festival Glow Georgetown, em Washington, nos Estados Unidos.
Uma das atrações mais esperadas aconteceu ao ar livre no Parque Rei Abdullah: o espetacular show aéreo de enxame de 2 mil drones concebido por Marc Brickman designer de iluminação conhecido pelos seus trabalhos em shows de Pink Floyd, filmes como Minority Report, de Steven Spielberg, e iluminação do Empire State Building. A mostra incluiu também obras mais introspectivas como “I see you brightest in the dark” (Vejo você mais brilhante no escuro), do artista local Muhannad Shono uma bela intervenção que ocupou um edifício da década de 1980 no distrito Bayt Al Malaz, com instalações que usavam fio branco e luz para produzir estruturas luminosas.
Foto Rose Oseki
Além das imersões nas obras de arte pelo público em geral, tours guiados, workshops, apresentações musicais, palestras e debates, leilão beneficente e excursões escolares também fazem parte do programa de Noor Riyadh, que já tem edição de 2023/2024 confirmada, com data a ser divulgada no site www.riyadhart.sa/en/noor-riyadh/.
Ruas ocupadas, arte viva
Por causa das temperaturas mais amenas à noite, em torno de 15 graus celsius, Riade é uma cidade essencialmente noturna. Famílias e amigos costumam se reunir em parques e estendem seus tapetes sobre a grama para fazer churrascos e piqueniques, e foi assim que também apreciaram as instalações do festival. Áreas públicas como o Parque Rei Abdullah, o Bairro Diplomático e Wadi Hanifa um vale de 120 km de comprimento que corta a cidade foram intensamente ocupadas por obras de arte que trouxeram muita cor, beleza e imersão sensorial ao espaço. Até as dunas do deserto foram palco para instalações gigantescas como OASIS, de Arne Quinze, com 16 metros de altura e 40 metros de comprimento, e AXION, de Christopher Bauder.
Ao passear pela capital, fica evidente a mistura de vários estilos arquitetônicos. Em contraponto aos modernos arranha-céus de influência ocidental do Distrito Financeiro, no bairro antigo da cidade, é possível conhecer uma construção feita de barro com a técnica tradicional nadj, o Forte Al-Masmak, ligado à história da Arábia Saudita. Em 1902, o lugar foi palco da disputa que ficou conhecida como a Batalha de Riade, que acabou por unificar os reinados locais e formou o país como o conhecemos atualmente.
Um grande destaque da cultura da Arábia Saudita é o café, que faz parte do ritual de hospitalidade e costuma ser servido aos visitantes com a mão esquerda em uma cafeteira tradicional chamada “dallah” e em pequenas xícaras. Para nós, brasileiros, a bebida se parece mais com um chá, por ser suave, e foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial da Humanidade pela Unesco.
A caminhada pelo Souq Al-Zel, o mercado mais conhecido da cidade, é indispensável. Por ali, se encontram tapeçarias, vestuários tradicionais, como abaya, perfumes e incensos, além de ser o lugar ideal para exercitar a arte de pechinchar, como é tradição em muitos países árabes. Há até leilões de objetos antigos ao ar livre!
Ótimas e diversificadas opções gastronômicas não faltam em Riade, como o restaurante italiano Il Baretto, localizado em KAFD; a cozinha saudita tradicional de Suhail; e The Globe, de cozinha europeia moderna, no interior da esfera dourada do topo da Torre Al Faisaliah, que oferece uma experiência espetacular da visão panorâmica da cidade. Aliás, a torre é um arranhacéu de 267 metros de altura projetada pelo arquiteto inglês Norman Foster e abriga um hotel cinco estrelas, do grupo Mandarin Oriental. Com excelente localização, é uma hospedagem elegante entre a arte e as luzes desse lugar milenar.
Foto Rose Oseki
Foto Istockphoto
Antes de viajar, atenção!
Para visitar a Arábia Saudita, é necessário obter visto. A embaixada sugere contratar serviços de empresas para facilitar o processo e é preciso apresentar certificado internacional de vacina para febre amarela antes de embarcar. A viagem aérea inclui conexão, em geral em Dubai, nos Emirados Árabes. Para as mulheres, é importante se atentar ao uso de roupas mais discretas e que não sejam curtas ou muito justas ao corpo. O uso de véu não é obrigatório para estrangeiras, com exceção da visita às mesquitas.
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HOTEL AL FAISALIAH
King Fahd Rd, Olaya, Riyadh 11491, Saudi Arabia
Diárias a partir de R$ 2.500.
O cantor e compositor Nando Reis se lança no metaverso e investe alto em parcerias com artistas da nova geração
Nando Reis não compõe todos os dias. Pelo contrário, a religiosidade do hábito dessacraliza seu processo. “O jeito como eu faço música não obedece a uma rotina. A vida me nutre, e é do tempo dela que nasce o que eu quero dizer”, explica. Nesses momentos fortuitos em que, esporadicamente, o tempo da vida e o tempo da arte se encontram, ele se mune de papel, caneta e um violão, se senta em meio ao silêncio absoluto de um quarto de hotel ou de uma sala de estar vazia, e deixa as palavras e melodias fluírem, naturalmente. “A calmaria é meu ritual. Gosto do silêncio porque ele me permite ser atravessado, exclusivamente, pelo ruído de minhas ideias.”
Parece curioso que um processo criativo tão solitário esteja nas gênesis de um artista de tantos encontros. Em quatro décadas de carreira, Nando compartilhou suas letras com vozes que não eram suas e viu seus acordes se multiplicarem entre o público quando divididos com outros artistas da imortalizada amizade com Cássia Eller, com quem viu nascer o “Segundo Sol” em 1997, ao match recente com os moderninhos Jão, Anavitória e Melim.
Para celebrar essa trajetória de colaborações, no dia 8 de outubro, Nando pisa com seu All Star no palco da novíssima casa de shows Qualistage, na Barra da Tijuca, para a estreia carioca da turnê “As suas, as minhas e as nossas”. Ao lado da roqueira Pitty, ele performa um repertório recheado de canções suas, dela, dos dois e de outras pessoas.
Foto Carol Siqueira | Divulgação
Sujeito low profile e pouco afeito às regras sociais da internet, Nando só se aventura no mundo digital se for para continuar promovendo esses encontros. Em agosto deste ano, lançou seu “Nandoverso”, espaço onde fãs de todo o mundo podem se encontrar, interagir e ter acesso a NFTs, shows, documentários e outros conteúdos produzidos para circularem, exclusivamente, no metaverso. Enquanto descobre esse novo mundo, também prepara, a papel e caneta, mais um álbum, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2023. Se der tempo e há de dar, ainda planeja reservar “algumas horas de desincumbência” para torcer pelo Brasil na Copa do Mundo do Catar, em novembro.
Nesta entrevista para a 29HORAS, Nando Reis revive parcerias célebres, expõe os desafios da vida artística em tempos digitais, relembra seu tempo como jogador e colunista de futebol e medita sobre o futuro político do país. Confira os principais trechos dessa conversa a seguir:
Suas canções versam sobre os mais diversos assuntos, da beleza dos encontros à efemeridade da vida. Qual temática mais te inspira? O que move suas letras?
Engraçado, eu nunca me agarrei muito às temáticas. Não sei dizer sobre o que escrevo, a vida é tão múltipla que a cada dia me pede algo diferente. Gosto de falar sobre amor, encontros, desencontros, chegadas e partidas, e sobre todo o resto. Os assuntos são detalhes. Me interessa mais a forma como as coisas são ditas. É o desenho das palavras que me atrai, o invólucro do sentimento. A música é estimulante porque permite que embalemos nosso abstrato interior e o apresentemos ao mundo. E aí pouco importa o que foi dito, mas que está lá, vivo.
Como é um dia de composição na vida de Nando Reis? Como funciona o seu processo criativo? Algum exercício para manter a mente sempre em um turbilhão de ideias?
Eu não tenho exatamente um processo, o jeito como eu faço música não obedece a uma rotina. Acho que meu exercício diário é viver. Estar atento, absorver as coisas ao meu redor. A vida me nutre, e é do tempo dela que nasce o que quero dizer. Quando o momento chega, gosto de trabalhar com violão, papel e caneta, invariavelmente. Escrever manualmente me permite criar uma relação visual com a obra, além de me impedir de incorrer em um erro típico de quem se acostumou à lógica do computador. No papel, não fico tentado a apagar o que, à primeira vista, desagrada. Num processo de composição, nem sempre o que você substitui é melhor do que o que veio antes. E o que desagrada pode ser o que instiga.
E como é compor dessa maneira, livre, nos dias de hoje? Nesses tempos digitais, abarrotados de referências estéticas, remixes e hits do TikTok surgindo e desaparecendo em poucas horas, imagino que haja certa pressão sobre a arte…
O mundo digital tem essa coisa do imediatismo e da finitude. É um universo dispersivo, que nos rapta a atenção e os sentidos e nos faz perder tempo precioso com inutilidades. Eu não me dou muito com essa coisa volátil das redes sociais. Gosto de fazer discos, de apostar nas embalagens de ideias que duram. Na realidade, enquanto José Fernando Gomes dos Reis (minha pessoa física), só uso o Instagram e olhe lá. A questão é que para o artista Nando Reis toda essa lógica digital se tornou necessária. A internet é uma importante ferramenta de trabalho, que me ajuda a divulgar minhas mídias e mantê-las circulando. Então eu lido com ela. Lanço singles, faço o que o fluxo me pede. Mas do ponto de vista da composição, acho que nada muda. Minha vida está muito mais fora das telas e, enquanto for da vida que me saírem inspirações, minha arte seguirá na mesma essência.
Ainda assim, você tem mergulhado fundo no universo digital ultimamente. Em agosto deste ano, lançou o “Nandoverso”, seu próprio canal no metaverso. Quais são suas impressões sobre esse novo mundo? Você é ou pretende ser usuário assíduo do metaverso?
Por essa vertente específica do mundo digital, eu tenho me encontrado particularmente atraído. Essa ideia de existir um espaço virtual capaz de promover encontros muito me encanta. Através da “Nando Reis Wallet”, minha loja de NFTs, e do Nandoverso, tenho conseguido levar minha arte a pessoas de todo o mundo e aproximá-las ainda mais do que eu produzo. É uma sensação semelhante à de se estar distribuindo filipetas de divulgação de um show nas ruas de São Paulo, só que por dentro de uma tela de computador e com um alcance inestimavelmente maior. Em agosto, comemorei os 22 anos do meu álbum “Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro” com um show virtual e o lançamento do documentário “Cordas de Aço – Em Busca do Pote de Ouro” (dirigido por Raimo Benedetti e realizado pela Relicário Produções, que revive os bastidores da gravação do álbum), em um evento exclusivo no Nandoverso. Fãs de todos os cantos puderam acompanhar esses e outros conteúdos em primeira mão. Foi algo realmente fascinante! Mas, ainda não me considero um usuário do metaverso, estou mais para um agente em aprendizado.
Nandoverso, em agosto de 2022 | Foto Reprodução
E por falar em encontros, você é um artista de muitas parcerias. Da saudosa Cássia Eller aos jovens Jão, Anavitória e Melim, a coleção de “feats” é extensa e tem crescido ainda mais com seu projeto NandoHits, em que você apresenta regravações de grandes sucessos da carreira ao lado de artistas da nova geração. O que mais te atrai nessas trocas? O que significa dividir uma música com alguém?
Eu amo o inusitado. Novas interpretações me emocionam. Acho muito interessante observar como outros artistas, de outras gerações, outros estilos e outras referências conseguem reimaginar e ressignificar meu trabalho. Ver como a voz deles traz novos ângulos para as minhas letras e novos caminhos para as minhas melodias é algo que me rende muito aprendizado. Me unir a essas pessoas, além de me permitir alcançar públicos diversos que vão muito além do meu, é uma maneira de manter o que faço atualizado, fresco e sempre em movimento. Por mais que eu goste de compor sozinho, sou um cara apaixonado pelas trocas da vida. Nasci artista no meio de bandas, cresci vendo minhas letras ganharem vida na voz de outras pessoas. Acho que, no fim, o barato da arte é que ela deixa de ser só sua quando ganha o mundo.
Nando Reis e Jão | Foto Carol Siqueira
Nando Reis e Ana Vitória – Juntos | Foto Carol Siqueira
Uma dessas parcerias, com Pitty, rendeu uma turnê duo especial, que tem rodado o país e agora em outubro passa pelo Rio de Janeiro. O que o público pode esperar desses shows? Como é trabalhar com Pitty?
Pitty tem uma voz autêntica e autônoma, não se amarra a nada que não seja sua crença na liberdade para o ser, na singularidade do suingue, no barato da universalidade. Esse gerúndio que criamos, o “Pittynando”, é uma simbiose do que construímos e acreditamos enquanto artistas. Eu a vi cantar uma versão de “Relicário” no programa ‘Saia Justa’ (GNT), e me emocionei muito com aquela presença fortíssima. Daí nasceu nosso primeiro “feat”, “Tiro no Coração” (2021) e, agora, essa turnê. Em um setlist com aproximadamente vinte músicas, cantamos composições minhas, dela e nossas, em versões que conectam nossos estilos e histórias. Tem sido lindo. Até o fim do ano, ainda passamos por Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Belém… E no dia 8 de outubro, estaremos no palco do Qualistage, no Rio de Janeiro.
PittyNando | Foto Lucca Miranda
Foto di MITRI LEE
Ainda nessa onda de parcerias, recentemente você se reuniu em São Paulo com Peter Buck, Barrett Martin, Alex Veley, Walter Villaça e Fernando Nunes, colegas de trabalho de longa data. Fizeram shows comemorativos na capital paulista e no Nandoverso, e agora estão gravando um novo álbum juntos. Depois de tanto tempo, muita coisa mudou no trabalho em conjunto? Ou se reencontrar é como se o tempo não tivesse passado?
Com a gente é sempre tudo igual e, ao mesmo tempo, sempre tudo diferente. Nós trabalhamos muito bem juntos, sempre saem frutos memoráveis. Foi assim nos anos 2000, quando gravamos “Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro”, álbum que me rendeu tantas recordações e conquistas profissionais, e desta vez não foi diferente. Igualmente frutífero. Tanto que nossa ideia era que esse reencontro gerasse uma ou duas músicas, e, no fim, acabamos com 15 canções gravadas e um álbum duplo em mente. O lançamento está previsto para o segundo semestre de 2023 e é uma celebração desse nosso quinteto.
Você também gosta muito de futebol, já escreveu músicas sobre o esporte… O que espera do Brasil na Copa, que está chegando?
Para falar a verdade, eu não espero nada. O futebol tem seguido uns caminhos estranhos, a camisa verde e amarela foi contaminada por um ideal ao qual sou avesso. Essa coisa toda de “patriotismo” a mim não diz nada. Hoje, vestir a camisa da seleção significa carregar simbolismos que vão além do futebol e que não me representam. Mas, falando sobre bola na rede, eu sigo torcendo. Sou louco por futebol, já joguei, inclusive. Também mantive, por anos, uma coluna sobre o esporte no jornal ‘Estado de São Paulo’. Isso sem falar da minha alma são paulina, hereditária, que me levou inúmeras vezes ao Estádio do Morumbi e me inspirou músicas que chegaram a virar trilha sonora de documentários sobre o clube. Acho que no futebol brasileiro eu ainda tenho esperanças. Há alguns meses, assisti a um jogo da seleção e me surpreendi com a qualidade técnica. Pode ser que tenhamos chance de comemorar vitórias no final do ano.
Studio Portraits | Foto Carol Siqueira
Falando em fim de ano e recomeços, no single “Espera a Primavera”, lançado no auge da pandemia, você versa sobre a vida, a diversidade, o amor, a mudança e o futuro. Para além da estação, o que Nando espera da primavera?
Nesta canção, a primavera é mais que as flores: é uma metáfora para “transformação”. A primavera de que falo representa a superação desse obscurantismo em que nos encontramos. Em vias de superação do vírus da Covid, ainda precisamos aniquilar o vírus da ignorância que ronda esse governo inepto e negacionista. Estamos vivendo um inverno enquanto nação, reduzidos a patriotismos e significados vazios. Não sei exatamente quando nossa primavera virá ou exatamente como ela se manifestará, mas sei que trará de volta as cores, a diversidade, a liberdade e a riqueza que é, de fato, o Brasil. Para o país e para nós, espero a liberdade. Um primeiro de janeiro que traga de volta quem somos.
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