Secretário executivo do Observatório do Clima analisa a tragédia causada pelas chuvas no RS

Secretário executivo do Observatório do Clima analisa a tragédia causada pelas chuvas no RS

“Vamos ter que mudar ou seremos atropelados pela mudança”, afirma Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima

Estamos batendo recordes
“De quatro anos para cá, tivemos diversos avisos de que esse momento extremo estava próximo. Enchentes em Recife, chuvas em Petrópolis (RJ), São Sebastião (SP), no sul da Bahia e no norte de Minas, incêndios no Pantanal, seca na Amazônia e no Rio Grande do Sul e nesse mesmo estado chuvas fortes em 2023. Esses eventos estão sendo calculados há muito tempo no mundo todo, estamos batendo recordes: os nove anos mais quentes já registrados na história são os últimos nove. Vamos ter que mudar ou seremos atropelados pela mudança.”

Não foi prioridade na agenda
“O governo do Rio Grande do Sul participou das três últimas conferências internacionais de clima, sabia de tudo o que poderia acontecer no seu estado, recebeu os avisos, mas não deu atenção. Em 2019, o governador mutilou o código ambiental do estado, mudou 400 regras e flexibilizou o licenciamento. Em 2021, aconteceu o evento de seca, mas não houve melhora da legislação; em 2022, a mesma coisa. Esse desastre foi anunciado, dito, estudado e apresentado à exaustão.”

 

Projeto do Parque Benjakitti Forest, sob conceito de “cidade-esponja”, na Tailândia – foto Turenscape | Srirath Somsawat

 

Combater, adaptar e planejar
“São três estágios de atuação. O primeiro é quando você ataca o problema. No Brasil, metade das emissões de gases de efeito estufa vem do desmatamento; portanto, nossa primeira missão é zerá-lo. Primeiramente porque grande parte acontece na Amazônia e é quase todo ilegal, e depois porque ele desregula toda a produção de chuvas que abastecem hidrelétricas e o agronegócio – segmentos importantes da nossa economia. O segundo estágio é se adaptar a um problema que já temos contratado: o planeta aqueceu cerca de 1,2 grau e vai continuar aquecendo, independentemente do que a gente faça. E o terceiro estágio é lidar com o desastre, quando é preciso evacuar áreas, deslocar pessoas, fornecer alimentos, medicamentos, assistência psicológica, todo o plano de resgate. Não podemos pensar nisso quando a água estiver batendo na cintura.”

A lição de outros países
“Na China, as ‘cidades esponja’ usam diversos recursos naturais para absorver a água da chuva e evitar inundações, como pavimentos e calçadas permeáveis e jardins de chuva. No Japão, com os terremotos, que não estão relacionados à mudança do clima, houve toda uma adaptação na engenharia, no treinamento da população e no planejamento. A Holanda e outros países europeus têm sistemas de diques e comportas para evitar inundações. Esses países aceitaram, entenderam e trabalharam sobre o problema. Essa é a lição: aceitar, acatar a existência.”

 

Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima – foto Márcia Alves

Lellolab realiza projetos socioambientais em parceria com mais de 300 condomínios em todo o estado de São Paulo

Lellolab realiza projetos socioambientais em parceria com mais de 300 condomínios em todo o estado de São Paulo

Proposta do Lellolab é trazer soluções criativas para o bem comum através da união de pessoas que querem compartilhar experiências e aprendizados

Como tornar São Paulo mais acolhedora, empática, inclusiva e sustentável? Para uma megalópole tão complexa não há apenas uma resposta. São muitas variáveis e questões que envolvem soluções diversas. E essas respostas precisam vir não apenas de especialistas, mas também da população. Das pessoas que vivem, trabalham, se locomovem, se comunicam e se divertem nas cidades.

Foi a partir dessa demanda que o grupo Lello, líder no segmento de compra e venda de imóveis e administração de condomínios no país, decidiu criar em 2018 o Lellolab. “Foi feito para colocar em prática jornadas de sustentabilidade e convivência que melhorem a vida em comunidade e promovam a regeneração ambiental-urbana nas grandes cidades”, explica Filipe Cassapo, diretor do Lellolab.

Há seis anos, esse laboratório composto por uma equipe de comunicadores, urbanistas, arquitetos, engenheiros e ambientalistas realiza projetos socioambientais em parceria com mais de 300 condomínios em todo o estado de São Paulo, impactando positivamente mais de 147 mil pessoas.

 

Plantio comunitário em Carapicuíba – foto divulgação

 

São programas como o Nossa Horta – que estimula a criação de hortas orgânicas nos espaços subutilizados dos prédios – e o Tesouros do Bairro, que nasceu de um processo de cocriação desenvolvido em parceria com moradores, síndicos e comerciantes locais. Nos dois projetos, o objetivo é conectar os moradores da região e aproximá-los de seu bairro por meio de vivências sociais e ambientais. Além de hortas, há o incentivo para a produção de composteiras.

Idealizado para mapear e revelar os talentos das pessoas na vizinhança, o Tesouros do Bairro conta com um app no qual elas podem divulgar seus serviços e produtos. “O Tesouros segue uma abordagem ‘figital’, pois promove conexões virtuais por meio do aplicativo e encontros presenciais nos eventos e oficinas, aproximando quem mora ao lado, mas muitas vezes não se conhece”, conta Cassapo. É, por exemplo, encontrar alguém que dá aulas de piano, um chef de cozinha para eventos ou uma recreadora de festas infantis. Ao longo de 2023, o Lellolab apoiou dez bairros paulistanos em atividades como rodas de conversa, feiras empreendedoras, bazares de desapego e diversos eventos culturais.

“Na nossa visão de cidade, quem vive nela participa ativamente de sua transformação regenerativa. Sustentabilidade é aquilo que resulta de uma sociedade sadia, que compreende que a transformação ambiental que precisamos vem da mudança profunda de hábitos e do questionamento do individualismo”, afirma.

 

Aula de lasanha com o vizinho do prédio – foto divulgação

 

*Chantal Brissac é editora do site www.procoletivo.com.br

De Joinville para o mundo: academia Musicarium investe na formação orquestral de base

De Joinville para o mundo: academia Musicarium investe na formação orquestral de base

Com o propósito de transformar vidas, projeto catarinense Musicarium investe em educação humanista e formação orquestral de excelência

Academia de música que hoje atende 180 crianças e jovens, todos bolsistas, o Musicarium nasceu em 2017 em Joinville, em Santa Catarina, com intuito sociocultural e foco na formação de base: é o único projeto brasileiro que prepara crianças a partir de 4 anos.

No dia 26 de fevereiro, quando aconteceu a estreia de sua Orquestra Jovem, com mais de 50 crianças e adolescentes – a mais nova com 11 anos, que entrou no projeto aos 5 –, a emoção tomou conta do público no inovador teatro B32, em São Paulo. São jovens músicos que iniciaram o ano com grandes desafios. Em setembro, eles partirão para sua primeira turnê internacional com concertos na Suíça, Alemanha e Holanda.

 

Maestro Sergio Ogawa com os estudantes – foto divulgação

 

Diretor-presidente do Musicarium, o maestro Sergio Ogawa comemora o sucesso da estreia e a dedicação dos alunos. “Desde o início, quando abrimos 100 vagas e compareceram mais de 700 candidatos, sendo 500 da rede pública de ensino, recebemos crianças e adolescentes iniciantes, mas com muita vontade de aprender música. Com o forte apoio da família, eles têm se desenvolvido incrivelmente!”, afirma.

Os estudantes frequentam aulas individuais e em conjunto com instrumentos de qualidade e professores de alto nível, de grandes orquestras do Brasil e do mundo. Podem participar jovens de qualquer região do país. O objetivo é formar músicos de alta performance para compor as orquestras e conjuntos de câmara.

O percussionista Caio Uliano, de 17 anos, lembra quando recebeu na escola um folheto sobre o processo seletivo. “Nessa época, o contexto orquestral era novidade em Joinville, não existia nenhum projeto assim. Eu agarrei essa oportunidade com todas as forças”, conta.

 

O percussionista Caio Uliano – foto divulgação

 

Caio nunca tinha imaginado tocar em uma orquestra e nem assistido a nenhuma orquestra tocar em toda a sua vida. “Essa experiência de enfrentar o palco e fazer música com amor foi renovadora, acredito que todos deveriam experimentar. Agora tenho certeza de que seguirei como percussionista de orquestra, farei minha graduação em percussão sinfônica e voltarei para dar aulas no Musicarium. Quero retribuir todo o carinho e investimento que recebi”, diz ele, empolgado com a sua primeira turnê internacional.

O projeto anda a passos largos com o apoio de mais de 30 empresas e pessoas físicas. Segundo Ogawa, a proposta é formar uma Orquestra Filarmônica e construir a sede do Musicarium até 2030. “Serão dois edifícios interligados; a Academia de Música acolherá mais de 500 alunos e o Concert Hall terá capacidade para 900 pessoas. Será um equipamento cultural que dará acesso ao circuito internacional de eventos e intercâmbios pedagógicos e artísticos. Um verdadeiro legado para o Brasil.”

 

Projeto da nova sede do Musicarium – foto divulgação

Jovens cineastas produzem novo videoclipe de Ed Sheeran, que se apresenta no Rock in Rio neste ano

Jovens cineastas produzem novo videoclipe de Ed Sheeran, que se apresenta no Rock in Rio neste ano

Para divulgar seu novo projeto, “Autumn Variations”, Ed Sheeran escolheu 14 fãs de diferentes países para criar e produzir seus videoclipes 

Em setembro passado, Ed Sheeran – headliner de uma das noites da edição comemorativa de 40 anos do Rock in Rio – lançou um concurso para divulgar o seu novo projeto, “Autumn Variations”, no qual iria escolher 14 fãs de diferentes países para criar e produzir os videoclipes do seu álbum. Foram inscritos mais de 4 mil videoclipes e o cantor se encarregou de selecionar os vencedores que representam 14 países, como Irlanda, Austrália, Itália, Holanda, Brasil, Japão, França, Nova Zelândia, Taiwan, México e Índia.

 

O cantor britânico Ed Sheeran – foto Creative Commons

 

Foi Beatriz Santamaria Pinha a escolhida para representar o Brasil e dirigir o clipe de “That’s On Me”, o primeiro da série, lançado em 21 de novembro e já disponível no YouTube. O clipe bem-humorado e sensível conta a história de um motociclista chamado Alger Steele – interpretado por Skip Howland – que se encontra entediado com a vida. Ele vê um comercial estrelado pelo próprio Ed, que o aconselha a se reinventar.

Quando contatada pela Warner Music Brasil, Beatriz reuniu mais quatro cineastas brasileiras para comandarem as demais áreas do videoclipe. A produtora e coordenadora de produção é a paulistana Bia Bauzys, que se mudou para os Estados Unidos aos 16 anos e se formou em cinema pela Emerson College, em Boston. Em “That’s On Me”, Bia atuou como co-produtora junto de Karen Sanovicz.

Karen, também natural de São Paulo, é formada em marketing digital e atualmente está cursando Mídia Digital no Fashion Institute of Design and Merchandising, em Los Angeles. Juntas como produtoras do clipe, Karen e Bia foram responsáveis pelo orçamento do vídeo, contratação da equipe, e por garantir prazos, conceitos e formatos adequados.

 

O ator Skip Howland em cena do videoclipe “That’s On Me” – foto reprodução

 

O departamento de arte foi comandado por Daniela Taouil, diretora de arte formada em Cinema pela FAAP, em São Paulo. Com experiência em audiovisual no Brasil, ela se mudou para Los Angeles a fim de aprimorar seus estudos em comunicação visual. Como diretora de arte do clipe, Daniela foi responsável por estruturar o conceito visual e executá-lo por meio da cenografia, produção de objetos e elementos gráficos, desenvolvendo uma unidade visual para a narrativa.

A diretora de fotografia Nicolle Batista nasceu e foi criada em Boston, Massachusetts – filha de pai brasileiro e mãe americana. Depois de se formar no Emerson College, ela se mudou para Los Angeles com a colega Kathlyn Almeida, que contribuiu como primeira assistente de câmera em “That’s On Me”.

Para a diretora desse clipe inédito, feito em parceria com outras jovens brasileiras das áreas de cinema e arte, “o espírito de perseverança e o bom humor do nosso povo são inspirações e estão presentes no videoclipe”.

 

A equipe que participou da produção do videoclipe, com a diretora Beatriz Santamaria Pinha segurando a claquete – foto acervo pessoal

Espetáculo sobre o médium Chico Xavier mistura humor, leveza e muitas reflexões sobre o sentido da vida

Espetáculo sobre o médium Chico Xavier mistura humor, leveza e muitas reflexões sobre o sentido da vida

A peça “Os mundos de Chico Xavier” mostra o desencarne de Chico e o seu despertar no plano espiritual, sendo recebido por seu mentor Bezerra de Menezes

Chico, como era carinhosamente chamado, foi autor de mais de 450 livros que geraram a venda de 50 milhões de exemplares em todo o mundo. Ele sempre atribuiu a autoria de seus livros aos espíritos e doou todos os direitos para instituições de caridade. Costumava dizer que seu “desencarne” iria acontecer em um dia de festa no Brasil, para que sua morte não fosse lembrada com tristeza. E isso aconteceu justamente em um domingo, no dia 30 de junho de 2002, enquanto o Brasil conquistava o pentacampeonato da Copa do Mundo.

A peça “Os mundos de Chico Xavier” começa mostrando esse momento único: o desencarne de Chico e o seu despertar no plano espiritual, sendo recebido por seu mentor Bezerra de Menezes. Um encontro inusitado, cheio de alegria e descontração. De forma simples e informal, Chico e Bezerra falam de amor, mostram as dificuldades que temos em lidar com o afeto e lembram a importância da autoescuta, de ouvirmos as nossas intuições e inspirações, muitas vezes não percebidas pela dureza do dia a dia.

 

Carlos Meceni e João Signorelli, nos papéis de Bezerra de Menezes e Chico Xavier, respectivamente – foto Marcelo Navarro

 

É o mineiro de Cambuquira João Signorelli quem vive com propriedade o médium também mineiro, nascido na cidade de Pedro Leopoldo em 1910. Já o ator Carlos Meceni interpreta o iluminado espírito Bezerra de Menezes (1831-1900), médico que dedicou sua vida ao atendimento dos mais necessitados.

Signorelli, que desde 2003 encarna o líder pacifista Mahatma Gandhi em um monólogo teatral, com apresentações em todo o Brasil, além de turnês na Europa e na Índia, conta que está muito feliz por estar unindo a arte e a espiritualidade. “É algo que sempre quis fazer e aconteceu; comecei com o Gandhi, depois apareceu o Chico Xavier e, em 2024, eu estreio um espetáculo vivendo o poeta Fernando Pessoa. Fazer o Chico é um sentimento de muita alegria, quase um êxtase, e ao mesmo tempo uma responsabilidade grande, porque ele é um personagem que existiu, que muita gente conheceu, com uma história admirável.”

Para o ator, a possibilidade de emprestar seu corpo, sua voz e sua sensibilidade para dar passagem para essas pessoas tão inspiradoras é uma experiência maravilhosa: “Fui me entregando nesse fluxo e é um caminho muito realizador e que não tem mais volta”.

A peça fica em cartaz no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, até 14 de dezembro. Signorelli lembra que todo o figurino que ele usa no palco – roupas, perucas, boinas e óculos – foi do próprio Chico, cedido gentilmente pela família do médium.

 

foto Marcelo Navarro