Feiras e eventos movimentam a economia de São Paulo e geram negócios lucrativos na cidade

Feiras e eventos movimentam a economia de São Paulo e geram negócios lucrativos na cidade

O mercado de feiras e eventos se evidencia como uma das mais relevantes ferramentas para o desenvolvimento econômico da capital paulista

Eventos com foco na geração de negócios na capital paulista já representam 70% do mercado nacional – é o que mostra a pesquisa anual de 2023 sobre o setor de feiras, congressos e convenções da União Brasileira de Feiras e Eventos de Negócios (Ubrafe), em parceria com a São Paulo Turismo (SPTuris). O levantamento traz um total de 1.286 grandes eventos. Foram 789 (60%) seminários internos; 214 (17%) feiras setoriais de negócios; 170 (13%) congressos temáticos, voltados para especialidades médicas ou jurídicas; e 113 (10%) convenções de vendas.

Cerca de 6,67 milhões de visitantes estiveram presentes, no ano passado, gerando um impacto econômico de
R$ 9,3 bilhões, sem considerar os investimentos para organização desses eventos, somente gastos dos participantes. Do total, estima-se que 70% deles moram no estado de São Paulo e representaram um impacto financeiro de R$ 2,3 bilhões,
enquanto 30% são de outros estados e geraram R$ 7 bilhões.

O mercado de feiras e eventos se evidencia como uma das mais relevantes ferramentas para o desenvolvimento econômico da capital paulista. De acordo com a Ubrafe, a economia brasileira e local apresentam taxas positivas de crescimento e, com novos espaços para eventos B2B sendo inaugurados em São Paulo, a expectativa é que a taxa de crescimento seja repetida na próxima análise, realizada neste ano.

 

Vtex Day, encontro de digital commerce – foto divulgação

 

Highlights

Mobilidade
A Intermodal South America traz soluções variadas para todos os elos da cadeia logística, de ponta-a-ponta, dos modais terrestre, aéreo, marítimo e ferroviário das Américas. O evento ocorre de 5 a 7 de março, na São Paulo Expo – Rodovia dos Imigrantes, 1,5 km, Vila Água Funda.
Credenciamento: www.intermodal.com.br

Construção civil
Com trajetória de mais de 20 anos, a Expo Revestir é ponto de encontro dos profissionais de revendas, construtoras, arquitetura e design de interiores. A próxima edição acontece de 19 a 22 de março, no pavilhão São Paulo Expo, como o primeiro grande evento de negócios do calendário nacional da construção.
Visitação: www.exporevestir.com.br/credenciamento

Inovação
O Vtex Day é um dos maiores eventos de digital commerce do mundo. Realizado há 14 anos, tem importância para todo o ecossistema de comércio eletrônico e reúne clientes, fornecedores e influenciadores para apresentar suas soluções e novidades, debater tendências, fortalecer o networking e adquirir insights. De 11 a 12 de abril, também na São Paulo Expo.
Ingressos: vtexday.com

Thomas Troisgros segue a tradição familiar na gastronomia e inaugura dois restaurantes em Ipanema

Thomas Troisgros segue a tradição familiar na gastronomia e inaugura dois restaurantes em Ipanema

Representante mais jovem de uma lendária dinastia de chefs, Thomas Troisgros acaba de abrir dois restaurantes em Ipanema: um bistrô moderninho de comida descomplicada e mais acessível e um outro dedicado ao fine dining, que atende só 16 pessoas por noite

Ele é filho de francês e morou quase metade dos seus 42 anos de vida na Europa e nos Estados Unidos, mas ainda assim se considera um carioca da gema. Mas é da gema mole, como aquela dos ovos mollet, cozidos em baixa temperatura. Neto de Pierre Troisgros (pioneiro da Nouvelle Cuisine) e filho de Claude Troisgros (nome fundamental na gastronomia brasileira, que comanda ou já pilotou prestigiosos restaurantes no Rio, em São Paulo e em Nova York), Thomas Troisgros é o mais jovem representante dessa que é uma das mais celebradas dinastias da gastronomia mundial.

Fã de videogames e de tranqueiras da cultura pop, pode-se dizer que Thomas é o mais novo Jedi dessa linhagem de grandes feras da cozinha. Uma evidência de que essa não é apenas uma invenção absurda é que, em vez de ter uma imagem de São Benedito (padroeiro dos cozinheiros) ou uma flâmula do seu amado Flamengo, ele tem nas prateleiras do salão do restaurante que acaba de abrir em Ipanema uma “escultura” feita de Lego do mestre Yoda empunhando um sabre de luz, como na saga “Star Wars”.

 

foto divulgação

 

Depois de anos trabalhando com seu pai, em restaurantes como o Olympe, o Le Blond e o 66 Bistrô, agora Thomas parte em voo solo, com a inauguração de dois restaurantes instalados em um mesmo imóvel na Rua Joana Angélica. O Toto (pronuncia-se Totô) é um contemporâneo nos moldes dos “neobistrôs” parisienses, com menu eclético e uma ótima relação custo-benefício. No andar de cima, o Oseille é um balcão com somente 16 lugares onde são servidos menus-degustação apenas à noite. Para quem não sabe, oseille é o nome francês da azedinha, erva que é destaque na receita do molho do Saumon a l’Oseille – o prato criado em 1962 na cidade de Roanne por Pierre Troisgros, considerado o marco do início da Nouvelle Cuisine. O nome do restaurante é uma homenagem de Thomas ao legado de seu avô, e o salão é decorado com azulejos que trazem folhas de azedinha pintadas à mão por sua mãe, Marlene Pereira.

Aos 42 anos, casado com a analista financeira Diana Litewski e pai de dois filhos e uma enteada, nas páginas a seguir ele fala sobre seus novos empreendimentos, sobre seu trabalho no comando de várias operações e sobre a Guerra nas Estrelas da qual ele já participou (já teve até uma estrela), mas na qual hoje não pretende mais se engajar. Confira os principais trechos da entrevista que Thomas concedeu à 29HORAS.

Ao longo de sua trajetória como cozinheiro, você teve grandes mestres. O que, de mais importante, você aprendeu com cada um deles?
Meu avô Pierre Troisgros sempre dizia que o fácil é complicar uma receita. O difícil é simplificar, fazendo poucos ingredientes brilharem. Essa é uma lição que eu trouxe para a minha vida e para as minhas criações. Com o meu pai, Claude, aprendi o amor ao Brasil, a valorização da gastronomia brasileira e a importância de ter um toque de acidez em cada prato. Em Nova York, com o grande Daniel Bouloud, descobri o que é e como funciona um restaurante três estrelas. E aprendi também a trabalhar com volume, mas com excelência. Já com o Andoni Aduriz, do basco Mugaritz, eu vi o que se pode fazer para atingir a perfeição em cada pequeno elemento do prato e compreendi a beleza de privilegiar os ingredientes locais. Na escola [o nova-iorquino Culinary Institute of America], absorvi muita teoria e passei a dominar técnicas de corte e cocção para extrair o máximo de cada ingrediente e tive também contato as mais variadas culinárias do mundo.

 

Da esquerda para a direita, representantes das três gerações de chefs do clã Troisgros: Thomas, Pierre e Claude – foto reprodução Instagram

 

Quando você criou o TT Burger, em 2013, foi um ato de “rebeldia” contra a tradição do clã Troisgros?
De fato a fast food é o oposto do que meu avô e o meu pai sempre fizeram, mas não foi algo pensado contra nada ou ninguém. Na verdade, foi uma oportunidade que apareceu. Os donos da grife Reserva [os empresários Rony e André Meisler] queriam uma lanchonete dentro da loja-conceito de sua marca e me chamaram para formatarmos algo que se encaixasse nesse projeto. A onda dos hambúrgueres mais gourmet – se é que podemos chamar assim – já tinha começado lá fora, mas ainda não havia chegado com força aqui no Brasil. Como eu estava voltando de Nova York, onde a coisa estava fervendo, achei a ideia ótima e que aquele era o momento perfeito.

A propósito, com a TT Burger, você foi o pioneiro no uso de ingredientes brasileiros em hamburguerias. Foi lá que vi pela primeira vez ketchup de goiaba, queijo meia cura no lugar do cheddar, picles de maxixe, mandioca frita em vez de batatinhas… Como surgiu essa ideia?
Quem pavimentou isso foi o meu pai. Foi ele quem “ressuscitou” o jiló gastronomicamente, por exemplo. E é um entusiasta do uso de outras “preferências nacionais” na alta gastronomia, como a rapadura, o urucum, a banana, o chuchu e a batata baroa (mandioquinha). Eu apenas segui uma linha que ele inaugurou. Incluir ingredientes brasileiros na cultura do hambúrguer não foi uma sacada genial, foi a continuação de uma ideia dele – mais uma prova de que a TT Burger não era nada “contra”, e sim um passo a favor de uma “tradição” dos Troisgros no Brasil.

 

foto reprodução Instagram

 

Outro dia perguntei ao seu pai o que ele acredita que você tem de melhor do que ele, e ele me chamou a atenção para a sua excepcional capacidade de transformar ingredientes menos nobres em iguarias. E no recém-inaugurado Toto você exercita um pouco dessa sua habilidade, não?
O Toto é um bistrô de comida contemporânea, menu descomplicado e receitas com referências francesas, asiáticas e ingredientes brasileiros. Servimos o tipo de comida que eu gosto de comer, inspirada nos sabores que conheci nas minhas viagens pelo mundo e na casa de amigos. Nessa linha dos ingredientes menos nobres, temos um sensacional coração de galinha com molho de ostra, pimenta de cheiro e gengibre. Esse vem sendo um dos hits da casa, assim como os gyozas de costela com molho ponzu e agrião, o hommus do dia com pão sírio, o peixe a meunière de tangerina, as asinhas de frango em molho gastrique de laranja, o prime rib suíno à milanesa e o galeto assado ao molho Pierre Troisgros – que é uma maneira mais assimilável de apresentar o tradicional poulet au vinaigre.

 

Corações de galinha servidos no Toto, em Ipanema – foto Tomas Rangel

 

No Oseille também será possível encontrar algum outro exemplo disso ou o conceito fine dining não permite?
Acho que o fine dining tem mais a ver com cuidado e o esmero no preparo – além do paladar extraordinário, sublime, superlativo. No próprio Olympe, tínhamos no cardápio um prato feito com cérebro bovino e outro com língua. Pretendo usar não só esses, como também outros miúdos e cortes menos “nobres” no Oseille. O cardápio vai mudar a cada dia, não teremos pratos fixos. Lá, quero mostrar que dá para ter comida de qualidade, bebidas excelentes, ótimas taças, louças bonitas, mas sem frescura e sem afetação. Quero que seja um espaço descontraído e informal. Não quero as pessoas com medo de espirrar e receber olhares de reprovação. Vamos atender apenas 16 pessoas por noite, e a minha tarefa é proporcionar a todas elas uma noite agradável e uma experiência memorável.

Quais as motivações que te levaram a abrir o Oseille?
Resolvi abrir o Oseille para manter a criatividade em forma, para estimulá-la. Se a gente se afasta da cozinha, dá uma enferrujada. E tem mais: o fine dining é algo que eu sei fazer bem e muita gente pediu para voltar a fazer, depois que fechamos o Olympe. Os jantares no Oseille têm cinco ou sete tempos, à escolha do cliente. A primeira opção custa R$ 490, e a mais completa, R$ 650, sem as bebidas. O serviço começa às 20h em ponto, mas os clientes são convidados a chegar às 19h30. Nessa meia hora, servimos um coquetel. A ideia é “premiar” quem chega no horário, e não penalizar os atrasadinhos. Optamos por menus de 5 ou 7 etapas porque não tenho a vaidade e a pretensão de fazer meus clientes provarem 14-16 receitas. Nem todo mundo gosta de um jantar que dura 3 ou 4 horas. O importante é que a pessoa saia satisfeita. Se, no final, alguém quiser repetir algum dos pratos, vamos tentar fazer a sua vontade.

 

Balcão do Oseille – foto reprodução Instagram

 

O prato que inseriu os Troisgros na história da gastronomia mundial – o salmão com azedinha – está nos menus do Oseille?
Não. O molho de azedinha pode até aparecer eventualmente, em alguma referência que eu queira fazer ao meu avô. Mas não pretendo trabalhar com salmão.

Como você divide o seu tempo atualmente, com várias marcas sob o seu comando. Você é mais chef ou CEO?
Quando, em 2020, desmanchei amigavelmente a sociedade com o meu pai e dividimos as marcas, fiquei com o Le Blond, com a CT Boucherie e com a CT Brasserie, que foi extinta. No TT Burguer, são outros sócios, e essa unidade de negócios inclui ainda a Três Gordos (especializada em smash burgers), a Tom Ticken (focada em frango frito, coxinhas e quetais) e a Marola (de sandubas à base de frutos do mar). No TT e em seus “filhotes” sou sócio, mas meu único trabalho é o de criar ou supervisionar as receitas. Aqui no Toto, no Le Blond e na Boucherie, eu encarno o papel de restaurateur, ajudando a escolher fornecedores, definindo mudanças no menu e conversando com os maîtres e cozinheiros para alinhar todos os detalhes da cozinha e do salão. Uma vez por mês apenas eu costumo sentar para checar os números com o meu diretor financeiro. No Oseille, é o único lugar onde ainda atuo como cozinheiro. E, para todos esses empreendimentos, sou ainda o PR, me ocupo das relações públicas. Minha figura é o rosto que as pessoas conhecem, que representa esses negócios todos.

O que acha dessa atual obsessão por rankings, estrelas e prêmios? Como vê centenas de chefs e restaurateurs investindo uma grana pesada por uma vaga no 50Best? O que a estrela Michelin mudou na sua vida?
Eu já vivi isso. Já tive estrela, já estive no Top 20 do Latin America 50Best, mas hoje essa não é mais a minha onda. Acredito que essa “corrida de cavalinhos” causa muita competição e muita frustração. Gera até inimizades entre os chefs e algumas disputas que considero desleais e desagradáveis. Para os meus colegas que quiserem seguir esse caminho, eu aplaudo e fico muito feliz de ver as suas conquistas. Mas estou em outra. Quando o Olympe conquistou sua estrela Michelin, foi ótimo, festejamos muito, mas a gente não trabalhava pensando nisso. Hoje, o prêmio e o reconhecimento que me interessa é o que estou ganhando todo dia: a fila na porta dos meus restaurantes. É como dizia o Paul Bocuse quando lhe perguntavam qual o melhor restaurante do mundo. A resposta dele era simples e direta: “O restaurante que está cheio”. E eu quero mais é atender quem mora aqui por perto, na vizinhança. É esse cliente que me sustenta, e não aqueles que vêm de longe, que visitam a minha casa uma vez por ano.

 

Thomas finalizando um dos pratos do menu do Oseille – foto Paula Prandini

 

Para finalizar, suponha que você foi condenado à morte na cadeira elétrica e sua sentença será executada em minutos. Qual seria a sua última refeição, se você pudesse escolher?
Dim Sum! Quero muitos carrinhos passando pelo Corredor da Morte com aquelas caixinhas de bambu para eu poder escolher o que vou comer. E que ninguém me apresse! Eu vou morrer em seguida, então mereço fazer uma última refeição em paz e com calma. Eu acho uma loucura a variedade de sabores, texturas, formatos e cores dos dumplings, gyozas e quitutes que são servidos nas refeições chinesas tipo Dim Sum. É um banquete, uma verdadeira orgia, uma festa para quem, como eu, tem prazer em comer!

Selton Mello lança autobiografia e prepara seu retorno ao cinema com “O Auto da Compadecida 2”

Selton Mello lança autobiografia e prepara seu retorno ao cinema com “O Auto da Compadecida 2”

O ator e diretor Selton Mello narra sua trajetória em livro recheado de memórias e lança em dezembro a sequência do longa que conquistou enorme sucesso há 25 anos

Aos 51 anos, Selton Mello já acumula incríveis quatro décadas de carreira. Isso porque ele começou cedo, ainda criança na TV. Vivenciou logo o sucesso, mas também o fracasso, e hoje se tornou um jovem veterano. “É como se eu começasse a virar o rumo do meu barco, sempre trabalhei muito, agora quero encontrar a praia”, reflete sobre seu novo momento. Hoje, Selton está sintonizado na frequência da maturidade, que espelha outra característica aflorada – ser criterioso.

O ator e diretor escolhe a dedo projetos, algo que conseguiu depois de muita dedicação e trabalho. Ele protagoniza “Ainda Estou Aqui”, filme dirigido pelo premiado Walter Salles (de “Central do Brasil”) ao lado de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, com estreia programada ainda neste ano. E, para a alegria do público, roda a sequência de “O Auto da Compadecida”, longa que conquistou enorme sucesso há 25 anos e consagrou a dupla Chicó e João Grilo, formada por Selton e seu parceirão Matheus Nachtergaele. A estreia está marcada para o dia 25 de dezembro.

 

foto Maurício Nahas

 

Para coroar os atuais feitos e celebrar ainda mais sua vida dedicada à arte, Selton Mello lança a autobiografia “Eu Me Lembro”. A trajetória é narrada em primeira pessoa, em resposta a uma série de perguntas feitas por 40 amigos – também estrelas da TV, teatro, cinema e literatura. “Foi uma ideia singela, mas uma boa ideia”, define. Ele conversou com a 29HORAS sobre vida, arte, memória e projetos. Confira a seguir os principais trechos:

No livro, você diz se considerar uma pessoa que está em constante mudança, com muitos projetos. Afinal, você é mais mutável ou um típico capricorniano, um cara estável e centrado?
O capricorniano não é previsível, sou uma mistura. Tento traçar um caminho – sou capricórnio com virgem, então é muito foco, com organização e planilha. É muito exaustivo ser eu, não recomendo (risos). Mas gosto de me mover, adoro as várias áreas das expressões artísticas. Às vezes curto atuar, outras vezes me enfio por detrás das câmeras e me dedico à direção, como foi no começo de ‘Sessão de Terapia’, em que dirigi todos os episódios das primeiras temporadas. Isso significa uma novela, foi abissal o mergulho!

E apesar do livro que lancei, não me considero um escritor. Para mim, é um balanço dos 40 anos de carreira. O livro passou a fazer sentido quando descobri que estava na hora de falar sobre a doença da minha mãe, que tem Alzheimer. Foi quando me dei conta de que era importante escrever sobre memória. Sou filho de uma mulher fabulosa que perdeu a memória. Seja na atuação, na direção ou no livro, no fundo espero que as mensagens cheguem a um bom lugar, são garrafas jogadas ao mar.

 

Foto da infância de Selton, ao lado de sua mãe e do irmão, o também ator Danton Mello, compartilhadas em seu livro – foto acervo pessoal

 

Em resposta a Rodrigo Santoro, você diz que “o ator é uma antena” e que tudo pode servir de alimento a ele. Do que você tem se alimentado? E em que sintonia está a sua frequência?
A gente deve ficar ligado em tudo, mesmo! Desde referências refinadas até o que for muito popular. Tenho um cuidado de não me fechar em uma bolha, de alargar as possibilidades dos meus conhecimentos. Quero assistir a programas de calouros do SBT, ler Chico Bento, Proust, quero ver filme da Mubi (streaming de filmes de arte), quero assistir a comédias do Adam Sandler, também consumo memes, quero tudo! E a minha frequência, hoje em dia, é a da maturidade. Apesar da minha mente ser agitada, encontrei uma calma muito boa agora com 51 anos, estou gostando muito! Grande parte da minha vida passei tentando agradar aos outros, não faço mais isso. É como se eu começasse a virar o rumo do meu barco, sempre trabalhei muito, agora quero encontrar a praia…quero dicas de viagem que vocês possam me dar! Estou mais interessado nisso! É cansativo começar criança, sou um jovem velho ou jovem veterano, já vi muita coisa.

Faltou alguém no livro?
A ideia foi trazer 40 pessoas que compartilharam questões sobre os meus 40 anos de carreira. Chamei pessoas que admiro, algumas com quem trabalhei, outros com quem ainda não trabalhei. Faltaram pessoas, sim! Vamos ver se vivo mais algumas décadas, assim aumento o projeto, faço novos volumes. Também fiz questão de não trocar as pessoas, algumas não estão mais aqui, partiram e não puderam ler a resposta. Mas quis manter suas indagações, não gosto de deixar alguém sem resposta, como Paulo José, Pedro Paulo Rangel, Rolando Boldrin, pessoas que foram fundamentais na minha vida.

Por que foi necessário que amigos e colegas trouxessem perguntas para compor a sua autobiografia? Seus questionamentos a você mesmo também tiveram espaço?
Meus questionamentos tiveram todo o espaço. Foi mais fácil que eles perguntassem, sinceramente. Mas foi uma forma de comemorar esse tempo todo carreira, algo que fiz pouco na vida. Sempre trabalhei muito, mas não parei para celebrar os resultados. Então, comemore! Quero deixar isso registrado nesta entrevista para quem nos lê… Se você passou em uma prova, celebre que deu certo! Se seu negócio está indo bem, comemore! Esse livro é uma forma de celebrar os meus 40 anos na arte, que marcaram a vida de muitos brasileiros, me fizeram bem e ao público também. Teria dificuldade de escrever sozinho, esse formato me ajudou na elaboração de tudo.

 

O ator em cena em “O Filme da Minha Vida – foto Vania Catani

 

Você escreve que morou em Nova York recentemente. O que mais te surpreendeu nessa experiência?
Morar fora do país era um dos tópicos daquelas listas de desejos. Foi incrível! Adorei Nova York, cheia de estímulos por todos os lados. O artista precisa do tempo de abastecimento, caso contrário replicamos coisas velhas e muito autorreferentes. Precisamos saber parar, escolher, é uma arte. A viagem foi boa, mas também para ter tempo de olhar para as feridas, para as dores.

Você lembra no livro que a atuação começou ainda na infância. E como foi se tornar diretor? Você se sentiu um menino de novo?
Fiquei com os olhos brilhando, de ter a possibilidade de criar de forma mais ampla. Quando você dirige, é criador da engrenagem, tudo vem de você, é muito estimulante. Adoro dirigir! Hoje em dia, talvez goste mais de dirigir do que atuar. Mas estou indo devagar. Mais do que nunca me tornei uma pessoa criteriosa. Escolho a dedo os projetos, trabalhei muito para poder ter esse momento, para poder ser profeta da minha própria história, como digo no filme ‘Lavoura Arcaica’, dirigido pelo Luiz Fernando Carvalho.

 

Selton na versão diretor – foto Vania Catani

 

Falando em direção, você protagoniza “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles e que estreia neste ano. Como é dividir esse filme com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres?
Esse filme foi o máximo! Amei trabalhar com o Walter, é um dos maiores diretores do mundo, não apenas do Brasil. Em qualquer lugar do mundo, todos o respeitam. Tive a chance de fazer o Rubens Paiva, pai do Marcelo Rubens Paiva, com roteiro baseado no livro dele, foi uma super responsabilidade. É a história do homem que foi levado para dar um depoimento durante a Ditadura Militar e nunca mais voltou, e os filhos nunca mais souberam do pai. Meu trabalho foi com a Fernanda Torres, minha amiga, uma grande atriz, não tive a sorte de atuar com a Fernanda Montenegro, pois elas dividem o mesmo papel, mas nos encontramos nas leituras.

Quem são os melhores diretores brasileiros, na sua opinião?
Olha, tem muita gente! Sou muito fã do Kleber Mendonça Filho, é um cara especial, gosto muito do jeito que ele pensa, não apenas o cinema, mas a vida. Gosto do humor dele! Adoro o Karim Ainouz, acho brilhante, desde ‘Madame Satã’, venho assistindo aos seus filmes com muita admiração. Ele tem a capacidade de fazer longas muito distintos. Sou fã de Gabriela Amaral Almeida, que é craque no mundo do terror, gênero que conheci recentemente em ‘Enterre Seus Mortos’, em parceria com Marco Dutra, outro grande diretor brasileiro. Também admiro o Gabriel Martins, que dirigiu ‘Marte Um’, que me emocionou bastante.

 

Cena do filme “O Palhaço” – foto Vania Catani

 

Você enfatizou em outras entrevistas e no seu livro que Marjorie Estiano é uma das melhores atrizes no Brasil. Vocês dois estão em “Enterre Seus Mortos”, que deve estrear no ano que vem. Como é atuar com Marjorie? Para você, o que se revelou nesse novo trabalho conjunto?
O filme é baseado no livro de Ana Paula Maia e já considero um dos meus melhores personagens, foi uma experiência impressionante, nunca tinha feito um filme de terror. A Marjorie é a nossa Cate Blanchett, ela é genial, uma mulher inteligente, nós rimos e nos emocionamos juntos, a bola que a gente troca é muito boa! É uma alegria encontrar com a Marjorie, na vida e na arte.

No seu livro, você é bastante elogioso ao trabalho de amigos. E qual é o seu melhor trabalho até hoje? Qual é a sua maior qualidade como ator?
Aproveitei para enaltecer muita gente, alguns que ainda estão no jogo e outros que não estão mais. É uma profissão cruel, porque uma hora você está em evidência e em outros momentos é esquecido. São altos e baixos, então enalteci meus colegas, que sobrevivem ao fracasso e ao sucesso. É muito difícil responder qual é meu melhor trabalho até hoje, é como perguntar qual é o filho favorito. Mas minha maior qualidade como ator é não ter perdido a pureza do ator menino, procuro manter essa criança viva, quero permanecer com frescor, tento me livrar das técnicas e das certezas.

Após 25 anos, você volta ao filme “O Auto da Compadecida”, que em breve ganhará uma sequência nos cinemas. Os amigos Chicó e João Grilo mudaram?
Foi muito louca essa experiência, muito divertida e assustadora, porque mexemos em um clássico, mas fizemos isso com muita propriedade e maturidade. Nesse tempo, passei a dirigir, o Matheus Nachtergaele também dirigiu um filme. É uma moçada muito mais preparada, não somos apenas atores, agora ajudamos a pensar o roteiro, a montagem, a linguagem… Foi mágico! Botei a roupa e virei o Chicó de novo e olhava para o Matheus, via o João Grilo novamente. A equipe toda ficou chocada, de queixo caído! Eu e Matheus não trabalhamos muito juntos nesses 25 anos, e isso foi ótimo para a dupla, os amigos ficaram preservados!

 

Selton Mello e Matheus Nachtergaele em “O Auto da Compadecida 2”, que estreia em dezembro nos cinemas – foto Laura Campanella

 

O filme foi um grande sucesso na época e fonte de bordões que reverberam muito entre o público até hoje. Por que houve essa identificação tão grande?
Vou dar a resposta do Chicó: ‘Não sei, só sei que foi assim’ (risos). As pessoas amam o filme porque é puro e sofisticado na sua simplicidade. É o Nordeste, a representação da nossa cultura solar e rica, que veio do sertão. São dois personagens humildes tentando sobreviver. É um amor por esses dois palhaços, entramos no coração dos brasileiros.

“O Auto da Compadecida 2” marca dez anos da morte de Ariano Suassuna. Qual aspecto da obra do autor você mais admira? Você gostaria de trabalhar com textos de quais outros escritores brasileiros?
Ariano Suassuna é um mestre, é o nosso Cervantes, nosso Shakespeare, um homem de uma sabedoria absurda e um humor muito próprio. Amo ver as entrevistas dele, adoro tudo o que ele escreveu e pensava. E tenho desejo de levar Machado de Assis para as telas, é uma vontade antiga e espero realizar em breve. Mas é como diz Raduan Nassar, ‘o segredo é botar um olho nos livros e um olhão na vida’, ou seja, as referências artísticas sempre vão existir, mas é importante olhar ao redor.

Novo hotspot carioca, Elena fica em um casarão de frente para o Jardim Botânico

Novo hotspot carioca, Elena fica em um casarão de frente para o Jardim Botânico

Inaugurado no final de 2023, o Elena vem sendo o hotspot do verão carioca. O espaço, instalado em um bonito casarão do século 19 de frente para o Jardim Botânico, é um mix de restaurante, bar e baladinha. Na cozinha, o chef Itamar Araújo (ex-Mee) aposta nos sabores asiáticos, com dumplings, baos e sushis. A coquetelaria tem a assinatura do premiado Alex Mesquita, que faz clássicos como ninguém e ainda mostra seu talento em drinques autorais como o Cajueiro, à base de xarope de caju, cachaça branca e sucos de maracujá e abacaxi. As projeções de vídeo-arte com curadoria de Batman Zavareze trazem um toque de modernidade às centenárias paredes do bar do térreo. No rooftop e no bar Gogo, que também ocupa o andar de cima, as terças-feiras são noites de jazz ao vivo.

 

foto divulgação

 

Elena
Rua Pacheco Leão, 758, Horto.
Tel. 21 97186-8923.

Vila Anália extrapola os limites da Zona Leste e leva suas marcas para o Itaim, ABC e Rio de Janeiro

Vila Anália extrapola os limites da Zona Leste e leva suas marcas para o Itaim, ABC e Rio de Janeiro

Complexo de restaurantes inaugurado em 2022 no Jardim Anália Franco, o Vila Anália inicia seu processo de expansão em São Paulo, no ABC e no Rio de Janeiro

Já consagrado como o maior e mais variado complexo gastronômico de São Paulo, o Vila Anália começou neste verão um processo de expansão que, até 2025, já tem programadas várias inaugurações. Aberto em maio de 2022 no Jardim Anália Franco, o complexo reúne, sob um mesmo teto, um restaurante italiano (o Temperani Cucina), um japonês (o Susume), um grego (o Mii Rooftop), um bistrô francês (o Merci), uma doceria (a Caramelo), um empório de itens gourmet, uma loja de vinhos e a filial da casa de comida árabe/armênia Arais do Carlinhos. No imóvel de três andares e 4 mil metros quadrados não cabe mais nada. O jeito foi crescer para além da ZL.

 

O chef Antonio Maiolica, da Trattoria Temperani – foto divulgação

 

O processo começou no final de 2023, quando os quatro netos do homem-bala circense Eduardo Temperani – os sócios-fundadores do Vila Anália – inauguraram a unidade carioca do grego Mii, no BarraShopping. “A casa tem um movimento muito bom e é elogiada pelos cariocas. Acho que era algo que estava faltando por lá”, avalia Guilherme Temperani. Em seguida, veio uma filial da doceria Caramelo, também no BarraShopping.

Em 2025, seguindo o planejamento, um complexo de restaurantes em um formato similar ao do Vila Anália será inaugurado no centro de Santo André, no ABC. Mas, antes disso, em maio, os quatro empresários desembarcam no Itaim, com a Trattoria Temperani. Instalado no Brascan Open Mall, o restaurante será comandado pelo mesmo chef do Temperani Cucina – o italiano Antonio Maiolica, de 38 anos. Natural de Salerno, ele veio ao Brasil para ver a Copa de 2014 e por aqui ficou. Trabalhou em restaurantes como Ecully, Forquilha, Tappo, Antonietta e, no início de 2022, integrou-se ao projeto do Vila Anália. Representante de um time de jovens chefs que vêm conquistando espaços de destaque na cena gastronômica paulistana, Maiolica também é famoso pelas receitas fáceis e apetitosas postadas no Instagram e no TikTok.

 

Stinco de cordeiro com frégola sarda e alcachofras – foto divulgação

 

“A Trattoria Temperani vai ter pratos da moderna cozinha italiana. Comida descomplicada e muito saborosa. Teremos flores de abobrinha recheadas com ricota de búfala, vitello tonnato, stinco de cordeiro com frégola sarda e sobremesas como a panna cotta com morangos, gotas de redução de aceto balsâmico e suspirinhos. Vamos ter também uma janelinha para o pessoal comprar pizzas e levá-las para casa, para comer ali mesmo na praça ou no cinema”, avisa o italiano.

 

Panna cotta com morangos, aceto balsâmico
e suspiros – foto Elvis Fernandes