Luiza Helena Trajano e sua trajetória: do empreendedorismo inovador aos projetos sociais

Luiza Helena Trajano e sua trajetória: do empreendedorismo inovador aos projetos sociais

Presidente do conselho do Magazine Luiza, uma das maiores redes do setor varejista, Luiza Helena Trajano fala de sua luta pela vacina e de seu propósito de transformar o Brasil. 

“Eu sou supernormal, meu prato preferido é arroz com feijão e macarrão, e nunca fui viciada em ginástica”, ri Luiza Helena Trajano durante uma conversa pelo Zoom. Um café virtual em que essa mulher simples e carismática, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, falou de sua rotina, de sua história e de seus sonhos.

 

Foto - @angelarezefotografia

Foto – @angelarezefotografia

 

Luiza Helena confessa ter sorte de precisar dormir pouco – vai para cama tarde da noite e acorda às 5h da manhã –, pois consegue dar conta de tanta coisa no dia. E ela realmente não para. Fez mais de 400 lives desde o início da pandemia, entre elas entrevistas para o IDV, Instituto para Desenvolvimento do Varejo, com o intuito de estimular as pequenas e médias empresas neste momento.

Não é mulher de uma causa só. Parceira do Sebrae desde 1980, conselheira em diversas entidades do terceiro setor e em empresas, ela fundou em 2013 o grupo Mulheres do Brasil para estimular a luta feminina por um país mais justo. “A gente não é partidária, a gente não é contra o homem e a gente não quer inventar a roda. Apoiamos o que já existe, queremos dar voz às mulheres e reduzir a desigualdade feminina em postos na política e nas empresas, entre várias outras questões”, explica.

O grupo, hoje com 83 mil mulheres em mais de 150 cidades, apoia 21 causas. “Temos líderes de bairros na periferia, gente trabalhando pela educação, contra a violência, pela saúde, pela igualdade racial, em muitos projetos. A gente quer ser o maior grupo político apartidário do Brasil.”

 

Grupo Mulheres do Brasil - Foto @angelarezefotografia

Grupo Mulheres do Brasil – Foto @angelarezefotografia

 

No primeiro encontro aberto do grupo neste ano, no dia 2 de março, Luiza falou para mais de 1.200 pessoas sobre o movimento “Unidos pela Vacina“. “Estamos em um trabalho 360 graus com a vacina, porque agora não adianta falar mal do governo, o brasileiro precisa parar de morrer e a economia precisa voltar; nosso objetivo é vacinar todos os brasileiros até setembro.”

Articulando junto a empresários e executivos como Paulo Kakinoff, da companhia aérea Gol, e Walter Schalka, da indústria de papel e celulose Suzano, Luiza conseguiu aviões e outros recursos para otimizar a logística dessa megaoperação. “Só a união de todos é que vai conseguir fazer isso: o poder federal, o estadual, o municipal, a sociedade civil, os empresários e o terceiro setor. O inimigo é um vírus que está aí e não vai embora, e que veio para mexer com a nossa impotência e incompetência.”

Crescimento expressivo

Outra luta de Luiza é a geração de emprego. Logo no início da pandemia, a empresária idealizou com outros líderes o movimento “Não Demita”, e criou a “Parceiro Magalu”, plataforma digital que ajuda micro e pequenos varejistas e autônomos a tocar seus negócios. Durante a crise sanitária, o Magalu, hoje com mais de mil lojas físicas, contratou mais de quatro mil funcionários, comprou seis empresas e cresceu 73% no seu e-commerce. Segundo levantamento recente feito pela Trading Plataforms, a rede está entre as 25 maiores varejistas do mundo.

A empresária atribui o sucesso ao fato de que o Magazine Luiza já vem trilhando há anos o caminho digital, além de manter um crescimento consistente e sustentável. Desde 1992 a companhia investe em inovação e tecnologia. Naquela época, o diferencial era o cliente ir à loja e poder comprar pelo computador, com o auxílio do vendedor, os produtos que não estavam expostos nas gôndolas.

Mãe de três filhos – Frederico, que é CEO da companhia desde 2016, Ana Luiza, chef de cozinha e ativista assumida da gastronomia brasileira, e Luciana, pedagoga –, Luiza conta que gerar emprego é um grande prazer da família. “Quando comprou a primeira lojinha, em 1957, a minha tia (Luiza Trajano Donato, fundadora da Magazine Luiza) não tinha nem dinheiro para pagar a prestação direito, mas a intenção era gerar emprego para a família e para a comunidade, fazer o bem para as pessoas. Esse sempre foi o nosso forte, o dinheiro é a consequência.”

Segundo a filha Ana Luiza, que fundou o IBAG, Instituto Brasil a Gosto, a importância de ter um propósito é o que ela aprendeu de mais valioso com a mãe: “Ela nos ensinou que a gente precisa fazer coisas que a gente ama, e interligadas com um propósito e um legado maior, ou seja, que o que a gente faça transforme e engrandeça o mundo”.

 

Luiza Helena em entrevista com Pedro Bial - Foto @angelarezefotografia

Luiza Helena em entrevista com Pedro Bial – Foto @angelarezefotografia

Foco nas soluções

Nascida e criada na cidade de Franca, no interior de São Paulo, Luiza começou a trabalhar aos 12 anos como balconista na loja da tia, para ganhar dinheiro e poder dar presentes para as pessoas. “Tenho o maior orgulho de ser de Franca, onde tive uma infância de interior, com muita liberdade para brincar e fazer as coisas”, diz, com seu gostoso sotaque preservado.
Aos seis anos, Luizinha, como até hoje é conhecida na cidade, já caminhava sozinha até a escola e andava de ônibus. Filha única, afirma que teve duas mães: “Minha tia, uma grande empreendedora, e minha mãe, uma mulher com uma inteligência emocional incrível, que me educou para buscar soluções, resolver as coisas”.

Deu certo. Intensa e incansável desde sempre, ela foi líder entre os colegas, representante de classe e, aos 17 anos, conquistou seu primeiro emprego na loja. Formada em Direito, passou por todos os setores até ser convidada pela tia, em 1991, a assumir o comando da empresa, que elevou a partir daí a um novo patamar, investindo em inovação, tecnologia e gestão horizontal, com foco nos valores humanos e na comunicação. “A gente tem vários rituais ligados ao respeito, à autonomia e à igualdade de oportunidades na empresa. Para nós, as pessoas estão em primeiro lugar”, diz Luiza, lembrando que há 22 anos o hino nacional é cantado pelos funcionários todas as segundas-feiras de manhã.

 

Luiza Helena Trajano no Fórum Econômico Mundial - Foto Divulgação

Luiza Helena Trajano no Fórum Econômico Mundial – Foto Divulgação

 

Correção de desigualdades

E há 22 anos o Magalu está entre as cinco melhores empresas para trabalhar no Brasil. Ela incorporou na companhia a pauta de causas sociais, a favor da mulher e da diversidade. Fez uma campanha contra violência doméstica, “Eu meto a colher sim”, e colocou uma linha para denúncias dentro da empresa, além de determinar cota para contratações de mulheres que foram vítimas desse crime. Em setembro de 2020, lançou um programa para trainees negros que causou polêmica na internet. Luiza segue quebrando paradigmas e fazendo o que precisa ser feito: “A gente tem que assumir papéis e saber que não vamos agradar todo mundo”.

“O projeto foi feito pelo Frederico e a equipe dele, e em um final de semana fomos apedrejados. Mas depois as pessoas nos deram muito apoio, ele ficou emocionado de receber gente do Brasil inteiro formada em faculdade federal e estadual e com alto nível de comunicação, de resiliência e de maturidade emocional, e ganhando 40% menos do que merecia ou até desempregada.” Vinte mil pessoas se inscreveram e vinte foram contratadas. “O objetivo era acertar uma defasagem no nosso quadro”, ela explica. Entre os cerca de 35 mil funcionários da empresa, 53% são pretos e pardos, mas apenas 16% deles ocupam cargos de liderança.

 

Foto - @angelarezefotografia

O grupo “Mulheres do Brasil” em manifestação contra a violência doméstica e o feminicídio – Foto @angelarezefotografia

 

“As cotas são um processo transitório para acertar uma desigualdade, porque senão a gente vai levar 130 anos, ou muito mais do que isso, para ajustar esse problema. Os 390 anos de escravidão e a abolição muito ruim deixaram um legado triste.” Seu sonho agora é criar um programa para admitir pessoas acima de 50 anos. “Tanta gente com experiência, conhecimento e vontade para trabalhar, acredito nessa mistura de idades e na diversidade.”

Luiza é prática, direta e assertiva. “Não fico intelectualizando, eu sento e faço.” Por isso é clara para dizer, mais uma vez, que não quer se candidatar a cargos políticos, muito menos à presidência do país, como tem sido especulado. “Jamais pensei nisso e nunca me filiei a partido político algum. Nunca falo ‘dessa água eu não bebo’, mas não tem sentido isso agora nesse momento.”

Assumida apaixonada pelo Brasil, ela já faz política com seu Mulheres do Brasil e tem uma incrível facilidade de articulação: “Eu tenho esse lado positivo, quando ligo para os políticos para falar de vacina, em dois minutos eles me atendem”.
Para 2022, o grupo começou uma campanha muito forte, para aumentar os 12% de mulheres na política. “É importante abrir essas portas, estamos muito defasadas! Acredito que qualquer nação muda quando a sociedade civil se organiza e envolve as pessoas a entrarem em movimentos apartidários e que tenham como bandeira a evolução do país.”

 

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Luiza Helena em evento do Mulheres do Brasil – Foto @angelarezefotografia

Protagonista de “Verdades Secretas”, Camila Queiroz se prepara para voltar aos sets de filmagem

Protagonista de “Verdades Secretas”, Camila Queiroz se prepara para voltar aos sets de filmagem

Entre reflexões pandêmicas e trabalho em casa, a atriz Camila Queiroz se prepara para as gravações da continuação da novela de enorme sucesso “Verdades Secretas”

Camila Queiroz é mesmo tudo o que se vê: talento e beleza impactantes. Mas sua simpatia e seu papo reto pegam de surpresa quem pensa que a atriz e modelo de Ribeirão Preto, deixou o sucesso subir à cabeça. É que a fama veio de uma hora para outra, muito rápido, com o papel da protagonista Angel na novela “Verdades Secretas”, de Walcyr Carrasco, em 2015. Apesar da intensa repercussão, a paulista permaneceu com seu jeito tranquilo e simples de garota do interior, com consciência de onde veio, de seu esforço e da família para colher os bons frutos.

 

Foto - Henrique Gendre

Foto – Henrique Gendre

 

A TV Globo já programa as gravações de “Verdades Secretas 2” para este ano ainda turbulento e incerto de pandemia. E trabalhar é o principal desejo da atriz para 2021. “Quero recuperar o tempo em que estive parada, sinto falta de ir para o set de gravação, estou com saudades de salas de cinema e de teatro, espero que a situação melhore para que esses lugares voltem, e o principal desejo é sem dúvida trabalhar!”

Sobre quarentena, pandemia e vírus, Camila segue empática e resiliente. “Fiquei o ano todo em casa, dividindo tarefas domésticas com o Klebber (Toledo, também ator e marido), consegui adaptar meu trabalho para a realidade remota, usei as redes sociais para me comunicar e trabalhar, mas sei que isso foi possível para mim e uma parcela muito pequena do audiovisual e da cultura! Equipes técnicas, de maquiagem, de figurino, todos sofreram muito com esse período”, reflete.

Para fugir da realidade dura que todo o país atravessa, a atriz é como cada um de nós, liga os streamings, procura boas séries e bons documentários para maratonar e, de vez em quando, escapa para algum refúgio na natureza com o marido. “Agora estou dedicada aos estudos do roteiro de ‘Verdades Secretas’, mas quando tenho tempo assisto a algum filme ou série, o último documentário que vi me surpreendeu muito! Chama ‘Lady Di: Suas Últimas Palavras’ (agora disponível no Disney+), em que a própria princesa Diana narra a sua história, é emocionante e surpreendente”, indica.

 

Camila Queiroz e seu marido, o também o ator Klebber Toledo, com seus pets - Foto Arquivo Pessoal

Camila Queiroz e seu marido, o também o ator Klebber Toledo, com seus pets – Foto Arquivo Pessoal

 

Princesa Esmeralda

A infância de Camila Queiroz foi como a de muitas crianças de sua geração – provavelmente a última que não cresceu em meio à tanta tecnologia. Hoje com 27 anos, a garota ribeirãopretana recorda das brincadeiras nas ruas com amigos que moravam perto de sua casa. “Foi um período muito lúdico, me permiti viver, sem saber que estava fazendo isso”, lembra, com muito afeto. “Eu brincava muito na rua, todos juntos, não tinha coisa de menina, de menino, a gente usava a criatividade para explorar os ambientes disponíveis para se divertir.”

Foi com esse espírito criativo e imaginativo que a atriz, ainda criança com apenas 10 anos de idade, produziu a sua primeira peça de teatro. “Eu era a diretora, junto a amigas e bonecas, e a peça se chamava ‘Princesa Esmeralda’, não lembro bem, mas era assim que a gente criava naquele ambiente, não tínhamos muito acesso à cultura, e eu já tinha muito o desejo de me envolver com arte.”

Com 14 anos, Camila foi morar sozinha em São Paulo, para trabalhar como modelo para uma agência e os sonhos começaram a deslanchar. “Foi quando me deparei com as responsabilidades de administrar o dinheiro que minha família enviava, além de fazer as tarefas de casa, amadureci muito e sempre recebi apoio”, conta.

 

Foto - Henrique Gendre

Foto – Henrique Gendre

 

Cosmopolita de corpo e alma

Nova York e Japão estão no coração e no passaporte da atriz. Com 16 anos foi morar no Japão contratada por uma agência local. Aos 18, mudou-se para Nova York dando continuidade à carreira de modelo, onde participou de campanhas internacionais, como a da marca Armani Exchange. “Conheci muito pouco o Japão, fiquei apenas um mês em uma rotina de trabalho intenso, e foi logo no ano do desastre causado pelo terremoto em Fukushima, em 2011, precisei voltar correndo”, lembra. “Com certeza depois de vacinada é o destino internacional que estará na minha lista!”

Camila morou por mais tempo nos Estados Unidos. “Ia aos meus testes de trabalho sempre andando, amava passear por Nova York, caminhava pelo Central Park, pela Times Square, me adaptei super fácil, sou muito cosmopolita”, diz. Mas em 2015 a carreira deu uma grande reviravolta, quando foi chamada para fazer um teste na Globo para viver uma modelo na novela de Walcyr Carrasco, em que passou e interpretou Angel, uma jovem ingênua que possui o sonho de ser uma modelo de sucesso, mas acaba trabalhando no mundo da prostituição de luxo. “Verdades Secretas mudou tudo para mim, foi um divisor de águas, já queria voltar ao Brasil depois de 3 anos nos EUA, tinha o desejo de estudar para ser atriz e ainda não tinha o dinheiro, mas com a novela foi possível”, lembra.

E não parou mais. Em 2016, repetiu a parceria com Walcyr Carrasco e integrou o elenco da novela das seis “Êta Mundo Bom!”, interpretando Mafalda. Em 2017, a atriz protagonizou ao lado de Mateus Solano a novela das sete “Pega Pega” e, em 2019, viveu a vilã Vanessa na novela das sete “Verão 90”. Neste ano, Camila espera manter o ritmo de trabalho acelerado. “Já posso dizer que ‘Verdades Secretas 2” vai surpreender muito, mas evito a ansiedade”, promete a atriz, que também planeja projetos para os streamings em breve.

 

Foto - Henrique Gendre

Foto – Henrique Gendre

 

Revista Online: Edição 135 – SP

Revista Online: Edição 135 – SP

Revista Online: Edição 135 – VCP

Revista Online: Edição 135 – VCP

Após pausa, Fernanda Gentil volta às telinhas com o programa “Se Joga”

Após pausa, Fernanda Gentil volta às telinhas com o programa “Se Joga”

Ela já foi amada, já foi cancelada, fez tudo o que quis e resolveu mudar os rumos de sua carreira quando estava no auge do sucesso. Fernanda Gentil é intensa, é uma pessoa que não tem receio de se jogar.

Depois de ficar fora do ar durante praticamente toda a pandemia – período no qual até contraiu a Covid-19 e manifestou sintomas leves da doença – agora ela está de volta. Nesta nova fase, seu programa, o “Se Joga”, não é mais uma atração diária na programação da Globo. Ele ressurgiu em março com edições semanais, nas tardes de sábado, totalmente reformulado.

Em entrevista à 29HORAS, a apresentadora carioca de 34 anos fala um pouco de seu estilo de comandar ao vivo um programa na TV aberta, de sua bem-sucedida trajetória na cobertura esportiva, de sua relação com o amor e o ódio que vêm das redes sociais, do prazer que sente ao cuidar de seus filhos e de crianças em situação de vulnerabilidade e dos ensinamentos que tirou dessa incômoda e interminável “visita” do coronavírus, que virou nossas vidas do avesso. Confira a seguir os principais trechos dessa conversa.

 

Foto - Glin+Mira

Foto – Glin+Mira

 

Como é voltar ao ar com o “Se Joga”?

Está sendo muito bom, muito gostoso. Estou matando as saudades da TV, de me comunicar com uma grande audiência. Considero um privilégio e um trabalho muito importante esse de ser uma válvula de escape, com um conteúdo leve e divertido em meio a este caos em que estamos vivendo.

Olhando para trás, por que o formato original do programa não emplacou? Qual a principal mudança nesta nova configuração semanal da atração?

Não dá para comparar um com o outro. Só o nome permaneceu o mesmo, os formatos são muito diferentes. O primeiro ficou apenas seis meses no ar. Detectamos muita coisa que precisava ser ajustada, mas nem tivemos tempo para implementar as mudanças que queríamos. Aí veio o coronavírus e o mundo virou do avesso. Até por causa da pandemia, acredito que nem faria sentido termos hoje em dia um programa alegre e animado como aquele. Essa nova versão é mais calma, mais conversada, em uma vibe dois tons abaixo daquela que a gente trabalhava no final de 2019. Esse vírus fez com que tudo e todos tivessem que se reinventar, e com o “Se Joga” não foi diferente.

 

Fernanda apresentando o programa "Se Joga" - Foto João Miguel Jr

Fernanda apresentando o programa “Se Joga” – Foto João Miguel Jr

 

Analisando em uma visão “lumênica”, arquetípica e desconstruída da sua trajetória de vivências televisivas enquanto apresentadora fenotipicamente exuberante, qual é o papel de cada um dos apresentadores no programa? Você diria que sua dupla com o Érico está mais para Chitãozinho & Xororó ou mais para Tom & Jerry? Você é a princesa, o Érico é o clown e a Tati Machado é a fada? Você é a Mônica, o Érico é o Cebolinha e a Tati é a Magali?

Que pergunta maravilhosa! Embarcando na validação desse B.O. coletivo que você usa a seu favor nessa posição de entrevistador/opressor, gostaria de ressignificar a afirmação feita nessa jornada. A verdade é que cada um é o que é: a Fernanda é a Fernanda, o Érico é o Érico e a Tati é a Tati. O Érico faz mais reportagens gravadas e links ao vivo, a Tati é mais aquela coisa bem própria do GShow (cobertura do “BBB”, spoilers das novelas e fofocas dos artistas) e eu me encarrego mais da ancoragem, no estúdio, apesar de eventualmente aparecer também em um ou outro quadro gravado ou entrevista. Cada um abraça um dos pilares daquilo que é a essência fenotípica do “Se Joga”.

Você sente saudades do tempo em que trabalhava nas coberturas esportivas?

Eu sinto saudades porque foi muito bom, mas não sinto falta. Fiz tudo que poderia ter feito – só faltou entrevistar a craque Marta. Ri, chorei e realizei todos os sonhos que eu tinha. Trabalhei por dez anos em todos os programas esportivos da Globo, cobri três Copas do Mundo e duas Olimpíadas. Nada jamais vai ocupar o espaço que está reservado ao esporte no meu coração. Mas eu sou uma pessoa movida a desafios. Um dia decidi que precisava fazer coisas diferentes, me reinventar e partir para outra.

Foi esse trabalho no departamento de esportes que catapultou a sua carreira. Quem foi a sua maior inspiração e referência ao “se jogar” nesse jeitão descontraído de comandar uma atração do Jornalismo da Globo?

Cresci vendo a Glenda [Kozlowski], o Tadeu [Schmidt], o [Alex] Escobar e até o Tiago [Leifert], que tem mais ou menos a minha idade. Eu assistia e aprendia, cada programa dessas feras era uma aula e um prazer para quem queria trabalhar com esporte. E eu sempre digo que faço a TV que eu gosto de assistir. Então apostei na naturalidade que esses grandes apresentadores introduziram nessas coberturas. Gosto de ser vista pela audiência como uma pessoa normal, e não como um personagem ou uma boneca que vive em um pedestal.
Mas a naturalidade também abre espaço para as gafes, e nisso eu sou especialista: já estendi a mão para cumprimentar uma pessoa cega, já apareci jogando meu celular no chão, chorando no 7×1…se é esse o preço que eu tenho de pagar para ser uma pessoa mais descontraída e relax, tudo bem, eu estou mais do que disposta a pagar essa conta.

 

Foto - Glin+Mira

Foto – Glin+Mira

 

Nas redes sociais você também é muito presente e muito atuante. Como lida com os “haters”? Tem como permanecer gentil diante de tanto ódio?

Para mim, essa interação é muito importante. Gosto de estar perto das pessoas que acompanham o meu trabalho. E as redes sociais são uma ferramenta excelente para encurtar essa distância, para a gente trocar uma ideia diretamente, sem intermediação. Mas, como nem tudo é perfeito, tem também os haters. Mas eles são uma minoria numericamente insignificante. E eu, francamente, não perco minha energia com esse tipo de gente que destila raiva e desrespeito o tempo todo. Sigo plena e serena. Graças a Deus eu não tenho tempo a perder com esse tipo de radicalismo.

Vivemos em um mundo em que o cancelamento nos espreita a cada esquina. Você já foi cancelada? O que fez para reverter a situação?

É complicado julgar e condenar ou absolver alguém, e as redes sociais não são um tribunal adequado para esse tipo de veredicto. Eu já fui cancelada por ter me expressado mal e ter a minha frase transcrita de uma forma ainda mais confusa em uma entrevista que dei à “Folha de S. Paulo”. Foi tudo um mega-mal-entendido. Como resultado, fui chamada de racista. Normalmente eu não me importaria, mas isso mexeu com os meus valores. Postei um textão e fiz uma live para me explicar e me corrigir, falando diretamente com quem me julgou. Não sei se eu consegui mudar 100% a interpretação que as pessoas fizeram do que eu falei, mas eu garanto que na verdade penso muito parecido com as pessoas que me cancelaram. Se eu visse alguém dizendo a bobagem que ficou parecendo que eu havia falado, eu também cancelaria essa pessoa.

E quanto ao espetáculo “Sem Cerimônia”, ele tem novas apresentações previstas ou é um projeto “adormecido”?

Está no modo pausa. Em março do ano passado, tínhamos várias sessões totalmente vendidas, com lotação total, mas aí veio a pandemia e tudo infelizmente teve de ser colocado em stand by. Não temos nenhuma previsão de retorno, ao menos no curto prazo.

 

Fernanda no espetáculo "Sem Cerimônia" (Foto - Juliana Hilal)

Fernanda no espetáculo “Sem Cerimônia” (Foto – Juliana Hilal)

 

Em 2019, tivemos a oportunidade de conferir seu talento como atriz no filme “Ela Disse, Ele Disse”. Tem alguma novidade sendo gestada nessa área?

Quando eu saí do Esporte Espetacular, quis fazer de tudo. Fiz filme, fiz o “Sem Cerimônia” no teatro, fiz palestras motivacionais, fiz publicidade, fiz o que apareceu pela frente. E gostei muito de tudo que fiz. Neste exato momento, não tenho nenhum projeto novo nessa área, mas um dia posso voltar a atuar, sim, por que não? Não costumo fechar as portas para nenhuma possibilidade – até porque, quanto mais portas e janelas abertas a gente mantém, mais iluminada a gente fica!

Por falar em gestação, você tem um filho de seu casamento com o empresário Matheus Braga e, em 2009, adotou Lucas, que perdeu a mãe quando tinha apenas um ano de idade. Agora, casada com a jornalista Priscila Montandon, pretende ter mais filhos e povoar ainda mais a sua casa?

Minha missão nessa vida é “criar gente”. E eu faço isso com um prazer enorme. Nesse processo de ensinar, de nutrir e de educar, quem ganha mais é a gente. É uma evolução conjunta que não dá para mensurar e explicar. E ainda tem o amor, os sentimentos envolvidos. Se eu tiver condições geográficas (espaço) e financeiras (dinheiro) vou ter mais filhos, sim, claro! Pelo menos mais um eu e a Priscila vamos incorporar em breve à nossa família.

 

Fernanda Gentil com a companheira, Priscila Montandon - Foto Arquivo Pessoal

Fernanda Gentil com a companheira, Priscila Montandon – Foto Arquivo Pessoal

 

Qual a sua ligação com a ONG Mundo Caslu e o que te levou a se engajar nesse trabalho tão bonito que a entidade faz com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social?

Sou uma das fundadoras da entidade, que nasceu em 2013, inspirada justamente na história do Lucas. A propósito, “Caslu” é “Lucas” ao contrário. O Lucas perdeu a mãe dele muito cedo, foi uma dor imensa. Mas ele foi acolhido e hoje tem uma vida muito feliz. Iniciamos os trabalhos na Caslu para ajudar os outros Lucas que não têm ninguém. A ONG se sustenta apenas com a venda de camisetas. Fazemos quatro campanhas de arrecadação por ano e ajudamos várias instituições beneficentes dedicadas a crianças abandonadas. Nunca doamos dinheiro, entregamos o que essas entidades precisam: alimentos, roupas, remédios, móveis, obras etc. Em 2020, vendemos muitas camisetas. A solidariedade é muito mais contagiosa do que esse vírus!

O que mudou na sua vida com essa pandemia? Do “velho normal”, o que você não quer mais que volte, que hábito não quer mais retomar?

Mudou simplesmente tudo: a maneira de viver, de amar, de pensar, de agradecer… Não dá para alguém permanecer do mesmo jeito depois que tudo isso passar. Não faz sentido ter lutado tanto para sobreviver e não tirar nenhuma lição dessa fase tão difícil. Quando essa loucura acabar, eu quero abandonar a correria, quero desacelerar. Meu espetáculo, “Sem Cerimônia”, falava um pouco disso: de valorizar as pequenas coisas, de aproveitar cada momento. É para isso o que eu quero ter mais tempo.

 

Fernanda Gentil com a companheira, Priscila Montandon e os filhos - Foto Arquivo Pessoal

Fernanda Gentil com a companheira, Priscila Montandon e os filhos – Foto Arquivo Pessoal