No dia 15 de janeiro, a Gol completou 20 anos, interligando os principais aeroportos do país e consolidando-se como a companhia aérea que detém a maior fatia de mercado no segmento de voos domésticos. No comando dessa grande empresa – que conta com cerca de 15 mil colaboradores, 127 aviões Boeing 737, aproximadamente 600 voos diários e faturamento anual de mais de R$ 10 bilhões –, está Paulo Kakinoff, de 46 anos.
Nascido em Santo André, na Grande São Paulo, ele assumiu a presidência da companhia aérea após quase duas décadas no Grupo Volkswagen (onde entrou como estagiário e saiu com presidente da divisão de carros de luxo Audi). Na Gol desde 2012, fez da empresa não só a maior do segmento doméstico como também a mais pontual e a melhor, com mais espaço entre as poltronas e wi-fi em todas as aeronaves.
Em 2019, ele teve de manter no solo os recém-adquiridos 737 MAX – aviões que se envolveram em terríveis acidentes na Indonésia e na Etiópia e que são a base do crescimento da Gol nos próximos anos. Mas essa já é uma crise superada, tanto que em dezembro Kaki (como é chamado pelos amigos) já voou com sua esposa, Fernanda, e seus dois filhinhos em um voo operado com um avião desse avançado modelo.
Agora o desafio é comandar a empresa na retomada do setor aéreo, que já vem se manifestando com força neste início de 2021. A 29HORAS foi ouvi-lo sobre essa recuperação da aviação comercial. Para o alto e avante!
Quando surgiu, há 20 anos, a Gol introduziu uma série de novidades no mercado – a começar pela eliminação dos bilhetes de papel, com várias páginas. Que inovações a Gol prepara agora para seus passageiros?
Comemoramos os 20 anos da Gol neste momento com orgulho do que fizemos e muito entusiasmados com o que queremos fazer para o setor aéreo no Brasil. Continuaremos inovando em todas as etapas da jornada do cliente – venda de bilhetes, atendimento, embarque, a bordo e desembarque, com tecnologia, processos e serviços. Especialmente em 2020, a companhia não parou de priorizar e investir em seu compromisso com a segurança e a saúde dos clientes. Entramos em 2021 com todas as nossas aeronaves e procedimentos de check-in, embarque e desembarque certificados pelo selo Einstein de qualidade em relação à Covid-19, mas passado esse momento de pandemia seguiremos oferecendo novidades aos passageiros que nos escolhem para voar.
Até hoje, a Gol é apresentada como uma empresa low cost – o que ela efetivamente era no início, fase lembrada pelas “barrinhas de cereais”. Mas você acha que hoje a Gol ainda se encaixa nessa definição?
A Gol foi a primeira companhia aérea do Brasil a utilizar a tecnologia digital de forma intensiva, com um modelo de negócio que revolucionou o mercado de aviação no país, democratizando o acesso ao transporte aéreo. Fomos pioneiros ao lançar o serviço de check-in feito inteiramente pelo celular, o serviço de geolocalização mobile para clientes e um site com recursos de acessibilidade para atender pessoas com deficiência visual e motora – além de recentemente implementarmos o aplicativo para comunicação por Libras a bordo e check-in por WhatsApp. Temos um dos menores custos por assento do mundo, portanto continuamos a oferecer preços competitivos, mas com produtos de qualidade e eficiência. Isso tudo significa que nosso posicionamento foi evoluindo e a percepção do cliente acompanhou as mudanças reconhecendo uma nova Gol. Estamos entre as companhias aéreas que mais crescem e somos a empresa de aviação que mais transporta passageiros no Brasil. Nosso propósito é claro: ser a primeira para todos, como a melhor companhia aérea para viajar, trabalhar e investir.
O que a Gol está fazendo para aprimorar suas opções de entretenimento de bordo? Hoje, com os passageiros evitando tocar em telas e outras superfícies, o autosserviço e o uso de tablets, notebooks e celulares está cada vez maior, não? Nesse contexto, como fica a revista?
A Gol tem a inovação em seu DNA, e já conta com uma solução perfeita para o cliente, o Gol Online – Wi-Fi e entretenimento a bordo, lançado em 2016, durante uma transmissão ao vivo da própria aeronave. A companhia foi a primeira empresa aérea na América do Sul com internet a bordo e com o serviço em 100% da frota. Por ser acessado diretamente do próprio dispositivo móvel do passageiro, o entretenimento a bordo vem totalmente ao encontro com as demandas geradas nesta pandemia, onde se vê a importância da utilização de objetos pessoais e não mais as telas coletivas.
O Gol Online é a mais completa plataforma de entretenimento do mercado, e conta com seis canais de TV ao vivo, conteúdos variados de filmes, séries, podcasts e até mesmo cursos e meditação. Fomos pioneiros em incluir títulos voltados à saúde mental e ao bem-estar, além, é claro, dos pacotes de acesso à internet e mapa de voo, pelo qual o cliente acompanha seu voo do início ao fim.
Já a premiada e reconhecida Revista Gol continua disponível aos clientes a bordo, agora sob demanda, e todos são estimulados a levá-la para casa, diminuindo o contato e o manuseio. E no nosso site ela está disponível em versão digital.
Quais as perspectivas para 2021. Como está sendo a retomada do setor? Quando a Gol voltará a ter o tamanho que tinha antes da pandemia?
O ambiente mercadológico para a indústria da aviação permanece desafiador, mas nós estamos otimistas de que as condições continuarão a melhorar, devido ao crescimento consistente na busca por passagens aéreas para a nossa temporada de verão, assim como a expectativa da retomada em função do início da vacinação. Esse crescimento de demanda está especificamente concentrado no mercado doméstico, que hoje é responsável por 100% das operações da companhia. Podemos dizer que, ao final deste 1º trimestre de 2021, a Gol espera servir 95% dos destinos pré-pandemia.
Para quem ainda tem algum receio de viajar de avião, com medo de se contaminar com o coronavírus, o que os mais recentes estudos dizem sobre a “qualidade do ar” respirado dentro da cabine das aeronaves?
Temos toda a confiança que a experiência de voar é altamente segura, inclusive em tempos de pandemia. A Boeing, recentemente, com base na contagem de partículas no ar das cabines em um modelo computacional, comprovou que sentar-se próximo a outro passageiro na aeronave é o mesmo do que estar a 2 metros de distância em um ambiente regular comum, com o uso de máscaras. É que o ar dentro das aeronaves da Gol é de alto grau de pureza com a utilização do filtro HEPA, que remove 99,97% das partículas nocivas do ar, como vírus, bactérias, alérgenos e sujeiras. Além do filtro há uma válvula que devolve o ar para fora da aeronave, o que garante a circulação de um ar sempre mais saudável. O sistema promove a troca total do ar de toda a cabine a cada 3 minutos.
A importante parceria da Gol com o Hospital Albert Einstein reforça o compromisso que temos com nosso time e com nossos clientes, e proporciona ainda mais credibilidade e confiança. Usamos o selo Einstein Padrão de Qualidade e Segurança Covid-19, que atesta todos os nossos procedimentos, desde o check-in até a restituição de bagagem, para os quais já contamos com rígidos protocolos contra a doença adotados pela companhia desde março de 2020. O projeto completo vai mapear, avaliar, reestruturar e certificar nosso trabalho. A Gol é a primeira e única companhia aérea do país a carregar tal chancela em seus ambientes e suas aeronaves.
Como está a situação contábil da empresa agora?
Desde o início da pandemia, a Gol tem trabalhado incansavelmente com todos os seus stakeholders para garantir que a companhia mantenha uma liquidez adequada. Temos sido diligentes com a gestão das operações e da saúde financeira da Gol durante esta crise, e agradecemos aos nossos stakeholders pelo comprometimento e pelo apoio contínuo. Os novos prazos pactuados com nossos principais fornecedores e credores foram estabelecidos de forma a permitir o equilíbrio do fluxo de caixa, e ao mesmo tempo permitem o aumento sustentável do volume da operação. Uma comprovação dessa gestão é o reflexo no aumento da liquidez da Gol nos últimos meses, considerando todas as obrigações já assumidas.
A aviação vive momentos complicados em países como Austrália (onde a Virgin encerrou suas atividades), na Coreia (onde a Asiana foi engolida pela Korean) e na África do Sul (onde a outrora poderosa SAA virou uma empresa nanica). Qual a receita que garantiu a sobrevivência da Gol?
A sustentabilidade comprovada do nosso modelo, de baixo custo e com frota de um único tipo de aeronave, aliado aos esforços de nossa equipe de gestão, foram determinantes para que a companhia atravessasse esse período fazendo os devidos ajustes na oferta. Dentro do modelo flexível de negócios que temos, nossa programação de voos passa por ajustes constantes que visam garantir o equilíbrio entre o cenário de demanda e a qualidade e amplitude da malha aérea com o impacto da pandemia da Covid-19. Acreditamos que a companhia está agora em uma posição de mercado vantajosa, à medida em que a demanda por viagens deve se acelerar continuamente em 2021, fortalecendo ainda mais a posição dominante da Gol no mercado doméstico.
O que precisaria mudar para o setor aéreo brasileiro decolar e operar com mais eficiência – sendo mais atraente e mais lucrativo para os investidores, mas sem esfolar os passageiros?
A Gol é fruto da liberdade tarifária e sempre defendeu o que promove a concorrência saudável. O equilíbrio entre a oferta e a demanda é um aspecto fundamental para uma indústria de aviação sustentável. Temos que atacar a questão estrutural de custos, cujo objetivo é tornar o acesso ao avião ainda mais democratizado, e trabalhar por uma agenda com medidas impactantes para a tarifa e para o consumidor, o que felizmente é parte relevante da pauta governamental para o setor.
O aterramento dos Boeing 737 MAX gerou muitos problemas para a Gol. Qual a expectativa agora, em relação a essas aeronaves?
É importante destacar que a Gol está entusiasmada e absolutamente satisfeita com a volta do Boeing 737 MAX, iniciando o ano de 2021 com todas as sete aeronaves disponíveis para a operação. Temos total confiança na nossa parceira com Boeing e participamos de todas as etapas de recertificação do MAX durante os 20 meses de trabalho. Fomos inclusive referência no processo de preservação das aeronaves – trabalho incansável da nossa equipe da Aerotech – e fizemos o primeiro voo comercial do MAX no mundo depois da liberação para retorno.
Consideramos esse modelo fundamental para os planos de expansão da Gol, por possuir as mais modernas tecnologias de motores, asas e superfícies de comando, o que aumenta a produtividade em 24% e reduz o consumo de combustível em aproximadamente 15%, com um alcance de cerca de mil quilômetros a mais (chegando a 6,5 mil) quando comparado com as aeronaves atuais 737NG.
Agora, com essas fantásticas máquinas de volta à ativa, quando a Gol deve reativar seus voos para Miami, Orlando, Quito, Cancún e Punta Cana?
A Gol continuará a operar rotas internacionais, com reativação gradual de voos prevista para a partir de março. O nosso sistema de vendas já considera essa retomada, e os voos já podem ser comprados por nossos clientes. Ao mesmo tempo, estamos monitorando e acompanhando todas as informações sobre aberturas de fronteiras e os protocolos de segurança necessários para quando essas rotas voltarem a ser operadas. Reforçamos nosso compromisso internacional e em ser a Primeira Para Todos.
A United tem participação societária na Azul, e a Delta é dona de 20% da Latam. A quantas anda a parceria estratégica com a American Airlines?
Como duas das principais companhias aéreas no Brasil e nos Estados Unidos, a Gol e a American Airlines oferecem a melhor experiência e segurança aos clientes, com ótimas opções de voos e destinos entre as Américas mesmo durante a pandemia. No longo prazo, acreditamos que a parceria fortalecerá nossa presença nos mercados externos e irá acelerar nosso crescimento.
Na sua visão, como será o mercado de transporte aéreo de passageiros daqui a 30 anos?
Essa é uma pergunta especialmente difícil de ser respondida em um momento como esse de tanta volatilidade e instabilidade que nós estamos vivendo, mas não deixa de ser um exercício interessante. Acredito que teremos uma continuidade nessa curva de crescimento da democratização de acesso ao setor aéreo, ou seja, mais pessoas voarão, mais destinos serão atendidos, será um modal de transporte ainda mais relevante do que é, e de forma contínua. As novas tecnologias farão com que esse transporte aconteça de maneira mais eficiente do ponto de vista de consumo de combustível e de emissão de poluentes, desejavelmente em patamares mínimos.
Eu praticamente não creio que daqui 30 anos a aviação toda terá sido completamente substituída por uma alternativa autônoma ou de propulsão totalmente elétrica – dois dos itens de desenvolvimento mais especulados nesse momento -, mas acho sim que vão surgir soluções para curtas distâncias com veículos similares a drones que possam transportar de forma individual ou até dois passageiros, para curtas distâncias. Vejo que isso pode ser bastante viável, assim como a criação de rotas para voos não tripulados, possivelmente para cargueiros em áreas menos populosas. Enfim, a meu ver essas são as vertentes de desenvolvimento mais promissoras.
O cara é féra