Para os amantes da música internacional é sempre assim: entra um novo ano e a expectativa para o lançamento de álbuns, shows e artistas vai aumentando exponencialmente. Aquela banda que promete um novo disco há meses, um cantor que estava no ostracismo e resolve reaparecer, o festival com ingresso comprado há tanto tempo… São 365 dias e um universo a ser explorado entre amores, decepções e novos vícios musicais.
Ninguém poderia imaginar, no entanto, o quanto 2020 mudaria completamente a dinâmica do mundo e das nossas vidas. Por um lado, é um ano em que a pandemia do coronavírus abalou e segue abalando a indústria do entretenimento, cancelando shows e festivais no mundo inteiro, e obrigando artistas e produtores a se reinventarem do jeito que podem, abusando da criatividade digital.
Por outro, é um ano que mostra, com ainda mais clareza, o quanto a arte é essencial para a vida e, principalmente, para nos ajudar a lidar com momentos difíceis. Especificamente no mundo da música, os lançamentos não param, o que traz essa sensação de conforto, animação e aquele importante grau de normalidade que faz tanta diferença nesses tempos estranhos.
Com o consumo de música batendo recordes e os streamings mais aquecidos do que nunca, alguns artistas aproveitaram o processo criativo na pandemia para lançar faixas (e até mesmo álbuns inteiros) com a quarentena como temática. É o caso do rapper So-So Topic e a mixtape “#Ronaraps: The Isolation Tape”, que arrisca com humor em faixas como “Do The Pandemic Shuffle” e “I Can’t Kiss”.
Quem também lançou música nova com título perfeito para o momento, embora tenha sido apenas uma coincidência, foram os Rolling Stones com sua “Living In A Ghost Town”, gravada parcialmente durante o isolamento. Bob Dylan também nos agraciou com um belo comeback em “Rough and Rowdy Ways”, após um hiato de oito anos. E rolou até Black Eyed Peas com álbum de reggaeton cheio de participações, com foco na turma colombiana: Shakira, J Balvin e Maluma.
Porém, entre tantas novidades e surpresas para lá de agradáveis, nossos destaques não-deixe-de-ouvir são:
The Strokes | The New Abnormal
Outro título que coincidiu com o momento. Se falamos tanto no tal do “novo normal”, o álbum dos Strokes nos oferece o novo anormal. As expectativas já estavam sendo criadas com singles lançados como aperitivo e, em abril, ainda no início da quarentena por aqui, a banda nos impressionou com um trabalho bem diferente dos anteriores. Uma ode aos anos 1980, recheada de referências, sintetizadores, letras intensas e falsetes impressionantes de Julian Casablancas.
Moses Sumney | Græ
Todo nosso amor a um dos álbuns que já merece entrar como melhores do ano. Græ é arrebatador, intenso e íntimo, um mix de arranjos experimentais com vocais que, por vezes, lembra Prince, por outras, Thom Yorke. Não há nada mais a falar além disso: dê esse presente a sua alma e ouvidos e escute Moses.
Fiona Apple | Fetch The Bolt Cutters
Após oito anos de seu último trabalho, Fiona tem uma volta retumbante balançando estruturas e chacoalhando nossas cabeças. O álbum, gravado em casa, também parece ter sido feito para o momento. Passeia pela qualidade dos arranjos e percussões inusitadas, participação dos cachorros e aquela pitada de sarcasmo que não poderia faltar. Sem dúvida, também está no nosso top 2020.
Nuvens de gafanhotos que destroem pastagens e plantações no Paraguai e na Argentina podem causar grandes prejuízos também ao Brasil
Desde a Antiguidade, gafanhotos devastam plantações. Eles eram a 8ª praga do Egito. Por aqui, os primeiros registros datam do século 19, quando o céu de Santa Maria (RS) escureceu por causa de uma densa nuvem de insetos.
Gafanhotos da espécie “Schistocerca cancellata” normalmente vivem solitários, mas por causa de alterações climáticas na temperatura e na umidade, podem mudar para um comportamento gregário e passam a se reproduzir freneticamente. Para piorar, ficam com um apetite insaciável e devoram o que aparecer pela frente. A explosão populacional acontece também porque a agricultura e a destruição de ecossistemas eliminam sapos e pequenos pássaros, que são os predadores naturais desses insetos.
Esse fenômeno agora vem sendo observado novamente no Paraguai e na Argentina. A praga está destruindo pastagens e plantações de trigo, soja, milho e sorgo. Se não for contida, pode invadir o Uruguai e o sul do Brasil.
Em 1 km de “nuvem”, pode haver 40 milhões de gafanhotos, capazes de consumir diariamente o mesmo que 2 mil vacas ou 35 mil pessoas. As autoridades argentinas, paraguaias, uruguaias e brasileiras já decretaram situação de emergência, mas o descontrole é tamanho que não adianta pulverizar toneladas de inseticidas de alta toxicidade.
A “sorte” é que as frentes frias estão contendo a formação de novas nuvens e o deslocamento das já existentes. Para o futuro, o importante é fazer um planejamento integrado com várias providências: arar as áreas onde os últimos enxames fizeram a postura de ovos para deixá-los expostos ao sol até ressecarem; inocular fungos nas populações de gafanhotos para gerar entre eles uma “pandemia” de doença letal; aplicar pesticidas naturais que não ameacem os humanos; e recuperar a fauna de aves e batráquios que podem ajudar no controle dessa praga. Não vai ser fácil, mas não há outra saída…
Roça News
Bumba meu boi
Desde 2014, o Brasil é o maior exportador de carne bovina do planeta, com 1,9 milhão de toneladas vendidas em 2019, contra 1,4 milhão dos Estados Unidos e 1,3 milhão da Austrália. Se as taxas de crescimento da pecuária desses países mantiverem o ritmo atual, em 2025 o Brasil será também o maior produtor mundial de carne, ultrapassando os EUA. Entre 2004 e 2019, a produção brasileira saltou de 8 para 10 milhões de toneladas, e a dos Estados Unidos passou de 11 para pouco mais de 12 milhões de toneladas.
Doce recorde
A safra 2020/2021 de cana-de-açúcar no Brasil deve ser 0,1% menor do que a do ano passado. Mas a produção de açúcar deve bater um recorde, com 39,3 milhões de toneladas, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Esse resultado foi impulsionado pela queda na oferta mundial com as adversidades climáticas que afetaram produtores da Ásia. Além disso, o consumo de etanol no Brasil caiu no 1º semestre devido à menor mobilidade da população em razão da pandemia. Com isso, mais cana virou açúcar e menos foi usada para gerar etanol.
Mozart na pocilga
No Rio Grande do Sul e no Paraná, suinocultores estão tocando música clássica na hora de alimentar os animais. Vários estudos atestam a eficácia dessa tática. Um deles foi conduzido pela Faculdade de Zootecnia da USP, que verificou que o “enriquecimento sensorial do ambiente” reduz o comportamento agressivo dos porcos e ajuda a obter altas taxas de engorda com baixo consumo de ração.
As rivais Azul e Latam compartilham voos para reduzir seus custos. Mas o que muda para os passageiros? É bom ficar atento, pois os preços costumam subir sempre que a concorrência diminui
Em junho, no momento mais agudo da crise que atingiu as companhias aéreas, a Azul e a Latam anunciaram uma parceria que, em outros tempos, seria absolutamente impensável. As duas empresas, que há anos disputam ferozmente os passageiros nas rotas que interligam as principais capitais do país, revelaram ter feito um acordo de codeshare para 64 rotas domésticas e o acúmulo de pontos nos dois programas de fidelidade.
Em condições normais, Latam e Azul jamais cogitariam a celebração de um acordo desse tipo, mas a paralisação causada pela pandemia do novo coronavírus acabou gerando uma situação absolutamente excepcional, que não tem nada de normal. Com esse compartilhamento, as duas empresas arranjaram uma maneira de eliminar sobreposições, reduzir custos operacionais e ampliar a taxa de ocupação dos voos.
Analistas do mercado enxergam o gesto como um “clinch”, aquele recurso do boxe que os lutadores utilizam ao abraçar seu oponente para neutralizá-lo e, ao mesmo tempo, para dar uma descansadinha marota para respirar e recuperar suas forças.
Mas há também quem enxergue nessa “trégua” o início de um processo de fusão entre as empresas. Desde que foi incorporada à Lan chilena, a brasileira Tam oscilou bons e maus momentos. Não seria surpresa no mercado se a Latam vendesse à Azul as suas operações no Brasil.
Mas, para se concretizar, esse negócio tem que ser aprovado no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), o que não seria fácil, pois a empresa resultante dessa união nasceria concentrando sozinha mais da metade dos mercados doméstico e internacional. Quem indubitavelmente sairia perdendo com isso seriam os passageiros, que teriam menos opções e, por conta da redução da concorrência, preços certamente mais altos.
É uma sinuca de bico: sozinhas, Azul e Latam Brasil correm o risco de ficarem fracas, mas juntas elas podem ficar fortes demais.
Radar
Ranking
Em julho, o mercado doméstico do setor aéreo já deu uma boa mostra de como vai funcionar no pós-pandemia: a Gol segue liderando o ranking, com 44,3% dos passageiros transportados. A Azul cresceu e ficou com a vice-liderança, sendo responsável por 32% da movimentação. Já a Latam, cada vez menor, abocanhou uma fatia de apenas 23,2% do bolo.
Comida de avião
Um jato Fokker 100 que há anos estava guardado em um hangar da Avianca Brasil acaba de ganhar uma segunda vida: ele terá seu interior reformado para abrigar o restaurante temático Pan Am Experience. Por fora, será pintado com as cores da companhia aérea norte-americana, falida em 1991. Lá dentro, garçons e garçonetes trabalharão vestindo elegantes uniformes iguais aos usados pelos comissários de bordo da empresa – um ícone dos tempos áureos da aviação comercial. A abertura do estabelecimento está prevista para o primeiro semestre de 2021, na capital federal.
Baixo austral
Com 99% dos voos domésticos e internacionais suspensos pelo menos até novembro, o setor aéreo na Argentina está mergulhado em uma séria crise, que já causou o encerramento das operações da Latam Argentina. A nova vítima é a Austral, subsidiária da estatal Aerolíneas Argentinas, que deve desaparecer entre o final deste ano e o início de 2021. Aos poucos, sua frota de aviões Embraer E190 será toda repintada com as cores e a logomarca da Aerolíneas.
Mariana Becker está de volta ao trabalho e ao ritmo das pistas de Fórmula 1. A repórter da TV Globo estava em Melbourne, na Austrália, cidade onde aconteceria a abertura da temporada do Mundial, em março, quando soube que a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) tinha cancelado o evento em decorrência da pandemia. Após um hiato de mais de três meses, a gaúcha voltou a cobrir os Grandes Prêmios da categoria. “É uma alegria e um alívio estar de volta, mas o receio está sempre à espreita já que não há público, não podemos nos encontrar em coletivas e seguimos protocolos rígidos”.
Repórter há 25 anos na mesma emissora, Mariana Becker é uma das pioneiras nas coberturas de automobilismo. Os obstáculos não a impediram de conseguir entrevistas exclusivas e informações técnicas relevantes desse universo, mesmo que as barreiras ainda existam. “O machismo persiste, é velado, então é mais difícil de combater. Acontece de uma repórter mulher ter o acesso à informação dificultado, entrevistas negadas, mas já percebi uma evolução, há outras colegas nos autódromos e uma maior conscientização”.
A rotina nunca é estática, já que sempre viaja para acompanhar os campeonatos. Mas quando a repórter está em casa, em Mônaco, onde vive com o marido, Jayme Brito, vai à feira comprar frutas, hortaliças e flores, senta-se em um café local para ler o jornal e aproveita a vizinhança rica, literal e culturalmente. “A França é na rua debaixo e a Itália é logo ali, isso é incrível! Adoro montar a cavalo e aproveito as possibilidades gastronômicas daqui, amo os pães, as massas e as manteigas”.
Ainda é difícil falar em sonhos em meio à realidade pandêmica, mas Mariana arrisca desejos ainda sem grandes pretensões. “Tenho verdadeira paixão por animais, gostaria de fazer um documentário junto a uma ONG, mas ainda não é nada estruturado”. A passeadora de cachorros de amigos nas horas vagas planeja mesmo seguir fazendo o que sabe muito bem. “É cansativo, sacrificamos outras coisas nessa profissão, mas é o que amo, vou continuar trabalhando”.
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