Chef Rodolfo de Santis leva seus restaurantes paulistanos Nino e Da Marino para o Rio de Janeiro

Chef Rodolfo de Santis leva seus restaurantes paulistanos Nino e Da Marino para o Rio de Janeiro

No Brasil há mais de uma década, o pai do Ítalo-paulistano Nino, Rodolfo de Santis, inventou sua própria cantina. E não parou nisso, ele agora desembarca suas casas em Ipanema e em outros cantos do país

Dez marcas de gastronomia, vinte anos de cozinha, um restaurante novíssimo e um a caminho na Cidade Maravilhosa, mais de 300 colaboradores, mais de uma tonelada de massa fresca, de 50 mil clientes e de alguns milhões de reais de faturamento por mês. Todo mês. Há dezenas de meses.

“Sou igual ao corpo humano, cinquenta por cento é meu coração, é a cozinha. Cinquenta por cento é minha cabeça, é o escritório, é quem manda. Sou 99% business e 1% chef”. Se as estáticas de Rodolfo de Santis parecem confusas, a aritmética não deixa dúvidas: o italiano que mudou a cena da cozinha de seu país natal deste lado do Atlântico segue avançando.

“Tem gente que acha que porque a (empresa de investimentos) XP entrou na nossa sociedade, ganhei dinheiro e não vou mais trabalhar. Eu ganhei dinheiro, mas estou trabalhando dez vezes mais e de uma forma diferente para melhorar os negócios”, desabafa. Ao que tudo indica, os sócios da investidora estão igualmente empenhados desde o aporte de R$ 100 milhões no grupo Alife-Nino – rede com 31 bares e restaurantes, todos esses sob a batuta de Rodolfo, a grande maioria em São Paulo. “Não é abrir coisa no país todo só por abrir, é investir em identidade, profissionalismo, marcas com essência e acelerar uma expansão com estrutura.”

 

Chef Rodolfo de Santis - Foto Marcus Steinmeyer

Chef Rodolfo de Santis – Foto Marcus Steinmeyer

 

Palavra de gestor autodidata. Na prática, a filosofia ganhou fôlego com a abertura do Aquiles, taberna de inspiração grega, em dezembro passado, e do Vito Mozzarella Bar, em março deste ano, ambos no Itaim, em São Paulo. Agora se reforça com o Nino, aberto recentemente no Rio de Janeiro e com outro daqui a um mês, em Goiânia.

Fosse pouco, antes do final do ano, nasce a versão carioca do Da Marino, em Ipanema, o Ninetto ganha seu primeiro filhote e, ao que tudo indica, no comecinho de 2023 o Giulietta (uma cozinha italiana de brasa e fogo, com foco em carnes) pega a Ponte Aérea e segue o mesmo percurso.

“Quando comecei, tinha Gero em Brasília, no Rio e em São Paulo, e vários ‘tipo’ Gero. Hoje, depois que a gente abriu o Nino, tem uma cópia, um ‘cucina’ em cada cidade do Brasil. Eu chego em um lugar e falam que fui a inspiração. Eu gosto disso. Esse é meu caminho agora.”

Nino gastronomia - Foto reprodução Instagram

Nino gastronomia – Foto reprodução Instagram

 

É mais Brasil

Sem se autoexplicar, o emigrante da Apúlia sabe que pode reivindicar a fermentação de um miolo inédito para a gastronomia ítalo-mediterrânea por aqui. Uma camada apetitosa e rejuvenescida entre os estabelecimentos italianos caríssimos e as cantinas apoiadas no legado da Mooca, do Bixiga e do Brás.

Afinal, desde sua primeira inauguração, em 2015, Rodolfo se tornou o principal “culpado” pelo alastramento de carbonaras, massas com polvo e com burrata, assim como de parmegianas mais sexys que as convencionais, caso da sua já clássica cotoletta de porco à milanesa com molho pomodoro, basílico e mozzarella.

O trajeto sem voltas tem um bocado de chão adiante. Com os novos Ninos, De Santis quer manter as boas experiências evidenciando particularidades: “Em Goiânia, pegamos o ponto de um restaurante histórico, com um jardim na frente. Vai ser uma das casas mais bonitas do grupo e vai ter de volta o primeiro menu do Nino. No Rio, é uma casa tombada na Barão da Torre, em Ipanema, e minha mãe está orgulhosa, porque Rio de Janeiro é mais Brasil.”

 

Apesar da divisão desequilibrada de tempo entre planilhas e panelas, o menino da comuna de Galípoli sempre dá voz ao coração. “Minha mãe é bem simples, ela e os meus dois irmãos mais novos, um de 32 e um de 28. Meu pai faleceu dois anos atrás. Ficamos muito tempo sem falar com ele. No fim, tive que me aproximar até porque ele precisava e acabou todo mundo ficando mais unido.”

Rapidamente a cabeça assume a toada. Belo, bem-sucedido e determinado, o chef empreendedor não é nem besta de dar margem para ser acusado por “white people problems”: “Antes do Nino, Ninetto era a marca que a gente ia replicar. Não ia ser um Spoleto, estaria mais para empreendimentos como os de Danny Meyer (CEO novaiorquino por trás de grifes como Gramercy Tavern e Shake Shack), mas foi o ponto onde comecei a criar. É uma casa que significa muito pela história que carrega…”

 

Rodolfo de Santis - Foto Marcus Steinmeyer

Rodolfo de Santis – Foto Marcus Steinmeyer

 

Expansão passional

Para quem não sabe, o Ninetto ocupa o ponto discreto da Tappo Trattoria, na super paulistana Rua da Consolação, nos Jardins. Cantina de charme do chef Benny Novak por quase 15 anos que, pelos idos de 2013, teve como chef de cozinha De Santis. Embora já tivesse comandado os extintos Biondi e Domenico, foi ali que começou a chamar a atenção. Reza a lenda, aliás, que de tão chamativo foi convidado a se retirar…

“No meio da pandemia, achei uma maneira de comprar o lugar sem me apresentar. Aquela coisa que a gente se permite fazer menos pelo lado de negócio, mais pelo lado pessoal, do ego”, confessa. Com tamanha carga, não combinava transformá-lo em uma marca barata para pipocar Brasil adentro.

 

Da Marino no Rio – Foto Mel. A Arquitetura

“O Ninetto é meu refúgio. Não vou mentir e dizer que fico de uniforme no fogão, mas me vejo nele, me faz lembrar de quem sou, de quando ganhava R$ 4 mil e de onde cheguei”. Por mais empresário e virginiano que se revele, Rodolfo é de fato passional. Sem mimimi, é ambicioso também. Nessas, aos 36 anos, acredita que sua “missão está quase acabando”, mas que ainda tem muito mais a mostrar.

Foi assim que não hesitou em relativizar sua noção: a partir deste mês, “seu refúgio” ganha uma versão no Shopping Morumbi – sua empreitada inaugural na zona sul de São Paulo e, quem sabe, um test drive para exportar a trattoria a outros cantos. Junto ao Giulietta, que já tem malas prontas para desembarcar em Goiânia.

 

Paleta de Cordeiro com couscous marroquino - Aquiles - Foto divulgação

Paleta de Cordeiro com couscous marroquino – Aquiles – Foto divulgação

 

Raiz e negócios sólidos

Apesar da fase mais empreiteira do que cozinheira, cozinha para o chef é assunto sagrado. A dos programas que via na TV quando era criança; a dos restaurantes em que trabalhou sem jamais ter provado um prato; a da mãe e a da avó; a que hoje se dá ao luxo de provar mundo afora e, com todo o direito, a que combina seu talento e dedicação desde os 14 anos de idade, mesmo que sem acumular estrelas, nem premiações internacionais.

 

Da Marino - ambiente - Foto divulgação

Da Marino – ambiente – Foto Mel. A Arquitetura

É ela também que lhe garante superar os próprios complexos: “Me dediquei 99% para construir negócios sólidos e estruturados, mas tinha minha insegurança quando o fundo de investimento entrou. Agora sinto que é uma fusão incrível, são sócios que me levaram a fazer uma faculdade na vida que não existe, a faculdade que nunca pude fazer e eles ainda me agradecem por isso.”

Há momentos, porém, em que o tal do 1% vem à tona. Com força: “Esses dias achei uma foto antiga no closet. Eu na Itália, ano 2000, com chapéu de papel e um dos primeiros pratos que fiz. Lembro do cagaço que me dava naquela época, de não ter dinheiro para as coisas, de não poder comprar o que quisesse no supermercado. Minha vida era difícil, minha família, todo o resto. Olho para aquela foto e falo: agora não chora, pedala!”. Pois é, sem tirar os olhos do retrovisor, Rodolfo pedala. Sem dó.

Fora da Globo, Walter Casagrande explora diferentes projetos e, neste mês, cobre mais uma Copa do Mundo

Fora da Globo, Walter Casagrande explora diferentes projetos e, neste mês, cobre mais uma Copa do Mundo

Ex-jogador e agora comentarista e colunista esportivo, Casagrande vive momento intenso de liberdade, após encerrar contrato com a Globo. Sempre atento aos gramados e aos entornos, casão acompanha mais uma copa do mundo neste mês, desta vez pelo Uol e diretamente do Catar

O papo mal havia iniciado e Walter Casagrande Jr. estava esfuziante. O ex-atacante e ídolo do Corinthians – clube que experimentou uma revolução, nos anos 1980, quando ele e os parceiros de time, Sócrates e Wladimir, criaram a Democracia Corintiana, movimento político-esportivo que primava pela liberdade dos atletas – havia retornado, há poucos dias, de uma visita à aldeia indígena Katurãma. Naquele chão de terra localizado no município mineiro de São Joaquim de Bicas, ele havia divulgado o ato Sem Demarcação Não Tem Jogo para celebrar a doação feita pela Associação Nipo-Brasileira de uma área que pertencia aos pataxós.

Estar ali só foi possível porque a liberdade de ir e vir e falar o que pensa bateu, novamente, em sua porta a partir do encerramento do contrato de comentarista que ele mantinha com a Rede Globo havia 25 anos. “Se eu estivesse na emissora, não me dariam a chance de ir à aldeia, porque, talvez, eu seria escalado para comentar em algum programa”, diz Casão, como é carinhosamente chamado esse paulistano de 59 anos e 1,91 metro de altura. “Você teria de pedir autorização à Globo para me entrevistar e certamente eu não seria liberado”. Apoiar e criticar publicamente políticos, dividir seus pensamentos com qualquer veículo de comunicação e encarar projetos diversos, agora, está na ordem do dia.

 

Walter Casagrande - Foto Bob Wolfenson

Walter Casagrande – Foto Bob Wolfenson

 

Autor dos livros “Travessia – Casagrande e seus Demônios”, por meio do qual relata, entre outros assuntos, o vício em cocaína e heroína, e “Sócrates e Casagrande – Uma História de Amor”, sobre a relação da dupla de jogadores que nutria amor e muito companheirismo entre si, Casão divide na entrevista a seguir o seu palpite sobre o desempenho da Seleção Brasileira no Mundial, o prazer de ter sido criado majoritariamente por mulheres e a sensibilidade que todo homem deve ter, cultuar e pôr para jogo.

Como é a sua rotina depois de encerrar o contrato com a TV Globo?
Mudou completamente. E para melhor. A minha criatividade estava muito limitada lá. A pessoa tem de colocar o seu limite vivendo na liberdade, e o meu, na Globo, que sempre foi alto, estava diminuindo cada vez mais. Isso não fazia bem para mim e nem agradava a emissora. Resolvi deixar a Globo e, desde então, escolho o que quero fazer. As portas se abriram totalmente para as minhas ideias. Por exemplo, acabei de chegar de uma visita à aldeia indígena Katurãma (em São Joaquim de Bicas, em Minas Gerais), onde divulguei o ato Sem Demarcação Não Tem Jogo. Havia várias etnias por ali, danças de amor, de paz, cantos. Foi uma das coisas mais lindas que vi na vida. Se eu estivesse na Globo, eu poderia ter sugerido, organizado tudo, mas não me dariam a chance de ir até lá, porque, talvez, eu estaria escalado para comentar em algum programa.

O meu papel na Rede Globo teve começo, meio e fim. Apesar de eu achar que o fim devesse ser selado depois da Copa do Mundo do Catar, já que cobri todas as outras pela emissora. Desde 1999, eu fui o principal comentarista da Seleção Brasileira. Fiz todos os jogos do Brasil até a Copa América de 2019. E aí deixei de ser escalado para os jogos da Seleção. E agora, quando completo 25 anos de TV Globo, tive de sair da empresa. Seria especial trabalhar nessa Copa pela Globo, porque o Galvão Bueno fará a sua última narração em Mundial. Eu trabalhei com ele durante todo o tempo e não irei participar dessa despedida.

Casagrande com Falcão, Galvão Bueno e Arnaldo Cezar Coelho na cabine de transmissão da Globo – FOTO ARQUIVO PESSOAL

 

E como é o seu trabalho hoje?
Eu escrevo para o UOL e para o jornal Folha de S. Paulo. Tenho participado de podcasts, como o do Mano Brown, entre outros, de programas de TV diferentes como o “Melhor da Tarde”, da Catia Fonseca, da Band, mais popular, para a dona de casa. Dei entrevista ao programa “À Prioli”, apresentado pela Gabriel Prioli, na CNN, e participei do “Roda Viva”, da TV Cultura. E todas essas entrevistas foram longas. É visível a transição de carreira que venho experimentando. Antes, muito limitado à área de esporte e ao futebol, na Globo, eu não tinha como fazer escolhas. Muitas pessoas que me viam na emissora não sabiam direito como eu era. Não tinha espaço para desenvolver raciocínios sobre assuntos para além do esporte. Hoje, já sabem o que penso sobre temas diversos. Conhecem mais a minha infância, adolescência, os problemas que enfrentei, os traumas emocionais e o porquê de eu pensar dessa maneira.

 

Casagrande jogando no time de Torino, na Itália - Foto arquivo pessoal

Casagrande jogando no time de Torino, na Itália – Foto arquivo pessoal

 

Esporte e política sempre caminharam lado a lado durante a sua trajetória. Por que os atuais atletas evitam se manifestar politicamente?
Esporte e política caminham juntos desde o começo da história. Os Jogos Olímpicos de Atenas surgiram democraticamente a partir de uma variedade de esportes e pessoas. A Copa do Mundo de futebol não foge disso também. Nada acontece no esporte sem política envolvida – para o bem ou para o mal.

Só que 80% dos jogadores da nossa seleção nem sequer votam. Esses caras se transformaram em esportistas egoístas e alienados. Preocupam-se somente com aquilo que possuem e não se cansam de ostentar. Para eles, o Brasil não precisa mudar. Café, almoço e jantar são oferecidos a eles, que viajam em Primeira Classe – e muitos têm jatinho particular – e ficam nos melhores hotéis do mundo. Têm divertimento, escolas para os filhos. E pensam: “Por que preciso votar , se para mim o mundo não precisa mudar?”.

Acredita que o Brasil retorne da Copa do Mundo como campeão?
Eu não vejo o Brasil campeão. Dependendo dos adversários que a seleção tenha de enfrentar, após a primeira fase, acredito que chegue à semifinal. E para por aí. Há outras seleções com maiores capacidades para vencer o torneio, como a França, que está mais estruturada, e a Alemanha, na qual enxergo mais foco. Dificilmente, a seleção alemã vai mal em duas copas seguidas.

E tem também a Bélgica como uma surpresa agradável, porque conta com uma geração muito forte e talentosa – e que terá sua última chance. O time do Brasil é bom, mas diferentemente da Bélgica, por exemplo, ainda chega com dúvidas. O ufanismo exagerado, o ‘já ganhou’ e o excesso de confiança de uma grande parte da imprensa brasileira me preocupam. Não será uma tarefa fácil para o Brasil logo na primeira fase.

O Tite ainda tem algumas dúvidas sobre a convocação e como alguns atletas devem jogar, como por exemplo, se o Neymar deve atuar como um camisa 10, no meio de campo, ou como atacante.

Seleção Brasileira nas eliminatórias em 1985. Em pé, da esquerda à direita: Oscar, Leandro, Casagrande, Edinho, Carlos e Junior. Agachados, da esquerda à direita: Renato Gaúcho, Sócrates, Toninho Cerezo, Zico e Eder - Foto arquivo pessoal

Seleção Brasileira nas eliminatórias em 1985. Em pé, da esquerda à direita: Oscar, Leandro, Casagrande, Edinho, Carlos e Junior. Agachados, da esquerda à direita: Renato Gaúcho, Sócrates, Toninho Cerezo, Zico e Eder – Foto arquivo pessoal

 

Qual é a sua expectativa em relação ao desempenho do Neymar?
O Neymar foi bem na primeira Copa dele, em 2014. Na segunda, foi patético. E agora tem a terceira chance. Aparentemente, está focado, em forma e jogando bem. Mas tenho um pé atrás em relação a ele. Tenho dúvida se, já já, ele aparece em uma festa, ostentando algo. A grande dificuldade do Neymar é o foco. Em 2018, foi assim. Na véspera da estreia da Seleção contra a Suíça, naquela Copa, ele pediu para que o cabeleireiro pintasse o cabelo dele. Quem quer pintar o cabelo na véspera da estreia não está focado no jogo. Se vai estrear no dia seguinte, tem de ficar pensando como vai fazer gol, o que fará dentro do campo. Pedir a presença do cabeleireiro significa pensar no cabelo, na estética. Não dá para fazer uma coisa pensando em outra totalmente oposta.

Você tem três filhos e dois netos. Como vive a experiência com eles?
Eu adoro criança. Fui pai cedo, aos 23 anos. Sempre me diverti como pai. Trazia presentes a eles, quando retornava de Copa do Mundo ou de Olimpíada. Eu dei aos meus filhos tudo o que os meus pais não tiveram condições de me dar. Tiveram o prazer de ter camisas de várias seleções que eu trazia de viagens. Já com os meus netos, Henrique, 8 anos, e Davi, 5, o contato é mais raro, hoje. Porque, ao sair da Globo, venho acumulando compromissos diariamente e em horários diferentes. No ano que vem talvez eu consiga ter uma relação mais próxima deles todos.

Casagrande e seus filhos Ugo, Victor Hugo e Symon - Foto arquivo pessoal

Casagrande e seus filhos Ugo, Victor Hugo e Symon – Foto arquivo pessoal

 

Como foi a relação com o seu pai?
Ele me mostrou tudo, cultural e esportivamente falando. Eu virei corintiano por causa da família toda, mas o meu pai só falava em Rivellino e Corinthians o tempo todo. Aí, na Copa de 1970, eu vi o Rivellino jogar e pronto! Virei corintiano dos bons. Para além do esporte, meu pai me fazia assistir a filmes mudos ao lado dele. Clássicos da era de ouro de Hollywood, musicais, filmes de terror dos anos 1930, com Bela Lugosi… Graças a minha memória monstruosa, eu lembro de tudo. Como, por exemplo, do Al Jolson, o cantor lituano que se consagrou no cinema norte-americano, e da Mary Pickford, sucesso no cinema mudo e cofundadora da United Artists. Foi o meu pai quem me apresentou isso tudo. Com 5, 6 anos, eu já havia descoberto canções como “Domingo no Parque” (de Gilberto Gil), “Fio Maravilha” (de Jorge Ben Jor) e os festivais de música também por influência do meu pai. Ele era motorista de caminhão, e durante um bom tempo trabalhou em gravadora e editora. Aí trazia para casa um monte de discos de presente para mim.

 

Casagrande com seus pais, Walter e Zilda -Foto arquivo pessoal

Casagrande com seus pais, Walter e Zilda -Foto arquivo pessoal

 

Algum trauma nessa fase da vida?
O meu pai era maravilhoso, mas alcoólatra. Havia problemas dentro de casa. Por muito tempo, já que minhas duas irmãs se casaram e foram morar em outro lugar, eu ficava sozinho com eles em meio à confusão. Dócil, o meu pai, quando bebia, ficava agressivo, chato, provocador. Mas havia um outro fato, que hoje encaro como positivo: ser criado por três mulheres. Nas festas de família, então, eu participava das brincadeiras das minhas primas e tias, como passa anel, e me divertia muito junto com elas. E também assistia programa feminista com a minha mãe, que sempre me recomendava: “Waltinho, nunca faça mal para uma menina, não bata nela e a respeite”.

Recentemente, você chorou ao ser entrevistado na CNN. É raro isso acontecer?
Quando eu usava droga com intensidade, eu não sentia as emoções, porque ela congela os sentimentos. Ao ser internado em uma clínica, a grande tarefa foi descongelar os sentimentos. Foi difícil, porque eu me percebia emocionado e não sabia o que era aquilo. Com o tempo, porém, aprendi, durante o meu tratamento, que eu não deveria segurar as emoções. Segurá-las gera uma revolta contra nós mesmos. O que nos deixa leve, livre, sem remorsos é amar alguém e dizer isso a pessoa. E, mais ainda, sentir saudade e externar isso. Somente assim eu pude dizer ao Magrão (Sócrates, ex-jogador do Corinthians e da Seleção Brasileira), antes de ele morrer, que eu o amava, que eu sentia amor por ele.

E qual é o legado da Democracia Corintiana, daquele movimento político-esportivo que lutou, entre outras coisas, pelo fim da ditadura?
A Democracia Corintiana não deixou legado. Funcionou naquele momento e somente no Corinthians. Aquilo não se espalhou por outros clubes. Nenhum outro jogador comprou a ideia e tentou replicar em seu clube. Nenhum outro dirigente se apropriou do que a gente vinha fazendo e utilizou na sua gestão. As federações querem mais que os jogadores fiquem quietos. Os atletas que jogam no exterior, por exemplo, não se manifestam sobre política. Não correm risco algum. Mas, sim, os que trabalham aqui, jogam no interior do Brasil, na segunda, terceira e quarta divisões, ganham mil, dois mil reais, e ainda têm de pagar material escolar, alimentar e dar moradia aos filhos.

Eu não fico indignado com isso, porque eu já estou indignado com essa situação há décadas. O brasileiro tem mania de normalizar as coisas absurdas que só acontecem por aqui, como por exemplo, as chacinas. Eu nunca achei e não acho normal muita coisa que acontece no Brasil.

 

 

Foto Bob Wolfenson

Foto Bob Wolfenson

Programação de competições esportivas, festas, espetáculos culturais e feiras de negócios ferve neste mês em São Paulo

Programação de competições esportivas, festas, espetáculos culturais e feiras de negócios ferve neste mês em São Paulo

Fórmula 1, Fashion Week, festivais de música, festas para acompanhar a Copa do Mundo e até congresso de gastronomia fazem a cidade de São Paulo ferver em novembro

São Paulo é uma cidade reconhecida internacionalmente por sua força econômica, por seus sofisticados hotéis e restaurantes e por sua agitada vida cultural. E não são só os paulistanos que usufruem dessa potência toda: anualmente, a capital paulista recebe 30 milhões de visitantes sendo 2,3 milhões de estrangeiros. Muitos vêm apenas passear e se divertir, mas mais de 40% vêm a negócios. Afinal, a cidade abriga cerca de 330 congressos, convenções e feiras a cada ano.

Historicamente, os meses de maior movimento são abril e outubro, mas em 2022 novembro chegou com tudo: a cidade fica movimentada por causa do Grande Prêmio de Fórmula 1 no autódromo de Interlagos, por mais uma temporada de desfiles da São Paulo Fashion Week, pelos shows do festival Primavera Sound, por mais uma edição da Campus Party, pela festa de sabores promovida pelo Mesa SP (o maior congresso de Gastronomia da América Latina) e pelas festanças armadas no Ibirapuera e no Campo de Marte para o pessoal se reunir enquanto curte os jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo, no Catar.

MaxVerstappen: Peter Fox | RedBull Content Pool / Vini Jr. e Neymar: Lucas Figueiredo | CBF / Björk: Santiago Felipe | Divulgação / José Avillez: Camilla Maia | TV Globo Divulgação / SPFW: Lino Villaventura | Divulgação

MaxVerstappen: Peter Fox | RedBull Content Pool / Vini Jr. e Neymar: Lucas Figueiredo | CBF / Björk: Santiago Felipe | Divulgação / José Avillez: Camilla Maia | TV Globo Divulgação / SPFW: Lino Villaventura | Divulgação

 

Com tanta coisa acontecendo nessa área do entretenimento, o mês terá poucos eventos corporativos. As exceções são a Fenatran (feira de logística e transportes que acontece nos dias 7 a 11 no SP Expo) e o HSM+ (megaencontro com palestras sobre gestão e inovação, no Transamérica Expo Center, nos dias 22 e 23 de novembro). E no dia 25 teremos ainda a Black Friday, que movimenta não só o segmento de vendas online, mas também os shoppings e centros de comércio popular, como o Brás e a região da Rua 25 de Março.

Com três feriados nos dias 2 (Finados), 15 (Proclamação da República) e 20 (Consciência Negra) as famílias têm várias atrações para curtir, como a estreia do musical “Anastasia” (importado da Broadway), o final da temporada do Cirque du Soleil e, se tudo der certo, a inauguração da roda gigante São Paulo Big Wheel, no Parque Cândido Portinari.

Para que você possa se organizar, nas páginas a seguir apresentamos as informações básicas sobre os principais eventos deste mês na cidade. Programe-se e aproveite!

 

GRANDE PRÊMIO DE F-1

Cinco décadas de corridas em Interlagos

O campeonato já está decidido e o holandês Max Verstappen, da equipe Red Bull, já é o campeão da Fórmula 1 em 2022, mas o Grande Prêmio em Interlagos é sempre uma caixinha de surpresas cheia de emoções. Como é a única prova da categoria na América do Sul, a corrida atrai milhares de argentinos, chilenos, peruanos e colombianos fanáticos por velocidade para ver de perto as Mercedes, Ferraris e McLarens. Estima-se que, a cada ano, 20 mil estrangeiros visitem a cidade só por causa da F-1. Este ano, o GP está completando sua 50ª edição brasileira. A vinda da Fórmula 1 ao Brasil foi responsável por alavancar a carreira de diversos pilotos e, hoje, o país é o terceiro em número de vitórias, atrás apenas da Grã-Bretanha e da Alemanha. Os treinos acontecem nos dias 11 e 12. A corrida para valer é no domingo, dia 13 de novembro.

Autódromo José Carlos Pace
Avenida Senador Teotônio Vilela, 261, Interlagos.
Ingressos a partir de R$ 1.600, à venda em www.eventim.com.br

Foto Mark Thompson | Redbull Content Pool

Foto Mark Thompson | Redbull Content Pool

 

GP WEEK

Pilots e Killlers pilotam festa paralela da F-1

O já movimentado final de semana da passagem do circuito da Fórmula 1 por São Paulo a partir deste ano ganha um reforço para ficar ainda mais animado: a primeira edição do GP Week, festival de música que acontece no sábado, dia 12, na arena Allianz Parque. Na programação, shows das bandas The Killers, Twenty One Pilots, Hot Chip, The Band Camino e Fresno. Quarteto originário de Las Vegas, o The Killers (foto) despeja no palco todos seus sucessos, como “Somebody Told Me” e “Mr. Brightside”; já o Twenty One Pilots, duo de Ohio que tem bilhões de streams, se apresenta pela terceira vez no Brasil, onde já emplacou hits como “Level of Concern” e “Chlorine”.

Arena Allianz Parque
Avenida Francisco Matarazzo, 1.705, Pompeia.
Ingressos de R$ 340 a R$ 1.990, à venda em www.gpweek.com.br

GP Week The Killers | Fotos Divulgação

GP Week The Killers | Fotos Divulgação

 

 

CAMPUS PARTY

Rede social em modo presencial

O megaevento de tecnologia e inovação Campus Party Brasil realiza sua edição 2022 entre os dias 11 e 15 de novembro no Palácio de Exposições do Anhembi, com a participação de palestrantes internacionais bem bacanas. Uma das presenças mais aguardadas é de Orkut Buyukkokten (foto), que recentemente revelou sua intenção de ativar uma nova versão de sua rede social. Jordan Soles é outra estrela internacional da Campus Party Brasil. Formado em inteligência artificial e ciências cognitivas no Canadá, ele é um dos responsáveis pelo desenvolvimento dos efeitos visuais das séries de TV “Game of Thrones”, “VandaVision” e “Stranger Things”.

Pavilhão de Exposições do Anhembi
Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana. Ingressos a partir de R$ 450,
à venda em https://brasil.campus-party.org

Campus Party Orkut Buyukkoten | Fotos Divulgação

Campus Party Orkut Buyukkoten | Fotos Divulgação

 

 

MESA SP

Memorial da cozinha afetiva

O megaevento gastronômico Mesa São Paulo acontece entre os dias 3 e 5 no Memorial da América Latina. Mais de 60 profissionais compartilham suas técnicas de cozinha nas aulas do Mesa ao Vivo, enquanto chefs nacionais e internacionais (como o lusitano José Avillez) sobem ao palco do Mesa Tendências, maior congresso de gastronomia da América Latina o tema deste ano é “Cozinha do Abraço”. O evento conta ainda com o Brasa na Mesa, onde os melhores assadores ensinam tudo sobre churrasco, e os Jantares Magnos, em que chefs do Brasil e de fora criam menus exclusivos em conjunto. E tem também o Festival Farofa do Brasil feira de produtores artesanais, com barracas vendendo pratos e comidinhas a preços populares. Para mais informações e inscrições, acesse www.mesasp.com.br.

Memorial da América Latina
Avenida Mário de Andrade, 664, Barra Funda.

Semana Mesa - São Paulo - Daniel Prates | Foto Divulgação

Semana Mesa – São Paulo – Daniel Prates | Foto Divulgação

 

 

COPA DO MUNDO

O Catar é aqui!

Quem não foi ao Catar pode sentir aqui mesmo em São Paulo toda a vibração da Copa do Mundo na Arena Brasileira, armada no Parque Ibirapuera entre os dias 24 de novembro e 18 dezembro para que a galera possa assistir aos jogos e curtir grandes shows musicais além, é claro, de tomar aquela cervejinha gelada e petiscar comidinhas espertas! A programação inclui apresentações de artistas como Anitta (foto), Alok, Seu Jorge, Marisa Monte, Gilsons, Luísa Sonza, Alexandre Pires, Jão, Marcelo D2, Racionais, Wesley Safadão e Thiaguinho. A Arena, com 33 mil m2, tem telões gigantes que transmitem ao vivo os jogos do Brasil e das principais seleções do mundo.

No hangar do Campo de Marte, as festas Olé juntam samba, pagode e futebol em um mesmo espaço. A programação tem, nos jogos do Brasil e na grande final, shows com Belo, Péricles e outros nomes de peso do segmento.

Arena Brasileira
Avenida Pedro Álvares Cabral, s/ nº, Ibirapuera.
Ingressos a partir de R$ 250, à venda em www.ingresse.com.br

Campo de Marte
Avenida Olavo Fontoura, 484, Santana.
Ingressos a partir de R$ 70 em www.ingresse.com.br

Arena Brasil em São Paulo recebe show de Anitta | Fotos Divulgação

Arena Brasil em São Paulo recebe show de Anitta Fotos Divulgação

 

 

BROADWAY BRASILEIRA

Musical narra a história de aristocrata russa

Assim como os musicais da Broadway levam a cada ano milhões de turistas a Nova York, a programação de espetáculos que misturam teatro e música também atrai milhares de visitantes que vem a São Paulo em excursão. A novidade desse final de ano para os fãs de musicais é “Anastasia”, montagem paulistana do espetáculo que faz sucesso na Broadway desde 2017 e agora estreia no Teatro Renault no dia 10 de novembro. Do crepúsculo do Império Russo até a euforia de Paris nos anos 1920, “Anastasia” é um musical inspirado na lenda da grã-duquesa Anastásia Nikolaevna da Rússia e na sua suposta sobrevivência à execução de sua família, durante a Revolução Russa. Anastasia é representada na história como a órfã Anya que, sofrendo de amnésia e buscando lampejos de algum traço de sua família, acaba conhecendo dois trapaceiros (Dmitry e Vlad) que esperam tirar proveito da situação. Nos papéis principais, Giovanna Rangel vive a protagonista Anastasia, Tiago Abravanel interpreta Vlad e Rodrigo Garcia dá vida a Dmitry.

Teatro Renault
Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 411, Bela Vista.
Ingressos de R$ 45 a R$ 350, à venda em www.ticketsforfun.com.br

Anastasia Musical em São Paulo | Fotos Divulgação

Anastasia Musical | Fotos Divulgação

 

 

SÃO PAULO FASHION WEEK

A moda agora é vender ingresso

Acontece entre os dias 16 e 20 deste mês a 54ª edição da São Paulo Fashion Week, que tem 50 desfiles presenciais um número recorde e fashion films digitais. As marcas participantes expõem suas criações em dois locais. Um deles é o novo espaço criado no Shopping Iguatemi, que reúne uma sala de desfile e toda a transmissão online do evento, com uma área de estúdios dedicada a produção de conteúdos. O outro hub é no Komplexo Tempo, que agora tem duas salas de desfile, exposições, lounges e uma ampla sala de imprensa. Outra grande novidade desta edição da temporada de moda paulistana é que, pela primeira vez, os desfiles não são mais exclusivos para convidados. Ingressos estão à venda para tudo que acontece no Komplexo Tempo. Quem quiser ver de perto os modelos nas passarelas tem de desembolsar, no mínimo, R$ 165.

Komplexo Tempo
Avenida Henry Ford, 511, Mooca.
Ingressos à venda pela plataforma www.sympla.com.br

SPFW Lino Villaventura2 | Fotos Divulgação

SPFW Lino Villaventura2 | Fotos Divulgação

 

 

PRIMAVERA SOUND

Samba dá lugar ao Rock no Anhembi

Depois de agitar a Catalunha, Portugal e até mesmo a Califórnia, o mais importante e influente festival de música da Europa tem a sua primeira edição no Brasil, nos dias 5 e 6 de novembro, no Distrito Anhembi. As 64 atrações se apresentam em cinco palcos armados ao longo do Sambódromo. Os dois palcos principais, Palco Beck’s e Palco Primavera, recebem as apresentações dos headliners do festival: Arctic Monkeys, Björk, Travis Scott, Lorde, Interpol e Father John Misty, entre outros. O quarteto britânico Arctic Monkeys apresenta clássicos e as faixas de “The Car”, álbum lançado agora em outubro, com dez canções compostas pelo vocalista Alex Turner. A islandesa Björk traz a São Paulo o show da turnê “Orkestral”, cujo repertório reúne canções das diferentes fases de sua carreira. Entre os artistas nacionais que participam desta grande festa musical, os destaques são Hermeto Pascoal, Liniker, L7nnon, Maglore e Jovem Dionísio. No domingo, dia 6, no Auditório Barcelona, vale a pena conferir a apresentação de Señor Coconut and his Orchestra banda multinacional (tem integrantes alemães, chilenos, noruegueses, lituanos…) que interpreta hilárias versões caribenhas de músicas do Kraftwerk, do Pink Floyd e de Michael Jackson.

Distrito Anhembi: Avenida Olavo Fontoura, 1.209, Santana. Ingressos de R$ 600 a R$ 2.600, à venda em www.eventim.com.br

Show de Arctic Monkeys acontece em São Paulo | Foto Divulgação

Arctic Monkeys | Foto Divulgação

 

Revista Online: Edição 154 –  VCP

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