Após nossa deslumbrante visita à Serra Catarinense, apresentada na coluna da edição passada, a viagem continua pela BR 116 em direção à Serra Gaúcha
Vindo de Lages, em Santa Catarina, pela Regis Bittencourt, já às margens da cidade de Vacaria, o cartão de boas-vindas gaúcho não poderia ser mais bonito e acolhedor. O visual do rio Pelotas – que se avista atravessando a ponte da divisa de estado ao pé de uma serra que rasga uma floresta de araucárias centenárias – é lindo. Estamos adentrando um estado onde a influência das colônias alemã e italiana desenharam não apenas os costumes, a arquitetura e a culinária, mas também a indústria.
Logo antes de chegar a Vacaria e à beira da rodovia, encontra-se a primeira parada obrigatória: a Vinícola Campestre. Ali são produzidos os rótulos da Zanotto, que são premiados na Europa, e o lugar apresenta ainda um restaurante no mezanino envidraçado que oferece uma vista para as parreiras. Além dos vinhos e espumantes para venda e degustação, ficam expostos os sucos de uva, geleias, queijos da colônia e outros produtos regionais.
Cuidado para não se exceder e carregar demais o carro, porque a viagem é longa e há muito mais pela frente. Ainda em Vacaria, vale a pena parar na Dalaio Alimentos para levar as excelentes maçãs e experimentar os diversos tipos de queijos coloniais, são surpreendentes. O roteiro segue em direção a Caxias do Sul, que fica a 110 km e passa por São Marcos – cidade conhecida pelo apelido “cidade dos caminhoneiros”, isso porque em determinada época um a cada dois homens dessa cidadezinha era caminhoneiro.
Skyglass, em Canela, é uma das maiores plataformas de aço e vidro do mundo – foto divulgação
O ideal é se programar para chegar em Caxias entre 11h30 e 14h para almoçar maravilhosamente bem. A melhor galeteria da região é a disputada Alvorada. Trata-se do famoso galeto primo canto (baby galeto) na brasa no esquema rodízio, que começa com a sopa de capeletti seguida pelo galeto grelhado e seus acompanhamentos típicos da colônia italiana. São eles a salada de radicci (folha meia amarga) com bacon, maionese de batata, polenta frita e polenta ao forno e uma escolha de massa e de molhos variados.
Continuamos descendo para Porto Alegre e logo chegamos em Nova Petrópolis – que parece um cartão postal da Bavaria, com as casas parecendo de boneca e seus jardins de flores coloridas e milimetricamente recortados. E é dali que seguimos pela famosa estrada das hortênsias, rumo a Gramado e Canela. Essas duas cidades já estão no top 3 dos destinos turísticos do Brasil. São muitos passeios, como o Mundo de Chocolate da Lugano, com famosas paisagens do mundo feitas de chocolate maciço.
E no vale da Ferradura há uma atração recém-inaugurada. A Skyglass (foto), em Canela, que é uma das maiores plataformas de aço e vidro do mundo e que avança 35 metros para o vale. Ali, a cereja do bolo é o Abusado: um monotrilho suspenso que leva a um passeio a 360 metros de altura sobre o rio Caí.
No caminho entre Gramado e Canela, avista-se ainda o Vale dos Quilombos. O famoso hotel Laje de Pedra, com paisagem incrível para esse mesmo vale, deu lugar a um empreendimento de altíssimo luxo chamado Kempinsky. E para quem gosta de cerveja, deve conhecer a Cervejaria do Farol, pioneira na produção de brejas artesanais na Serra Gaúcha.
Se continuássemos pela estrada que sai de Canela, iríamos para São Francisco de Paula e Cambará do Sul, que é a base para explorar cânions, como o do Itaimbezinho. Mas isso é outra viagem. Até a próxima!
Gastronomia descomplicada faz a alegria de quem frequenta o icônico prédio Copan, cujo cardápio inclui restaurante, sorveteria, bar, loja de vinhos e um café instalado dentro de uma livraria
Projeto icônico de Oscar Niemeyer e símbolo de São Paulo, o Copan tem mais moradores do que 1.331 cidades brasileiras. Mas não são “apenas” os 5 mil moradores do prédio que dão vida ao local e preenchem suas ruas laterais, entrando e saindo do andar térreo do edifício. Por ali, restaurantes, bares, livraria, lojas e cafés são verdadeiras alternativas de passeio para paulistanos e turistas.
A fachada do icônico edifício Copan – FOTO Pablo Trincado | Flickr
Aberto em plena pandemia, em 2021, o bar e loja Paloma se dedica aos vinhos, que ficam expostos nas prateleiras e dão ar alegre ao lugar – o que também se reflete nas paredes e mesas claras e nos rótulos servidos em copos, não em taças. Vinhos chilenos, argentinos e espanhóis ganham destaque e da cozinha também saem petiscos, como a manjuba com salsa, ostras, coração empanado com maionese da casa, azeitonas marinadas, além das seleções de queijos.
O salão da loja Paloma – FOTO divulgação
O bartender Felipe Rara, um dos sócios do Paloma, também está à frente do Fel, bar de drinques logo ao lado que abre todos os dias – o que combina com o Copan e a própria cidade. Com ambiente intimista, o local dispõe de apenas de 13 lugares no balcão e oferece atenção especial em sua carta de coquetéis. Vale se sentar e conversar com a equipe de bartenders para receber alguma surpresa em uma taça, mas o Modus Vivendi – com Jerez, gin e angustura – e o espresso martini, valem a pedida.
O balcão do bar Fel – FOTO Rafael Define
Em contraste interessante, a sorveteria Tem Umami – que não tem salão e reúne apreciadores de casquinhas na calçada – vende sorvetes no estilo soft, aqueles que saem rodopiando da máquina. São dois sabores, um rotativo e um fixo, esse de baunilha servido com cupuaçu em calda, farofinha doce e um pedaço de doce de flor de sal feito na casa dentro da casquinha de fubá.
Uma casquinha da sorveteria Tem Umami – FOTO Danilo Machado
Para fechar o passeio, o Cuia Café, da chef Bel Coelho, fica dentro da livraria Megafauna e apresenta um interessante menu que vai do brunch ao jantar. Para a entrada, a tostadinha com hommus, picles, tubérculos e sementes se revela um prato leve. Também na linha vegetariana, a moqueca traz vegetais orgânicos e arroz agroecológico em um caldo quentinho, e vai bem em dias frios. Há ainda o tartare de wagyu com maionese de pimenta baniwa e mix de sementes tostadas com fritas; e o peixe do dia com salada de feijão manteiguinha, farinha d’água e molho de tucupi.
Quando a vontade de comer uma boa carne se confunde com a saudade de Buenos Aires, é porque está na hora de visitar uma das excelentes parrillas na cidade
É verdade que em função das vantagens que o câmbio atual oferece estamos viajando mais do que nunca para Argentina. Mas essa paixão já vem de longa data, seja para esquiar nas maravilhosas estações da Patagônia ou para visitar a deslumbrante Buenos Aires. Não importa o motivo da viagem, na volta só se fala da delícia que é uma boa parrillada argentina. E não se trata apenas da qualidade e dos cortes da carne portenha, o jeito deles assarem é determinante. A grelha móvel de canaletas inclinada para baixo, que permite juntar o caldo de sangue e a gordura para molhar o corte novamente e assim torná-lo mais suculento, é fundamental para o resultado do assado.
Há mais de 40 anos os primeiros parrilleros chegaram a São Paulo e, durante muitos anos, assistiram à nítida preferência do público pelo churrasco no estilo gaúcho (tipo Fogo de Chão) ou pelas steakhouses mais chiques (como Rodeio e Rubaiyat), onde a pedida era “picanha fatiada”. A primeira parrilla da cidade foi o Martin Fierro, que se instalou na Vila Madalena e está lá até hoje soltando ótimos cortes como bife de chorizo e bife de ancho (ambos parte de contrafilé, um dianteiro e outro traseiro). Aliás, é ali também que começaram a fazer sucesso as empanadas argentinas, e entradas como morcilla (linguiças de sangue) e mollejas (timo de boi) – indispensáveis em uma boa parrillada mesmo por aqui.
Foi assim que ano após ano o estilo argentino de se fazer churrasco foi conquistando a cidade e não só instituiu um novo cardápio de cortes e cartas de vinho mais completas como ainda viu os empresários se adaptarem. O Corrientes 348, cujo nome foi extraído de um tango do Carlos Gardel e foi fundado por um portenho em 1997 no número 348 da rua comendador Miguel Calfat, foi adquirido pelo gaúcho Jair Coser (ex proprietário da rede Fogo de Chão), que expandiu a marca no Itaim.
Pobre Juan – Foto divulgação
Outra casa de sucesso é o Che Bárbaro, na Vila Madalena, que veio como filial do restaurante Bárbaro e que foi montada pelo Germano, ex parrilleiro do Corrientes 348, em 2003. Nos anos 1990 também apareceram parrillas um pouco mais despojadas e de muito sucesso até hoje. Uma na Vila Mariana, na rua França Pinto, o Dr Tchê, La Parrilla de la Vila. Alí o Adelar, que é gaúcho de Vacaria, faz um churrasco com grelha e usa luva de metal para não furar a carne e mantê-la mais suculenta ainda.
No Jabaquara, está a Parrilla Argentina, inaugurada em 1995 e que serve todos os cortes de uma autêntica parrilla. Um diferencial interessante dessa casa é que você escolhe o peso que deseja comer de cada corte e, claro, é cobrado na proporção. Outra bandeira importante e de qualidade é o Pobre Juan, cujo propósito já está no nome. É um steakhouse no formato Parrilla Argentina com presença forte também em shoppings e comprova o nível crescente de aceitação do conceito em São Paulo e no Brasil todo.
A verdade é que já estamos em um estágio em que cada bairro tem uma boa parrilla para oferecer, sendo que Moema, bairro que mais acolhe argentinos em São Paulo, tem uma por quarteirão. Escolha o local de sua preferência e peça um bom malbec para acompanhar!
Desde a segunda metade de 2022 em funcionamento no Leblon, a tasca luso-carioca Henriqueta tem um menu focado em especialidades portuguesas. O bacalhau aparece em cinco versões: à Lagareiro (lombo confitado no azeite e acompanhado de batatas ao murro); à Gomes de Sá (em lascas, com ovo cozido, azeitonas, batata e cebola); da Tasca (lombo com batatas ao murro, cebola, azeitonas, ovo e couve); Espiritual (com molho bechamel, cenoura ralada e gratinado com parmesão) e com Natas (em lascas, num rico molho à base de creme de leite). Além disso, vale destacar também o polvo à Solar (em tiras, com azeite e páprica), as sardinhas braseadas e o bife à Café São Bento – filé com molho de natas, ovo e batatas fritas. A carta de vinho lista cerca de 100 rótulos, com ênfase nos produzidos no Alentejo e nos vales dos rios Douro, Tejo e Dão. O nome do restaurante é uma homenagem a Henriqueta Henriques, matriarca que comanda a matriz da “rede”, o restaurante Gruta de Santo Antônio, em Niterói.
Cada estação do ano traz características distintas aos vinhedos, que refletem na produção e no consumo de rótulos em diversas regiões
O mundo do vinho tem algo de especial. Se visitarmos o mesmo vinhedo em épocas do ano diferentes – especialmente no hemisfério norte, onde as estações são bem demarcadas – visitaremos lugares distintos. Entramos no outono, momento em que se promovem as podas nas videiras, para prepará-las para o inverno – quando as plantações adormecem em uma espécie de meditação para se renovarem e trazer a vida novamente, explodindo em flores e frutos na primavera. No verão, acontece a colheita e tudo volta ao seu ciclo.
Nós, consumidores, tendemos a preferir alguns estilos de vinho conforme a estação, com os espumantes rosés e brancos no verão e na primavera e optamos por tintos no outono e no inverno. Confesso que, indiferentemente da época, minhas escolhas são mais em função do momento e da harmonização. Tenho consumido mais brancos do que tintos e mais evoluídos do que jovens e frescos, esses últimos que também vão bem nesta estação do ano.
Os vinhos têm a capacidade de oferecer sensações diferentes conforme a idade. Na juventude, ficam evidentes aquele frescor e vivacidade e, depois, no amadurecimento, a complexidade e exuberância se ressaltam. Sugiro, a seguir, alguns rótulos para a entrada do outono, entre estilos distintos.
Foto shutterstock | Divulgação
Na Natural Vinci, indico o Solo Rosso G 2019, do produtor natural Maurizio Ferraro, custa R$ 331 e vale cada gota. Um espetáculo de uva do Piemonte de corpo leve e harmoniza com aperitivos, embutidos, caponatas e pão com calabresa. Já na Prem1um Wines, sugiro o espetacular Vinha do Infante, da Quinta do Infantado. É orgânico, delicioso, fresco e equ ilibrado, e sai pelo valor de R$ 194. Um vinho perfeito para as receitas de bacalhau nesta Páscoa!
E o biodinâmico excepcional do Ernesto Catena, o vinho Animal, custa R$ 194 na Mistral e é um Malbec super fresco, intenso e equilibrado. Esse vinho fica maravilhoso com um queijo emental, com choripan e com as carnes grelhadas. Na De la Croix vinhos, indico o delicioso e fresco Travers de Marceau, um vinho de Saint Chinian (AOC), do Languedoc-Roussillon, das uvas Syrah, Mourvèdre, Carrignan e Cinsault. Sai das mãos do talentosíssimo Monsieur Rimbert e faz sucesso com as térrines, com carnes curadas, com pato, é bem versátil.
No Brasil, recomendo o surpreendente e natural Vitale Pinot Noir, da Valparaiso, um delicioso e fresco Pinot, de fermentação espontânea e uvas orgânicas, que fica um espetáculo com aperitivos, com sanduíches e salada de batatas. Custa R$ 130 no site do produtor.
Por fim, indico um orgânico espanhol de Garnacha e Syrah, que sai por R$ 112 na La Pastina e vale muito a pena. É o Venta La Vega Adaras Aldea em Almansa de El Mugrón e que tem por trás o talento do craque Raul Perez. Aproveite as luzes do outono e saúde!
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