Conhecido por interpretar personagens cômicos, Anderson Di Rizzi agora investe em papéis mais complexos

Conhecido por interpretar personagens cômicos, Anderson Di Rizzi agora investe em papéis mais complexos

Aos 42 anos, Anderson Di Rizzi já tem vários personagens marcados na memória de quem gosta de acompanhar as novelas da Globo – sempre em papéis leves e divertidos. Fora da TV, o ator vem investindo em trabalhos mais complexos e desafiadores. Antes da pandemia, iniciou um giro pelo país com a peça “Um Beijo para Kafka” – que narra um episódio curioso da vida do escritor tcheco – e atuou no filme “O Segundo Homem”, ambientado em um cenário distópico, em que o porte de armas é liberado no Brasil. Na produção, ele interpreta Miro, um pai de família que se une a uma legião estrangeira criada para controlar a desenfreada violência no país. Por causa da pandemia, a peça interrompeu sua turnê e o filme – que tem também Cléo Pires, Wolf Maya, Negra Li e Lucy Ramos no elenco – entrou na fase de finalização.

Enquanto isso, Di Rizzi se isolou no interior de São Paulo com a mulher (a professora Taise Galante) e os dois filhinhos pequenos: Helena e Matteo, de 3 e 1,5 anos, respectivamente. “Foi um período de introspecção, de aprendizado e de conexão com a minha família. Agora sinto que algo melhor está por chegar. Acredito que em 2021 vamos colher os frutos que plantamos em 2020, tudo vai ser diferente”, avalia. Assim seja!

Veja a seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu à reportagem da revista 29HORAS.

 

FOTO DESSA PIRES | STYLIST LILI GARCIA

 

Quais recordações você tem dos tempos em que morava em Campinas?
Morei na cidade até os 17 anos. Meus pais ainda vivem lá, assim como vários dos meus amigos. Até hoje eu ainda voto no mesmo colégio em que estudei. Fui dono de um salão de beleza no Jardim Guanabara. Sempre que visito a cidade, passo pelo Conjunto Bandeirantes e pelo Jardim Pacaembu, onde corria descalço, jogava bolinha de gude e empinava pipa. Minha infância foi uma fase bem feliz da minha vida. Tenho orgulho de ser campineiro.

 

Quando adolescente, você queria ser jogador de futebol e até passou pela Ponte Preta. Por que razão acabou abandonando o futebol?
Tenho um carinho especial pela Ponte Preta. Quando eu atuava nas categorias de base, jogava do meio para frente. Era um jogador de criação, mas também fazia muitos gols. Acabei me afastando do esporte por causa de um acidente de carro. Quebrei um dedo do pé e ele não cicatrizou do jeito certo. Durante anos, sentia dores, e isso acabou me desanimando.

 

Como foi a transição de jogador de futebol para ator?
Quando trabalhava em uma academia de musculação, me chamaram para trabalhar com promoção e entregar panfletos na rua. Nesse “bico”, conheci uma galera que também fazia figuração em comerciais de TV. Me juntei a eles, fiz vários jobs nessa área e tomei gosto por atuar. Como sou muito obstinado e determinado, mergulhei nesse mundo e comecei a estudar, fazer cursos, ler livros e assistir a todas as peças e filmes que podia. Depois fiz faculdade de Artes Dramáticas e, quando conquistei meu DRT (registro na Delegacia Regional do Trabalho para exercer a profissão), enfim me senti um ator de verdade. Foi uma caminhada dura. Tomei muito “não” na cara, pensei várias vezes em desistir, mas acabei indo até o fim.

 

Anderson Di Rizzi e Camila Queiroz na novela Êta Mundo Bom

Anderson Di Rizzi e a atriz Camila Queiroz na novela Êta Mundo Bom! – Foto divulgação

 

Quando revemos a sua trajetória, vêm automaticamente à nossa mente o Xavier de “Morde & Assopra”, o Palhaço de “Amor à Vida” e o Zé dos Porcos de “Êta Mundo Bom!”. Qual deles é o seu predileto?
Eu adoro todos, e gostaria de também incluir nessa lista de favoritos o professor Josué de “Gabriela”, o Juvenal de “O Outro Lado do Paraíso” e o Márcio de “A Dona do Pedaço”. Mas quem ocupa um lugar especial no meu coração é Sargento Xavier, de “Morde & Assopra”. Quando fiz o teste, o personagem nem tinha nome. A sinopse dele só tinha cinco palavras: “Um guarda medroso e atrapalhado”. Me inspirei no Mazzaropi na composição. Aí o personagem foi crescendo e acabou virando um dos principais da novela. O sucesso do Xavier abriu várias portas na minha carreira e fez com que o grande público me “descobrisse”.

 

Anderson Di Rizzi na novela Morde & Assopra com o ator Ary Fontoura

Anderson Di Rizzi na novela Morde & Assopra com o ator Ary Fontoura – Foto divulgação

 

Onde você “quarentemou”? O que foi mais difícil durante o isolamento? O que você tirou de positivo para a sua vida desse período tão peculiar?
Logo no começo da pandemia, me isolei com a minha família em Itu, onde tenho uma casa no meio do mato. Apesar de o coronavírus ter interrompido a temporada da minha peça abruptamente, eu não reclamo. Tento sempre extrair alguma coisa boa dessas situações. Depois de muito tempo viajando com a peça e gravando novelas em outras cidades, fiquei meses e meses com meus filhos e com Taise, a minha mulher. Foi legal demais acompanhar a Helena e o Matteo crescerem, perceber como eles evoluem, vê-los brincando na grama e na terra, tomando água pura direto da nascente, colhendo frutas no pé, plantando verduras na horta, interagindo com os animais, aprendendo a respeitar a natureza. Se dependesse da Helena, a gente nunca sairia de lá…
O isolamento para mim foi uma oportunidade para que eu pudesse olhar para dentro, pensar na vida, repensar paradigmas. E o distanciamento teve também reflexos positivos no meu corpo. Montei uma pequena academia em casa e tive bastante tempo para me exercitar e cuidar da parte física.

 

Quais são seus projetos para 2021?
Estou muito otimista para este ano. Acredito que vai ser diferente, cheio de coisas boas, bem melhor do que 2020. Assim que possível, vamos retomar a turnê do espetáculo “Um Beijo para Kakfa” e, no cinema, estarei em “Tô Ryca 2” (sem data de estreia) e em “O Segundo Homem”, dirigido por Thiago Luciano e ainda em fase de finalização.

 

Anderson Di Rizzi na peça "Um Beijo em Franz Kafka"

Anderson Di Rizzi na peça “Um Beijo em Franz Kafka” – Foto divulgação

 

Em “O Segundo Homem”, você interpreta um personagem que vive em um Brasil distópico onde as armas são liberadas – roteiro cada vez menos ficcional e mais realista! A seu ver, que perigos o armamento sem controle da população pode trazer à sociedade brasileira?
Tenho medo desse futuro no qual é possível comprar uma arma em um supermercado, pagar no caixa e sair por aí com ela na cintura. Tenho medo das pessoas destreinadas. Para mim, quem quiser ou precisar ter uma arma tem de, obrigatoriamente, passar por uma avaliação psicológica e ser treinado para aprender a manusear o equipamento de forma apropriada e segura. Essas são medidas razoáveis, necessárias e indispensáveis. É horrível o que acontece em alguns países que tem uma legislação frouxa no controle das armas, como os Estados Unidos. De tempos em tempos, um desajustado mata ou coloca em risco a vida de dezenas de inocentes. Não gostaria de ver essa mesma situação aqui no Brasil.

 

Anderson Di Rizzi no filme "O Segundo Homem"

Anderson Di Rizzi no filme “O Segundo Homem” – Foto divulgação

 

Na TV, você se notabilizou por papéis leves e bem-humorados, mas no teatro interpretou textos de Kafka e no cinema encarnou esse pistoleiro nada cômico. Em qual gênero você se sente mais à vontade?
Tenho um prazer enorme em fazer comédia. Foi muito divertido dar vida ao Palhaço, ao Sargento Xavier e ao Zé dos Porcos. Mas agora quero explorar outras facetas desse trabalho de interpretação. Quem for à minha peça ou assistir “O Segundo Homem” me verá de uma maneira diferente. Pretendo focar agora em papéis novos para mim. Adoraria aparecer na TV como um vilão psicopata ou como um personagem shakespeariano bem dramático. Não é só para mostrar para o público o que eu capaz, é para satisfazer uma necessidade que eu, como ator, trago dentro de mim.

 

Quais são os seus 5 atores prediletos? O que cada uma dessas feras tem que você tanto admira?
O Marlon Brando é o melhor de todos. Ele está sempre pronto para encarnar seu personagem. Não precisa de preparação nem de laboratório. O Daniel Day-Lewis é outro monstro. A entrega dele em cada papel é algo que me impressiona muito. Pena que fez poucos filmes e se aposentou precocemente. No Brasil, tenho paixão pela Fernanda Montenegro, pelo Selton Mello e pelo Wagner Moura. Ver a Fernandona em ação é uma aula, e tive a oportunidade de vivenciar isso em “O Outro Lado do Paraíso”. Cada palavra que sai da boca dela tem uma cor diferente, o repertório dela é infinito. Já o Selton e o Wagner, além de serem excelentes atores, muito versáteis, têm a minha admiração também por causa de suas posturas profissionais e pessoais, diante de questões éticas, humanas e políticas.

 

Por fim, qual é a primeira coisa que você vai fazer após tomar a vacina?
Quero ir a Campinas dar um abraço gostoso nos meus pais, com calma e sem medo. Não faço isso desde março de 2020! Em seguida, vou pegar a Taise, as crianças e fazer uma viagem bem bacana para fora do Brasil. Depois de ficar tanto tempo em confinamento, quero ir para bem longe!

 

Anderson Di Rizzi com seus filhos, Helena e Matteo

Anderson Di Rizzi com seus filhos, Helena e Matteo – Foto arquivo pessoal

 

A cantora pernambucana Duda Beat lança novo álbum em 2021 e está a todo vapor

A cantora pernambucana Duda Beat lança novo álbum em 2021 e está a todo vapor

QUEM PODERIA IMAGINAR que a música veio do silêncio? A recifense e estudante de Ciência Política Eduarda Bittencourt Simões teve um momento de revelação em um curso de meditação, em meados de 2016, e decidiu ser aquilo que tanto admirava nos homens pelos quais se apaixonava: cantora e viver da música. Arrumou as malas e foi viver definitivamente na casa das tias no Rio de Janeiro, virou Duda Beat e com apenas um álbum, “Sinto Muito”, de 2018, estourou. Para a sorte dos fãs, em 2021 vem um novo trabalho, carregado de amor e sofrência – letras que a tornaram conhecida. “Ainda é sobre se apaixonar, mas de forma mais realista e sem idealizações, um amadurecimento que passei em minha vida”, antecipa.

 

Duda Beat Rainha da Sofrência

Foto Ivan Erick

 

Com ritmo pop, brega e eletrônico, as canções de Duda Beat expõem um lado um pouco difícil para os dias desprendidos de hoje: querer ser correspondida e desejar se vincular a alguém. Talvez as respostas estejam nos astros, já que a menina de Recife sempre foi assim. “Deve ser porque sou libriana, quando era adolescente já me apaixonava, então vou sempre cantar sobre amor”, conta. Seus ritmos refletem a efervescência cultural de Pernambuco e a diversidade de estilos de sua terra natal. “Minha formação musical vem de lá, adoro maracatu, frevo, pagode, forró… ninguém gosta de um estilo só, é uma mistura honesta.”

A cantora de 33 anos traz essa festa também de casa, de sua família. “Minha avó era uma foliã master, ia sempre ao Bloco da Saudade (um dos blocos de Carnaval mais tradicionais da cidade)!”, lembra. No ano passado, Duda Beat representou bem suas raízes e agitou os blocos de rua de Recife e do Rio de Janeiro. “Quanto mais diverso e multicultural, mais agregador é o Carnaval, eu amo muito essa época do ano.”

 

Duda Beat sorrindo

Foto Ivan Erick

 

 

ACOLHIMENTO E PAUSA

Só que a Quarta-Feira de Cinzas foi longa em 2020 e parece que ainda seguimos esperando pelo novo momento de festa. Durante a pandemia, Duda Beat fez sete lives abertas ao público, e permaneceu em quarentena com seu marido, Tomás Tróia (também seu produtor), no Rio. “Vivemos na casa que era da família de Tomás, seguimos quietinhos aqui com nossos gatos.”

De Recife, a cantora hoje ama a Cidade Maravilhosa, lugar que visitava sempre durante as férias escolares, já que parte da família materna migrou para a capital fluminense em busca de novos sonhos. “Me identifico muito com minhas avós, uma tinha coração carnavalesco e outra veio ao Rio de Janeiro para construir a vida, sou pouco das duas.”

Hoje, a nova cidade significa o encontro com a carreira e o amor. Em suas idas e vindas ao Rio, ainda adolescente, conheceu Tomás, que tocava na banda de seu primo, Gabriel Bittencourt, atualmente baterista na banda de Duda. Mas foi preciso mais tempo até o amor se concretizar. “Passei anos sofrendo por caras que não me correspondiam, Tomás era meu amigo e até ouvia as lamentações, demorei para perceber que o meu parceiro já estava ali, do meu lado, o maior clichê aconteceu comigo, e agora estou vivendo algo que nunca tinha vivido, amar e ser amada.”

 

Duda Beat e seu marido Tomás Tróia

Duda Beat e Tomás Tróia – Foto Fernando Tomaz

 

Antes do distanciamento social, a cantora passeava pela Praia de Botafogo, Parque Lage e pela Lagoa. “A vista mais bonita do Rio é a de Botafogo, dá para ver a Urca, é um retrato, muito lindo da cidade, e é onde minha avó materna morava, me desperta muitas memórias boas”, diz, e recorda que foi patinando na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas que se inspirou e fez algumas músicas de seu primeiro álbum. “A cidade, para mim, é uma mistura de clima praiano com muito trabalho, que desenvolvo por suas ruas. Eu também frequentava muito os bares, como o Colab (em Botafogo), onde o universo da música é intenso e tem muita troca interessante.”

 

DIVERSÃO REUNIDA

Duda Beat é também cantora de parcerias. Lançou singles em 2019 e 2020, que mantiveram seu trabalho a todo vapor, como “Meu Jeito de Amar”, com o DJ carioca Omulu; “Só Eu e Você na Pista”, com a baiana Illy (ambas com remix dos produtores Tomás Tróia e Lux Ferreira); “Chega”, com Mateus Carrilho e Jaloo; e “Tangerina”, com Tiago Iorc. O recente “feat” com as jovens de Tocantins Anavitória, “Não Passa Vontade”, agitou a internet com um clipe cheio de referências cinematográficas – elas recriaram momentos de produções aclamadas que vão de “Os Excêntricos Tenenbaums”, de Wes Anderson, passando por “A Pequena Miss Sunshine”, “As Vantagens de Ser Invisível”, até “Os Sonhadores”, de Bernardo Bertolucci.

 

Duda Beat com a dupla Anavitória

Duda Beat com a dupla Anavitória – Foto Breno Galtier

 

O novo ano traz ainda mais música. No finalzinho do mês passado, Duda apresentou ao público um EP com Nando Reis, com músicas já conhecidas dos dois, mas em novos arranjos e com Duda e Nando cantando juntos. “As canções foram escolhidas de uma forma muito suave e fluida, e ele foi super amoroso durante todo o processo. Passamos cinco dias em estúdio nos conhecendo e apurando os rearranjos, foi uma química linda”, conta.  A música “Segundo Sol”, por exemplo, ganhou novo tom no EP e já é preferida da cantora.

 

Duda Beat com Mateus Carrilho e Jaloo

Duda Beat com Mateus Carrilho e Jaloo

 

Em uma imersão de vinte dias em Teresópolis, na região serrana do Rio, com toda a banda, as inspirações para o novo álbum vieram. “Me acostumei a precisar do silêncio para criar, foi assim também para esse segundo trabalho. Ficamos hospedados em uma casa linda logo antes da pandemia, mas quando voltamos o mundo já era completamente outro”, lembra. O álbum (ainda sem nome definido) vai ser lançado neste semestre, depois de adiamentos necessários causados pelo isolamento social, mas Duda Beat garante novas parcerias: “Gente da Bahia e de Recife, pessoas que admiro muito e me ajudaram a cantar sobre amor, histórias que já vivi e a relação de paz que hoje vivo com esse sentimento.”

 

Duda Beat quando ganhou o prêmio de artista revelação do Multishow, em 2019

Duda Beat quando ganhou o prêmio de artista revelação do Multishow, em 2019 – Foto Divulgação

 

A música de Duda Beat se reflete também em seus conhecidos looks, assinados pelo estilista Leandro Porto. Vestidos coloridos, mangas bufantes e laços fazem parte de sua estética nos palcos. “Gosto do exagero e tenho o lema de que a moda é para se divertir, achando gostoso, está valendo”, ri. Cyndi Lauper, Lady Gaga, Drew Barrymore e a cantora espanhola Rosalía são musas inspiradoras, assim como a atriz Sônia Braga, já que carregam muita autenticidade em suas roupas. “Como a gente se veste também diz muito sobre o que pensamos, é algo político e acho que é uma extensão da minha arte.”

Quando vier a tão desejada vacina, a primeira coisa que a cantora pretende fazer é justamente vestir um dos seus looks e subir no palco. “Ando muito emotiva e estou morta de saudades dos shows, só de ver vídeos me emociono! Será com certeza o primeiro desejo a colocar em prática quando todos estiverem imunizados”, conta. O último show de Duda Beat foi na capital paraibana, João Pessoa, com a presença de seus pais na plateia. “É muito perto de Recife, eles estavam lá e foi uma despedida linda sem saber! Agora com disco novo, vai dar frio na barriga, não vejo a hora, vai ser incrível!”

 

Duda Beat e Banda

Banda de Duda Beat – Foto divulgação

 

 

Presidente da Gol, Paulo Kakinoff fala sobre a retomada do setor aéreo 

Presidente da Gol, Paulo Kakinoff fala sobre a retomada do setor aéreo 

No dia 15 de janeiro, a Gol completou 20 anos, interligando os principais aeroportos do país e consolidando-se como a companhia aérea que detém a maior fatia de mercado no segmento de voos domésticos. No comando dessa grande empresa – que conta com cerca de 15 mil colaboradores, 127 aviões Boeing 737, aproximadamente  600 voos diários e faturamento anual de mais de R$ 10 bilhões –, está Paulo Kakinoff, de 46 anos.

Nascido em Santo André, na Grande São Paulo, ele assumiu a presidência da companhia aérea após quase duas décadas no Grupo Volkswagen (onde entrou como estagiário e saiu com presidente da divisão de carros de luxo Audi). Na Gol desde 2012, fez da empresa não só a maior do segmento doméstico como também a mais pontual e a melhor, com mais espaço entre as poltronas e wi-fi em todas as aeronaves.

Em 2019, ele teve de manter no solo os recém-adquiridos 737 MAX – aviões que se envolveram em terríveis acidentes na Indonésia e na Etiópia e que são a base do crescimento da Gol nos próximos anos. Mas essa já é uma crise superada, tanto que em dezembro Kaki (como é chamado pelos amigos) já voou com sua esposa, Fernanda, e seus dois filhinhos em um voo operado com um avião desse avançado modelo.

Agora o desafio é comandar a empresa na retomada do setor aéreo, que já vem se manifestando com força neste início de 2021. A 29HORAS foi ouvi-lo sobre essa recuperação da aviação comercial. Para o alto e avante!

 

Paulo Kakinoff em frente a uma turbina de avião

Paulo Kakinoff – Foto divulgação | Gol

 

 

Quando surgiu, há 20 anos, a Gol introduziu uma série de novidades no mercado – a começar pela eliminação dos bilhetes de papel, com várias páginas. Que inovações a Gol prepara agora para seus passageiros?
Comemoramos os 20 anos da Gol neste momento com orgulho do que fizemos e muito entusiasmados com o que queremos fazer para o setor aéreo no Brasil. Continuaremos inovando em todas as etapas da jornada do cliente – venda de bilhetes, atendimento, embarque, a bordo e desembarque, com tecnologia, processos e serviços. Especialmente em 2020, a companhia não parou de priorizar e investir em seu compromisso com a segurança e a saúde dos clientes. Entramos em 2021 com todas as nossas aeronaves e procedimentos de check-in, embarque e desembarque certificados pelo selo Einstein de qualidade em relação à Covid-19, mas passado esse momento de pandemia seguiremos oferecendo novidades aos passageiros que nos escolhem para voar.

 

Até hoje, a Gol é apresentada como uma empresa low cost – o que ela efetivamente era no início, fase lembrada pelas “barrinhas de cereais”. Mas você acha que hoje a Gol ainda se encaixa nessa definição?
A Gol foi a primeira companhia aérea do Brasil a utilizar a tecnologia digital de forma intensiva, com um modelo de negócio que revolucionou o mercado de aviação no país, democratizando o acesso ao transporte aéreo. Fomos pioneiros ao lançar o serviço de check-in feito inteiramente pelo celular, o serviço de geolocalização mobile para clientes e um site com recursos de acessibilidade para atender pessoas com deficiência visual e motora – além de recentemente implementarmos o aplicativo para comunicação por Libras a bordo e check-in por WhatsApp. Temos um dos menores custos por assento do mundo, portanto continuamos a oferecer preços competitivos, mas com produtos de qualidade e eficiência. Isso tudo significa que nosso posicionamento foi evoluindo e a percepção do cliente acompanhou as mudanças reconhecendo uma nova Gol. Estamos entre as companhias aéreas que mais crescem e somos a empresa de aviação que mais transporta passageiros no Brasil. Nosso propósito é claro: ser a primeira para todos, como a melhor companhia aérea para viajar, trabalhar e investir.

 

O que a Gol está fazendo para aprimorar suas opções de entretenimento de bordo? Hoje, com os passageiros evitando tocar em telas e outras superfícies, o autosserviço e o uso de tablets, notebooks e celulares está cada vez maior, não? Nesse contexto, como fica a revista?
A Gol tem a inovação em seu DNA, e já conta com uma solução perfeita para o cliente, o Gol Online – Wi-Fi e entretenimento a bordo, lançado em 2016, durante uma transmissão ao vivo da própria aeronave. A companhia foi a primeira empresa aérea na América do Sul com internet a bordo e com o serviço em 100% da frota. Por ser acessado diretamente do próprio dispositivo móvel do passageiro, o entretenimento a bordo vem totalmente ao encontro com as demandas geradas nesta pandemia, onde se vê a importância da utilização de objetos pessoais e não mais as telas coletivas.

O Gol Online é a mais completa plataforma de entretenimento do mercado, e conta com seis canais de TV ao vivo, conteúdos variados de filmes, séries, podcasts e até mesmo cursos e meditação. Fomos pioneiros em incluir títulos voltados à saúde mental e ao bem-estar, além, é claro, dos pacotes de acesso à internet e mapa de voo, pelo qual o cliente acompanha seu voo do início ao fim.
Já a premiada e reconhecida Revista Gol continua disponível aos clientes a bordo, agora sob demanda, e todos são estimulados a levá-la para casa, diminuindo o contato e o manuseio. E no nosso site ela está disponível em versão digital.

 

Paulo Kakinoff, presidente da companhia, em frente a uma aeronave da Gol

Paulo Kakinoff, presidente da companhia, em frente a uma aeronave da Gol – Foto divulgação | Gol

 

Quais as perspectivas para 2021. Como está sendo a retomada do setor? Quando a Gol voltará a ter o tamanho que tinha antes da pandemia?
O ambiente mercadológico para a indústria da aviação permanece desafiador, mas nós estamos otimistas de que as condições continuarão a melhorar, devido ao crescimento consistente na busca por passagens aéreas para a nossa temporada de verão, assim como a expectativa da retomada em função do início da vacinação. Esse crescimento de demanda está especificamente concentrado no mercado doméstico, que hoje é responsável por 100% das operações da companhia. Podemos dizer que, ao final deste 1º trimestre de 2021, a Gol espera servir 95% dos destinos pré-pandemia.

 

Para quem ainda tem algum receio de viajar de avião, com medo de se contaminar com o coronavírus, o que os mais recentes estudos dizem sobre a “qualidade do ar” respirado dentro da cabine das aeronaves?
Temos toda a confiança que a experiência de voar é altamente segura, inclusive em tempos de pandemia. A Boeing, recentemente, com base na contagem de partículas no ar das cabines em um modelo computacional, comprovou que sentar-se próximo a outro passageiro na aeronave é o mesmo do que estar a 2 metros de distância em um ambiente regular comum, com o uso de máscaras. É que o ar dentro das aeronaves da Gol é de alto grau de pureza com a utilização do filtro HEPA, que remove 99,97% das partículas nocivas do ar, como vírus, bactérias, alérgenos e sujeiras. Além do filtro há uma válvula que devolve o ar para fora da aeronave, o que garante a circulação de um ar sempre mais saudável. O sistema promove a troca total do ar de toda a cabine a cada 3 minutos.
A importante parceria da Gol com o Hospital Albert Einstein reforça o compromisso que temos com nosso time e com nossos clientes, e proporciona ainda mais credibilidade e confiança. Usamos o selo Einstein Padrão de Qualidade e Segurança Covid-19, que atesta todos os nossos procedimentos, desde o check-in até a restituição de bagagem, para os quais já contamos com rígidos protocolos contra a doença adotados pela companhia desde março de 2020. O projeto completo vai mapear, avaliar, reestruturar e certificar nosso trabalho. A Gol é a primeira e única companhia aérea do país a carregar tal chancela em seus ambientes e suas aeronaves.

 

Paulo Kakinoff embarcando com sua família

Kakinoff embarcando com sua esposa, Fernanda, e seus filhos no primeiro voo operado pelo Boeing 737MAX após a recertificação da aeronave – Foto divulgação | Gol

 

Como está a situação contábil da empresa agora?
Desde o início da pandemia, a Gol tem trabalhado incansavelmente com todos os seus stakeholders para garantir que a companhia mantenha uma liquidez adequada. Temos sido diligentes com a gestão das operações e da saúde financeira da Gol durante esta crise, e agradecemos aos nossos stakeholders pelo comprometimento e pelo apoio contínuo. Os novos prazos pactuados com nossos principais fornecedores e credores foram estabelecidos de forma a permitir o equilíbrio do fluxo de caixa, e ao mesmo tempo permitem o aumento sustentável do volume da operação. Uma comprovação dessa gestão é o reflexo no aumento da liquidez da Gol nos últimos meses, considerando todas as obrigações já assumidas.

 

A aviação vive momentos complicados em países como Austrália (onde a Virgin encerrou suas atividades), na Coreia (onde a Asiana foi engolida pela Korean) e na África do Sul (onde a outrora poderosa SAA virou uma empresa nanica). Qual a receita que garantiu a sobrevivência da Gol?
A sustentabilidade comprovada do nosso modelo, de baixo custo e com frota de um único tipo de aeronave, aliado aos esforços de nossa equipe de gestão, foram determinantes para que a companhia atravessasse esse período fazendo os devidos ajustes na oferta. Dentro do modelo flexível de negócios que temos, nossa programação de voos passa por ajustes constantes que visam garantir o equilíbrio entre o cenário de demanda e a qualidade e amplitude da malha aérea com o impacto da pandemia da Covid-19. Acreditamos que a companhia está agora em uma posição de mercado vantajosa, à medida em que a demanda por viagens deve se acelerar continuamente em 2021, fortalecendo ainda mais a posição dominante da Gol no mercado doméstico.

 

O que precisaria mudar para o setor aéreo brasileiro decolar e operar com mais eficiência – sendo mais atraente e mais lucrativo para os investidores, mas sem esfolar os passageiros?
A Gol é fruto da liberdade tarifária e sempre defendeu o que promove a concorrência saudável. O equilíbrio entre a oferta e a demanda é um aspecto fundamental para uma indústria de aviação sustentável. Temos que atacar a questão estrutural de custos, cujo objetivo é tornar o acesso ao avião ainda mais democratizado, e trabalhar por uma agenda com medidas impactantes para a tarifa e para o consumidor, o que felizmente é parte relevante da pauta governamental para o setor.

 

O aterramento dos Boeing 737 MAX gerou muitos problemas para a Gol. Qual a expectativa agora, em relação a essas aeronaves?
É importante destacar que a Gol está entusiasmada e absolutamente satisfeita com a volta do Boeing 737 MAX, iniciando o ano de 2021 com todas as sete aeronaves disponíveis para a operação. Temos total confiança na nossa parceira com Boeing e participamos de todas as etapas de recertificação do MAX durante os 20 meses de trabalho. Fomos inclusive referência no processo de preservação das aeronaves – trabalho incansável da nossa equipe da Aerotech – e fizemos o primeiro voo comercial do MAX no mundo depois da liberação para retorno.
Consideramos esse modelo fundamental para os planos de expansão da Gol, por possuir as mais modernas tecnologias de motores, asas e superfícies de comando, o que aumenta a produtividade em 24% e reduz o consumo de combustível em aproximadamente 15%, com um alcance de cerca de mil quilômetros a mais (chegando a 6,5 mil) quando comparado com as aeronaves atuais 737NG.

 

Aeronave da Gol decolando

Aeronave 737Max – Foto divulgação | Gol

 

Agora, com essas fantásticas máquinas de volta à ativa, quando a Gol deve reativar seus voos para Miami, Orlando, Quito, Cancún e Punta Cana?
A Gol continuará a operar rotas internacionais, com reativação gradual de voos prevista para a partir de março. O nosso sistema de vendas já considera essa retomada, e os voos já podem ser comprados por nossos clientes. Ao mesmo tempo, estamos monitorando e acompanhando todas as informações sobre aberturas de fronteiras e os protocolos de segurança necessários para quando essas rotas voltarem a ser operadas. Reforçamos nosso compromisso internacional e em ser a Primeira Para Todos.

 

A United tem participação societária na Azul, e a Delta é dona de 20% da Latam. A quantas anda a parceria estratégica com a American Airlines?
Como duas das principais companhias aéreas no Brasil e nos Estados Unidos, a Gol e a American Airlines oferecem a melhor experiência e segurança aos clientes, com ótimas opções de voos e destinos entre as Américas mesmo durante a pandemia. No longo prazo, acreditamos que a parceria fortalecerá nossa presença nos mercados externos e irá acelerar nosso crescimento.

 

Na sua visão, como será o mercado de transporte aéreo de passageiros daqui a 30 anos?
Essa é uma pergunta especialmente difícil de ser respondida em um momento como esse de tanta volatilidade e instabilidade que nós estamos vivendo, mas não deixa de ser um exercício interessante. Acredito que teremos uma continuidade nessa curva de crescimento da democratização de acesso ao setor aéreo, ou seja, mais pessoas voarão, mais destinos serão atendidos, será um modal de transporte ainda mais relevante do que é, e de forma contínua. As novas tecnologias farão com que esse transporte aconteça de maneira mais eficiente do ponto de vista de consumo de combustível e de emissão de poluentes, desejavelmente em patamares mínimos.

Eu praticamente não creio que daqui 30 anos a aviação toda terá sido completamente substituída por uma alternativa autônoma ou de propulsão totalmente elétrica – dois dos itens de desenvolvimento mais especulados nesse momento -, mas acho sim que vão surgir soluções para curtas distâncias com veículos similares a drones que possam transportar de forma individual ou até dois passageiros, para curtas distâncias. Vejo que isso pode ser bastante viável, assim como a criação de rotas para voos não tripulados, possivelmente para cargueiros em áreas menos populosas. Enfim, a meu ver essas são as vertentes de desenvolvimento mais promissoras.

 

Paulo Kakinoff sentado na aeronave da Gol

Paulo Kakinoff na aeronave da Gol – Foto divulgação | Gol