Bares têm que encantar com hospitalidade por meio da tradição e da seleção de bons ingredientes e rótulos, oferecendo uma experiência personalizada para os clientes
Depois de quase duas décadas trabalhando com bebidas, uma convicção se solidifica: mais do que servir drinques, nossa missão, como pessoas que executam serviço de sala, é criar experiências inesquecíveis para os clientes. Durante minha jornada, aprendi que trabalhamos com cultura e precisamos transmitir esse conhecimento. A essência de um serviço de qualidade, que excede expectativas, vai além do copo; está na arte da hospitalidade, que é não palpável, mas profundamente sentida.
No coração da nossa prática está o conceito japonês de omotenashi, uma filosofia que transcende o simples ato de servir para se tornar uma vivência completa de acolhimento e cuidado. Inspirados por essa tradição, cada interação com os clientes é marcada por respeito e cuidado. Assim, cada consumidor não é apenas recebido com uma bebida, mas com uma experiência personalizada.
Gim da empresa japonesa de destilados premium The House of Suntory
As bebidas da The House of Suntory são um exemplo tradicional dessa filosofia. Os drinques com Roku Gin nos transportam para o Japão, por meio de cada um dos seis botânicos e de cada estação do ano. Já os coquetéis feitos com a vodca Haku nos levam para os majestosos campos de arroz e fontes cristalinas, que caracterizam a arte da destilação japonesa. É mais do que uma simples receita: é a expressão de séculos de habilidade e estudo.
Na hospitalidade, além de servir coquetéis excepcionais, apresentamos para os clientes legados e sabores distintos. Compartilhamos sobre as origens dos ingredientes e a cultura por trás de cada rótulo, destilaria e produtora. E mostramos como cada combinação é cuidadosamente elaborada promovendo momentos únicos, incluindo a forma e o cuidado que servimos ou atendemos.
Nosso trabalho é pensar nos detalhes, para propositalmente enriquecer ao máximo a experiência de cada cliente. O tempo dedicado em um bar, desfrutando do ambiente, da coquetelaria, é uma jornada de descoberta, para viver o presente e esquecer dos problemas do dia a dia.
É essencial lembrar que cultivamos momentos significativos que ficarão na memória de cada cliente. A hospitalidade é uma arte que nos permite transformar o ordinário em extraordinário, criando lembranças duradouras que estimulam a fidelidade de cada pessoa.
*Yasmin Yonashiro é sommelier com foco em omotenashi e hospitalidade japonesa e embaixadora da The House of Suntory.
Destilados brasileiros têm apresentado um crescimento significativo nos últimos anos, impulsionando a indústria local e conquistando cada vez mais consumidores
A qualidade e a diversidade dos produtos fabricados no Brasil têm sido reconhecidas tanto no mercado interno quanto no exterior, contribuindo para a consolidação de marcas brasileiras no cenário mundial. Com um histórico de tradição na produção de bebidas alcoólicas, o país se destaca pela capacidade de inovação e pela valorização de insumos regionais.
O investimento na destilação nacional é mais do que a busca por excelência. É um compromisso com a qualidade que transcende fronteiras. Cada destilador nacional carrega consigo o orgulho de produzir sabores autênticos e incomparáveis, enraizados nas tradições e no cuidado artesanal. Nossa dedicação com a qualidade é a essência de cada gota, e é com satisfação que vemos o reconhecimento crescente desse compromisso apreciado ao redor do mundo.
Cachaça Capitão, de Bom Jardim de Minas, premiada no Spirits Selection du Concours Mondial de Bruxelles, no ano passado – foto divulgação
É verdade que ainda dependemos de bons maquinários que, infelizmente, somente temos na Europa e na América Central, mas esse cenário vem mudando. Com investimento da indústria de destilados nacionais, abre-se a oportunidade para atrair novos investidores.
O aumento do interesse do consumidor por destilados locais e artesanais tem impulsionado o crescimento do setor, estimulando a criação de novas marcas e a expansão de linhas de produtos já consolidados. A busca por bebidas que reflitam a identidade e a cultura brasileira tem sido um dos principais motores desse crescimento. Não podemos deixar de mencionar que a criação de destilados nacionais também visa um consumo mais inteligente de álcool e, com isso, a diminuição do volume alcoólico.
O crescimento dos destilados brasileiros não apenas fortalece a economia do setor, mas também reafirma a qualidade e a criatividade presentes na produção do país em diferentes segmentos. Com um mercado em ascensão e um potencial ainda a ser explorado, essas bebidas prometem continuar conquistando paladares e ganhando reconhecimento em todo o mundo. De norte a sul, a arte da destilaria nacional floresce, trazendo consigo uma riqueza de tradição e inovação.
*Alex Mesquita é mixologista, consultor de bares e diretor criativo de coquetéis no restaurante Elena, no Rio de Janeiro.
O vermute, bebida milenar europeia, caiu no gosto dos brasileiros e já é encontrado em versões com botânicos e frutos nacionais
O médico grego Hipócrates costumava preparar uma bebida no ano de 400 AC. Ele macerava a planta losna e flores de menta em um vinho forte e doce da Grécia, criando um tônico digestivo que ficou famoso como “vinho de Hipócrates”. O médico costumava receitar essa bebida para tratar condições como reumatismo, anemia e dores regulares.
Durante a Idade Média, a produção de vermute se estabeleceu em Piemonte, próximo às colinas alpinas, assim os destiladores encontravam facilmente plantas botânicas em suas proximidades. Muito tempo depois, em 1768, a bebida foi nomeada o “Aperitivo da Corte “. O costume pelo vinho se espalhou na Corte Real da Bavária, onde o “Wermut Wein” era popular.
De taças em taças, ao chegar na Corte francesa, virou vermouth. A primeira marca comercial surgiu em 1786 fundada por Antonio Benetto Carpano – sua fórmula usava vinho moscatel de qualidade e ingredientes misturados por monges locais e álcool para fortalecer e preservar a receita final. Já em 1813, o herbalista Joseph Noily começou a fabricar o seu vinho com laranjas amargas, camomila, e botânicos como losna, criando o vermute aromático e seco, o Noilly Prat. Seguindo o exemplo, outras famílias iniciaram a pirâmide de vermute. Entre as mais famosas estão Martini & Rossi, Cinzano, Cora, Cocchi, Gancia, Toso e Riccadonna. Na França, destacam-se Dolin e Lillet.
A crescente e atual demanda por coquetéis e bebidas de qualidade, fez com que buscássemos por produtos nacionais. Vermutes brasileiros vêm ganhando espaço, conquistando o paladar de muitos apreciadores da bebida, como os vermutes das marcas Aureah da Famiglia Griffo, Virgulino Ferreira, Vermú da Cia dos fermentados e os inovadores rótulos da empresa Divino Vermutes – que lançou em conjunto com especialistas do país, uma linha de produtos como bitters, xaropes e, claro, vermutes.
Vermute de açaí, da Divino Vermutes – Foto Taba Benedicto
Tive a honra de desenvolver e assinar a receita do primeiro vermute de açaí do mercado mundial, com o fruto nativo do Pará e mais 11 botânicos. Gabriel Santana, bicampeão do World Class Brasil, assina o vermute de caju que leva canela e cumaru entre as especiarias, o bitter aromático, e o xarope de limão siciliano. Léo Massoni, que já chefiou os bares Trabuca e DOM, assina o vermute de amora com laranjas e outras especiarias secas, o bitter de laranja e o xarope de gengibre.
Entre os clássicos e as novidades
Os vermutes são classificados em variedades doce e seca, com o Bianco de teor moderado de açúcar sendo introduzido por volta dos anos 1960. A bebida faz parte de grandes clássicos da coquetelaria centenária mundial e de coquetéis contemporâneos, como Negroni, passando por Manhattan, Dry Martini, Spritz e os mais “jovens” Vermute & Tônica. É possível degustar também os vermutes puros com gelo ou misturados com água com gás.
O Velvet é um bar e um clube de jazz com apenas 14 lugares que funciona no subsolo do restaurante Dias Bar & Mar. A atmosfera mistura referências dos Anos Dourados do Rio de Janeiro com outras da Gilded Age de Nova York, quando o jazz explodiu para o mundo. O mobiliário é todo revestido de veludo azul e o balcão tem uma parede espelhada decorada com garrafas. Da carta de drinques criada pelo mixologista Jonas Aisengart, vale muito a pena provar o Ghost Mary (um Bloody Mary clarificado com água de tomate temperada) e o Velha Bossa, que mistura cachaça, xarope de abacaxi, espumante e gim infusionado com laranja kinkan. Na programação musical, quinta-feira é noite de Standard Jazz, sexta é a vez do Fusion Jazz e os sábados são dedicados à Bossa Nova.
Velvet – Foto Andressa Guerra
Velvet: Rua Dias Ferreira, 410, subsolo, Leblon, tel. 21 2540-6981.
Cada estação do ano traz características distintas aos vinhedos, que refletem na produção e no consumo de rótulos em diversas regiões
O mundo do vinho tem algo de especial. Se visitarmos o mesmo vinhedo em épocas do ano diferentes – especialmente no hemisfério norte, onde as estações são bem demarcadas – visitaremos lugares distintos. Entramos no outono, momento em que se promovem as podas nas videiras, para prepará-las para o inverno – quando as plantações adormecem em uma espécie de meditação para se renovarem e trazer a vida novamente, explodindo em flores e frutos na primavera. No verão, acontece a colheita e tudo volta ao seu ciclo.
Nós, consumidores, tendemos a preferir alguns estilos de vinho conforme a estação, com os espumantes rosés e brancos no verão e na primavera e optamos por tintos no outono e no inverno. Confesso que, indiferentemente da época, minhas escolhas são mais em função do momento e da harmonização. Tenho consumido mais brancos do que tintos e mais evoluídos do que jovens e frescos, esses últimos que também vão bem nesta estação do ano.
Os vinhos têm a capacidade de oferecer sensações diferentes conforme a idade. Na juventude, ficam evidentes aquele frescor e vivacidade e, depois, no amadurecimento, a complexidade e exuberância se ressaltam. Sugiro, a seguir, alguns rótulos para a entrada do outono, entre estilos distintos.
Foto shutterstock | Divulgação
Na Natural Vinci, indico o Solo Rosso G 2019, do produtor natural Maurizio Ferraro, custa R$ 331 e vale cada gota. Um espetáculo de uva do Piemonte de corpo leve e harmoniza com aperitivos, embutidos, caponatas e pão com calabresa. Já na Prem1um Wines, sugiro o espetacular Vinha do Infante, da Quinta do Infantado. É orgânico, delicioso, fresco e equ ilibrado, e sai pelo valor de R$ 194. Um vinho perfeito para as receitas de bacalhau nesta Páscoa!
E o biodinâmico excepcional do Ernesto Catena, o vinho Animal, custa R$ 194 na Mistral e é um Malbec super fresco, intenso e equilibrado. Esse vinho fica maravilhoso com um queijo emental, com choripan e com as carnes grelhadas. Na De la Croix vinhos, indico o delicioso e fresco Travers de Marceau, um vinho de Saint Chinian (AOC), do Languedoc-Roussillon, das uvas Syrah, Mourvèdre, Carrignan e Cinsault. Sai das mãos do talentosíssimo Monsieur Rimbert e faz sucesso com as térrines, com carnes curadas, com pato, é bem versátil.
No Brasil, recomendo o surpreendente e natural Vitale Pinot Noir, da Valparaiso, um delicioso e fresco Pinot, de fermentação espontânea e uvas orgânicas, que fica um espetáculo com aperitivos, com sanduíches e salada de batatas. Custa R$ 130 no site do produtor.
Por fim, indico um orgânico espanhol de Garnacha e Syrah, que sai por R$ 112 na La Pastina e vale muito a pena. É o Venta La Vega Adaras Aldea em Almansa de El Mugrón e que tem por trás o talento do craque Raul Perez. Aproveite as luzes do outono e saúde!
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