Bala Desejo e Gilsons renovam a MPB do século passado com produções que são pura poesia
A paz e o amor, lema cantado e difundido no mundo e no Brasil afora na MPB do século passado, volta repaginado em bandas e produções que são pura poesia
O outono já invade os dias e as nossas vidas. Isso quer dizer que as praias estão lindas e desertas, esperando por nós, como na música “As Praias Desertas”, de Tom Jobim. Ao mesmo tempo, sabemos que a vida segue com suas dificuldades habituais e que a liberdade de estar no mar e na folia com os amigos não é para toda hora. O mundo vive simultaneamente uma pandemia e algumas guerras. E que saudade que dá do nosso amor na paz, não é? Já ressoa aos ouvidos “A Paz”, de João Donato e Gilberto Gil.
Lembro do movimento hippie paz e amor contra a guerra do Vietnã, lembro de Ella Fitzgerald cantando “Let’s Do It” de Cole Porter (“Vamos Amar”, na versão de Carlos Rennó com Elza Soares). E recordo dos nossos anos 1960 e 1970 com as maravilhas cantadas por Gal Costa, Luiz Melodia, Marina Lima. Plena ditadura e a música sempre indicando a saída. Ou pelo menos fazendo mais fácil existir.
Nesse verão de 2022 vimos duas bandas muito jovens com o espírito odara enchendo praias e teatros pelo Brasil. Sim, praias! Vejam que delícia. Bala Desejo (foto) é um quarteto formado meio sem querer no princípio da quarentena. Foram morar juntos Julia Vargas, Zé Ibarra, Dora Morelenbaum e Lucas Nunes. Fizeram lives da escadaria do prédio, compuseram, tocaram e, agora, espalham esse amor por aí. O primeiro trabalho já está nas plataformas e é uma delícia. Nas fotos parece que estamos vendo os doces bárbaros do século 21, cariocas, jovens, talentosos e livres – ou, ao menos, pregando a liberdade, a paz e o amor.
A outra banda, ainda que não more junto, convive desde o berço. São os Gilsons. Nome dado por Preta Gil para juntar o som e os três meninos de mesmo sobrenome: José, João e Francisco. O álbum “Pra Gente Acordar” é um tremendo sucesso e a agenda está lotada até o próximo semestre. Como a Bala Desejo, o repertório é autoral e a plateia canta tudo.
Fico com a impressão de que é esse desejo de ar que traz a nostalgia da liberdade, a vontade de cantar o amor geral em um acorde perfeito maior. A arte salva, regenera, nutre e cura.
E Gal Costa, musa desses anos incríveis, das dunas do barato, a maior cantora do Brasil para João Gilberto e Torquato Neto, está virando filme. Parte de sua história, da chegada ao Rio até o histórico e fundamental “Fa-Tal” (dirigido pelo também fundamental Waly Salomão) ganhou roteiro de Lô Politi. Fiquei encantada quando li. Estou louca para ver o longa! Lô divide a direção com Dandara Ferreira, que já fez um documentário incrível sobre Gal. Sophie Charlotte, que canta lindamente, aliás, é nossa personagem principal. “Nossa” porque Gal é patrimônio, certo? Já soube que as filmagens reproduzem o clima da época, inclusive nos bastidores.
Será que é um sinal de que a nostalgia vai trazer de volta a paz e o amor para esses nossos tempos brutos? Tomara! Porque eu prefiro mesmo é dançar para ficar odara e dizer que sou amor da cabeça aos pés. Como dizem por aí, vamos fazer poesia! Porque eles detestam…
Ouça a playlist by Patrícia Palumbo no 29HORAS Play e relembre o século passado: Clique aqui!
Comentários