Gabriel Leone encarna o eterno Ayrton Senna em série da Netflix e constrói sua carreira internacional

Gabriel Leone encarna o eterno Ayrton Senna em série da Netflix e constrói sua carreira internacional

Astro da série “Senna”, que acaba de estrear na Netflix, Gabriel Leone constrói, aos poucos, sua carreira internacional. Este ano ele brilhou nos cinemas ao lado de Adam Driver e Penélope Cruz em “Ferrari” e, em 2025, poderá ser visto atuando na série de espionagem “Citadel”, da Amazon Prime Video

Gabriel Leone começou sua carreira atuando em musicais no teatro, depois fez sucesso em novelas e minisséries na TV Globo e agora desponta como artista de fama planetário, com suas atuações no filme “Ferrari” (dirigido por Michael Mann, estrelado por Adam Driver e lançado em fevereiro deste ano nos cinemas do mundo todo) e, principalmente, como protagonista de “Senna”, série em seis episódios recém-lançada na Netflix. Interpretar o mais venerado piloto de Fórmula 1 de todos os tempos exigiu bastante do ator, mas sem trabalho não há recompensa. “Foi o maior desafio da minha carreira, uma honra enorme, uma baita responsabilidade e uma alegria imensa. Estou muito feliz com o resultado”, afirma.

Como parte das ações de divulgação do lançamento da série, em novembro Gabriel foi ao autódromo de Interlagos e viu de perto como a presença de Ayrton ainda é forte no circo da Fórmula 1, mesmo 30 anos depois do terrível acidente em Ímola, na Itália, em maio de 1994, que pôs fim à sua vida e à sua gloriosa trajetória no automobilismo.

 

Gabriel Leone – foto Fabio Audi

 

Atualmente na Inglaterra, para finalizar as filmagens de sua participação na série de espionagem “Citadel”, da Amazon, Gabriel realiza mais um movimento importante para fazer sua carreira internacional decolar. Aos 31 anos de idade e casado com a atriz Carla Salle, ele segue acelerando, mas já descobriu também o quanto é importante reservar um tempo para cuidar de si, colher os frutos de sua trajetória profissional e aproveitar a vida — que não se resume a trabalho.

Na entrevista que concedeu à 29HORAS, Gabriel fala um pouco dessa dura missão de interpretar um dos maiores ídolos do esporte brasileiro, declara sua paixão pela música, antecipa alguns pequenos detalhes sobre as produções que vai estrear em 2025 no cinema e no streaming e especula sobre um eventual retorno à TV aberta e às novelas. Confira nas páginas a seguir os principais trechos dessa conversa.

Quando o Senna morreu você tinha apenas um ano de idade. Como você fez para “descobrir” a dimensão da idolatria dos fãs e do talento dele, anos depois do fatídico acidente no Autódromo de Ímola?
É impressionante como, 30 anos depois do acidente, a presença dele ainda é viva e o legado dele é potente. O Senna foi o mais humano dos heróis, e isso fez a sua fama transcender o automobilismo. Ele é uma referência não só para pilotos, mas também para muita gente, no mundo todo. Agora, por exemplo, estou filmando na Inglaterra, e lá o nome dele permanece muito forte. Todo dia eu percebo como ele é admirado, e continuará sendo por um longo tempo!

 

O ator no papel de Ayrton Senna, na nova série da Netflix – foto divulgação

 

Nem deve ter sido difícil para você fazer essa viagem ao passado, considerando que você é fã do “Clube da Esquina” (álbum lançado em 1972 por Milton Nascimento), de Renato Russo (morto em 1996) e do filme “Hair” (dirigido em 1979 por Milos Forman)… Você gostaria de ter vivido em outra época?
A verdade é que sou um saudosista. Tenho saudade até de coisas que eu não vivenciei. Sou muito feliz nos dias de hoje, nessa época em que vivo, mas confesso que tenho uma certa inveja de quem viveu nesse passado. Sou fascinado pela cultura e pela arte dos anos 60, 70 e 80!

É impressionante a semelhança do seu gestual e o do Ayrton em algumas cenas da série. No que você mudou fisicamente para incorporar o personagem?
Essa é uma observação interessante, porque a nossa ideia não era fazer uma imitação. É preciso que se entenda que a série é uma obra de ficção, não é um documentário. Eu sou o canal para contar a história dele. Fiz uma construção baseada em um extenso trabalho de pesquisa e de observação. Trouxemos algumas características dele, o cabelo, o sotaque paulista, seu jeito peculiar de falar inglês. Mas a proposta nunca foi ser igual a ele. Foi um mergulho para trazer a essência dele. Imitar atrapalha a interpretação, tira a naturalidade.

E o que a sua personalidade tem em comum com a do Ayrton?
A característica mais marcante do Ayrton é a sua determinação. Ele sempre batia na tecla do “confie em você”, “não desista”, “tenha foco para atingir seus objetivos”. Nesses aspectos, eu me vi nele. Corro atrás dos meus sonhos e me entrego de corpo e alma àquilo que me proponho a fazer.

 

Gabriel Leone em cena da série “Senna”, no histórico pódio de Interlagos em 1993 – foto divulgação

 

Há alguns meses, te vimos interpretando o piloto espanhol Alfonso De Portago no filme “Ferrari”, e agora você aparece no papel de Ayrton Senna. Não tem medo de ficar estigmatizado como “eterno piloto”?
Isso, na verdade, foi uma grande coincidência. Coisas que o destino apresenta para a gente. Antes de fazer “Ferrari”, eu já estava escalado para “Senna”. Aliás, foi ótimo para já ir me familiarizando com o universo do automobilismo. A verdade é que “Ferrari” e “Senna” são duas produções muito distintas. Para mim, um trabalho não teve quase nada a ver com o outro, a não ser esse pano de fundo das corridas. Mas o De Portago e o Senna têm uma trágica coincidência que os une: os dois morreram em acidentes nas pistas!

E se no ano que vem algum produtor de elenco te chamar para interpretar o jovem Emerson Fittipaldi, você aceitaria?
Eu provavelmente não aceitaria, porque, se topasse, eu estaria me repetindo: mais uma vez seria uma biografia, a história de um piloto brasileiro… Aí deixaria de ser coincidência para ser uma reincidência.

Em “Piedade”, você atuou ao lado de Fernanda Montenegro; em “Um Lugar ao Sol”, fez par romântico com Andrea Beltrão; em “Duetto”, contracenou com Giancarlo Giannini e, em “Ferrari”, trabalhou com Adam Driver e Penélope Cruz. Essas trocas te fazem um ator melhor?
Todos esses foram muito generosos comigo. Tive muita sorte de cruzar com pessoas que me transformaram. Ao lado desses gigantes, fico muito atento e muito aberto para aprender e absorver tudo o que eles me oferecem. Você citou alguns, mas eu também tive trocas incríveis com o Antônio Fagundes e com o Domingos Montagner em “Velho Chico”. Eu não me fixo apenas na técnica deles, também admiro e tento espelhar a postura profissional deles.

 

Gabriel com Alice Braga em “Eduardo & Mônica” – foto divulgação

 

Você não é um heavy user de redes sociais e tem uma presença até que discreta na internet. A maioria das suas postagens são — ótimas — dicas de filmes e discos. O que você acha dessas escolhas de elenco que levam em conta o número de seguidores do artista cotado para um papel. Sua amiga Alice Wegmann e atores como Vladimir Brichta, Armando Babaioff e Fernanda Torres já se manifestaram a respeito. Qual a sua posição?
Eu acho isso um grande de um absurdo. Isso não é critério. Nada contra escolher uma pessoa que não tenha grande experiência como ator, contanto que ela vá bem nos testes — atores naturais são usados por muitos diretores. Mas o número de seguidores não pode ser parâmetro para embasar uma escolha. Imagine um grande ator com poucos seguidores sendo preterido por um ator fraco, mas com alta audiência nas redes sociais. Como assim? Considero isso um desrespeito com a nossa profissão!

Em 2025, você estará na 2ª temporada da série “Citadel”, superprodução da Amazon Prime Video. O que você pode adiantar sobre esse trabalho?
Estamos finalizando as filmagens em Londres este mês, mas não posso falar nada sobre o meu personagem, meu contrato tem uma cláusula de confidencialidade. Só posso te dizer que eu aceitei o papel porque o meu personagem me conquistou, me instigou. Não topei apenas porque trata-se de uma grande produção que vai ser exibida no mundo todo. “Citadel” é uma série de ação e espionagem muito bacana. Ela é produzida pelos geniais irmãos Anthony e Joe Russo [responsáveis por blockbusters como “Capitão América” e “Os Vingadores”], tem um elenco incrível e vem sendo uma experiência fantástica para mim.

Também no ano que vem, veremos você atuando ao lado de Wagner Moura no filme “O Agente Secreto”. Fala para a gente do seu personagem e de como foi ser dirigido pelo cineasta pernambucano Kléber Mendonça.
Acho mais legal as pessoas chegarem ao cinema sem saber. Causa mais impacto, surpresa. Mas posso dizer que trabalhar com o Kléber me deixou muito feliz. O roteiro que ele escreveu é sensacional, com uma história inteligente. Eu já fiz vários trabalhos em Recife (como “Piedade” e “Onde Nascem os Fortes”) e essa é uma cidade onde tenho muitos amigos e ótimas recordações.

Sendo requisitado para tantos trabalhos no cinema, no streaming, no Brasil e no exterior, ainda existe alguma chance de você voltar a fazer uma novela da TV aberta, bloqueando a sua agenda e a sua vida por mais de seis meses por causa de um único trabalho?
Novela consome quase um ano inteiro! Adorei ter feito “Um Lugar Ao Sol” e “Velho Chico”. Novela no Brasil tem um alcance extraordinário, tem uma importância social, traz temas interessantes à discussão. Em algum momento eu devo voltar, mas certamente não no curto prazo.

 

Gabriel tocando violão no “Programa do Jô” – foto Ramon Vasconcelos / TVGlobo / Divulgação

 

Você gosta de cantar e já atuou em musicais como “Os Miseráveis” e “Wicked”. Você tem planos de lançar um álbum?
Eu adoro cantar, estudei canto e toco violão. O canto e o domínio de um instrumento são ferramentas importantes no meu trabalho, e eu não vivo sem música. Não sei se um dia vou conseguir lançar um álbum, mas gostaria de fazer um show. Isso é bem mais possível, mas eu precisaria dar uma pausa em meus trabalhos como ator para me dedicar exclusivamente a isso. Nesse momento, está difícil…

Para concluir, você ainda está com o pé do acelerador no fundo ou prefere andar mais devagar nesse momento para “curtir a viagem”?
Sempre que estou envolvido em algum trabalho, piso com força no acelerador, me esforço para aproveitar ao máximo as oportunidades que aparecem na minha vida. Mas nesses últimos anos eu tenho tentado selecionar os projetos nos quais vou me jogar. Sinto que é igualmente importante desacelerar, relaxar, colher os frutos, ir mais devagar e não ficar simplesmente emendando um trabalho no outro. Preciso ter tempo para cuidar de mim, para curtir a minha família. O jeito ideal de manejar isso é usando o pé do acelerador como o Ayrton faria, com sabedoria!

Foto da capa: Fabio Audi

Fernanda Torres brilha como protagonista de “Ainda Estou Aqui”, filme de Walter Salles que estreia este mês nos cinemas

Fernanda Torres brilha como protagonista de “Ainda Estou Aqui”, filme de Walter Salles que estreia este mês nos cinemas

Camaleoa que encarna personagens tão diferentes como a neurótica Vani de “Os Normais” e a ingênua Carula de “A Marvada Carne”, a atriz Fernanda Torres brilha como protagonista de “Ainda Estou Aqui”, filme de Walter Salles que foi selecionado para representar o Brasil na corrida por uma vaga no Oscar

Fernanda Torres já disse que vive numa linha fina entre o cult e o popular. A declaração, feita em 1998 no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, faz sentido. Fernanda trilhou um caminho onde o teatro e o cinema tiveram mais relevância em sua carreira do que fazer novelas — gênero que ainda eleva a maioria dos atores e atrizes brasileiros ao status de popstar. Ainda assim, se tornou conhecida do grande público graças a papéis como a neurótica Vani da sitcom “Os Normais” (2001-2003) e a divertida Fátima, da série de TV “Tapas & Beijos” (2011-2015).

Atriz, roteirista, escritora e apresentadora, Fernanda Torres está no centro das atenções da mídia brasileira e internacional — e não seria exagero dizer que com a mesma força de uma protagonista de novela. Seu novo filme, “Ainda Estou Aqui”, vem causando impacto por onde é exibido desde sua estreia mundial, no Festival de Veneza, em setembro. Prêmio de melhor roteiro no festival de cinema mais antigo do mundo, o longa marca o retorno da parceria de Fernanda com o cineasta Walter Salles, que a dirigiu ao lado de Daniela Thomas (que também faz parte da equipe de “Ainda Estou Aqui”) em “Terra Estrangeira”, de 1994. “É um filme sobre uma família feito por uma família de cinema”, comenta Salles.

 

Fernanda como Eunice, em “Ainda Estou Aqui” – foto Alile Dara Onawale / Divulgação

 

“Ainda Estou Aqui” é o longa brasileiro mais comentado do ano e um dos mais vistos no mundo. No Rotten Tomatoes, famoso site que reúne críticas internacionais, já chega em 89% de aprovação. Representante nacional a uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025, vem percorrendo diversos festivais de prestígio – já passou por Toronto, San Sebastian, Biarritz, Pingyao, Zurich, Nova York e Londres; e estreia nos cinemas em todo o Brasil no dia 7 de novembro.
O filme é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva e conta a história de sua família. Na trama, ambientada no Rio de Janeiro de 1970, os Paiva vivem sob a tensão da ditadura militar. Um dia, Rubens, o pai de Marcelo, é levado de casa e nunca mais volta. Cabe a sua mãe, Eunice, cuidar dos cinco filhos e lutar para esclarecer o que aconteceu com seu marido.

Walter Salles era amigo de infância de Marcelo Rubens Paiva e de uma de suas irmãs, Ana Lúcia. O diretor levou sete anos para transformar “Ainda Estou Aqui”, o livro, no filme que hoje faz sucesso mundo afora. O roteiro premiado em Veneza, assinado por Murilo Hauser e Heitor Lorega, foi escrito 15 vezes. E o que mais chama a atenção na história é a forma como Eunice encarou o desaparecimento do marido, o ex-deputado Rubens Paiva: sem drama, ela se tornou advogada de direitos civis aos 48 anos e nunca deixou de lutar para que a morte de Rubens fosse reconhecida. A forma como Fernanda Torres interpreta Eunice é o destaque do filme, o que faz da atriz, aos 59 anos, uma forte candidata na temporada de premiações, podendo repetir o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, que foi indicada ao Oscar de melhor atriz em 1999 por “Central do Brasil”, também de Walter Salles. “A Nanda é uma camaleoa. Ela pode fazer a Vani de biquíni e a Eunice contida, séria”, comenta Marcelo Rubens Paiva.

O reconhecimento pelo desempenho de Fernanda em “Ainda Estou Aqui” já começou: uma das premiações mais relevantes do cinema, o Critics Choice Awards (onde apenas críticos de cinema e televisão podem votar e escolher seus favoritos no ano) a elegeu Melhor Atriz em Filme Internacional na 4ª edição da Celebração do Cinema e da Televisão Latina, em cerimônia realizada em outubro, em Los Angeles, a capital mundial do cinema.

 

O diretor Walter Salles orienta Fernanda Torres no set de filmagem de “Ainda Estou Aqui” – foto Alile Dara Onawale / Divulgação

 

“Não é nenhuma loucura dizer que a performance da Nanda nesse filme é uma das melhores do ano, que está lá com a Nicole [Kidman, pelo filme ‘BabyGirl’] e Angelina [Jolie, pelo filme ‘Maria’]. E eu fico feliz por ela”, comenta Selton Mello, que interpreta Rubens Paiva no filme.

Mesmo com tantos elogios, Fernanda Torres é cautelosa sobre prêmios e indicação ao Oscar. Para ela, que já conquistou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes em 1986 por sua atuação em “Eu Sei Que Vou Te Amar”, de Arnaldo Jabor, o sucesso de sua interpretação em “Ainda Estou Aqui” se deve exclusivamente à personagem. “É a Eunice. Ela é incrível. Eu fiquei impressionadíssima com ela. Sempre soube que ‘o pai do Marcelo sumiu’ e que ‘foi morto pela ditadura’. Mas isso sempre foi pouco… é como se fosse um headline sem a matéria principal. Até que o Marcelo escreveu esse livro. Ninguém sabia [como era a família Paiva]. Ele escreve um livro e conta não só como o pai dele desapareceu, mas como era a vida deles antes e durante o Golpe de Estado com o Rubens no Congresso [Rubens Paiva foi cassado em 1964], o exílio, a volta, e sobre a descoberta do próprio Marcelo que a grande heroína da família era a mãe dele. Então, se você não sabia muito do Rubens Paiva, da Eunice Paiva você sabia nada, até esse livro aparecer.”

Fernanda conta como veio o convite para interpretar Eunice Paiva: “Fiquei muito surpresa quando o Walter me chamou. Ele me convidou para um almoço e eu achei que ele ia me convocar para escrever algo, um roteiro para ele… Quando ele falou que era para interpretar a Eunice, eu tomei um susto!” Ela destaca ainda que a construção da personagem foi delicada: “Eu me lembro que fui olhar [material sobre a Eunice] e a primeira coisa que pensei é ‘tenho que estar preparada para a primeira leitura, eu não posso ir nem para a primeira leitura sem saber nada sobre Eunice’. Aí eu peguei a Helena Varvaki, que é uma preparadora de atores extraordinária. Durante um mês a gente leu o roteiro… ela foi importantíssima para mim, para fazer todo o filme… aí eu li [o roteiro] e começou um longo processo de todos nós, porque o Walter fez um filme quase como um documentário. Quando entram as fotos reais no fim, você não sente ‘ah esses são os personagens reais’, parece que você viu aquelas pessoas durante todo o filme, é uma coisa estranha!”

Fernanda Torres divide com a mãe o papel de Eunice. Nos minutos finais de “Ainda Estou Aqui”, é Fernanda Montenegro quem aparece como a personagem. Comento que o nome de sua mãe foi aplaudido na sessão de imprensa do Festival de Veneza. Ela sorri e diz que na sessão de gala isso também aconteceu.

Reconstrução de época

O trabalho minucioso de reconstrução de época em “Ainda Estou Aqui” também chama muita atenção. Impossível assistir ao filme e não ficar impressionado com a riqueza de detalhes, que transporta o espectador para dentro da história. Fernanda Torres conta como foi esse processo no dia a dia das filmagens.

 

A atriz no papel de Eunice Paiva ao lado de Selton Mello, que interpreta Rubens Paiva – foto Alile Dara Onawale / Divulgação

 

“Quando assisti ao filme pela primeira vez, pensei ‘nossa, não pareço eu!’ Parecia um documentário! Teve uma loucura porque ensaiamos naquela casa. O [diretor de arte] Carlos Conti colocava cigarro apagado nos cinzeiros. Tudo era real. A Amanda Gabriel, que era preparadora de elenco e trabalhou principalmente o sentido de família, esteve até o fim com a gente. Nós começamos a conviver com as crianças [que interpretam os filhos de Rubens e Eunice] naquela casa, cozinhar, conviver como família. A vitrola que aparece no filme não era apenas uma vitrola. Era uma vitrola que alguém da família trouxe, as coisas tinham cheiro e tinha o processo de repetir todas as fotos minuciosamente. É um trabalho incrível, e o elenco também embarcou nesse universo”, revela.

Até mesmo a forma como o filme foi rodado, segundo Fernanda, fez toda a diferença para sua interpretação. “Começamos a filmar em Super 8. Foi um longo processo minucioso e tem o fato de ser em película. Quando se filma em digital, tem um lado incrível que é poder repetir em cima, sem parar, você pode criar coisas incríveis em digital. Mas em película tem um momento sagrado do take. Porque se você errar, ou alguém errar, vai ter que tirar o rolo, voltar… Então cria-se, e o Walter sempre criou, uma espécie de sacralidade para a cena. Concentração. Isso tudo foi ajudando a gente, a roupa velha, a casa, tudo com vida…”

Como Walter Salles conhecia e frequentou a casa dos Paiva, isso também tornou todo o projeto muito particular, o que fez com que a relação da atriz com o diretor tivesse um outro olhar por parte dela. “Era quase um fetiche do Walter recriar aquela casa. E ele foi tirado daquela casa. Não foi só a família. O desaparecimento do Rubens fechou aquela casa para ele. Aquela foi a casa que abriu para o Walter a Tropicália, o mundo fora da casa dele, que era muito mais rígida. Ele tinha um fetiche de recriar aquilo.”

A ditadura e o mundo atual

Com a ascensão da extrema direita em diversas partes do mundo, a trama de “Ainda Estou Aqui” ganha contornos ainda mais atuais. Se em Veneza os jornalistas italianos viram semelhanças entre o que o filme apresenta e a atual situação política do país, em outras cidades onde já foi exibido, o longa causa a mesma sensação de revisitar um passado que ainda está presente.

“É uma história sobre o presente, sobre as escolhas que a gente está fazendo no presente. É um filme, primeiramente, sobre memória. Porque parece que a gente perdeu [a memória]. Engraçado que a minha mãe fala isso também. Ela fala ‘eu sou do tempo da bomba atômica. Desde a bomba atômica até agora o homem desenvolveu questões como direitos humanos, igualdade, tudo isso veio depois do trauma da bomba atômica’. Mas eu não sei se foi depois das Torres Gêmeas. Não sei quando isso começou a não ser mais importante. E atualmente não se tem mais essa memória. Os direitos humanos parecem que viraram uma perfumaria da esquerda”, analisa Fernanda.

 

Com os atores mirins que interpretam seus filhos no filme – foto divulgação

 

Para a atriz, a atual situação do mundo está relacionada à trama de “Ainda Estou Aqui”. “Um filme como esse lembra que você mesmo sendo branco, de elite, pode viver sob uma ditadura militar. A Eunice lembra também o que era a mulher no seu papel de dona de casa. A Eunice representa muitas coisas e, especialmente, o quanto a mulher caminhou. E tudo isso que está sendo jogado como lixo de esquerda, tudo foi distorcido! É um filme que procura relembrar e colocar no lugar de novo o que é o quê, e através do sentimento de uma família com a qual todo mundo pode se identificar.”

Ausência e presença

Eunice Paiva só conseguiu o reconhecimento da morte de seu marido em 1996. “Ainda Estou Aqui”, que começa mostrando a alegria e união dos Paiva, aborda também como a família viveu momentos difíceis até o dia em que o governo reconheceu que Rubens Paiva estava morto. Mas, durante toda a história, Rubens nunca deixou de estar presente. E essa sensação de ausência e presença que o público sente, também fez parte da interpretação de Fernanda Torres.

“Eu fiquei surpresa, sabe, porque o Rubens entra lá no começo [do filme], e depois o Selton some. Para minha tristeza, eu senti fortemente quando ele foi embora. E depois tem um longo filme que a gente tinha que fazer. E aquele filme luminoso lá do início ficou lá. Quando juntou eu fiquei surpresa e impactada de como o Rubens é presente no filme. Ele não é algo que ficou no passado. Você sente a falta dele como a Eunice sente, como os filhos sentem. Isso aconteceu, ele não é um coadjuvante. O Rubens é protagonista com a Eunice. Isso é uma coisa bonita. Ele continua presente.”

 

foto Alile Dara Onawale / Divulgação

 

A parceria com Selton Mello é elogiada por ela, que não perde a oportunidade de terminar a entrevista brincando com o tempo de filmagem que eles tiveram neste que é o primeiro filme original Globoplay, com distribuição internacional da Sony Pictures. “Selton tem um excelente papel. Ele trabalhou apenas poucos meses, e eu ainda estava lá”, conclui, aos risos.

Filme “Aumenta Que É Rock’n’Roll” conta a história da Rádio Fluminense, a primeira dedicada ao rock

Filme “Aumenta Que É Rock’n’Roll” conta a história da Rádio Fluminense, a primeira dedicada ao rock

A Rádio Fluminense, dedicada ao rock, foi uma das pioneiras contra a caretice vigente nos anos posteriores ao fim da Ditadura Militar

“Aumenta Que É Rock’N Roll”, longa dirigido por Tomás Portella e protagonizado por Johnny Massaro, chega aos cinemas no dia 25 de abril. O filme narra o surgimento da Rádio Fluminense FM, criada em 1982 pelo jornalista Luiz Antonio Mello (Massaro), com o apoio do amigo Samuel Wainer Filho (George Sauma). O roteiro é baseado no livro “A Onda Maldita”, escrito por Luiz Antonio Mello. A trama acompanha o dia a dia de um grupo de jovens sonhadores – produtores, repórteres e locutores – que toparam ir contra a caretice que ditava o padrão das rádios da época e deram origem à primeira rádio brasileira dedicada exclusivamente ao rock. Em uma das cenas mais icônicas, tendo como cenário o Rock in Rio de 1985, Luiz Antônio e sua amada Alice (Marina Provenzzano) selam seus destinos ao som de Cazuza, à frente do Barão Vermelho.

“Aumenta Que É Rock’n’Roll” revela a euforia vivida durante a redemocratização do país, quando o rock nacional invadiu as ruas e as vitrolas trazendo muito mais do que boa música, mas incendiando os costumes e revolucionando o jeito de se vestir, pensar, dançar e se expressar.

 

Johnny Massaro em cena do filme – foto divulgação

Paulo Miklos lança novo álbum solo e encarna Adoniran Barbosa no filme “Saudosa Maloca”

Paulo Miklos lança novo álbum solo e encarna Adoniran Barbosa no filme “Saudosa Maloca”

Após o sucesso da turnê “Titãs – Encontro”, músico e ator Paulo Miklos acaba de lançar “Paulo Miklos ao Vivo” e está em cartaz nos cinemas como o protagonista do filme “Saudosa Maloca”

Após rodar o mundo com a turnêTitãs – Encontro”, Paulo Miklos não quer saber de descanso e, pelo contrário, pisa no acelerador! Ele acaba de lançar “Paulo Miklos ao Vivo”, registro unicamente em formato digital de uma apresentação no Blue Note São Paulo em março de 2023, na qual interpretou faixas de seus dois álbuns mais recentes de estúdio, “A Gente Mora no Agora” e “Do Amor Não Vai Sobrar Ninguém”, além de arranjos especiais para hits dos Titãs, como “Flores”, “Comida” e “Sonífera Ilha”. “Fiz também uma homenagem ao rapper Sabotage, morto há 20 anos”, completa o músico.

O primeiro single, “Todo Esse Querer”, já disponível nas plataformas de streaming de música, celebra o amor a partir do estado alterado dos sentidos que vivenciamos quando estamos apaixonados. “As cores se mostram vibrantes, os sabores acentuados, a poesia invade nossas vidas, para sempre ou só por uma noite”, elucubra.

 

Paulo Miklos como Adoniran Barbosa – foto João Oliveira

 

Mas o talento do inquieto artista não se limita à música. Desde o final de março, ele está em cartaz nos cinemas como o protagonista do filme “Saudosa Maloca”, no papel de Adoniran Barbosa. Dirigido por Pedro Serrano, o longa é inspirado em um dos maiores sucessos do sambista autor de “Trem das Onze” – aquela música sobre o filho único que mora láááá no Jaçanã.

Na trama, Adoniran narra ao jovem garçom de um bar as histórias de uma São Paulo de outrora, lembrando dos amigos Matogrosso (Gero Camilo) e Joca (Gustavo Machado), vivendo em uma maloca, ambos apaixonados por Iracema (Leilah Moreno). Enquanto ela dá duro como balconista, os dois fazem de tudo para fugir do batente e “viver forgadamente”. Às custas do samba, Adoniran, Joca e Matogrosso sobrevivem à pobreza e à fome, mas têm seu modo de vida ameaçado quando o “pogréssio” começa a transformar o bairro do Bixiga, engolindo nossos simpáticos malandros.

O filme embute uma crítica à especulação imobiliária que cria uma paisagem cada vez mais desigual na metrópole. Combinando drama e fantasia, o longa resgata a São Paulo lírica do passado que ficou imortalizada nas composições de Adoniran Barbosa. “Foi um grande desafio, porque o Adoniran é um personagem com voz e dialeto bem característicos”, conta Miklos, que já teve atuações elogiadas e premiadas em filmes como “O Invasor”, “Estômago” e “É Proibido Fumar”.