Bares, restaurantes e empórios se dedicam a receber bem e apresentam rótulos de qualidade a clientes que não dispensam um bom passeio pela cidade
Lembro quando não existiam bares de vinho na capital paulista. Eu mesmo e meus filhos abrimos um que quebrou, pois ninguém entendia o conceito à época. Foi em 1998, o lugar ficava na rua Araçari, na esquina com a Adolfo Tabacow, no Itaim. Todos achavam estranho uma carta de 36 vinhos em taça e nenhum cardápio, uma vez que havia um balcão com petiscos diversos para se servir à vontade. Entendi, então, que tudo tem o seu momento certo.
Hoje, fico feliz em ver a diversidade de excelentes bares e restaurantes onde é possível se sentar e tomar uma ou mais taças de vinho, além de “beliscar” alguma maravilha. É uma questão de cultura, de hábitos, que agora começamos a ganhar. Consigo, inclusive, listar endereços que primam pelos bons rótulos, com bons preços e, principalmente, com vinhos bem tratados, o que considero fundamental!
Aos sábados, por exemplo, você pode ir ao De la Croix Vinhos (Alameda Lorena, 678, Casa 1), que, das 11h às 18h, transforma sua loja em um delicioso bar a vin, com diversas opções em taça ou garrafa a preço de importador, e com terrines e queijos deliciosos! O local está em uma vila, é um espaço agradável e super bucólico.
No Shopping Iguatemi, dois lugares são muito especiais para se beber uma taça e oferecem um atendimento correto e elegante. O Piselli Sud, que dispensa apresentações, onde se tem sempre opções em taça de boa seleção de espumantes e vinhos, além de diversos acompanhamentos. E o Mistral Wine Bar, que apresenta uma enormidade de garrafas a preço de importador e vinhos em taça. Para acompanhar, peço umas bruschettas muito bem-feitas entre outras opções de queijos e frios. É um ambiente perfeito para marcar um encontro!
Os dois endereços da Daniela Bravin e da Cassia Campos também são pontos obrigatórios para quem gosta de bons vinhos. Falo do Sede, na Rua Benjamin Egas, 261, em Pinheiros – um espaço descontraído e informal, mas que oferece sempre simpatia e qualidade, em uma garagem que se abre para a ruela, e nas calçadas há cadeiras e banquinhos. O outro é o Huevos de Oro, na Pedroso de Morais, 267, que abre no fim da tarde em diante – no andar de baixo há muita descontração e mesinhas na calçada, e em cima o lugar é mais sóbrio e intimista. O destaque são os petiscos da chef Ligia Karazawa, que são sensacionais, e a carta da Cassia e Daniela, que enfatiza os espanhóis, com boas opções de jerezes.
Falta ainda destacar o Restaurante Cais, que fica na Vila Madalena, na Rua Fidalga, 314. O Guilherme Giraldi, uma simpatia e que cuida do salão, é apaixonado por vinhos naturais e tem uma das melhores cartas de taças que já vi, também com bons jerezes. E do talento de seu sócio, Adriano de Laurentis, saem maravilhas da cozinha, para mesa ou balcão. Bom passeio e saúde!
Restaurante Huevos de Oro, em Pinheiros – Foto divulgação
A marca de alimentação saudável com foco em produtos veganos e sem glúten, Seedz lança novo menu e combinações nutritivas e saborosas de sucos e shakes
A Seedz – marca de alimentação saudável com foco em produtos veganos e sem glúten – acaba de reformar sua loja conceito no Leblon e lançar seu novo menu de verão. Entre as novidades, destaque para o sanduba Caprese (feito com ciabatta sem glúten, queijo vegano, pesto de manjericão, tomatinhos cereja e manjericão fresco), o Açaí Especial (batido com banana e servido com granola artesanal zero açúcar), o Bowl Árabe (com falafel, arroz, lentilhas, hommus, salada Fatouch, tahine e torradinhas de pão pita) e a Moqueca de Banana. Para beber, a casa oferece sucos preparados na hora pelo método de prensagem a frio, são pedidas saborosas e nutritivas, como o Detox (de maçã com pepino, aipo, couve, limão e gengibre) e o Bronze (de maçã com cenoura, beterraba, limão e gengibre), além dos shakes preparados com leite de castanha de caju, disponíveis em sabores como banana & cacau.
Seedz Shake Paçoca -Foto divulgação
Seedz Avenida Ataulfo de Paiva, 1.292, Leblon, tel. 21 99265-3623.
A cantora e compositora Luedji anunciou shows a partir de março no icônico Circo Voador, no Rio de Janeiro
A baiana Luedji Luna estreia a turnê de lançamento de seu mais recente álbum, “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água Deluxe”, nos dias 3 e 4 de março, no icônico palco do Circo Voador. Sempre acompanhada por uma banda de peso – com quatro backing vocals, três sopros, baixo, teclado, sintetizador, bateria, guitarra e percussão, ela apresenta o mesmo show no dia 31, na Áudio, em São Paulo. O espetáculo tem luzes e cores que turbinam a sensualidade e o empoderamento da cantora e de suas canções. “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’ Água Deluxe” é um disco sobre amor na perspectiva de mulheres negras. Nele, Luedji Luna flerta com o neo-soul e o R&B, além do jazz já presente nos seus trabalhos anteriores.
Luedji Luna – foto divulgação
Circo Voador: Rua dos Arcos, s/ n°, Lapa, tel. 21 2533-0354. Ingressos a partir de R$ 70.
Com sua energia criativa e sua conexão com a música no auge, Pitty se apresenta este mês no Lollapalooza e, em seguida, roda o país com um show que celebra os 20 anos do lançamento de “Admirável Chip Novo”, seu antológico álbum de estreia
Toda menina baiana tem um jeito que Deus dá, como dizia Gilberto Gil, mas nem todas têm o mesmo jeito. Nascida em Salvador há 45 anos, a pequena Priscilla Novaes Leone sempre valorizou sua individualidade, seu próprio jeito de ser. Nunca se identificou com a euforia do axé, com a brisa lânguida de Caymmi ou com o hedonismo odara de Caetano. Identificava-se mais com Raul Seixas e com a marginália soteropolitana. Em meados dos anos 1990, começou sua trajetória na cena musical underground da Bahia com duas bandas de hardcore, a Shes e a Inkoma.
Foi nessa época que Rafael Ramos, produtor e diretor artístico da gravadora Deckdisc, a “descobriu”. “Quando ouvi sua demo, foi paixão à primeira vista por sua música. A primeira impressão que ficou foi a de uma vocalista de hardcore extremamente afinada e talentosa. Ela era incrível em todos os aspectos, muito autêntica, brilhante mesmo”, recorda.
De lá para cá, Priscilla virou Pitica (por causa de seus 1,61 m de altura), depois Pitty e, a partir do lançamento de seu primeiro álbum, “Admirável Chip Novo”, em 2003, também passou a ser chamada de “Princesa do Rock” – apesar dessa coisa de princesa não ser muito a sua onda…
Pitty – Foto Caio Lírio
Hoje, com centenas de milhares de álbuns vendidos, bilhões de plays em plataformas de som digital, incontáveis prêmios e uma filha (a fofa Madalena, que veio ao mundo em 2016), Pitty é pura potência. Com sua voz poderosa e suas bem articuladas ideias, ela é mais do que uma cantora – é um farol para milhões de brasileiras e brasileiros.
Neste mês, ela será uma das atrações do festival Lollapalooza São Paulo, apresentando-se no sábado, dia 25. Em seguida, nos meses de abril, maio, junho e julho, vai rodar o país com uma turnê que celebra os 20 anos do lançamento de “Admirável Chip Novo”, uma obra que mudou a sua vida e a de muita gente, com suas letras que até hoje soam pertinentes e atuais. Naquela época, quando tudo ainda era mato no universo das discussões sobre questões identitárias, Pitty já cantava “o importante é ser você, mesmo que seja estranho” e “cada um em seu casulo, em sua direção, vendo de camarote a novela da vida alheia, sugerindo soluções, discutindo relações, bem certos de que a verdade cabe na palma da mão”.
“O rock é a minha essência, o meu estilo de vida. É por meio dele que eu me expresso e enxergo o mundo. Sempre fui de provocar, de questionar o status quo”, resume a cantora, compositora e produtora. Leia a seguir os principais trechos da entrevista que ela concedeu à 29HORAS:
PITTY – FOTO BRUNO FUJII
Qual foi a sua sensação quando, ao final de 2003, ver que seu álbum de estreia havia se tornado o mais vendido entre os lançamentos do rock nacional daquele ano? Como explicar o sucesso de uma nova baiana que de repente surge do nada e sem cantar axé, sem ser tropicalista e longe dos estereótipos de Marina Morena e de Gabriela Cravo & Canela?
Foi a realização de um sonho, um desejo que soava como loucura, utopia, insanidade. Não parecia possível haver algo assim, especialmente naquele cenário dos anos 2000, no auge da música baiana “tradicional” e do axé. Era uma boa época para o rock brasileiro – nas rádios do Sudeste tocava muito Charlie Brown, Planet Hemp, O Rappa e CPM. E a cena de Pernambuco se destacava com Chico Science e Nação Zumbi. Mas na Bahia era outra história. Eu já tinha minha banda de hardcore em Salvador, e ver o rock nacional bombar me inspirava a seguir. Mas, parecia uma maluquice que uma menina baiana pudesse viver de rock no Brasil. Como assim? Assim, mesmo, ora! Meu existir significava avisar que baianos não são todos iguais, que não cabemos em estereótipos, que somos diversos e que tem muito nordestino que curte rock, jazz, blues e outros estilos musicais.
Desse primeiro álbum, cinco faixas já se tornaram clássicos do rock brasileiro (“Máscara”, “Admirável Chip Novo”, “Equalize”, “Semana Que Vem” e “Teto de Vidro”). Como clássicos, essas canções não envelheceram e seguem atuais musicalmente e nas letras. Como você explica isso?
Não sei explicar, só sentir [risos]. Fico maravilhada e grata. Quando a gente escreve, compõe uma canção, os sentimentos e a inspiração contidos ali simplesmente vêm. Pelo menos assim é para mim. E aí, quando essa canção vai para o mundo e ocupa esse espaço na vida e na história das pessoas de forma tão profunda a ponto do tempo se dissolver, é algo mágico e imprevisível. Essa é a beleza da arte e especialmente da música, que envolve as pessoas com a poderosa tríade “letra-ritmo-melodia”. Especialmente nesses últimos anos, tenho sentido como essas músicas continuam atuais para as pessoas. O povo comenta comigo pelas redes, e eu vejo isso nos shows também. Elas não soam datadas ou nostálgicas. As letras fazem muito sentido hoje – quiçá até mais sentido hoje. E eu fico muito feliz de saber que seguem fazendo sentido para mim também, porque assim eu posso continuar a cantá-las nos shows de forma verdadeira.
Capa do CD ”Admirável Chip Novo” – Foto reprodução
O que mudou no mundo de 2003 para 2023? Onde avançamos e onde regredimos? Na sua opinião, o sistema que nos diz “pense, fale, compre, coma, beba, ouça, tenha” ficou mais forte ou menos poderoso?
Ele continua aí, e vai encontrando formas de se modificar através dos tempos e evoluir e se disfarçar à medida em que o identificamos. Como um vírus que vai mutando para encontrar novos hospedeiros. É a lógica que nos empurra para o consumismo, para o “ter” em detrimento de “ser”, para o culto à aparência, para a falsa liberdade do neoliberalismo. É o jeito que o mercado se apropria de pautas por motivações econômicas, e não éticas ou sociais. Como seres críticos, é importante refletirmos e termos consciência dessas questões, para que possamos escolher como queremos viver, que valores queremos praticar. Era sobre isso e continua sendo. Mas de 2003 para cá muita coisa mudou, e a questão da tecnologia é a mais evidente. Não havia internet como ela é hoje, nem smartphones, nem redes sociais. A comunicação era intermediada pela imprensa, pelo rádio ou a TV. Hoje as pessoas se tornaram o próprio meio e a mensagem. Todo mundo é influencer. Em relação às discussões e pautas, muita coisa não tinha nome ou não era chamada como fazemos hoje. Lembro da primeira vez que publicaram sobre mim “feminista!”, como algo pejorativo. Hoje, essa conversa está amplificada, assim como a questão das liberdades individuais, do respeito à comunidade LGBTQIA+ e do combate ao racismo. Nesse ponto, avançamos. Agora, esse lance de ressuscitar a calça cintura baixa eu acho que não precisa, sabe? Aí é retrocesso [risos]!
E o que mudou em você de 2003 até hoje, como pessoa e como artista?
Antes eu tinha tempo, mas não tinha dinheiro. Aí comecei a trabalhar e ganhar dinheiro, mas fiquei sem tempo [risos]. Eu tenho muito afeto e gratidão por aquela menina sonhadora e determinada, que conseguiu botar no papel seus sentimentos, se expressar e se comunicar com tanta gente. Continuo obstinada, inquieta e sonhadora; a cada projeto eu me reinvento, me desconstruo e reconstruo, de forma a não me deixar estagnar em zonas de conforto. Sigo me arriscando artisticamente, apostando no inusitado e nas experimentações sonoras, sem recorrer a caminhos já pisados ao subestimar o público achando que não vão entender..
Retrato da cantora em 2003 – Foto Christian Gaul
Voltando para a música, como será o seu show no Lollapalooza?
Estou bem animada e preparando um show especialíssimo. Será a estreia da nova turnê, mas ali será apenas um gostinho, pois em festival nosso tempo de palco é reduzido. Quero mostrar a ideia do novo show em comemoração aos 20 anos do “Admirável Chip Novo”, e mesclar essa amostra da nova tour com outras músicas conhecidas – afinal, quero todo mundo celebrando com a gente. Vamos entregar um show intenso, vigoroso e divertido!
2022 foi um ano intenso. Você fez shows da turnê “Matriz” e rodou o país com Nando Reis no projeto “PittyNando”. O que te faz queimar de novo, como você mesma canta em “Ninguém É De Ninguém”?
Projetos desafiadores, isso me motiva, como foi “PittyNando”. Montar uma turnê dessa proporção, dirigir um show e uma equipe gigante foi algo novo e empolgante. E o Nando é um parceiro incrível, que não só me apoiou como me deu asas. Em “Matriz”, eu já havia me jogado nessa de dirigir show, de montar de fato um espetáculo. Gosto de propor essa narrativa através do roteiro – continua sendo um show de rock, não é uma peça de teatro. Mas eu entendi que adicionar algumas marcações, mudar o eixo da cena, encaixar a cor certa na música – tudo agrega e deixa a experiência mais sensorial. É usar os recursos cênicos como pano de fundo para as canções, não só subir lá e tocar. Enfim, isso é muito legal, embora também sofrido e angustiante [risos]. Mas a arte é meio que um parto: a gente fica ali gestando, sem enxergar direito, confiando na natureza de que está criando algo bonito. E só descobre qual é a real quando ele vai para o mundo e é compartilhado. Aí é uma coisa linda! Sinto que, neste momento, estou no auge da criação e da conexão com todas as linhas que formam essa teia.
Pitty e Nando Reis – Foto Otávio Sousa
Agora preciso te fazer a pergunta que não quer calar: quando teremos um álbum da Pitty com canções inéditas?
Em 2023, a prioridade será a turnê de celebração dos 20 anos de “Admirável Chip Novo”. Sobre disco novo, devo começar esse processo só após a turnê – aí eu vou parar pra me concentrar nisso.
Entre 2017 e 2021, você ocupou um lugar no sofá do “Saia Justa”, no canal GNT. Você curtiu a experiência, se sentiu à vontade naquela saia?
Nossa, eu adorei a experiência! Foi um desafio novo, e eu topei: estar ao vivo na TV toda semana, conversando sobre assuntos às vezes complexos – não era algo a se fazer de qualquer jeito. Me comprometi e estudei sobre cada tema antes de falar, me informava, pesquisava. Acho que, para esse lugar, é necessário ir além do “eu acho”. Claro que se trabalha ali também com a própria vivência, mas eu sinto que me informar e ter mais dados agregava à discussão e podia torná-la mais abrangente. A vontade de dialogar com pessoas diferentes de mim me levava a isso, também. Porque eu poderia me contentar em só falar o que já sei e o que penso; mas eu sinto que a comunicação pode ser mais ampla do que nós mesmos e nossos universos pessoais. E, ao mesmo tempo, nas conversas do programa também era possível imprimir a minha identidade, o meu jeito de ver as coisas – que geralmente é uma visão não ortodoxa, fora dos padrões, questionando o status quo. Gostava de ser provocativa e criar debates apaixonados.
Para encerrar, dá para ver nos seus shows e nas suas redes sociais que os fãs te acham cada vez mais gata e maravilhosa. Você se acha bonita?
Nunca fui um modelo de beleza, muito menos do que se entende como padrão, e desde muito nova procurei encontrar beleza na estranheza, na diferença. Essa coisa da perfeição, especialmente pelo fato de ser mulher, sempre me soou muito opressor. Mas eu sou uma esteta por natureza – será que é coisa de libriana? Acredito que o belo pode estar em várias formas. Resumindo, tem dia que eu estou mais bonitinha do que outros, e depende muuuito do meu estado de espírito.
Nascido em Tocantins, o humorista e apresentador Paulo Vieira colhe os frutos de sua liberdade artística na TV e mostra versatilidade e muito carisma à frente e nos bastidores de diferentes programas, filmes e séries
30 anos é a idade do sucesso? Para além da frase dita na comédia romântica dos anos 2000, “De Repente 30”, o humorista e apresentador Paulo Vieira, criado em Palmas, no Tocantins, vive mesmo essa máxima em sua carreira. À frente do programa “Avisa Lá que Eu Vou” – do GNT e que conta com inserções no “Fantástico”, na Globo – ele acumula boas histórias e excelentes apurações em busca de um Brasil que não é sempre mostrado na TV.
Em 2022, Paulo estreou o quadro “Big Terapia”, no “Big Brother Brasil“, em que analisava de um jeito irreverente o comportamento dos confinados, ajudando o público do reality show a entender as relações, as tramas e as tensões do programa. Neste ano, ele repetiu a dose e segue no ar na edição de 2023. “Você se conecta, nem que seja pelo ranço”, define o humorista, ao observar o sucesso do BBB.
Paulo Vieira – Foto GLIN + MIRA
No trabalho e na vida, Paulo Vieira atravessa o país. São Paulo se tornou sua residência e ele escolheu o icônico prédio de Oscar Niemeyer, o Copan, como casa. É entre as ruas do centro da capital paulista que o artista se mantém atento à realidade urgente e diversa do país. “Se eu morasse em um lugar excludente, já trabalhando na Globo, sendo amigo de celebridades, não demoraria muito para começar a achar que o mundo é uma fantasia”, analisa.
Percorrendo sua história familiar, passando pela mudança de estado e pela construção de sua carreira na TV – tudo através de um olhar aguçado às nuances e às diferenças no Brasil – Paulo Vieira garante que não pisará no freio neste ano. Há projetos desenhados, em curso e em breve realização. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista que ele concedeu à 29HORAS.
Quem foi ou quem foram as pessoas que falaram que você deveria ser humorista? Quem primeiro riu de suas piadas?
Minha família é muito bem-humorada, sou o mais quieto entre eles. Todos são muito mais engraçados do que eu! Meu pai é piadista, minha mãe é muito divertida, meu irmão tem um humor muito refinado. Eles que me ensinaram a ver a vida de um jeito engraçado. Eles riem de tudo, nós sempre rimos da vida em casa. Rir da vida é uma forma de ela não nos vencer. Podemos rir por último mesmo sem ter vencido. Foi com eles que aprendi o que era comédia.
Na sua família, o que significava ser humorista e artista? Outras pessoas seguiram esse caminho também?
Tenho uma origem muito simples. A possibilidade de ser artista sempre soou como algo burguês em casa. Meus pais queriam que eu me garantisse o mais rápido possível, poderia ser tendo um negócio, que eu empreendesse… queriam que eu tivesse uma loja, algo assim. Eles sempre acreditaram no empreendedorismo. Mas eu já nasci sendo artista, então tiveram que aprender a lidar com isso, já que não era visto com bons olhos lá atrás.
Paulo Vieira – Foto GLIN+MIRA
Você saiu de Tocantins para morar em São Paulo. Quais eram as suas expectativas na época? A cidade atendeu aos seus anseios e desejos?
Nunca foi no prazo que eu gostaria. Quando eu fui para São Paulo, foi para buscar as possibilidades para ser artista. Não era fácil no Tocantins, então a capital paulista era esse lugar que poderia me chamar para ingressar nessa vida. Eu sempre esperei que São Paulo me chamasse de alguma forma. Mas, durante muito tempo, atuei nas duas cidades simultaneamente (Palmas e São Paulo), tinha mais moral no Tocantins e ganhava mais dinheiro por lá. Fui me estabelecendo naturalmente, os trabalhos foram aumentando e precisei ficar cada vez mais tempo em São Paulo. Quando eu percebi, já estava morando na cidade.
Hoje você mora no Copan, símbolo da metrópole, um edifício que é praticamente uma cidade. Por que morar no Copan?
É maior que muita cidade do meu estado! Eu já tinha morado em outros lugares em São Paulo, mas vários motivos me levaram até o Copan. Primeiro, eu e uma amiga fomos despejados em uma época e acabamos saindo dos Jardins. Depois, fomos morar no Ipiranga, que era um bairro de que eu gostava um pouco mais. Até que em determinado momento decidimos que era bacana morar em um prédio onde cada um pudesse ter seu apartamento, meio que morando juntos, mas separados. Aí achamos o Copan. Escolhi o Centro porque, como artista, preciso estar atento a tudo que está acontecendo, ao povo. Penso muito nisso: o país que você vive não é o país que você mora. Temos que ter noção do país como um todo. Hoje, vivo em um país muito diferente daquele que vivia há poucos anos. Mas preciso estar conectado com o Brasil real. Se eu morasse em lugar excludente, já trabalhando na Globo, sendo amigo de celebridades, não demoraria muito para começar a achar que o mundo é de fato isso, uma fantasia. Então, me esforço para me manter atento.
No programa “Avisa Lá que Eu Vou”, da GNT, você viaja muito, justamente para locais que simbolizam esse Brasil real. Como é a apuração desses lugares e das pessoas que carregam boas histórias?
O programa é muito trabalhoso, vamos montando dia após dia. O primeiro passo é pedir para que nos enviem histórias. As pessoas nas minhas redes sociais mandam sugestões, também pedimos para amigos que viajam muito nos indicar lugares. Quando temos um personagem que brilha o olho, começamos a buscar outras pessoas daquela cidade para montar a viagem. Tem vezes que vamos até um lugar justamente por causa da cidade, aí procuramos os personagens. Por exemplo, Caxambu, em Minas Gerais, fomos porque achamos interessante que lá tem muitos moradores que relatam a cura de doenças por meio da água da região. Da mesma maneira, teve Cabaceiras, na Paraíba, que achamos curioso porque é uma cidade que vive em torno da festa de um bode, a Festa do Bode Rei.
Paulo Vieira nas gravações do “Avisa Lá que Eu Vou”, do canal GNT – Foto Juliana Coutinho | GNT Divulgação
Tem algum lugar no Brasil que você ainda quer conhecer? Você olha para alguma região já atento para futuras pautas do programa?
Sempre estamos atrás de pautar o que é pouco mostrado. Temos vontade de fazer episódios sobre o Brasil indígena, vamos deixar essa ideia para a terceira temporada do programa. Queremos ir ao Xingu, temos muito interesse na Amazônia também. Já mostramos um pouco na segunda temporada, fomos a duas cidades do Pará, fizemos uma viagem de seis dias em um barco pelo Rio Amazonas, ouvindo histórias, foi incrível! Quero ainda ir ao extremo sul do país, na fronteira com o Uruguai, queremos dar essa região na terceira temporada também.
Quando não é a trabalho, como é a sua escolha de viagem?
Eu não tiro férias há muito tempo, mas vez ou outra dou uma escapada por alguns dias, uma semana. Adoro Porto das Pedras, em Alagoas. E fui recentemente ao Arquipélago de Abrolhos, na Bahia, em uma expedição científica. Colhemos amostras de baleias, foi muito legal! Fiquei fascinado, adoro baleias. Para mim, quem não gosta de baleias é suspeito! É um animal gigante, que representa a grandeza da natureza, de Deus. Não tem como não amar esse bicho, as jubartes até cantam!
Paulo Vieira – Foto Juliana Coutinho | GNT Divulgação
Neste começo de ano, você também está na equipe de apresentadores e comentaristas do ‘Big Brother Brasil’. Na sua opinião, por que as pessoas gostam tanto de reality show? Por estar por dentro dos bastidores do programa, como você vê a renovação do formato para seguir interessante para a audiência?
É clichê, mas as pessoas gostam de ‘BBB’ porque o programa é uma embalagem muito bem feita da sociedade. As pessoas se enxergam ali, mesmo que apenas no desejo de ter um milhão e meio de reais. É impossível não se identificar com nada, enquanto há um elenco de 22 brasileiros. Você se conecta, nem que seja no ranço, vendo alguém que é a cara do chefe, do boy lixo que já namorou a sua amiga… então, o que a televisão busca com o público é a conexão forte e o programa consegue isso. O ‘BBB’ se renova por causa do elenco novo sempre. É uma surpresa, uma máquina a 220 por hora, cheia de complexidade, nunca sabemos o que vai ser, como será a reação do público. Todo dia tem algo novo, seja um meme, um conflito, uma história…
Por falar em meme, tem um que circulou nas redes sociais, recentemente, que era “queria passar três meses no ‘BBB’ só para ficar sem notícias do Brasil!”. Para você, qual é o papel do humor hoje? É difícil fazer piada nestes tempos?
Sempre avalio onde estou fazendo humor. Por exemplo, no ‘BBB’, que é um produto popular que as pessoas assistem para espairecer, faço um determinado tipo de piada. Mas tem algo que acredito que é: não posso trair quem eu sou. Vejo que o humor pode ser uma fonte de informação e senso crítico, sobretudo porque através dele temos um alcance maior.
Desperdiçar essa potência para refletir o Brasil seria ruim, na minha visão. Minha arte não está descolada daquilo que penso, faço humor com meu cérebro e meu coração. Nunca fui um comediante chapa branca, sempre tive opinião. O “Avisa Lá que Eu Vou”, que não é um programa de comédia, mas tem humor, reflete o que eu acredito como país. Temos o poder de incomodar, de fazer a diferença. Tem uma frase que adoro: ‘do ridículo não se volta nunca mais’. No “Domingão com o Hulk”, no ano passado, incomodei muita gente porque fiz piadas com os golpistas em acampamentos na frente dos quartéis. A partir do momento que os ridicularizamos, eles perdem a força. Passamos muito tempo colocando as pessoas erradas nesse lugar do ridículo, cada vez mais temos que ficar atentos a quem colocamos nessa posição.
Paulo Viera – Leonardo Rosario | TV Globo Divulgação
Você simboliza uma mudança de estilo na TV aberta, é bastante livre para falar o que pensa, fazer piadas com colegas, outras emissoras, além de se posicionar. Essa autonomia é algo de sua personalidade ou você acha que a TV vem mudando?
Não sei quem está empurrando quem, são as duas coisas. Não sou um cara fácil de domar, tenho um compromisso com a minha liberdade artística, eu luto por isso. A liberdade é sempre conquistada! O preço é alto, mas estou conquistando respeito na Globo. Houve um alinhamento de estilos, porque é mesmo um momento em que a emissora está se modernizando, com uma nova gestão. É uma empresa, hoje, mais moderna, sem aquele ar de inatingível, que se zomba, que se critica. Meu sucesso na Globo se deve a isso também, não sei se eu seria bem-vindo há poucos anos.
Em 2022, você colheu bons frutos de seus trabalhos, com lançamento de livro, expansão do programa e estreias no cinema. O que você espera para este ano?
Eu quero descansar mais! Mas, espero também manter o que conquistei, porque a manutenção, por vezes, é mais difícil do que a conquista em si. Neste ano, quero continuar com a qualidade do programa no GNT, quero fazer uma temporada ainda melhor. Para mim, é importante fazer um produto popular, que se comunique com quem eu quero falar, com o brasileiro, com o meu povo. Vou lançar outro livro, que muito provavelmente será infantil também. Vou ainda gravar um ou dois filmes. E estou desenhando a série “Pablo e Luisão”, que começo a gravar no segundo semestre. Será uma série de 16 episódios, que comecei a escrever no Twitter, sobre o melhor amigo do meu pai. Todos os dias eles criavam uma empresa nova, todas as histórias são reais. As equipes da Globo e da Globoplay gostaram e vamos produzir!
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