Icônica banda dos anos 80, Titãs faz série de shows pelo Brasil reunindo sua formação original

Icônica banda dos anos 80, Titãs faz série de shows pelo Brasil reunindo sua formação original

Série de shows dos Titãs marca o reencontro da banda original, que comemora suas quatro décadas de trajetória. Celebração tem tudo para se tornar um evento histórico do rock brasileiro

Transgeracional, ou melhor, atemporal. A banda Titãs, formada em 1982, em São Paulo, sempre se mostrou potente em conectar diferentes pessoas. Depois de 30 anos sem subir aos palcos com sua formação original, o grupo surpreendeu a todos com o anúncio de uma turnê de 21 shows com os sete integrantes – Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto.

“Estamos cantando em altos brados que o pulso ainda o pulsa. Afirmamos que a força criativa e a pulsão de viver se impõem sobre todas as adversidades”, resume Tony Bellotto. As apresentações já começaram em abril, no Rio de Janeiro, e seguem para outras cidades brasileiras e para Portugal nos próximos meses.

 

Titãs - Foto Bob Wolfenson

Titãs – Foto Bob Wolfenson

 

Até agora, a turnê “Titãs Encontro” já tem um público confirmado de incríveis 500 mil pessoas pelo país. Essa grande celebração tem shows ainda em Florianópolis (5 de maio), Porto Alegre (6 de maio), Manaus (11 de maio), Belém (12 de maio), Aracaju (26 de maio), Salvador (27 de maio), João Pessoa (1º de junho), Recife (2 de junho), Fortaleza (3 de junho), Brasília (7 de junho), Goiânia (8 de junho), Curitiba (10 de junho). Depois, a turnê passa por São Paulo (16, 17 e 18 de junho, as duas primeiras datas sold out), Vitória (23 de junho) e Ribeirão Preto (30 de junho). Dia 3 de novembro, o grupo toca em Lisboa.

Em entrevista exclusiva à 29HORAS, Nando Reis, Paulo Miklos e Tony Bellotto discorrem sobre as razões desse reencontro. Nas próximas semanas, a formação clássica promete resgatar a vocação que tem de se apresentar em grandes arenas e impactar a todos – novos fãs e aqueles de longa data. Leia os principais trechos a seguir:

Vamos falar de reencontro, mas primeiro uma pergunta sobre o início. O que intriga é que todos vocês estudavam juntos. Foi isso mesmo? Tantos talentos juntos ao acaso? Quais principais memórias vocês carregam desse começo?
Paulo Miklos: A maioria estudava no mesmo colégio. Em classes de anos diferentes. Mas foi o interesse pela música que nos aproximou. Nos encontrávamos para mostrar as canções uns para os outros. A melhor lembrança foi quando gravamos uma fita K7 com o tema ‘As Musas’, em que todos gravamos canções dedicadas às paixões da época.
Tony Bellotto: Não é que todos estudávamos juntos, mas a maioria, sim. Quem não estudava, tipo eu, frequentava a escola onde os outros estudavam, o colégio Equipe. Marcelo, Branco, Brito, Nando, Paulo, Arnaldo, Ciro Pessoa e o André Jung faziam parte da primeira formação da banda, todos eles estudavam no Colégio Equipe. Não é que estudavam juntos, mas, em diferentes salas, em diferentes momentos. Eu frequentava ali porque era uma escola que tinha muita atividade cultural, muita efervescência artística. O Serginho Groisman era o diretor do grêmio estudantil e ele promovia muitos shows, a escola tinha alunos muito criativos e ali faziam festivais. Enfim, teve essa coisa da gente se conhecer e começar a trocar as primeiras ideias e mostrar o que cada um estava fazendo na escola. Por isso que a educação é tão importante!

 

Tony Bellotto - Foto Bob Wolfenson

Tony Bellotto – Foto Bob Wolfenson

 

O que motivou o reencontro com os integrantes originais? Como é ensaiar e subir aos palcos 30 anos depois? O que mudou e o que continua igual?
Nando Reis: As razões que levaram a esse encontro são múltiplas, mas a origem se dá no marco de 40 anos daquilo que a gente adotou como início dos Titãs, que foi nosso primeiro show, em 1982. Na minha interpretação, a pandemia tem uma contribuição, porque foi um momento em que todo mundo teve que ressignificar as coisas, rever as coisas. E evidentemente que para todos nós, mesmo aqueles que saíram da banda em diferentes momentos, os Titãs é parte fundamental da nossa história de vida, profissional e pessoal.
Esse reencontro é carregado de significados, é muito emocionante. Os ensaios estão sendo ótimos, muito trabalhosos, interessantes, justamente por essa ótica da semelhança e da diferença. A semelhança é muito maior, na verdade, porque é estrutural – das individualidades e na nossa relação, na dinâmica, que está representada de forma cabal naquilo que produzimos.
O que mudou? Muita coisa também! É difícil até descrever. E, curioso, a minha mudança, a única da qual eu posso falar, sou um músico melhor. Muito melhor do que era há 22 anos, 40 anos… E posso tocar aquelas músicas, aquilo que fiz, especialmente as linhas de baixo, de uma maneira muito melhor até. E tem isso, todo mundo mais velho, características de temperamento acentuadas, mas essencialmente, somos os mesmos.

Sérgio Britto - Foto Bob Wolfenson

Sérgio Britto – Foto Bob Wolfenson

 

Qual momento da banda que você gostaria de reviver? O que o público pode esperar da turnê?
TB: Não existe um momento único, determinado e específico, eu acho que o que eu estou gostando de reviver nesse encontro é esse convívio como um todo. Quer dizer, é fazer o show junto, entrar no palco junto e depois comemorar no camarim, ir para o hotel, e no dia seguinte ir para o aeroporto, todo mundo junto… As conversas que ocorrem coletivas ou individualmente com cada um, esse convívio, né?
E penso que o que o público pode esperar da turnê é isso mesmo. É essa banda reunida com ex-integrantes, numa formação como era ali até 1993. E tocando as músicas que viraram tão importantes. O público pode esperar essa celebração, essa troca de energia com a gente, que estamos esperando do público também.

 

Branco Mello - Foto Bob Wolfenson

Branco Mello – Foto Bob Wolfenson

 

Os anos 1980 foram bastante agitados e efervescentes para o rock nacional. Como enxergam esse cenário hoje? Houve renovação, na sua opinião? Em quais artistas da nova geração devemos ficar de olho?
TB: Realmente, os 1980 foram incríveis principalmente para o rock nacional e para essa geração da qual a gente faz parte, que colocou o rock como uma música popular mesmo, ouvida por todo mundo, aparecia nos programas de televisão e estava inserida nesse contexto da redemocratização. Isso é o que acho mais legal de tudo, a nossa geração veio afirmar aquele grito de liberdade, fim da ditadura, denunciando os horrores da ditadura e da repressão, elogiando a importância da democracia, da liberdade.
O cenário de hoje eu não acompanho muito, acho que a gente vai ficando mais velho, tem uma tendência, pelo menos eu, a escutar as coisas de que eu gostava, cada vez eu vou mais para trás. Eu posso dizer muito sobre o cenário do blues nos Estados Unidos, na década de 1930 e 1940. Não é sobre isso que estamos falando aqui (risos). Mas eu sempre fui um grande admirador da força e variedade da música brasileira. Não sou o cara mais indicado para falar de novidades, mas sou um ouvinte atento.

Olhando para trás, quais conselhos vocês dariam para os Titãs de 20 anos?
PM: Eu diria: ‘Acredite sempre e trabalhe duro’.
NR: Curioso você fazer essa pergunta, porque no meu disco, que acabei de gravar, há um verso de uma das músicas em que falo: ‘Eu não acredito em conselhos’. Então, talvez essa é uma coisa que não é concebível para mim, não dou conselho para ninguém, nem para os meus filhos, a não ser que eles peçam alguma opinião.
É que assim, não existe isso de olhar para trás, é tão especulativo que passa a ser inócuo. É claro que há muitas coisas que fiz das quais gostaria de não ter feito, mas não houve possibilidade. Tanto que eu as fiz e muitas delas involuntariamente. De todas as ordens, ações, reações, falas, comportamentos… E, óbvio, comparar com a forma com que eu vejo minha profissão hoje em dia, há muita bobagem que fiz. Mas, o que vou fazer em relação a isso? Não faço terapia de vidas passadas, não creio nisso.
TB: Vale para todo mundo: ‘Acredite em si mesmo, ouse, faça coisas diferentes e não se paute, não se mire pelo que os outros esperam de você. Surpreenda-se mesmo porque você acaba surpreendendo os outros e talvez quem sabe acabe chamando atenção e fazendo sucesso’.

Paulo Miklos - Foto Bob Wolfenson

Paulo Miklos – Foto Bob Wolfenson

 

Qual é a música preferida de cada um? Ou qual o momento favorito entre ensaio, show e composição?
PM: São muitas preferidas. Posso citar a primeira de todas: ‘Sonífera Ilha’. E meu momento predileto é, sem dúvida, o show, o encontro com o público, o palco.
TB: Não tem uma música preferida, são como filhas e filhos, cada um do jeito que é. Mas tem uma de que eu gosto particularmente que é ‘Polícia’; é uma música minha e que tem uma trajetória muito interessante dentro da carreira dos Titãs. Fiz como um desabafo e virou realmente um hino de uma geração, permanece até hoje como uma música muito atual e ela nunca trilhou os caminhos que uma música trilha para fazer sucesso, como não tocou muito em rádio, nada disso, mas se transformou em um grande sucesso.

Como foram as discussões entre os membros originais para que alguns seguissem carreira solo? Qual rompimento foi o mais difícil e por quê?
NR: Não me lembro, não tenho a menor ideia dos rompimentos. A única coisa que posso dizer é que a mais difícil foi a minha própria. Na dos outros, eu não estava presente, fora o do Arnaldo. Mas, vou dizer, o momento mais difícil que vivemos nem se compara com qualquer saída de um membro: foi a morte do Marcelo Fromer. Isso foi um desastre, uma tragédia para a vida de todos nós, que fez com que qualquer aspereza de uma eventual discussão entre nós se tornasse uma questão menor.

 

Nando Reis - Foto Bob Wolfenson

Nando Reis – Foto Bob Wolfenson

Todas as questões que geraram as saídas do Arnaldo, do Nando e do Charles foram superadas? A união de vocês está mais sólida e madura agora?
TB: Superadíssimas, parecem nem ter acontecido. Tanto é que, como eu já falei, quando a gente se encontrou agora para valer, trabalhar juntos, discutir e definir repertório, é como se nada tivesse mudado. Como se as coisas continuassem iguais, como se eu tivesse ainda uma banda com todos aqueles membros. Então, isso prova que estão tão superadas as divergências eventuais quando se tem uma relação muito profunda e forte que resiste ao tempo e à distância. Acho muito legal porque também é uma maneira de provar isso para todo mundo sem precisar explicar. As pessoas vão olhar a gente no palco e vão entender que todas as separações, as divergências, tudo aconteceu porque tinha que ter acontecido, porque é dinâmica natural do convívio, da criação artística, mas a gente está lá reafirmando o que fizemos juntos e comemorando a potência e a força da nossa música e união. Acho que essa turnê vai entrar para a história do rock brasileiro por tudo isso que estou falando.

Como é ver fãs agora mais velhos entoando hinos como “Polícia”, “Igreja” e “Bichos Escrotos”? Vocês se consideram um sucesso transgeracional? Do que vocês sabem, a maioria da plateia desses shows é composta por jovens ou por fãs de longa data?
NR: Não sei se o público vai entoar, mas vou tentar responder diante da minha expectativa. Acredito, pela maneira como eu me reaproximei desse repertório, que ele tenha força e qualidade consideradas transgeracionais. Diria mais, atemporal. Até porque a gente nunca fez música, eu também não faço, acreditando que você se comunica apenas com sua faixa etária. Acho que se comunica consigo mesmo e através dessa comunicação, aquilo que você produz no microcosmo individual se transpõe para aquilo que é universal. E, consequentemente, para aquilo que não está diretamente associado à idade. Os temas, óbvio, as músicas do ‘Cabeça Dinossauro’ foram escritas a partir de um contexto que, curiosamente, guarda mais semelhanças – o contexto político, da conjuntura nacional – com aquilo que já vivemos nos anos 1980 com o que foi nos anos 2000.
Mas a maneira como cada um ouve é tão diversificada, que é impossível mensurar. Eu encontrei, por exemplo, na votação do primeiro turno, um camarada que veio pedir foto comigo, que é fã absoluto dos Titãs com uma camisa da Seleção Brasileira. Quase perguntei para ele: ‘Mas, vem cá, você não entendeu nada?’. Então, assim, vai saber o que se passa na cabeça das pessoas, né. Acho que é provável que tenha gente de todas as idades, fãs da época. O único parâmetro que tenho é a reação das pessoas, desde quando foi anunciada a turnê, de quem me pergunta, pede convite. Aí, sim, são antigos fãs, da minha idade, gente que nunca nos viu e gosta do nosso trabalho. Também vejo isso pelo interesse dos meus filhos e netos.

 

Arnaldo Antunes – Foto Bob Wolfenson

 

A letra da música “O Pulso”, com aquela lista de doenças, faz ainda mais sentido para vocês hoje em dia?
TB: Está chamando a gente de velho, hein? Não entendi (risos)! Estou brincando. O sentido é de que o pulso ainda pulsa e isso realmente afirma essa permanência que quer dizer: passam as adversidades, passam as coisas boas e ruins, e a gente permanece ali relevante, forte, potente e afirmando e reafirmando que o pulso ainda pulsa. Agora esse outro lado que eu falei brincando também faz sentido, né? Porque estamos todos na faixa aí dos sessenta, já somos tecnicamente idosos e driblando todas as doenças, dores, mazelas, adversidades, governos ruins e dificuldades. E estamos aí cantando em altos brados que o pulso ainda o pulsa, acho que é a grande ideia dessa música brilhante, aliás, é isso mesmo. A letra afirma que a força criativa, a força de vida e a pulsão de viver se impõem sobre todas as adversidades que aparecem na nossa frente. É isso mesmo.

 

Charles Gavin - Foto Bob Wolfenson

Charles Gavin – Foto Bob Wolfenson

 

Qual o personagem que cabe a cada um de vocês na banda? Quem é o organizador, quem é o caótico do rolê, quem é o romântico, quem é o revoltado, quem é o mais ligado em inovação e quem é o mais conservador?
PM: Temos uma dinâmica muito especial. Mudamos muito de posição na hora do jogo. Se necessário, nos revezamos em ser conciliadores, questionadores ou encrenqueiros.
NR: Nenhum de nós é um personagem, o que temos são personalidades e características. De alguma maneira elas se mantêm, porque é uma dinâmica que desenvolvemos e que neste reencontro tem traços de semelhança muito grande na forma. Porque nós, embora estejamos mais velhos, estruturalmente, somos os mesmos indivíduos. Ali, vejo… Esses são alguns estereótipos, que não cabem, são muito redutores. Naquela época, eu, Marcelo e Britto estávamos mais à frente quando tínhamos que falar com empresário, gravadora, representávamos os outros. Então, é uma experiência que tive que, de certa maneira, ainda aplico. O Branco sempre foi o cara que cuidou das imagens, o Charles, mais próximo da questão técnica, do arquivo da música, da relação de conservação. O Arnaldo é aquele sujeito brilhante. O Paulo é um multi-instrumentista, multitalentoso. Ali, as características agem dentro de um equilíbrio que percebo que se mantém. Porque também é a forma que a gente conhece. É o que está acontecendo.

 

Titãs – Foto Bob Wolfenson

O cantor Chico Buarque retorna aos palcos com o show “Que tal um samba?”

O cantor Chico Buarque retorna aos palcos com o show “Que tal um samba?”

O cantor e compositor Chico Buarque retorna aos palcos com o show “Que Tal Um Samba?”, que fica em cartaz na Vivo Rio do dia 5 até o fim de janeiro, quando segue para dez outras cidades brasileiras. O novo espetáculo é uma oportunidade rara para o público ver ao vivo o maior expoente da Música Popular Brasileira. Sua última turnê nacional, “Caravanas”, aconteceu em 2018. Canções de seu mais novo álbum recentemente lançado pelo selo Biscoito Fino e clássicos de sua longa e rica trajetória estão presentes no repertório das apresentações, que têm a cantora Mônica Salmaso como convidada especial.

Chico Buarque - Foto Leo Aversa

Chico Buarque – Foto Leo Aversa

 

VIVO RIO

Avenida Infante Dom Henrique, 85, Glória, tel. 21 2272-2901.

Ingressos de R$ 130 a R$ 490.

A cantora Bonnie Tyler comemora suas cinco décadas de carreira e se apresenta pela primeira vez no Rio de Janeiro

A cantora Bonnie Tyler comemora suas cinco décadas de carreira e se apresenta pela primeira vez no Rio de Janeiro

Cantora pop dona de sucessos como “Total Eclipse of the Heart” e “Holding Out for a Hero”, a galesa Bonnie Tyler apresenta-se pela primeira no Rio de Janeiro. Dia 19 de novembro, ela ocupa a Jeunesse Arena para fazer mais um show da turnê que celebra seus 50 anos de carreira, com repertório baseado nas faixas de seus dois mais recentes álbuns “Between the Earth and the Stars” (2019) e “The Best Is Yet to Come” (de 2021). “Eu já me apresentei em todo o mundo e ainda amo subir ao palco e divertir meus fãs fantásticos! Esta é a hora certa de voltar à estrada, para marcar as minhas cinco décadas de música com algo realmente especial. Modéstia à parte, o material dessa turnê está incrível!”, avisa a cantora de 71 anos.

Bonnie Tyler ficou conhecida no Brasil pelos hits já citados acima e pela parceria que gravou com o cantor Fábio Jr. em 1987, seu companheiro na canção “Sem Limites Para Sonhar (Reaching for the Infinite Heart)”.

BonnieTyler | Foto Divulgação

BonnieTyler | Foto Divulgação

 

Jeunesse Arena
Avenida Embaixador Abelardo Bueno, 3.401, Barra da Tijuca. Ingressos de R$ 55 a R$ 310.

Classificação etária: 16 anos. De 05 anos a 15 anos somente acompanhados dos pais ou responsáveis legais. Não será permitida a entrada de crianças menores de 05 anos no evento. *sujeito à alteração por determinação judicial.

 

Ela é a música, Gal Costa foi uma das maiores vozes da MPB

Ela é a música, Gal Costa foi uma das maiores vozes da MPB

Capa da edição de junho de 2017 da revista 29HORAS, a cantora Gal Costa falou, à época, sobre seu álbum “Estratosférica” e mostrou por que foi e sempre será divina, maravilhosa. Relembre a entrevista a seguir

No dia da entrevista, São Paulo se encontrava debaixo da chuva. Era uma sexta-feira nublada em que os carros subiam com dificuldade a Avenida 9 de Julho e os guarda-chuvas tomavam as calçadas. O encontro seria em uma casa, em uma vila na Alameda Lorena. Uma casa branca de dois andares, telhados vermelhos e um portão metálico que separava a rua dos latidos de um vira-lata.

Entrando na casa, o cachorro preto nos recepciona com o rabo abanando e silenciando os latidos. Sentamos próximos a uma mesa enquanto esperávamos pela entrevistada. Não demorou muito, pois soou a campainha e, na porta, Maria da Graça apareceu de óculos escuros, os cabelos cacheados e soltos.

Gal Costa | BoB Wolfenson

Gal Costa | BoB Wolfenson

 

— Toda Maria da Graça na Bahia se chama Gal. — ela conta. — Então me apelidaram de Gal.
— Li que a sua mãe durante a gravidez ouvia música clássica.
— É, tinha um momento do dia que ela punha música clássica e se concentrava para o feto absorver. Ela queria que o seu filho fosse um grande violonista clássico, um músico maravilhoso. E aí nasci eu — ela sorri. — Uma cantora.

Gal Costa era ainda Maria da Graça quando começou a cantar. Aliás, segundo ela, já nasceu cantando. Só com a intuição aprendeu técnica vocal, em como usar o diafragma, e aos poucos a vida foi mostrando os caminhos. Em 1959, pelo rádio, ela se encantou com a música “Chega de Saudade”, na voz de João Gilberto, uma de suas grandes influências, que compartilha com Caetano Veloso. Ao lado deste, em 1967, estreou com o nome de Gal no álbum “Domingo”.

Gal Costa - Fantasia | Foto Divulgação

Gal Costa – Fantasia | Foto Divulgação

 

— Como você vê esses 50 anos de carreira?
— Eu vejo com muita alegria, estou numa fase ótima de trabalho. Os jovens têm um grande interesse pelo que aconteceu na era tropicalista, pela minha geração. Querem ouvir o trabalho e isso é fantástico. Isso tem alimentado bem a gente. O “Estratosférica” e o “Recanto” são discos direcionados para um público mais jovem. E também para aquele público que me acompanha, gosta de mim e sabe que a minha carreira é pautada por grandes mudanças.
— A transformação faz parte da sua essência…
— Sim, poucos artistas conseguem ser iguais e bons por muito tempo. Eu posso citar o Roberto Carlos como exemplo e a própria Bethânia… são artistas que têm uma força, um carisma, uma magia. Mas eu acho que todo artista tem que ousar. Eu sempre fui assim, desde o começo da minha carreira, e será assim até o dia que eu parar.

Em 1968, Gal participou do álbum “Tropicália ou Panis et Circencis”, marco do tropicalismo que, antes de fins sociais e políticos, foi um movimento cultural nitidamente estético e comportamental. Hoje, aos 71 anos, a cantora tem em seu repertório 36 discos e uma vida de metamorfose na música. Essa sua trajetória será revisitada na série “O Nome Dela é Gal”, que estreia dia 11 de junho na HBO com quatro episódios.

Grupo Tropicália | Foto Divulgação

Grupo Tropicália | Foto Divulgação

 

O disco “Recanto”, de 2011, idealizado por Caetano, marcou o retorno de Gal em um estilo experimental, diferente de tudo que já tinha feito. Seu mais recente álbum, “Estratosférica”, de 2015, dá continuidade a essa nova fase com uma pegada mais para o rock. Produzido por Moreno Veloso e Kassin, ele é recheado de novos parceiros como Céu, Criolo, Arthur Nogueira e Mallu Magalhães. “São compositores que eu nunca tinha gravado. E isso é bom, porque refresca o meu repertório e também dá forças para essas pessoas”.

Essas composições serão cantadas por Gal no show “Estratosférica”, na recém-inaugurada Casa Natura Musical, em São Paulo, nos dias 23 e 24 de junho, quando será gravado o DVD do álbum.

Gal em apresentação do show “Estratosférica” | Foto Anderson Zeg

Gal em apresentação do show “Estratosférica” | Foto Anderson Zeg

 

— Qual é a sensação de subir ao palco?
— É diferente sempre. Eu ainda fico nervosa, com frio na barriga, mas é muito prazeroso o que eu faço. Se não fosse, eu não faria. É um nervosismo de excitação, de ir para o palco, encarar uma plateia, fazer o show. É normal, todo artista tem que sentir isso, faz parte do tesão, né?
— Você é uma grande intérprete, você pega a música e parece que ela está saindo de você…
— É assim. Quando o compositor compõe, você pega a música e se apodera dela. Como é que se diz… tem uma palavra agora que me foge… é incorporar, tomar pra mim aquilo, como se aquilo fosse eu.
— Você também compõe, Gal?
— Eu compus duas músicas só na vida. Uma nos primeiros Doces Bárbaros e a outra com o guitarrista Lanny Gordin e o Jards Macalé. Fizemos na nossa casa, juntos, nos anos 1960. Mas eu gosto mais é de cantar — o celular de Gal toca na mesa e, depois de desligar, ela mostra a foto do filho, que está como fundo de tela: “Olha o meu filho aqui, fofinho”.

— O que é ser mãe para você?
— É a melhor coisa do mundo. Eu sempre quis e não pude ter filhos, por problemas físicos. Mas eu amo tanto o Gabriel, acho que se eu tivesse parido um filho eu não amaria tanto. Ele está no 7º ano do fundamental, vai fazer 12 anos em junho. Ser mãe é uma maravilha. É uma alegria… nossa, você aprende, todo dia você aprende alguma coisa.

Em São Paulo há cinco anos, Gal é apaixonada pela cidade. Ela veio por causa da gravação de “Recanto” e foi ficando. Na sua opinião, a capital paulista oferece de tudo e é um ótimo lugar para criar o filho. O trânsito também não a incomoda, porque “trânsito existe em qualquer lugar do Brasil, não é mais privilégio de São Paulo”.

Durante a conversa, o cachorro da casa se achegava em Gal, que passava a mão no bichano. “Acredito que Deus é a natureza, está em tudo. Está em mim, está em você, está na árvore, está no cachorro, está em todos os lugares. Acredito que exista uma inteligência maior, outros mundos habitados com vida inteligente. Acredito sim, acredito piamente”.

— E esse momento caótico do Brasil?
— O mundo está terrível, parece que no mundo inteiro há sinais de um apocalipse, de um final dos tempos. É claro que não tem fim, é sempre uma transformação. O Brasil está sangrando, mas o mundo também está. Veja o terrorismo, o Estado Islâmico, os refugiados de guerra tentando entrar nos países e sendo barrados. Então está tudo… muito esquisito. Há um sinal muito estranho no ar.
— Tem esperança no Brasil?
— Tenho — ela diz enquanto acaricia o cachorro. — Eu ouvi uma coisa do Papa Francisco que é muito linda. Que a política é a mais alta oportunidade que você tem de fazer caridade. E é isso. Se eu fosse presidente da República, e eu não nasci pra isso, mas se eu fosse, eu iria querer ajudar as pessoas, eu não ia roubar para mim. Eu ia querer dar. Deus lhe dá oportunidade de ser um político que pode fazer bem às pessoas, por que você não faz? Eu não entendo.
— E o que é a vida?
— A vida é a vida, é bonita, é bonita, é ótimo viver. A vida é sofrimento e alegria. Mas a vida é bonita. Tem muita alegria, muita felicidade. A vida é boa.

Para o segundo semestre, Gal fará “Trinca de Ases”, show com Gilberto Gil e Nando Reis em homenagem ao político Ulysses Guimarães. Um novo disco também vem por aí. “Mas eu não paro muito para pensar. Não planejo nada, as coisas vão vindo e eu pego”.

Lá fora, a chuva havia diminuído. Depois de se despedir, saindo da casa, o céu deixava aparecer alguns raios do sol. A garoa quase fina fez com que pedestres fechassem seus guarda-chuvas pela calçada. Sim. A vida é bonita, é bonita.

 

 

 

Estrela internacional do reggaeton J Balvin se apresenta no Rio e em São Paulo, iniciando sua turnê latino-americana

Estrela internacional do reggaeton J Balvin se apresenta no Rio e em São Paulo, iniciando sua turnê latino-americana

A turnê do grande nome do reggaeton confirma intenso momento de consumo do estilo musical no país

O colombiano J Balvin faz shows no dia 5 de outubro na Jeunesse Arena (no Rio) e no Allianz Parque, em São Paulo, no dia 8. Grande nome do reggaeton, ele chega para performances eletrizantes e dançantes, recheadas de hits como “Ay Vamos”, “Safari”, “I Like It”, “Ginza” e “Mi Gente”. Premiado várias vezes nos Billboard Music Awards, no Grammy e nos American Music Awards, Balvin é um dos maiores artistas globais da música latina, com mais de 35 milhões de discos vendidos. Recentemente, foi incluído na lista dos dez artistas mais ouvidos em todo o mundo. Aos 37 anos, ele já se apresentou com estrelas pop como Jennifer Lopez, Diplo e Maluma e já gravou com divas como Rosalia, Cardi B e Anitta.

 

J Balvin | Foto Divulgação

J Balvin | Foto Divulgação

 

J BALVIN 2022 Turnê Latino-Americana
Quarta-feira, 5 de outubro – Rio de Janeiro, Brasil – Vivo Rio
Sábado, 8 de outubro – São Paulo, Brasil – Allianz Parque Hall
Quarta-feira, 12 de outubro – Montevidéu, Uruguai – Antel Arena
Sábado, 15 de outubro – Buenos Aires, Argentina – Movistar Arena
Sexta-feira, 21 de outubro – Santiago, Chile – Movistar Arena
Quinta-feira, 27 de outubro – Lima, Peru – Arena Peru
Sábado, 29 de outubro – Assunção, Paraguai – Jockey Club

Vivo Rio: Av. Infante Dom Henrique, 85 – Parque do Flamengo, Rio de Janeiro – RJ. Ingressos de R$ 155 a R$ 680.
Allianz Parque: Av. Francisco Matarazzo, 1705 – Água Branca, São Paulo – SP. Ingressos a partir de R$ 145.