Lenny Kravitz traz a Blue Electric Light Tour 2024 para o Brasil, segue afirmando seu amor pelo Brasil e multiplica suas expressões artísticas em diferentes áreas, como fotografia, moda e negócios
Considerado um dos músicos de rock mais proeminentes, estilosos e cheios de atitude da atualidade, Lenny Kravitz transcendeu gênero e estilo ao longo de uma carreira musical que já dura mais de três décadas e acumula incríveis 40 milhões de discos vendidos. Depois de passar pela Europa e pelos Estados Unidos, ele agora traz a Blue Electric Light Tour 2024 para o Brasil, sendo o único show em São Paulo, em 23 de novembro, no Allianz Parque.
Sem se apresentar na capital paulista desde 2019, quando subiu ao palco do Lollapalooza Brasil, Lenny apresentará ao público canções do recente álbum e clássicos que marcaram a sua trajetória. Liniker, Frejat e a cantora e compositora britânica Lianne La Havas farão os shows de abertura da noite. “Nós acabamos de finalizar o primeiro trecho da turnê, que aconteceu no verão europeu. Fizemos algumas alterações para os shows de Las Vegas [que aconteceu em 18 de outubro] e para a apresentação no Brasil. Estamos sempre evoluindo o formato e faremos pequenas mudanças no setlist”, antecipa.
foto Mia Ross
“Blue Electric Light” é o seu novo álbum – o décimo segundo da carreira – produzido durante a pandemia e lançado seis anos após “Raise Vibration”. O projeto é uma mistura potente de funk, rock e grooves sedutores, que materializam seu domínio do multi-instrumentalismo e da produção musical. “Vejo que a pandemia em si não influenciou a sonoridade do trabalho, mas me colocou em um único lugar por um longo período. Eu fiquei no meu estúdio nas Bahamas por dois anos e meio, rodeado por natureza e com um círculo de, no máximo, dez pessoas. Eu tinha natureza, paz e tempo. Então fiz três álbuns e ‘Blue Electric Light’ foi o que senti que tinha de lançar primeiro. Foi um tempo de muita criatividade, sem pessoas dizendo que eu tenho que estar em algum lugar específico ou marcando compromissos para mim.”
Mente aberta, corpo são
Lenny Kravitz nasceu em Nova York, em 26 de maio de 1964, e cresceu em um ambiente multicultural, sendo filho de uma atriz de ascendência bahamense e afro-americana, Roxie Roker, e de um produtor de televisão judeu, Sy Kravitz. “A minha maior influência e o que mais me impactou foi ter crescido em Nova York, nos anos 1970, com um pai e uma mãe que amavam arte. Eles me levavam para todos os lugares, como teatros, museus, locais de poesia, de música. Eu vi de tudo, de todos os lados e de todos os tipos. Foi uma verdadeira vantagem para mim!”, conta.
Lenny com seus pais em sua juventude – foto arquivo pessoal
Lenny celebra as influências de soul, rock e funk dos anos 1960 e 1970 em seus álbuns, além de tocar muitos instrumentos, como guitarra, baixo, bateria e piano – autenticidade e criatividade que o fizeram ganhar quatro prêmios Grammy. O músico ainda foi recentemente homenageado com o Prêmio Ícone da Música no People’s Choice Awards 2024 e foi indicado como integrante do Rock and Roll Hall of Fame 2024.
“Ser um multi-instrumentista me permite trabalhar sozinho ou com apenas mais uma pessoa. Craig Ross, por exemplo, é meu guitarrista, engenheiro de som e parceiro de estúdio. Na maioria das vezes, somos só nós dois no estúdio. Assim consigo fazer o meu som sem a necessidade de ter de explicar para os outros o que desejo comunicar”, afirma. “Eu me vejo como um pintor: tenho a tela e os sons dos instrumentos são como as cores. Tenho vários modelos de guitarras, baixos, baterias, teclados, aparelhos analógicos, eletrônicos, instrumentos clássicos e percussão. E todos eles ficam plugados na mesa de som, prontos para serem tocados. Então eu posso ir de um para o outro aleatoriamente. Eu tenho todas essas cores para pintar e expressar o que quero.”
Além dos destaques no meio musical, o cantor recebeu neste ano uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood e foi reconhecido pelo CFDA (Council of Fashion Designers of America) com o prêmio Ícone da Moda por seu papel não apenas como um dos músicos mais respeitados do rock, mas também como uma grande influência no universo fashion. E ele está à frente da empresa criativa Kravitz Design Inc., que possui um portfólio interessante e diversificado, incluindo propriedades hoteleiras, projetos de condomínios, residências privadas e trabalhos para marcas lendárias de luxo como Rolex, Leica e Dom Pérignon. “Se em algum momento não estou fazendo música ou quero dar uma pausa, eu posso usar outros meios e ainda assim me expressar”, define.
Lenny Kravitz com sua estrela na Calçada da Fama, em Hollywood – foto Mathieu Bitton
Em 2022, ele lançou sua própria marca de bebidas ultra-premium, Nocheluna Sotol, um destilado feito em Chihuahua, no México, derivado da planta sotol. O artista ainda é autor do livro “Flash”, que reúne fotografias de sua autoria, que capturam a essência do que é ser uma estrela do rock que está constantemente sob os holofotes. Sua recente autobiografia, “Let Love Rule”, lançada em 2020, também o colocou na lista de best-sellers do jornal “The New York Times”. “Minha vida é toda sobre opostos”, ele escreve. “Preto e branco. Judeu e cristão. Jackson 5 e Led Zeppelin. Eu aceitei minha alma de Gêmeos. Eu a abracei. Eu a adorei. Yins e yangs se misturaram em várias partes do meu coração e da minha mente, me dando equilíbrio e alimentando minha curiosidade e conforto.”
O músico é o rosto global da colônia da grife Yves Saint Laurent Beauty e é embaixador global dos relógios de luxo Jaeger-LeCoultre. E ele se aventurou ainda no cinema em sucessos de bilheteria como “Jogos Vorazes” e em filmes aclamados pela crítica como “Preciosa” e “O Mordomo”.
Aos 60 anos e com uma alma tão versátil, Lenny Kravitz surpreende pela excelente disposição e forma física. Em publicações nas redes sociais, ele é elogiado por fãs em fotos e vídeos que mostram sua rotina de treinos na academia. Questionado constantemente sobre o assunto em entrevistas, Lenny reforça que a idade não importa, celebra por estar vivo e faz escolhas essenciais para manter sua energia em alta, como uma dieta vegetariana.
Lenny segurando seu prêmio no VMA 2024, em que ganhou na categoria “Melhor Canção de Rock”, com a faixa “Human” – foto divulgação
Brasilidades no coração
Os brasileiros são fãs de Lenny Kravitz e ele é fã do Brasil. “O amor pelo país veio das pessoas, da cultura, da música, da arquitetura, da Bossa Nova, do Tropicalismo… Eu tive a oportunidade de conhecer esses movimentos. Cresci amando a obra do Oscar Niemeyer, por exemplo”, conta. Esse sentimento criou raízes e o cantor adquiriu uma fazenda avaliada em R$ 12 milhões em Duas Barras, município no interior do Rio de Janeiro e terra natal do mestre do samba Martinho da Vila.
O astro da música produz alimentos vegetarianos de alta qualidade no local e tem uma suntuosa casa, com academia, piscina, piano de acrílico e até uma poltrona que pertenceu a Andy Warhol. Sem visitar a propriedade desde a pandemia, ele a disponibiliza em plataformas de aluguel de casas de luxo, com diárias na faixa dos R$ 18 mil.
O cantor em sua propriedade no Brasil – foto divulgação
“O Brasil é uma mistura de tudo o que eu amo, como a natureza e a sofisticação. Eu moro nas Bahamas, onde tem toda aquela natureza; e eu moro também em Paris, que é uma cidade super sofisticada e conhecida por sua arquitetura. O Brasil, da sua maneira, junta tudo isso em um só lugar. É um país colorido, além de ter uma diversidade enorme de paisagens, sabores e culturas. Então a Bahia não é igual a São Paulo; e São Paulo é diferente do Rio de Janeiro; enquanto o Rio não é como o Recife. Não importa aonde você vá, terá sabores diferentes. Eu amo as pessoas, o espírito e a terra brasileira!”, declara.
A turnê de Gilberto Gil se inicia em março do ano que vem, em Salvador, e em seguida percorrerá outras cidades brasileiras. Os shows exaltarão o vasto repertório que compõe sua carreira de mais de 60 anos como cantor, compositor e instrumentista, sempre referenciado pelo público ao longo de gerações
“Não me iludo, tudo permanecerá do jeito que tem sido, transcorrendo, transformando, tempo e espaço navegando todos os sentidos”, canta Gilberto Gil na música “Tempo Rei”, de 1984. A canção agora nomeia a sua turnê de despedida dos palcos, que se inicia em março do ano que vem, em Salvador, e em seguida percorrerá outras cidades brasileiras. Os ingressos estão à venda na plataforma Eventim.
Gil quer desocupar o seu tempo, pretende levar seus dias mais tranquilos em casa, ditando os próximos passos sem pressa e anseios grandiosos. Aos 82 anos, ele afirma já não ser fácil realizar grandes turnês, apesar do gosto por estar perto do público. É hora de frear a correria. “Ficando mais em casa, vou achar naturalmente outras maneiras de ocupar (ou desocupar) os meus dias”, compartilha.
foto Giovanni Bianco
O tempo foi generoso com Gilberto Gil e, certamente, com seu público que pode apreciar suas poesias musicadas. “Como um dos maiores artistas do mundo, ele não poderia se despedir dos palcos sem antes fazer uma grande celebração. A obra de Gil é muito rica, então o conceito da turnê surgiu de forma muito natural, com o nome de ‘Tempo Rei’, uma música que consegue abraçar a sua importância”, reforça Pepeu Correa, CEO da produtora 30e que, em parceria com a Gege Produções, realizará a turnê.
O repertório será escolhido por Gilberto Gil, junto aos filhos Bem Gil e José Gil, responsáveis pela direção musical dos shows. Em entrevista à 29HORAS, o também imortal da Academia Brasileira de Letras discorre sobre o tempo, compartilha algumas memórias e outras filosofias, e antecipa mais detalhes da turnê. Confira!
O nome da turnê que você inicia em 2025 é “Tempo Rei”. Para você, o tempo é um agente que transforma as velhas formas do viver e ajuda a melhorar a sua obra (como faz com os vinhos) ou é um inimigo da permanência?
O tempo ajuda a melhorar a minha obra, a exemplo dos vinhos, como você colocou, mas também a faz envelhecer e, eventualmente, desaparecer depois de um transcorrer dele mesmo, ao mesmo tempo. O tempo é a palavra que criamos para falar desse mistério, desse deus por trás de tudo, o tempo passa e transforma.
Como você pretende passear por seu vasto repertório de mais de 60 anos de carreira? Quais serão os recortes e os enfoques na turnê?
Penso que a primeira coisa óbvia a considerar são as marcas lacradas de algumas das canções. Há uma memória que precisa ser respeitada e atendida. Muita gente vai querer ouvir suas canções preferidas. Haverá, certamente, um desfile de sucessos. Mas também outras surpresas. Eu espero que essa turnê seja no padrão histórico da minha relação com o palco, com a obsessão que tenho com a preparação, gosto muito de ensaiar! A lenda que corre é que cada ensaio meu é um show, mas a verdade é que há sempre nervosismos em estreias, em estar diante do público.
O tempo me ensinou os deleites do palco, o prazer e o gosto bom do encontro, com a minha própria música, depois com os músicos, em suas várias dimensões – e o tempo foi generoso e bondoso comigo, não me estressou, não me causou acidentes, e eu fui cantando por aí. Essa condição benigna de fazer o trabalho musical.
Gilberto Gil em turnê com sua família – foto Geovane Peixoto
Como você lida hoje em dia com o frisson de se apresentar para grandes audiências, em estádios e arenas?
Fui me acostumando a me apresentar para grandes públicos, grandes praças, estádios e tudo mais. Para mim, é mesmo mais difícil, mas dá-se um jeito. E vou trazer para o palco comigo homenagens a grandes artistas que me influenciaram. Desta vez, penso em cantar um Caymmi, um Luiz Gonzaga. Alguém mais, quem sabe… Veremos!
Na recente coletiva de imprensa que fez para anunciar a turnê, você disse que deseja “desocupar” o seu tempo despedindo-se dos palcos. Em seu grande sucesso “Palco”, você exalta a alegria de cantar evocando o “Fogo eterno pra afugentar / o inferno pra outro lugar”. O que mudou, essa chama esmoreceu? Com o que pretende “reocupar” o seu tempo daqui para frente?
As chamas sempre esmorecem, é claro. Eu mantive o gosto de subir ao palco e creio que será sempre assim. Mas fazer turnês extensas e intensas já não é tão simples. Eu não tenho boa memória, a minha tendência é esquecer os detalhes, mas me lembro de algumas viagens, lugares que visitei para fazer shows e lembro de descer de um trem na França, perto de Nice, para um show… esse acontecimento nunca me saiu da memória. Era uma correria para desembarcar com os instrumentos! São memórias assim, pouco relacionadas com o lado charmoso, eu fui carregador de piano. Nesse sentido, aos 82 anos fica mais difícil carregar pianos.
Há muito tempo venho pensando em desocupar o meu tempo, porque tocar, gravar, fazer música, encontrar pessoas, viajar em aviões, trens, ônibus, carros, navios… tudo isso ocupa um tempo danado. Chega de correria! Já são mais de 60 anos assim, é um bocado de tempo. Ficando mais em casa vou achar naturalmente outras maneiras de ocupar (ou desocupar) os meus dias.
No “Livro das Citações”, de Roberto Duailibi, há uma frase sua muito interessante: “Com a velhice, o corpo vai ficando solidário com a mentalidade”. O que você quis dizer com isso, exatamente? Ainda concorda com esse pensamento?
Essa é uma afirmação muito pessoal e particular. Não creio que haja um “exatamente” em tal frase. Concordo, no entanto, com a atualidade da ideia de que há uma “conformidade conforme a idade” entre todas as partes constituintes do eu.
Se adquirimos um certo equilíbrio em tudo o que somos, penso que é natural que essa solidariedade corpo-mente vá se dando melhor cada vez mais.
Gilberto Gil em posse na Academia Brasileira de Letras – foto Danielle Paiva / ABL
Além de um dos maiores compositores e cantores da música brasileira, você sempre foi muito admirado também por seu talento e sua habilidade como instrumentista. Você já teve problemas na voz e até perdeu uma das suas cordas vocais, algo que o forçou a fazer uma cirurgia na laringe. Mas como você diria que está a sua performance como violonista/guitarrista agora aos 82 anos de idade? E sobre a sua voz? Como você avalia a condição dela neste momento?
Inventei uma maneira muito pessoal de tocar violão, que foi se ajustando aos meus propósitos como instrumentista que acompanha seu próprio canto. Pertenço a essa vasta comunidade contemporânea dos “canto-autores” que se desenvolveram desde a última metade do século passado. Continuo adaptando meu violão e minha guitarra ao meu jeito de me acompanhar; e o meu canto ao que ainda pode a minha voz.
Nos seus retiros espirituais, você fala com Deus sempre que folga os nós dos sapatos, da gravata, dos desejos e dos receios? Qual o Deus que te guia?
O deus que me guia é o deus desconhecido. Ou aquele que emana das múltiplas maneiras de captar o seu significado, desconhecido, a rigor. Vai-se buscando um nome aqui, uma forma ali, um sentimento acolá, e deus vai se manifestando, é “um vago deus por trás do mundo, por detrás do detrás”, como nos versos da canção “Quanta”.
Você tem filhos e netos que seguiram os seus passos e se tornaram músicos. O que você enxerga de seu nas canções da Preta e dos Gilsons? Na sua visão, onde o seu DNA se manifesta nos trabalhos dos seus “sucessores”?
Os meninos e as meninas da minha prole, os meus “sucessores”, são frutos do meio ambiente saturado de arte e criatividade que tem caracterizado a minha vida, a “nossa” vida. Natureza (DNA) e Cultura. Quem sabe, herança genética e meio cultural. Talento e formação.
Ao lado do filho caçula, José Gil, carregando as netas gêmeas Pina e Roma – foto acervo Flora Gil
A rica poesia presente em suas canções o levou à Academia Brasileira de Letras. Como é a vida de um imortal? Você tem poemas que não foram musicados? Já pensou em lançar um livro com essas criações inéditas? Ou um livro de memórias?
Há vários poemas que não foram musicados, outros cujas músicas foram esquecidas, outros que já foram “remusicados” por colegas jovens e muitos que, provavelmente, permanecerão canções inacabadas. Não tenho pensado em ter uma reedição especial desse material. Nem, tampouco, um livro de memórias.
Metade dos estudiosos da história da música popular brasileira diz que você foi o grande idealizador da Tropicália, enquanto a outra metade atribui esse epíteto a Caetano. Você vive afirmando que foi ele e ele rebate falando que tudo só aconteceu por causa de uma epifania sua. Afinal, quem é o “pai” da coisa? Ou o movimento é um filho com guarda compartilhada?
“Guarda compartilhada” é a última conclusão a que chegamos. Talvez não houvesse “Tropicália” sem a minha intuição ou sem a inteligência dele. Mas também, sem dúvida, sem a contribuição de toda a turma que se deu ao trabalho.
Gil ao lado de Caetano Veloso – foto Flora Gil / Instagram
Nesse mundo com tantas guerras e tanto ódio sendo destilado a todo momento, você ainda tem uma visão otimista, como cantou em “A Paz”, ao lembrar que foi “uma bomba sobre o Japão que fez nascer o Japão da paz”?
O lado perverso da criação humana continuará sempre oscilando entre a paz e a guerra, até que ocorra uma migração definitiva para um estado puro de existência ou de inexistência, algo que considero improvável.
Série de shows dos Titãs marca o reencontro da banda original, que comemora suas quatro décadas de trajetória. Celebração tem tudo para se tornar um evento histórico do rock brasileiro
Transgeracional, ou melhor, atemporal. A banda Titãs, formada em 1982, em São Paulo, sempre se mostrou potente em conectar diferentes pessoas. Depois de 30 anos sem subir aos palcos com sua formação original, o grupo surpreendeu a todos com o anúncio de uma turnê de 21 shows com os sete integrantes – Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto.
“Estamos cantando em altos brados que o pulso ainda o pulsa. Afirmamos que a força criativa e a pulsão de viver se impõem sobre todas as adversidades”, resume Tony Bellotto. As apresentações já começaram em abril, no Rio de Janeiro, e seguem para outras cidades brasileiras e para Portugal nos próximos meses.
Titãs – Foto Bob Wolfenson
Até agora, a turnê “Titãs Encontro” já tem um público confirmado de incríveis 500 mil pessoas pelo país. Essa grande celebração tem shows ainda em Florianópolis (5 de maio), Porto Alegre (6 de maio), Manaus (11 de maio), Belém (12 de maio), Aracaju (26 de maio), Salvador (27 de maio), João Pessoa (1º de junho), Recife (2 de junho), Fortaleza (3 de junho), Brasília (7 de junho), Goiânia (8 de junho), Curitiba (10 de junho). Depois, a turnê passa por São Paulo (16, 17 e 18 de junho, as duas primeiras datas sold out), Vitória (23 de junho) e Ribeirão Preto (30 de junho). Dia 3 de novembro, o grupo toca em Lisboa.
Em entrevista exclusiva à 29HORAS, Nando Reis, Paulo Miklos e Tony Bellotto discorrem sobre as razões desse reencontro. Nas próximas semanas, a formação clássica promete resgatar a vocação que tem de se apresentar em grandes arenas e impactar a todos – novos fãs e aqueles de longa data. Leia os principais trechos a seguir:
Vamos falar de reencontro, mas primeiro uma pergunta sobre o início. O que intriga é que todos vocês estudavam juntos. Foi isso mesmo? Tantos talentos juntos ao acaso? Quais principais memórias vocês carregam desse começo? Paulo Miklos: A maioria estudava no mesmo colégio. Em classes de anos diferentes. Mas foi o interesse pela música que nos aproximou. Nos encontrávamos para mostrar as canções uns para os outros. A melhor lembrança foi quando gravamos uma fita K7 com o tema ‘As Musas’, em que todos gravamos canções dedicadas às paixões da época. Tony Bellotto: Não é que todos estudávamos juntos, mas a maioria, sim. Quem não estudava, tipo eu, frequentava a escola onde os outros estudavam, o colégio Equipe. Marcelo, Branco, Brito, Nando, Paulo, Arnaldo, Ciro Pessoa e o André Jung faziam parte da primeira formação da banda, todos eles estudavam no Colégio Equipe. Não é que estudavam juntos, mas, em diferentes salas, em diferentes momentos. Eu frequentava ali porque era uma escola que tinha muita atividade cultural, muita efervescência artística. O Serginho Groisman era o diretor do grêmio estudantil e ele promovia muitos shows, a escola tinha alunos muito criativos e ali faziam festivais. Enfim, teve essa coisa da gente se conhecer e começar a trocar as primeiras ideias e mostrar o que cada um estava fazendo na escola. Por isso que a educação é tão importante!
Tony Bellotto – Foto Bob Wolfenson
O que motivou o reencontro com os integrantes originais? Como é ensaiar e subir aos palcos 30 anos depois? O que mudou e o que continua igual? Nando Reis: As razões que levaram a esse encontro são múltiplas, mas a origem se dá no marco de 40 anos daquilo que a gente adotou como início dos Titãs, que foi nosso primeiro show, em 1982. Na minha interpretação, a pandemia tem uma contribuição, porque foi um momento em que todo mundo teve que ressignificar as coisas, rever as coisas. E evidentemente que para todos nós, mesmo aqueles que saíram da banda em diferentes momentos, os Titãs é parte fundamental da nossa história de vida, profissional e pessoal.
Esse reencontro é carregado de significados, é muito emocionante. Os ensaios estão sendo ótimos, muito trabalhosos, interessantes, justamente por essa ótica da semelhança e da diferença. A semelhança é muito maior, na verdade, porque é estrutural – das individualidades e na nossa relação, na dinâmica, que está representada de forma cabal naquilo que produzimos.
O que mudou? Muita coisa também! É difícil até descrever. E, curioso, a minha mudança, a única da qual eu posso falar, sou um músico melhor. Muito melhor do que era há 22 anos, 40 anos… E posso tocar aquelas músicas, aquilo que fiz, especialmente as linhas de baixo, de uma maneira muito melhor até. E tem isso, todo mundo mais velho, características de temperamento acentuadas, mas essencialmente, somos os mesmos.
Sérgio Britto – Foto Bob Wolfenson
Qual momento da banda que você gostaria de reviver? O que o público pode esperar da turnê? TB: Não existe um momento único, determinado e específico, eu acho que o que eu estou gostando de reviver nesse encontro é esse convívio como um todo. Quer dizer, é fazer o show junto, entrar no palco junto e depois comemorar no camarim, ir para o hotel, e no dia seguinte ir para o aeroporto, todo mundo junto… As conversas que ocorrem coletivas ou individualmente com cada um, esse convívio, né?
E penso que o que o público pode esperar da turnê é isso mesmo. É essa banda reunida com ex-integrantes, numa formação como era ali até 1993. E tocando as músicas que viraram tão importantes. O público pode esperar essa celebração, essa troca de energia com a gente, que estamos esperando do público também.
Branco Mello – Foto Bob Wolfenson
Os anos 1980 foram bastante agitados e efervescentes para o rock nacional. Como enxergam esse cenário hoje? Houve renovação, na sua opinião? Em quais artistas da nova geração devemos ficar de olho? TB: Realmente, os 1980 foram incríveis principalmente para o rock nacional e para essa geração da qual a gente faz parte, que colocou o rock como uma música popular mesmo, ouvida por todo mundo, aparecia nos programas de televisão e estava inserida nesse contexto da redemocratização. Isso é o que acho mais legal de tudo, a nossa geração veio afirmar aquele grito de liberdade, fim da ditadura, denunciando os horrores da ditadura e da repressão, elogiando a importância da democracia, da liberdade.
O cenário de hoje eu não acompanho muito, acho que a gente vai ficando mais velho, tem uma tendência, pelo menos eu, a escutar as coisas de que eu gostava, cada vez eu vou mais para trás. Eu posso dizer muito sobre o cenário do blues nos Estados Unidos, na década de 1930 e 1940. Não é sobre isso que estamos falando aqui (risos). Mas eu sempre fui um grande admirador da força e variedade da música brasileira. Não sou o cara mais indicado para falar de novidades, mas sou um ouvinte atento.
Olhando para trás, quais conselhos vocês dariam para os Titãs de 20 anos? PM: Eu diria: ‘Acredite sempre e trabalhe duro’. NR: Curioso você fazer essa pergunta, porque no meu disco, que acabei de gravar, há um verso de uma das músicas em que falo: ‘Eu não acredito em conselhos’. Então, talvez essa é uma coisa que não é concebível para mim, não dou conselho para ninguém, nem para os meus filhos, a não ser que eles peçam alguma opinião.
É que assim, não existe isso de olhar para trás, é tão especulativo que passa a ser inócuo. É claro que há muitas coisas que fiz das quais gostaria de não ter feito, mas não houve possibilidade. Tanto que eu as fiz e muitas delas involuntariamente. De todas as ordens, ações, reações, falas, comportamentos… E, óbvio, comparar com a forma com que eu vejo minha profissão hoje em dia, há muita bobagem que fiz. Mas, o que vou fazer em relação a isso? Não faço terapia de vidas passadas, não creio nisso. TB: Vale para todo mundo: ‘Acredite em si mesmo, ouse, faça coisas diferentes e não se paute, não se mire pelo que os outros esperam de você. Surpreenda-se mesmo porque você acaba surpreendendo os outros e talvez quem sabe acabe chamando atenção e fazendo sucesso’.
Paulo Miklos – Foto Bob Wolfenson
Qual é a música preferida de cada um? Ou qual o momento favorito entre ensaio, show e composição? PM: São muitas preferidas. Posso citar a primeira de todas: ‘Sonífera Ilha’. E meu momento predileto é, sem dúvida, o show, o encontro com o público, o palco. TB: Não tem uma música preferida, são como filhas e filhos, cada um do jeito que é. Mas tem uma de que eu gosto particularmente que é ‘Polícia’; é uma música minha e que tem uma trajetória muito interessante dentro da carreira dos Titãs. Fiz como um desabafo e virou realmente um hino de uma geração, permanece até hoje como uma música muito atual e ela nunca trilhou os caminhos que uma música trilha para fazer sucesso, como não tocou muito em rádio, nada disso, mas se transformou em um grande sucesso.
Como foram as discussões entre os membros originais para que alguns seguissem carreira solo? Qual rompimento foi o mais difícil e por quê? NR: Não me lembro, não tenho a menor ideia dos rompimentos. A única coisa que posso dizer é que a mais difícil foi a minha própria. Na dos outros, eu não estava presente, fora o do Arnaldo. Mas, vou dizer, o momento mais difícil que vivemos nem se compara com qualquer saída de um membro: foi a morte do Marcelo Fromer. Isso foi um desastre, uma tragédia para a vida de todos nós, que fez com que qualquer aspereza de uma eventual discussão entre nós se tornasse uma questão menor.
Nando Reis – Foto Bob Wolfenson
Todas as questões que geraram as saídas do Arnaldo, do Nando e do Charles foram superadas? A união de vocês está mais sólida e madura agora? TB: Superadíssimas, parecem nem ter acontecido. Tanto é que, como eu já falei, quando a gente se encontrou agora para valer, trabalhar juntos, discutir e definir repertório, é como se nada tivesse mudado. Como se as coisas continuassem iguais, como se eu tivesse ainda uma banda com todos aqueles membros. Então, isso prova que estão tão superadas as divergências eventuais quando se tem uma relação muito profunda e forte que resiste ao tempo e à distância. Acho muito legal porque também é uma maneira de provar isso para todo mundo sem precisar explicar. As pessoas vão olhar a gente no palco e vão entender que todas as separações, as divergências, tudo aconteceu porque tinha que ter acontecido, porque é dinâmica natural do convívio, da criação artística, mas a gente está lá reafirmando o que fizemos juntos e comemorando a potência e a força da nossa música e união. Acho que essa turnê vai entrar para a história do rock brasileiro por tudo isso que estou falando.
Como é ver fãs agora mais velhos entoando hinos como “Polícia”, “Igreja” e “Bichos Escrotos”? Vocês se consideram um sucesso transgeracional? Do que vocês sabem, a maioria da plateia desses shows é composta por jovens ou por fãs de longa data? NR: Não sei se o público vai entoar, mas vou tentar responder diante da minha expectativa. Acredito, pela maneira como eu me reaproximei desse repertório, que ele tenha força e qualidade consideradas transgeracionais. Diria mais, atemporal. Até porque a gente nunca fez música, eu também não faço, acreditando que você se comunica apenas com sua faixa etária. Acho que se comunica consigo mesmo e através dessa comunicação, aquilo que você produz no microcosmo individual se transpõe para aquilo que é universal. E, consequentemente, para aquilo que não está diretamente associado à idade. Os temas, óbvio, as músicas do ‘Cabeça Dinossauro’ foram escritas a partir de um contexto que, curiosamente, guarda mais semelhanças – o contexto político, da conjuntura nacional – com aquilo que já vivemos nos anos 1980 com o que foi nos anos 2000.
Mas a maneira como cada um ouve é tão diversificada, que é impossível mensurar. Eu encontrei, por exemplo, na votação do primeiro turno, um camarada que veio pedir foto comigo, que é fã absoluto dos Titãs com uma camisa da Seleção Brasileira. Quase perguntei para ele: ‘Mas, vem cá, você não entendeu nada?’. Então, assim, vai saber o que se passa na cabeça das pessoas, né. Acho que é provável que tenha gente de todas as idades, fãs da época. O único parâmetro que tenho é a reação das pessoas, desde quando foi anunciada a turnê, de quem me pergunta, pede convite. Aí, sim, são antigos fãs, da minha idade, gente que nunca nos viu e gosta do nosso trabalho. Também vejo isso pelo interesse dos meus filhos e netos.
Arnaldo Antunes – Foto Bob Wolfenson
A letra da música “O Pulso”, com aquela lista de doenças, faz ainda mais sentido para vocês hoje em dia? TB: Está chamando a gente de velho, hein? Não entendi (risos)! Estou brincando. O sentido é de que o pulso ainda pulsa e isso realmente afirma essa permanência que quer dizer: passam as adversidades, passam as coisas boas e ruins, e a gente permanece ali relevante, forte, potente e afirmando e reafirmando que o pulso ainda pulsa. Agora esse outro lado que eu falei brincando também faz sentido, né? Porque estamos todos na faixa aí dos sessenta, já somos tecnicamente idosos e driblando todas as doenças, dores, mazelas, adversidades, governos ruins e dificuldades. E estamos aí cantando em altos brados que o pulso ainda o pulsa, acho que é a grande ideia dessa música brilhante, aliás, é isso mesmo. A letra afirma que a força criativa, a força de vida e a pulsão de viver se impõem sobre todas as adversidades que aparecem na nossa frente. É isso mesmo.
Charles Gavin – Foto Bob Wolfenson
Qual o personagem que cabe a cada um de vocês na banda? Quem é o organizador, quem é o caótico do rolê, quem é o romântico, quem é o revoltado, quem é o mais ligado em inovação e quem é o mais conservador? PM: Temos uma dinâmica muito especial. Mudamos muito de posição na hora do jogo. Se necessário, nos revezamos em ser conciliadores, questionadores ou encrenqueiros. NR: Nenhum de nós é um personagem, o que temos são personalidades e características. De alguma maneira elas se mantêm, porque é uma dinâmica que desenvolvemos e que neste reencontro tem traços de semelhança muito grande na forma. Porque nós, embora estejamos mais velhos, estruturalmente, somos os mesmos indivíduos. Ali, vejo… Esses são alguns estereótipos, que não cabem, são muito redutores. Naquela época, eu, Marcelo e Britto estávamos mais à frente quando tínhamos que falar com empresário, gravadora, representávamos os outros. Então, é uma experiência que tive que, de certa maneira, ainda aplico. O Branco sempre foi o cara que cuidou das imagens, o Charles, mais próximo da questão técnica, do arquivo da música, da relação de conservação. O Arnaldo é aquele sujeito brilhante. O Paulo é um multi-instrumentista, multitalentoso. Ali, as características agem dentro de um equilíbrio que percebo que se mantém. Porque também é a forma que a gente conhece. É o que está acontecendo.
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