No interior de Alagoas, Piranhas apresenta a natureza, as comidas e a arte do Cangaço Novo

No interior de Alagoas, Piranhas apresenta a natureza, as comidas e a arte do Cangaço Novo

Cada vez mais gente se aventura até Piranhas, no interior de Alagoas, para visitar os embasbacantes cânions do rio São Francisco, se deliciar com as maravilhas da gastronomia neo-sertaneja e garimpar lindas peças de artesanato – em especial bordados e esculturas de madeira entalhada

Foi naquele fatídico 28 de julho de 1938, quando Lampião e os cangaceiros de seu bando foram capturados, mutilados e tiveram suas cabeças expostas em frente à prefeitura que a cidade alagoana de Piranhas ficou conhecida nacionalmente. Nos últimos anos, a localidade vem frequentando o noticiário por outras razões bem mais lisonjeiras.

Primeira cidade do semiárido nordestino tombada pelo IPHAN como Patrimônio Histórico e Paisagístico Nacional, Piranhas atrai cada dia mais forasteiros interessados em se esbaldar nas praias do majestoso rio São Francisco, conhecer os cânions de Xingó e visitar os ateliês de bordadeiras e artesãos que entalham as peças de madeira que adornam cada vez mais galerias e residências do Recife, do Rio de Janeiro e de São Paulo.

 

Vista aérea dos cânions do Xingó – foto divulgação

 

Localizada a 290 km de da capital Maceió, Piranhas é uma joia preservada às margens do Velho Chico que, nesse trecho, tem águas límpidas e fresquinhas – ideais para aquele mergulho providencial para aplacar o calorão de mais de 30°C constante durante o ano todo. Do pequeno porto, “voadoras” saem com destino aos vilarejos de Entremontes e Ilha do Ferro, onde habitam artesãos que já estão ganhando fama no Brasil todo, como Mestre Vavan, Valmir Lessa, Zé Crente, Camille, Salvinho, Jordânia e Bedeu.
Uma visita a esses povoados é um programa obrigatório – ainda mais se incluir um almoço na Pousada da Vana, que serve legítimas galinhas guisadas e exóticos ceviches de piranha.

Para se aventurar pelos deslumbrantes cânions da represa formada pela usina hidrelétrica de Xingó, os passeios de catamarã saem toda manhã do restaurante Karranca’s, que fica na outra margem do rio, no município sergipano de Canindé de São Francisco. Se a ideia é fazer um tour mais exclusivo, contate as eficientes e gentilíssimas Maria e Jéssica, da agência de turismo receptivo Além dos Cânions pelo tel. 82 98146-6979.

Com 65 km de extensão, os cânions do Xingó têm paredões de até 50 metros de altura. A água com tons esverdeados contrastando com as paredes rochosas avermelhadas formam um cenário deslumbrante. Se esgueirar de bote a remo pela Gruta do Talhado faz você se sentir em Petra (na Jordânia) ou em alguma fenda do Grand Canyon, nos Estados Unidos.

 

Gruta do Talhado – foto Kike Martins da Costa

 

A região já serviu de cenário para novelas como “Mar do Sertão” e “Velho Chico”. Nos próximos meses, receberá as equipes de filmagem das séries “Guerreiros do Sol” (da GloboPlay) e “Maria Bonita” (da Disney+, estrelada por Ísis Valverde).

De volta a Piranhas, passeie pelo Centro Histórico para conferir seu gracioso casario colorido e, se você programar a sua viagem à cidade no mês de agosto, aproveite para curtir o Festival Gastronômico que reúne barraquinhas da hamburgueria Terra Tupi (que serve burgers de bode com geleia de caju), do Quilombo do Sítio Lages (que oferece divinos ensopados de frango com xerém e picles de maxixe) ou do restaurante Vixe Mainha, onde o destaque é o Risoto da Caatinga – à base de carne seca desfiada, nata, abóbora e pipoquinhas de queijo coalho.

 

Centro histórico de Piranhas – foto divulgação

 

Quem quiser uma refeição mais elaborada precisa conhecer o restaurante Nalva Cozinha Autoral, comandado pelo chef Antonio Mendes. Nascido em Maceió, ele mistura técnicas da alta gastronomia com ingredientes tipicamente nordestinos. Para o cardápio do Nalva, concebeu maravilhas como o Arupemba (carne de sol com demi glace de rapadura), a terrine de rabada com mil-folhas de macaxeira, o Hot Bode (sanduba de linguiça de bode com ketchup de goiabada e maionese de cacto) e o engenhoso torresmo falso de feijão verde e rabada.

 

Área externa do restaurante Nalva – foto Rui Nagae

 

No salão do Nalva, obras de arte feitas na região decoram os ambientes (e podem ser compradas), a trilha sonora ajuda a criar uma alegre atmosfera sertaneja 2.0 e a simpática brigada é um desfile daqueles rostos lindos que compõem a diversidade brasileira. “A intenção aqui é preservar e valorizar ao máximo a cultura nordestina – na arquitetura, no artesanato e, claro, na comida”, resume o talentoso chef Antonio. O Nalva fica na rua José Martiniano Vasco e, para reservar uma mesa, ligue no tel. 82 98153-3801.

Infelizmente Piranhas ainda tem uma oferta pobre de hotéis, pousadas e casas para locação via Airbnb. Mas o hotel Pedra do Sino tem instalações confortáveis e uma convidativa piscina com vista para as curvas do São Francisco. As diárias são na faixa dos R$ 400 e as reservas podem ser feitas pelo tel. 82 98807-3918.

 

Hotel Pedra do Sino, em Piranhas – foto Kike Martins da Costa