Considerado um dos melhores bailarinos deste século, Thiago Soares traz para o Rio o espetáculo “Último Ato”

Considerado um dos melhores bailarinos deste século, Thiago Soares traz para o Rio o espetáculo “Último Ato”

O bailarino que já se apresentou com as principais companhias de dança do mundo, Thiago Soares traz para o Rio a sua última turnê internacional, intitulada “Último Ato”. O espetáculo brinca com a despedida, com o envelhecimento e até com a morte, mas também mostra que, na dança, ‘prazo de validade’ e ‘limite’ são palavras que não têm vez

Consagrado entre os maiores bailarinos do mundo, Thiago Soares ocupou por mais de dez anos o cobiçado posto de primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres e já se apresentou em mais de 30 países. Nos dias 25, 26, 27 e 28 de maio, ele traz ao palco do Teatro Multiplan (dentro do Village Mall, na Barra) o espetáculo “Último Ato”, sua última turnê internacional. “É uma produção que brinca com a ironia de ser de fato uma despedida. Dizem que o bailarino tem sua primeira morte quando deixa de dançar. O espetáculo mostra que as coisas não são bem assim, que é possível ir além, se desconstruir e se reinventar, com novos formatos e novas linguagens. Hoje apenas apago uma luz para acender tantas outras”, diz.

A estreia mundial foi em Lisboa, no final de abril, e a turnê deve rodar o Brasil nos próximos meses, sempre que a agenda de Thiago permitir – afinal, atualmente ele trabalha como diretor do Ballet de Monterrey e passa a maior parte de seu tempo no México.

Thiago Soares - Foto Lina Nunes

Thiago Soares – Foto Lina Nunes

 

Nascido em São Gonçalo e criado em Vila Isabel, o interesse de Thiago pela arte surgiu aos 9 anos, quando começou a frequentar uma escola de circo. A paixão pela dança foi despertada quando ele tinha 15 anos e integrava um grupo de Street Dance. Depois de passar pelo corpo de baile do Theatro Municipal do Rio, conquistar uma medalha no Concurso Internacional de Dança de Paris e vencer o Concurso Internacional do Ballet Bolshoi, dançou com o Ballet Kirov (de São Petersburgo) e, por fim, chegou ao Royal Ballet britânico.

Agora quarentão, em um universo em que a alta performance da juventude é tão valorizada, ele investe em novos projetos – sempre ligados ao movimento e à dança. Em entrevista à 29HORAS, Thiago fala de sua volta ao Rio, de seus planos para o futuro e do filme que está sendo rodado sobre a sua trajetória. Veja a seguir os principais trechos dessa conversa:

 

ThiagoSoares - Foto Angela Zaremba

Thiago Soares – Foto Angela Zaremba

 

O espetáculo “Último Ato” está sendo apresentado como sua derradeira turnê internacional. É a sua despedida dos palcos como bailarino?
Trabalhando no México e tocando o meu estúdio de dança no Rio, eu não consigo mais me enxergar rodando o mundo com toda a estrutura que um grande espetáculo requer. É por isso que digo que esta é a minha última turnê. Mas vou seguir trabalhando como bailarino, coreógrafo, diretor… Não me vejo sem dançar.

Como foi a estreia em Portugal?
Foi muito emocionante. Nos apresentamos lá no final de abril. O Teatro Tivoli, em Lisboa, é um lugar muito especial para mim. Ele me acolheu desde que eu comecei a desenvolver projetos pessoais. A interação com o público foi linda – os portugueses amam os artistas brasileiros.

 

Thiago com o elenco da turnê “Último Ato” - Foto Lina Nunes

Thiago com o elenco da turnê “Último Ato” – Foto Lina Nunes

 

E qual a expectativa para a sua temporada carioca? Você já dançou nos principais templos do balé pelo mundo todo, mas se apresentar no Rio é diferente?
Para mim, dançar no Rio é sempre um acontecimento formidável. É o meu lugar no mundo, é onde me sinto em casa. Foi onde as danças da minha vida começaram. Voltar para cá é como fechar um ciclo, depois de rodar o mundo e passar pelo Scala de Milão, pelo Lincoln Center de Nova York, pela Royal Opera House de Covent Garden e tantos outros palcos magníficos. As minhas expectativas são as melhores possíveis. Espero que a interação com a plateia seja plena e que tenhamos noites inesquecíveis.

Neste mês de maio, você completa 42 anos, e o seu corpo é o seu instrumento. Ele ainda está tão afinado como quando você era o primeiro bailarino do The Royal Ballet, de Londres? Quais os efeitos do tempo você já percebe em seus movimentos?
Esta celebração do meu aniversário vai ser ainda mais peculiar e feliz, por causa das apresentações de ‘Último Ato’ no Rio. De fato, a maioria das carreiras na dança têm uma duração curta, e eu não tenho mais o perfil para interpretar jovens príncipes e outros personagens típicos dos balés clássicos. Mas há alguns anos eu mesmo dei início a um processo de transição, abandonando esses papéis e focando em protagonistas de outro tipo, mais apropriados para as minhas habilidades. Acredito que, quanto antes você inicia esse processo, menos doloroso, agressivo e sofrido ele será. Comigo foi assim, suave e gradual. Me sinto muito bem com o meu corpo hoje, creio estar em ótima forma. Ainda não percebo nenhuma limitação ou fraqueza. Me considero livre e estou me divertindo.

 

O bailarino Thiago Soares com sua ex-esposa, a argentina Marianela Nuñez, na montagem de 2012 de “Lago dos Cisnes”, no Royal Ballet de Londres - foto Dave Morgan | The Royal Ballet

O bailarino Thiago Soares com sua ex-esposa, a argentina Marianela Nuñez, na montagem de 2012 de “Lago dos Cisnes”, no Royal Ballet de Londres – foto Dave Morgan | The Royal Ballet

 

O balé e a dança são cruéis nessa questão da idade e da “vida útil” de suas estrelas. Mas, ao mesmo tempo em que a juventude é tão valorizada, temos também muitos e extraordinários exemplos de artistas que foram longe com a dança, como Martha Graham, Kazuo Ohno, Alicia Alonso, Ismael Ivo, Marcia Haydée… Até quando você pretende dançar? Existe um limite?
Sinceramente, eu não acredito em “limite de idade” para a dança. Todos esses artistas que você citou souberam seguir dançando até quando quiseram, criando novos formatos, novas linguagens e formas muito próprias de se expressar. É um caminho assim que eu quero trilhar. Nos últimos anos, abracei outros projetos – como o filme “Vermelho Quimera”, o trabalho como diretor do Ballet de Monterrey, a coordenação de um estúdio de dança para a formação de bailarinos no Rio – e quero ainda explorar muitas outras possibilidades. Cada artista traça as suas metas e suas rotas, com sua inteligência, suas motivações, suas particularidades.

Desde 2021, você dirige o Ballet de Monterrey, no México. Como vem sendo esse trabalho, essa nova fase?
Quando me desliguei do The Royal Ballet de Londres, recebi vários convites. Escolhi o Ballet de Monterrey porque me identifiquei muito com as propostas e os objetivos apresentados pelo comitê que decide os objetivos e os rumos da companhia. Tenho aprendido muito nessa nova missão. O trabalho do bailarino é algo muito autocentrado, quase solitário. O do diretor é o contrário – é uma ação coletiva. Ele é o maestro de uma grande orquestra, ele tem de gerenciar as propostas, as visões e as expectativas de vários profissionais envolvidos na produção de um espetáculo.

E como foi a experiência de dirigir e atuar no filme “Vermelho Quimera”, exibido em 2021 no Festival de Cannes?
Quando começamos a produzir essa adaptação de “O Pássaro de Fogo” (de Stravinsky), a ideia era fazer uma coreografia para a web, já que todos os palcos estavam fechados por causa da pandemia. Mas o projeto foi crescendo e acabou virando um filme. Para mim foi uma experiência nova e enriquecedora, pois eu atuei como dançarino, ator, coreógrafo, dramaturgo e diretor. Junto com o Oskar Metsavaht, fiz também a direção de arte, e a atriz Lana Rhodes vestiu como uma luva a sua personagem, meu par romântico na trama. O resultado ficou lindo, com uma narrativa diferente e movimentos pequenos que funcionavam como palavras. Esse trabalho me trouxe muitas alegrias e teve uma ótima receptividade – além da estreia em Cannes, foi exibido em vários outros festivais pelo mundo. Ao final, me deixou com a fome de embarcar em novos projetos audiovisuais.

 

Thiago Soares com Lana Rhodes e Oskar Metsavaht durante as filmagens de “Vermelho Quimera” - Foto divulgação

Thiago Soares com Lana Rhodes e Oskar Metsavaht durante as filmagens de “Vermelho Quimera” – Foto divulgação

 

Com “Último Ato”, você diz que está desligando uma luz para acender outras, que está apagando uma estrela para estimular o nascimento de outras. Quais são os seus projetos e planos para o futuro?
No curto prazo, vamos ficar ainda cerca de um ano e meio rodando com a turnê de “Último Ato”. No longo prazo, como já falei, eu venho trabalhando em várias novas frentes, ultimamente, e espero que apareçam ainda mais possibilidades. Adoro esse formato de bailarino-ator, gostei muito de rodar “Vermelho Quimera” e estou muito satisfeito como diretor do Ballet de Monterrey e com o trabalho que estamos realizando com o estúdio TS+Dança aqui no Rio. Gosto de coreografar, de dançar, de criar, de me lançar em novos formatos, em projetos inovadores. Essas portas que estão se abrindo para mim estão me levando por um caminho muito prazeroso. É esse o futuro que eu quero para mim.

Thiago em uma das cenas mais bonitas do espetáculo que será apresentado este mês no Teatro Multiplan - Foto divulgação

Thiago em uma das cenas mais bonitas do espetáculo que será apresentado este mês no Teatro Multiplan – Foto divulgação

 

Nos últimos anos, a cultura no Brasil foi vítima de um desmanche terrível, e os artistas foram acusados de ser aproveitadores, mercenários e parasitas de verbas públicas. Como sair dessas trevas? Como você gostaria que o povo enxergasse os artistas e as pessoas que produzem cultura?
As artes passaram por momentos muito difíceis. É inaceitável uma liderança política atacar a cultura de um país. Ninguém ganha com isso, é óbvio que vai dar errado em algum momento. O Brasil tem a cultura com sua maior voz diplomática pelo mundo e como o combustível da nossa identidade. A cultura é tão prioritária quanto a educação e a saúde – e é importante que quem dirige o país entenda isso. Quem produz cultura deve ser tão valorizado quanto um professor ou um médico. O Brasil é riquíssimo em talentos, em criadores, mas essas pessoas precisam de oportunidades. Eu sou a prova viva disso. Se não fosse a cultura, talvez eu não tivesse levado o nome do Brasil ao Royal Ballet de Londres. Se não fosse a cultura, muita gente estaria envolvida na criminalidade.

Por fim, a quantas anda o filme “Um Lobo entre os Cisnes”, sobre a sua vida e sua exitosa trajetória profissional?
As filmagens na Europa já terminaram e muitas etapas a serem feitas aqui também estão adiantadas. A equipe envolvida é fantástica: o longa é dirigido por Marcos Schechtman e Helena Varvaki, a produção é uma parceria da TV Zero com a Globo Filmes, e o ator Matheus Abreu é quem interpreta o Thiago – eu – na juventude. O filme retrata um momento muito emocionante da minha história, quando descobri a minha vocação, o meu dom. Esse longa vai ser muito importante para o jovem espectador que ainda busca um norte, que ainda não sabe o que quer e não encontrou o seu propósito. Ele mostra como essa mágica aconteceu para mim. A estreia deve ser apenas em 2024. Tive o prazer de participar de algumas filmagens e da preparação do elenco. É uma grande honra ter inspirado uma obra reveladora, potente, humana e relevante como esse filme!

 

Matheus Soares na preparação do ator Matheus de Abreu para as filmagens de “Um Lobo entre os Cisnes” - Foto reprodução Instagram

Matheus Soares na preparação do ator Matheus de Abreu para as filmagens de “Um Lobo entre os Cisnes” – Foto reprodução Instagram

Revista Online: Edição 160 – SP

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Revista Online: Edição 160 – RJ

Revista Online: Edição 160 – RJ

Icônica banda dos anos 80, Titãs faz série de shows pelo Brasil reunindo sua formação original

Icônica banda dos anos 80, Titãs faz série de shows pelo Brasil reunindo sua formação original

Série de shows dos Titãs marca o reencontro da banda original, que comemora suas quatro décadas de trajetória. Celebração tem tudo para se tornar um evento histórico do rock brasileiro

Transgeracional, ou melhor, atemporal. A banda Titãs, formada em 1982, em São Paulo, sempre se mostrou potente em conectar diferentes pessoas. Depois de 30 anos sem subir aos palcos com sua formação original, o grupo surpreendeu a todos com o anúncio de uma turnê de 21 shows com os sete integrantes – Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto.

“Estamos cantando em altos brados que o pulso ainda o pulsa. Afirmamos que a força criativa e a pulsão de viver se impõem sobre todas as adversidades”, resume Tony Bellotto. As apresentações já começaram em abril, no Rio de Janeiro, e seguem para outras cidades brasileiras e para Portugal nos próximos meses.

 

Titãs - Foto Bob Wolfenson

Titãs – Foto Bob Wolfenson

 

Até agora, a turnê “Titãs Encontro” já tem um público confirmado de incríveis 500 mil pessoas pelo país. Essa grande celebração tem shows ainda em Florianópolis (5 de maio), Porto Alegre (6 de maio), Manaus (11 de maio), Belém (12 de maio), Aracaju (26 de maio), Salvador (27 de maio), João Pessoa (1º de junho), Recife (2 de junho), Fortaleza (3 de junho), Brasília (7 de junho), Goiânia (8 de junho), Curitiba (10 de junho). Depois, a turnê passa por São Paulo (16, 17 e 18 de junho, as duas primeiras datas sold out), Vitória (23 de junho) e Ribeirão Preto (30 de junho). Dia 3 de novembro, o grupo toca em Lisboa.

Em entrevista exclusiva à 29HORAS, Nando Reis, Paulo Miklos e Tony Bellotto discorrem sobre as razões desse reencontro. Nas próximas semanas, a formação clássica promete resgatar a vocação que tem de se apresentar em grandes arenas e impactar a todos – novos fãs e aqueles de longa data. Leia os principais trechos a seguir:

Vamos falar de reencontro, mas primeiro uma pergunta sobre o início. O que intriga é que todos vocês estudavam juntos. Foi isso mesmo? Tantos talentos juntos ao acaso? Quais principais memórias vocês carregam desse começo?
Paulo Miklos: A maioria estudava no mesmo colégio. Em classes de anos diferentes. Mas foi o interesse pela música que nos aproximou. Nos encontrávamos para mostrar as canções uns para os outros. A melhor lembrança foi quando gravamos uma fita K7 com o tema ‘As Musas’, em que todos gravamos canções dedicadas às paixões da época.
Tony Bellotto: Não é que todos estudávamos juntos, mas a maioria, sim. Quem não estudava, tipo eu, frequentava a escola onde os outros estudavam, o colégio Equipe. Marcelo, Branco, Brito, Nando, Paulo, Arnaldo, Ciro Pessoa e o André Jung faziam parte da primeira formação da banda, todos eles estudavam no Colégio Equipe. Não é que estudavam juntos, mas, em diferentes salas, em diferentes momentos. Eu frequentava ali porque era uma escola que tinha muita atividade cultural, muita efervescência artística. O Serginho Groisman era o diretor do grêmio estudantil e ele promovia muitos shows, a escola tinha alunos muito criativos e ali faziam festivais. Enfim, teve essa coisa da gente se conhecer e começar a trocar as primeiras ideias e mostrar o que cada um estava fazendo na escola. Por isso que a educação é tão importante!

 

Tony Bellotto - Foto Bob Wolfenson

Tony Bellotto – Foto Bob Wolfenson

 

O que motivou o reencontro com os integrantes originais? Como é ensaiar e subir aos palcos 30 anos depois? O que mudou e o que continua igual?
Nando Reis: As razões que levaram a esse encontro são múltiplas, mas a origem se dá no marco de 40 anos daquilo que a gente adotou como início dos Titãs, que foi nosso primeiro show, em 1982. Na minha interpretação, a pandemia tem uma contribuição, porque foi um momento em que todo mundo teve que ressignificar as coisas, rever as coisas. E evidentemente que para todos nós, mesmo aqueles que saíram da banda em diferentes momentos, os Titãs é parte fundamental da nossa história de vida, profissional e pessoal.
Esse reencontro é carregado de significados, é muito emocionante. Os ensaios estão sendo ótimos, muito trabalhosos, interessantes, justamente por essa ótica da semelhança e da diferença. A semelhança é muito maior, na verdade, porque é estrutural – das individualidades e na nossa relação, na dinâmica, que está representada de forma cabal naquilo que produzimos.
O que mudou? Muita coisa também! É difícil até descrever. E, curioso, a minha mudança, a única da qual eu posso falar, sou um músico melhor. Muito melhor do que era há 22 anos, 40 anos… E posso tocar aquelas músicas, aquilo que fiz, especialmente as linhas de baixo, de uma maneira muito melhor até. E tem isso, todo mundo mais velho, características de temperamento acentuadas, mas essencialmente, somos os mesmos.

Sérgio Britto - Foto Bob Wolfenson

Sérgio Britto – Foto Bob Wolfenson

 

Qual momento da banda que você gostaria de reviver? O que o público pode esperar da turnê?
TB: Não existe um momento único, determinado e específico, eu acho que o que eu estou gostando de reviver nesse encontro é esse convívio como um todo. Quer dizer, é fazer o show junto, entrar no palco junto e depois comemorar no camarim, ir para o hotel, e no dia seguinte ir para o aeroporto, todo mundo junto… As conversas que ocorrem coletivas ou individualmente com cada um, esse convívio, né?
E penso que o que o público pode esperar da turnê é isso mesmo. É essa banda reunida com ex-integrantes, numa formação como era ali até 1993. E tocando as músicas que viraram tão importantes. O público pode esperar essa celebração, essa troca de energia com a gente, que estamos esperando do público também.

 

Branco Mello - Foto Bob Wolfenson

Branco Mello – Foto Bob Wolfenson

 

Os anos 1980 foram bastante agitados e efervescentes para o rock nacional. Como enxergam esse cenário hoje? Houve renovação, na sua opinião? Em quais artistas da nova geração devemos ficar de olho?
TB: Realmente, os 1980 foram incríveis principalmente para o rock nacional e para essa geração da qual a gente faz parte, que colocou o rock como uma música popular mesmo, ouvida por todo mundo, aparecia nos programas de televisão e estava inserida nesse contexto da redemocratização. Isso é o que acho mais legal de tudo, a nossa geração veio afirmar aquele grito de liberdade, fim da ditadura, denunciando os horrores da ditadura e da repressão, elogiando a importância da democracia, da liberdade.
O cenário de hoje eu não acompanho muito, acho que a gente vai ficando mais velho, tem uma tendência, pelo menos eu, a escutar as coisas de que eu gostava, cada vez eu vou mais para trás. Eu posso dizer muito sobre o cenário do blues nos Estados Unidos, na década de 1930 e 1940. Não é sobre isso que estamos falando aqui (risos). Mas eu sempre fui um grande admirador da força e variedade da música brasileira. Não sou o cara mais indicado para falar de novidades, mas sou um ouvinte atento.

Olhando para trás, quais conselhos vocês dariam para os Titãs de 20 anos?
PM: Eu diria: ‘Acredite sempre e trabalhe duro’.
NR: Curioso você fazer essa pergunta, porque no meu disco, que acabei de gravar, há um verso de uma das músicas em que falo: ‘Eu não acredito em conselhos’. Então, talvez essa é uma coisa que não é concebível para mim, não dou conselho para ninguém, nem para os meus filhos, a não ser que eles peçam alguma opinião.
É que assim, não existe isso de olhar para trás, é tão especulativo que passa a ser inócuo. É claro que há muitas coisas que fiz das quais gostaria de não ter feito, mas não houve possibilidade. Tanto que eu as fiz e muitas delas involuntariamente. De todas as ordens, ações, reações, falas, comportamentos… E, óbvio, comparar com a forma com que eu vejo minha profissão hoje em dia, há muita bobagem que fiz. Mas, o que vou fazer em relação a isso? Não faço terapia de vidas passadas, não creio nisso.
TB: Vale para todo mundo: ‘Acredite em si mesmo, ouse, faça coisas diferentes e não se paute, não se mire pelo que os outros esperam de você. Surpreenda-se mesmo porque você acaba surpreendendo os outros e talvez quem sabe acabe chamando atenção e fazendo sucesso’.

Paulo Miklos - Foto Bob Wolfenson

Paulo Miklos – Foto Bob Wolfenson

 

Qual é a música preferida de cada um? Ou qual o momento favorito entre ensaio, show e composição?
PM: São muitas preferidas. Posso citar a primeira de todas: ‘Sonífera Ilha’. E meu momento predileto é, sem dúvida, o show, o encontro com o público, o palco.
TB: Não tem uma música preferida, são como filhas e filhos, cada um do jeito que é. Mas tem uma de que eu gosto particularmente que é ‘Polícia’; é uma música minha e que tem uma trajetória muito interessante dentro da carreira dos Titãs. Fiz como um desabafo e virou realmente um hino de uma geração, permanece até hoje como uma música muito atual e ela nunca trilhou os caminhos que uma música trilha para fazer sucesso, como não tocou muito em rádio, nada disso, mas se transformou em um grande sucesso.

Como foram as discussões entre os membros originais para que alguns seguissem carreira solo? Qual rompimento foi o mais difícil e por quê?
NR: Não me lembro, não tenho a menor ideia dos rompimentos. A única coisa que posso dizer é que a mais difícil foi a minha própria. Na dos outros, eu não estava presente, fora o do Arnaldo. Mas, vou dizer, o momento mais difícil que vivemos nem se compara com qualquer saída de um membro: foi a morte do Marcelo Fromer. Isso foi um desastre, uma tragédia para a vida de todos nós, que fez com que qualquer aspereza de uma eventual discussão entre nós se tornasse uma questão menor.

 

Nando Reis - Foto Bob Wolfenson

Nando Reis – Foto Bob Wolfenson

Todas as questões que geraram as saídas do Arnaldo, do Nando e do Charles foram superadas? A união de vocês está mais sólida e madura agora?
TB: Superadíssimas, parecem nem ter acontecido. Tanto é que, como eu já falei, quando a gente se encontrou agora para valer, trabalhar juntos, discutir e definir repertório, é como se nada tivesse mudado. Como se as coisas continuassem iguais, como se eu tivesse ainda uma banda com todos aqueles membros. Então, isso prova que estão tão superadas as divergências eventuais quando se tem uma relação muito profunda e forte que resiste ao tempo e à distância. Acho muito legal porque também é uma maneira de provar isso para todo mundo sem precisar explicar. As pessoas vão olhar a gente no palco e vão entender que todas as separações, as divergências, tudo aconteceu porque tinha que ter acontecido, porque é dinâmica natural do convívio, da criação artística, mas a gente está lá reafirmando o que fizemos juntos e comemorando a potência e a força da nossa música e união. Acho que essa turnê vai entrar para a história do rock brasileiro por tudo isso que estou falando.

Como é ver fãs agora mais velhos entoando hinos como “Polícia”, “Igreja” e “Bichos Escrotos”? Vocês se consideram um sucesso transgeracional? Do que vocês sabem, a maioria da plateia desses shows é composta por jovens ou por fãs de longa data?
NR: Não sei se o público vai entoar, mas vou tentar responder diante da minha expectativa. Acredito, pela maneira como eu me reaproximei desse repertório, que ele tenha força e qualidade consideradas transgeracionais. Diria mais, atemporal. Até porque a gente nunca fez música, eu também não faço, acreditando que você se comunica apenas com sua faixa etária. Acho que se comunica consigo mesmo e através dessa comunicação, aquilo que você produz no microcosmo individual se transpõe para aquilo que é universal. E, consequentemente, para aquilo que não está diretamente associado à idade. Os temas, óbvio, as músicas do ‘Cabeça Dinossauro’ foram escritas a partir de um contexto que, curiosamente, guarda mais semelhanças – o contexto político, da conjuntura nacional – com aquilo que já vivemos nos anos 1980 com o que foi nos anos 2000.
Mas a maneira como cada um ouve é tão diversificada, que é impossível mensurar. Eu encontrei, por exemplo, na votação do primeiro turno, um camarada que veio pedir foto comigo, que é fã absoluto dos Titãs com uma camisa da Seleção Brasileira. Quase perguntei para ele: ‘Mas, vem cá, você não entendeu nada?’. Então, assim, vai saber o que se passa na cabeça das pessoas, né. Acho que é provável que tenha gente de todas as idades, fãs da época. O único parâmetro que tenho é a reação das pessoas, desde quando foi anunciada a turnê, de quem me pergunta, pede convite. Aí, sim, são antigos fãs, da minha idade, gente que nunca nos viu e gosta do nosso trabalho. Também vejo isso pelo interesse dos meus filhos e netos.

 

Arnaldo Antunes – Foto Bob Wolfenson

 

A letra da música “O Pulso”, com aquela lista de doenças, faz ainda mais sentido para vocês hoje em dia?
TB: Está chamando a gente de velho, hein? Não entendi (risos)! Estou brincando. O sentido é de que o pulso ainda pulsa e isso realmente afirma essa permanência que quer dizer: passam as adversidades, passam as coisas boas e ruins, e a gente permanece ali relevante, forte, potente e afirmando e reafirmando que o pulso ainda pulsa. Agora esse outro lado que eu falei brincando também faz sentido, né? Porque estamos todos na faixa aí dos sessenta, já somos tecnicamente idosos e driblando todas as doenças, dores, mazelas, adversidades, governos ruins e dificuldades. E estamos aí cantando em altos brados que o pulso ainda o pulsa, acho que é a grande ideia dessa música brilhante, aliás, é isso mesmo. A letra afirma que a força criativa, a força de vida e a pulsão de viver se impõem sobre todas as adversidades que aparecem na nossa frente. É isso mesmo.

 

Charles Gavin - Foto Bob Wolfenson

Charles Gavin – Foto Bob Wolfenson

 

Qual o personagem que cabe a cada um de vocês na banda? Quem é o organizador, quem é o caótico do rolê, quem é o romântico, quem é o revoltado, quem é o mais ligado em inovação e quem é o mais conservador?
PM: Temos uma dinâmica muito especial. Mudamos muito de posição na hora do jogo. Se necessário, nos revezamos em ser conciliadores, questionadores ou encrenqueiros.
NR: Nenhum de nós é um personagem, o que temos são personalidades e características. De alguma maneira elas se mantêm, porque é uma dinâmica que desenvolvemos e que neste reencontro tem traços de semelhança muito grande na forma. Porque nós, embora estejamos mais velhos, estruturalmente, somos os mesmos indivíduos. Ali, vejo… Esses são alguns estereótipos, que não cabem, são muito redutores. Naquela época, eu, Marcelo e Britto estávamos mais à frente quando tínhamos que falar com empresário, gravadora, representávamos os outros. Então, é uma experiência que tive que, de certa maneira, ainda aplico. O Branco sempre foi o cara que cuidou das imagens, o Charles, mais próximo da questão técnica, do arquivo da música, da relação de conservação. O Arnaldo é aquele sujeito brilhante. O Paulo é um multi-instrumentista, multitalentoso. Ali, as características agem dentro de um equilíbrio que percebo que se mantém. Porque também é a forma que a gente conhece. É o que está acontecendo.

 

Titãs – Foto Bob Wolfenson

Rudä tem cardápio focado numa cozinha contemporânea com toques brasileiros

Rudä tem cardápio focado numa cozinha contemporânea com toques brasileiros

No Rudä, o cardápio traz releituras de receitas bem brasileiras, mas em versões mais sofisticadas

O Rudä é mais um restaurante do Grupo Trëma, que engloba o Mäska, o Ízär e a Brasserie Mimolette. Neste empreendimento, o cardápio foca numa cozinha contemporânea com toques brasileiros. Na mitologia tupi, Rudä é o Deus do Amor, e isso se expressa nas receitas carregadas de memória afetiva. A cozinha é comandada pelo chef Danilo Parah, que já trabalhou para Claude Troisgros e para Mauro Colagreco, do estrelado Mirazur, no sul da França. Entre as apostas do chef, entradinhas para compartilhar, como a porção de pastéis de feira, recheados com pastrami, compota de cebola e folhas de mostarda ou as ostras com vinagrete de caju e picles de maçã verde. Na seção de pratos principais, destaque para o camarão com agarradinho de palmito, para a carne de sol com aipim cozido na manteiga de garrafa e emulsão de limão galego, para o peixe com purê de cará e vinagrete de feijão de corda ou ainda para o polvo com molho de moqueca e folhas de jambu. De sobremesa, vale provar o Doce de São Cosme (compotas de abóbora, caqui, figo e laranja com Cointreau, acompanhadas de queijos artesanais brasileiros) e a releitura do Romeu e Julieta feita com creme de queijo assado, goiaba, sorvete de leite cru e flor de sal.

 

Trio de Ostras do Rudä - Foto divulgação

Trio de Ostras do Rudä – Foto divulgação

 

Rudä
Rua Garcia D’Ávila, 118, Ipanema, tel. 21 98385-7051.