Tiago Abravanel traz nova versão de “Hairspray” ao Brasil e encarna a carismática Edna Turnblad

Tiago Abravanel traz nova versão de “Hairspray” ao Brasil e encarna a carismática Edna Turnblad

Apaixonado por musicais, o ator Tiago Abravanel traz ao país uma nova versão de “Hairspray”, em espetáculo mais uma vez repleto de música e humor, mas agora com atenção ainda maior às reflexões sociais

Original de 1988, a história de “Hairspray” continua a ser adorada no mundo inteiro por seu humor, suas músicas cativantes e mensagens sociais verdadeiramente poderosas e contemporâneas. Aceitação, amizade, diversidade e igualdade – tudo regado à música, dança e leveza – fizeram com que o sucesso da obra atravessasse gerações e fronteiras.

Tudo começou com o filme dirigido por John Waters, ambientado nos anos 1960. No enredo, a jovem protagonista Tracy Turnblad sonha em dançar no “The Corny Collins Show”, um programa de dança popular na TV local de Baltimore, nos Estados Unidos. Porém, os conflitos surgem por ela ser uma garota grande e fora dos padrões, e ao se deparar com o preconceito em diferentes formas, dentro e fora dos palcos.

 

foto José de Holanda

 

Em 2002, “Hairspray” foi adaptado para um musical da Broadway. Cinco anos mais tarde, outra versão cinematográfica ganhou destaque mundo afora, com o icônico John Travolta no papel de Edna Turnblad – a mãe da protagonista. Ao imergir na história, percebe-se que Edna é mesmo um símbolo de força, aceitação e mudança positiva, desempenhando um papel crucial na narrativa vibrante do espetáculo.

Edna é tão relevante que muitos atores desejaram encarnar suas vontades e seus dilemas. No Brasil, Edson Celulari viveu a personagem nos palcos em 2009, com roteiro e direção de Miguel Falabella. Com gostinho de quero mais, agora é a vez de Tiago Abravanel tomar a frente de uma nova versão de “Hairspray” à brasileira. Em curta temporada e com estreia em 4 de julho, no Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro, o público se deparará com uma história de diversidade e inclusão que, desta vez, vai além do palco e chega aos bastidores.

Em entrevista à 29HORAS, Tiago conta de sua paixão antiga pelo musical, da preocupação em compor um elenco mais diverso e que fizesse jus à mensagem do espetáculo, da aderência cada vez maior de brasileiros aos musicais e de sua trajetória no gênero, na arte e em diferentes negócios. Confira:

Você já esteve em uma versão brasileira de “Hairspray”. Por que trazer e participar mais uma vez desse espetáculo?
No espetáculo de Miguel Falabella, em 2009, eu fui o substituto do Edson Celulari, mas nunca tive a oportunidade de subir aos palcos e interpretar a Edna Turnblad. Vivi o sonho pela metade e ficou o desejo de trazer “Hairspray” de volta ao Brasil. Também fui movido pela importância dessa história, que segue extremamente atual. Faz muito sentido falar agora sobre todos esses assuntos e trazer essa leveza e essa alegria que o espetáculo acrescenta a esse momento social por aceitação e pelo fim de preconceitos. O enredo continua representando e reverberando muitos anseios por mudança nos dias de hoje.

Por falar nisso, foram introduzidas adaptações no roteiro e no elenco para torná-los mais inclusivos. O que você destacaria nesse sentido?
Na minha visão, a gente precisa partir do princípio de que, apesar de interpretarmos uma história contextualizada em determinado momento, também estamos vivendo em uma época. Agora é possível uma nova reflexão em cima dos próprios autores americanos, que colocaram alguns elementos no roteiro que não cabem mais atualmente. São palavras, termos, piadas, que podemos rever. Foram mudanças sutis, mas importantes e muito mais discutidas hoje do que nos anos 1980 ou mesmo em 2009, como a gordofobia, o racismo e o empoderamento feminino.
Não quero dar spoiler, mas conseguimos também alterar o final da peça, entendendo a importância sobre o que significava essa mudança. Nós seremos os primeiros no mundo a fazer essa nova versão do encerramento do espetáculo. É algo totalmente inédito!

Você interpreta a Edna Turnblad, mãe da Tracy. O que você pode antecipar da sua personagem? E do espetáculo em si?
“Hairspray” é muito emblemático, divertido, emocionante, totalmente alto astral. As pessoas saem transformadas. É um espetáculo que transformou a minha vida e eu acredito que vai mudar a vida de quem estiver na plateia também. A Edna traz esperança e luz para essa mãe que não sai de casa há anos, só fica lavando e passando roupa para os outros e que tinha um sonho de ser estilista, de ter vestidos e coleções, mas ela acha que o seu corpo limitaria esse sonho. É muito importante falar sobre isso ainda hoje, mesmo estando em outro momento social e histórico. É uma mulher gorda discutindo o corpo e as limitações que a gente mesmo nos coloca. E é bonito ver a filha tirando a mãe desse lugar, do medo e da insegurança.

 

Tiago Abravanel na pele da personagem Edna Turnblad, de “Hairspray” – foto José de Holanda

 

A personagem já foi interpretada por John Travolta, em 2007. Você buscou inspiração na interpretação dele ou de outros atores?
Eu adoro a forma como o John Travolta interpretou a Edna, de um jeito mais meigo e com as camadas sendo reveladas aos poucos, mas me identifico mais com a interpretação da Divine, do filme original de 1988. É uma mãe mais durona, uma mulher mais firme e brava. A Divine era uma drag queen muito famosa e disruptiva na época, que vivia essa personagem na versão do filme, que não era um musical ainda.

Em uma entrevista, John Travolta disse que deixou o “ego masculino de lado para viver a personagem”. Na sua atuação, o que você deixou de lado e o que precisou desenvolver?
Empresto a minha alma para os personagens. Acredito que eu desenvolvi características e habilidades, aprendi muito com a Edna, mas não vejo que tive que deixar de lado algo meu. Tiveram todas as dificuldades de viver a personagem fisicamente, com as próteses, os enchimentos, já que ela é uma mulher robusta, com uma bunda grande, seios enormes. E não há somente as falas e as interações, mas também as coreografias incorporando a Edna. É interessante a gente observar essa mulher, mas não esquecer que é um homem que está a interpretando. É um estranhamento, ao mesmo tempo é algo que gera enorme envolvimento.

Sua trajetória em musicais é extensa. Deu vida a Tim Maia, esteve em “A Pequena Sereia” e, recentemente, em “Anastácia”. Como começou a sua relação com o gênero?
Acho fascinante essa possibilidade de fazer ao vivo, de cantar, dançar e interpretar. Nos musicais, você observa atores muito completos e isso me fisgou desde muito pequeno. Eu sempre fui apaixonado pela Disney, cresci e amadureci nesse gênero, no Bibi Ferreira também. O primeiro curso que fiz foi Teenbroadway, um grupo de teatro musical fundado por Maiza Tempesta e que existe até hoje em São Paulo. Já fiz trabalhos incríveis na TV, na dublagem, mas tenho um compromisso com o teatro desde garoto e é o que quero fazer até ficar velhinho.

 

Tiago em seu bloco de Carnaval – foto Julio Salvo

 

Como você avalia a crescente admiração e aderência do público brasileiro aos musicais?
O Brasil é muito musical, a nossa música é famosa no mundo inteiro e temos uma proximidade grande com essa arte. Os artistas e produtores entenderam que o mercado para o gênero era muito potente por aqui. Hoje, somos o terceiro maior público de musicais no mundo, por vezes há cinco, até mesmo sete produções ao mesmo tempo rodando no eixo Rio-São Paulo. É incrível e uma baita responsabilidade trazer um grande espetáculo para o nosso público, fico extremamente honrado.

Quais espetáculos no Brasil e mundo mais te marcaram como espectador?
Realmente acredito que o ator deve ser primeiro um bom espectador e consumidor de diferentes obras. Eu coloco nas minhas programações de viagens momentos para assistir aos espetáculos locais, nos Estados Unidos, na América do Sul e na Europa. Fiz isso recentemente na Alemanha e na Argentina. Alguns dos musicais que mais me marcaram foram “Ópera do Malandro”, peça escrita por Chico Buarque; as norte-americanas “Bela e a Fera” e “Mudança de Hábito”, e “Frozen”, em Londres.

Além de ator, cantor, produtor, você também é empresário. Como se divide entre todas essas demandas e frentes?
Sou movido pelos sonhos, já penso no próximo projeto antes mesmo de concluir aquele que estou vivendo no momento. Eu me preparo e pesquiso muito para encarar cada uma das diferentes áreas em que estou, seja na arte ou nos negócios. E sem minhas equipes, seria impossível! Mas acho que o principal segredo é não se acomodar nunca e sempre se movimentar.

Você traz alguma característica da sua personalidade artística para os negócios? Qual é a sua melhor qualidade como empreendedor?
Ouvi uma vez do meu avô (Silvio Santos) que sou um artista, está em tudo o que eu faço. Desde o momento em que acordo, como e arrumo a minha casa e do meu marido, até nas estratégias de marketing e de negócios da Nanica (rede de docerias especializada em banoffee em que é sócio), coloco um pouco da minha criatividade. A maior potência do meu trabalho é a transformação por meio da arte, quero que algo mude e aconteça na vida das pessoas que assistam aos espetáculos ou mesmo ao consumir os produtos das minhas marcas.

 

Tiago e sua banda no Baile do Abrava, comandado por ele e que traz convidados – foto Edu Martins

 

Quais projetos futuros podemos esperar nos próximos meses?
Já posso adiantar que no segundo semestre deste ano estarei em um programa de streaming, em uma produção que fala sobre o universo dos fãs, é um projeto que me identifico muito, porque sempre fui fã de diferentes artistas e obras. Estou muito animado! E, claro, “Hairspray” segue em cartaz e irá a São Paulo a partir de setembro.

Bruninho comanda a seleção brasileira de vôlei em Paris, nesta que deve ser sua última Olimpíada

Bruninho comanda a seleção brasileira de vôlei em Paris, nesta que deve ser sua última Olimpíada

Em sua quinta e provavelmente última Olimpíada, o levantador Bruninho vai a Paris disposto a fechar com medalha de ouro sua vitoriosa trajetória como levantador da seleção brasileira de vôlei

O vôlei é um dos esportes que mais despertam o interesse da torcida brasileira nas Olimpíadas. Seja nas quadras ou nas areias de praia, seja os rapazes ou as garotas – as equipes que representam o país são sempre um sucesso de público e crítica.

No time masculino que disputa nas quadras seu quarto ouro olímpico este mês em Paris, um jogador se destaca por seu papel de líder, suas performances de alto nível técnico e sua identificação com a galera das arquibancadas: o levantador Bruninho, que acaba de completar 38 anos e, hoje, é um dos mais veteranos da equipe.

 

foto Guilherme Leporace / Buena Onda

 

Filho do treinador da seleção, Bernardinho, o craque já conquistou todos os títulos mais importantes do vôlei: seu currículo tem um ouro olímpico (conquistado na Rio 2016), um campeonato Mundial (em 2010, com o Brasil), uma Champions na Europa, vários campeonatos italianos, uma Copa do Brasil, sete Superligas aqui no país e um campeonato Sul-Americano – entre outros.

De volta ao Brasil após anos na Itália, prepara-se para encerrar sua trajetória como jogador. Ídolo da seleção, ele concedeu uma entrevista à 29HORAS, na qual discorreu sobre suas expectativas para esta que deve ser sua última Olimpíada, falou sobre a importância dos cuidados com a saúde mental para o seu jogo e a sua vida fora das quadras e revelou quem são os maiores levantadores que viu jogar. Confira a seguir tudo o que ele contou para a gente.

Como está a preparação para a Olimpíada de Paris? Você vê nesse grupo um potencial comparável ao do time que conquistou o ouro na Rio-2016?
A preparação está sendo muito boa! O empenho, a dedicação e os primeiros jogos mostram que a equipe está na direção certa. O time de 2016 e o de hoje são bem diferentes, mas vejo uma equipe se doando diariamente como aquela e com potencial de brigar de igual para igual contra qualquer adversário do mundo.

Na sua opinião, quem serão os nossos adversários mais duros na jornada até mais uma medalha olímpica?
O voleibol masculino está realmente muito equilibrado. Acredito que temos três seleções com grandes chances de medalha: Polônia, Itália e EUA. Um pouco atrás vêm França, Japão, Argentina e Canadá.

 

Em ação, Bruninho levanta a bola enquanto seus companheiros de equipe se posicionam
para a cortada – foto divulgação / FIVB

 

Após um ciclo com a seleção treinada pelo Renan Dal Zotto, agora você voltou a trabalhar sob o comando do Bernardinho, seu pai. Quais são as diferenças entre os estilos de comandar dos dois e, a seu ver, o que muda no jogo da equipe com a saída de um e a chegada do outro?
Acredito que o legado deixado lá atrás pela comissão técnica de 2016 (que foi praticamente a mesma durante 16 anos), de trabalho e de dedicação, seguem no mesmo patamar. Isso é algo que não muda. Se tornou uma base da seleção brasileira. Existem diferenças de personalidade entre o Renan e o Bernardinho, e isso acaba alterando um pouco o cotidiano, mas nenhum problema. Acredito que essa temporada estamos buscando uma intensidade de jogo maior, mais volume, com mais defesa –evoluindo o trabalho que vínhamos fazendo com o Renan até o ano passado.

Em Pequim-2008 você era o novato do time. Agora, aos 38 anos e em sua 5ª Olimpíada, você é uma referência para os jogadores mais jovens da seleção, como o Lukas Bergmann e o Arthur Bento. É um peso ter a responsabilidade de ser o “capita”?
Acho que é um processo natural. As responsabilidades ao longo dos anos vão crescendo. Sinto que, hoje, além de ter um papel dentro de quadra, também tenho o de conversar, de entender como cada um está se sentindo e ser alguém que possa ajudar os mais jovens. Dentro do grupo, essa é uma missão fundamental que agora cabe a mim e a alguns outros “veteranos”.

Por falar na sua idade, sente que a aposentadoria está próxima? Considera que essa será a sua última Olimpíada? Já tem projetos para a sua vida depois do final da sua trajetória como jogador?
Não sei até quando jogarei, mas acredito que essa é minha última Olimpíada, sim. Sinto que estou no momento final da carreira. Sobre o meu futuro, posso dizer que atualmente eu não penso em ser treinador. A única certeza que tenho é a de que pretendo continuar dentro do esporte.

 

foto Maurício Val / CBV

 

E sobre o seu retorno ao Brasil, o que te trouxe de volta? Do que vai sentir mais falta de sua vida na Itália?
Foram muitos anos na Itália, tendo o voleibol como prioridade número 1 na minha vida. O voltar se deve à vontade de equilibrar mais a minha vida profissional com minha vida pessoal. Quero estar mais próximo das pessoas que amo. Sobre o que deixei na Itália, sem dúvida o que vai fazer mais falta são os amigos que fiz ao longo desses anos todos por lá.

Você considera o nível dos torneios nacionais (Superliga, Copa Brasil…) equivalente ao dos campeonatos que disputou na Itália?
O nível dos torneios no Brasil, infelizmente, ainda está abaixo do nível italiano. O fator principal é o número de estrangeiros que jogam no Campeonato Italiano. Lá, os times têm os melhores jogadores de vários países, e isso eleva o nível de competitividade do torneio. O fato de o euro ser uma moeda mais forte também contribui para isso.

Quais as suas expectativas para próxima temporada, agora atuando pelo Vôlei Renata? E o que espera nessa volta a Campinas, cidade da família de sua mãe (a ex-ponta Vera Mossa), local onde você passou boa parte da sua adolescência e onde fica o seu 1° time, o Clube Fonte São Paulo?
Estou muito feliz e motivado para que seja uma grande temporada. Temos uma equipe competitiva que, sem dúvida, vai brigar para chegar às finais e disputar títulos. Cheguei na cidade pré-adolescente e fiquei até meus 19 anos. Tenho muitos amigos até hoje por lá, e o Ginásio do Taquaral é praticamente minha segunda casa. Não vejo a hora de entrar lá de novo, depois de tantos anos.

 

foto Guilherme Leporace / Buena Onda

 

Em seu livro lançado em 2023, “Da Escuridão ao Ouro”, você fala de vitórias, mas também das derrotas, de suas fraquezas, das decepções e dos fantasmas que teve de enfrentar para superar os momentos de dificuldade. E você revela que, há mais de uma década, dedica um cuidado especial à sua saúde mental. Como é esse trabalho e como ele tem te ajudado a ser um atleta melhor e uma pessoa melhor?
Quando comecei a trabalhar esse lado mental, logo após as Olimpíadas de 2012, não era usual se falar sobre saúde mental. Hoje isso se tornou muito importante. Acredito que é um trabalho constante e, junto com o Giuliano Milan [consultor de profissionais de alta performance], me faz ter equilíbrio e serenidade melhores para encarar os altos e baixos da vida de um atleta.

Para finalizar, mostre que você é realmente um ótimo levantador e por favor “levante a bola” dos outros: quem são os maiores levantadores que você já viu em ação?
Maurício e Ricardinho. Dois monstros.