Sons do Rio: artistas cariocas para escutar em 2021

Sons do Rio: artistas cariocas para escutar em 2021

Novos sons de músicos cariocas que levam o baixo astral para bem longe.

Nessa temporada que nunca termina pudemos ver de casa alguns encontros interessantes. Fiquei especialmente curiosa com uma leva de cariocas que fizeram lives em escadas do prédio, apareceram em festivais independentes e parecem produzir coletivamente com muito prazer. Alguns já se lançaram solo e aparecem com novidades para 2021, como Maria Luiza Jobim, que soltou nas redes há pouco uma linda parceria com o pernambucano Otto. A canção se chama “Farol” e o contraste entre as duas vozes deixa tudo ainda mais bonito.

Há ainda muitos outros. Pedro Laureano estreia com a produção do sempre excelente Pedro Sá (guitarrista de Gal Costa e parceiro de Luana Carvalho) no disco “Esperas”. As letras vão para além do comum e, ainda que filosofar seja para o alemão, aqui as reflexões à beira mar caem muito bem. Na canção que eu mais gosto, “Barco de Papel”, aparece também Zé Ibarra – voz incrível que ouvi pela primeira vez em uma live com a rainha do Instagram, Teresa Cristina. Recentemente gravou dueto com Gal Costa fazendo parte do novo álbum “Nenhuma Dor”, cantando “Meu Bem Meu Mal”. Mas recomendo mesmo ouvir o single “Vai Atrás da Vida Que Ela Te Espera”, um belo violão, composição de Guilherme Lamounier que lembra aquele Erasmo dos anos 1970.

 

Fran e Chico Chico | Foto - Divulgação

Fran e Chico Chico | Foto – Divulgação

 

Também presto atenção na voz de Chico Chico e nas suas escolhas musicais. Timbre poderoso e devoto do que ele chama da santíssima trindade: Melodia, Itamar e Macalé. Seus trabalhos mais recentes são parcerias, dentro daquele espírito coletivo que falei. Com Fran (Francisco Gil) ele gravou “Onde?”, que tem no repertório a deliciosa “Veleiro Azul”, música gravada por Luiz Melodia no disco Maravilhas Contemporâneas, de 1976. E com João Mantuano acaba de lançar um disco autoral.

Dora Morelenbaum lançou um belíssimo single no ano passado em parceria com Tom Veloso e arranjo de seu pai, Jacques Morelenbaum. Uma canção absolutamente linda chamada “Dó a Dó”, que anuncia o disco que vem por aí. Dona de uma voz impressionante, delicada e afinadíssima, que dá vontade de ouvir mais.

Fazer música junto é uma marca dessa geração. E minha última sugestão aqui é Júlia Mestre com a banda Gilsons, trio formado por Francisco, João e José Gil, filhos de Gilberto Gil. Lançaram juntos a canção “Índia”, uma delícia com tempero baiano. Mais pop e odara ainda é “Deixa Fluir”, com Gilsons e Big Up. É um som para ficar tudo joia rara, para desencanar, para dançar levinho e deixar o baixo astral longe daqui. Missão difícil para esses tempos, eu sei. Mas tentar não custa nada!

Conheça esses e outro sons imperdíveis na playlist “Ouvidos Atentos” por Patrícia Palumbo no 29HORAS Play.

Músicas para esquecer o barulho e os problemas do lado de fora na estação mais linda do ano

Músicas para esquecer o barulho e os problemas do lado de fora na estação mais linda do ano

Hoje acordei pensando em 2022. Em compensamos lá na frente e não no aqui e agora. 2001 com Tom Zé e Mutantes, Miss Brasil 2000 com Rita Lee… músicas compostas ainda no século passado. E na canção de Caetano com os versos de Maiakovski: “Ressuscita-me, ainda que mais não seja porque sou poeta e ansiava o futuro”. 

Demasiado humano pensar no futuro, claro. Mas achei melhor pensar no futuro mais próximo e me voltei para o fato de que estamos entrando na estação mais florida do ano, a primavera! Beto Guedes diz que é a boa nova chegando, para Zé Miguel Wisnik é quando desespera tudo em flor, e para Tim Maia é aquela delícia que a gente canta inteirinha junto mais alto ainda quando chega no refrão clássico: “É Primavera, te amo!”. Que maravilha de playlist 

Foto: Sergey Shmidt Koy | Unsplash

 

Não podemos negar, no entanto, que com a situação de desamparo em que se encontra a preservação das nossas florestas no Brasil, é difícil não lembrar que o Pantanal e a Amazônia estão pegando fogo. Volto a pensar em 2022… E lembro de um evento muito importante sediado no Rio de Janeiro, a tão maltratada cidade maravilhosa. Foi em 1992 que o Brasil recebeu o mundo inteiro para uma conferência mundial sobre o meio ambiente. Aja localmente, pense globalmente era o bordão. Jacques Costeau esteve aqui. Rio 92. Foi histórico, foi lindo. E eu fiz a cobertura pelo Baleia Azul, meu antigo programa de rádio que tocava muito reggae junto com o canto da baleia jubarte. Quantas músicas boas, quanta esperança no futuro, que clima de primavera estávamos experimentando. 

Nos anos 1990 assistimos ao boom da música sertaneja, lembram? Do pagode também. A diversidade musical desse país é um espanto. Assim como a biodiversidade, o sincretismo, somos a mistura, somos a antropofagia dos nossos povos ancestrais, os índios guardiões das florestas. Na música, isso se acentuou com o tropicalismomas já era prática desde o piano de Ernesto Nazareth. 

Mas voltando à primavera, já que entrou outubro, vamos falar de flores. Zélia Duncan teve uma canção de sucesso escrita por Fred Martins que tem “flores para quando tu chegares… Uma dinâmica botânica de coresPara tu dispores pela casa”. Para os Titãs, “as flores de plástico não morrem…”. Itamar Assumpção fez uma ode ao ciúme falando do cheiro e do perfume das flores: “Perfume de flor-de-lis, perfume de orquídea, perfume de amarílisperfume de flor de lótus, perfume de meretriz, perfume de flor de cactos, perfume de flor de anis…” 

Mas, talvez a minha preferida seja Maluca, de Luis Capucho, lindamente gravada por Cássia Eller: “Num dia triste de chuva foi minha irmã quem me chamou pra ver, era um caminhão carregado de botões de rosa, eu fiquei maluca, por flor tenho loucura…” E ela sai para a rua, na chuva que eu imagino ser de primavera, volta carregada de botões de rosa e espalha pela casa, “na cama, no quarto, no chão, na penteadeira, na cozinha, na geladeira, na varanda…e na janela era grande o barulho da chuva”.  

Exatamente como é agora nessa primavera de 2020. O barulho lá fora é imenso. Citando Zélia Duncan mais uma vez, “se você não se distrai o amor não chega”. Vamos aproveitar a estação e encher a casa de flor. E de músicas, sempre. 

Rádio Vozes: discos imprescindíveis para se fortalecer

Rádio Vozes: discos imprescindíveis para se fortalecer

Em tempos de isolamento, solidários em casa pela saúde de todos, quero sugerir que aproveitemos para ouvir de novo alguns discos fundamentais. Porque sabemos que a arte é uma ferramenta poderosa para manter a sanidade nesses dias difíceis. 

O primeiro que vou indicar é o extraordinário Amazing Grace de Aretha Franklin, o disco de maior sucesso de toda sua carreira. Gravado em dois dias de janeiro de 1972 na Igreja Batista New Temple, em Los Angeles, o disco tem a participação do Reverendo James Cleveland – que canta e toca piano, e do Southern California Community Choir. Um clássico da música gospel, mas com aquele acento pop, soul e R&B que marcou a história musical de Aretha. Para ouvir inteirinho, você vai levar uma hora e meia passando pelas 14 faixas do disco. Se dê esse tempo. Tudo começa com “Mary Don’t You Weep, um espiritual clássico que traz referências à história bíblica de Lazaro com mensagens de esperança e resistência.  

Amazing Grace – Aretha Franklin

A faixa entrega a genialidade de Aretha Franklin ao juntar o gospel ao pop registrando You’ve Got a Friend – sucesso de James Taylor naquele modo coro e cantora repetindo as frases da canção. Lindo! Não faltam momentos de catarse coletiva com o coro e a plateia batendo palmas e cantando junto. A faixa que dá nome ao disco é outro hino clássico e histórico, Amazing Grace, interpretado quase a capella com algumas intervenções do coro, do órgão e da plateia exatamente como acontece nos cultos da Igreja Batista. 

E há a divina “WholyHoly”, composição de Marvin Gaye com Aretha ao piano acompanhada do coro e de sua banda. Para dar ainda mais graça à essa escuta caprichada de “Amazing Grace”, recomendo assistir ao documentário que também é cheio de histórias. Foi filmado por Sidney Pollack, mas só lançado em 2018 depois que a tecnologia permitiu acertar os problemas de som. Mick Jagger e Charlie Watts estão na plateia. Aretha tem 30 anos e está linda com suas túnicas e óculos escuros e, mais que tudo, entregue àquelas canções.

Vamos ao próximo disco, também dos anos 1970, mas brasileiríssimo. “Quem é Quem”, do mestre do balanço, João Donato. Um LP cheio de pérolas deliciosas como A Rã, ainda em versão instrumental (ganhou letra de Caetano Veloso depois e foi gravada por Gal Costa no excelente disco Cantar); Até Quem Sabe com letra do irmão de Donato, Lysias Enio; Mentiras, que tem a voz de Nana Caymmi muito jovem; e o divertido e clássico arranjo de Cala Boca, Menino de Dorival Caymmi. João Donato toca piano acústico e elétrico, e os arranjos são dele, de Dori Caymmi, Maestro Gaya, Laercio de Freitas e Marcos Valle. Um disco que reúne gigantes da música brasileira, para se ouvir sorrindo e ficar feliz. 

Se você tem a sorte de ter esses LPs na sua discoteca ou se vai ouvir em um aparelho digital, não importa, apenas ritualize o momento. Ouça faixa a faixa. Descubra as informações a respeito, perceba as camadas de maravilhas que cada canção traz. Permita-se a distração de ser feliz aí dentro por algumas horas. Porque o mundo lá fora não está para brincadeira. Fique em casa, pelo bem do planeta. E boa escuta!