Ídolo da Fórmula E, Lucas Di Grassi atua também como embaixador da ONU para o Meio Ambiente e é um incentivador dos carros elétricos

Ídolo da Fórmula E, Lucas Di Grassi atua também como embaixador da ONU para o Meio Ambiente e é um incentivador dos carros elétricos

Lucas Di Grassi é o maior vencedor da categoria de carros elétricos no automobilismo, e seu impacto vai muito além das pistas, como porta-voz da transformação na mobilidade em todo o planeta

Coerência é algo que torna alguém singular. O piloto paulistano de Fórmula E Lucas Di Grassi – vestindo sua camiseta estampada com o slogan “As mudanças climáticas são reais” – parece, à primeira vista, um rapaz sem muita pretensão aos discursos fervorosos em prol da sustentabilidade, mas consciente daquilo que nos cerca. Ao receber a equipe da 29HORAS em seu apartamento nos Jardins, em São Paulo, no início de julho, demonstra profundo entendimento sobre o impacto que as escolhas individuais e coletivas trazem à sociedade e ao planeta. Ele sabe mesmo de dados, de engenharia, de tecnologia e de gestão, que embasam seus pontos de vista.

Entre prateleiras cheias de troféus e 35 capacetes de inúmeras corridas e feitos em sua carreira, que começou profissionalmente há 20 anos, Lucas relembra os tempos de Fórmula 3, Fórmula 2 e da Fórmula 1, em que foi piloto oficial da Virgin Racing, e de testes da Renault e da Pirelli, entre 2005 e 2011.

 

Lucas Di Grassi - Foto Adam Pretty | Getty Images

Lucas Di Grassi – Foto Adam Pretty | Getty Images

 

O piloto, que completa 38 anos neste mês, fez carreira no automobilismo em diferentes categorias, e se manteve em destaque ao longo de todo esse tempo – algo incomum para muitos, em um esporte que demanda investimento e dedicação física e mental, além de bons relacionamentos para patrocínios e formação de equipes.

Depois de tantos feitos – como o segundo lugar na lendária corrida de 24h de Le Mans do Campeonato Mundial de Endurance da FIA, na França, em 2014 – Lucas Di Grassi é determinado ao mirar o próximo pódio mais desejado. “Quero vencer de qualquer jeito a primeira corrida de Fórmula E no Brasil, no ano que vem, eu já venci a primeira da história, na China”. Se tudo correr como o planejado, a disputa já tem data e local, será em 25 de março de 2023, no Anhembi, em São Paulo.

 

Foto Sam Bagnall | LAT Images | Venturi FE

Foto Sam Bagnall | LAT Images | Venturi FE

 

O automobilismo do futuro

Com 12 equipes e 24 pilotos no grid, a Fórmula E se tornou destino das melhores equipes e dos grandes talentos do automobilismo mundial. A primeira corrida de carros elétricos aconteceu em Pequim, no Parque Olímpico da cidade, em 2014. O calendário inaugural trouxe a categoria para 14 países e corridas no coração das principais metrópoles do mundo, incluindo Londres, Miami e Berlim.

A história da categoria se confunde com a de Lucas, que é o principal vencedor desde o início, por 12 vezes, e aquele mais votado no Fanboost – o primeiro recurso no esporte que permite que os fãs tenham um papel ativo na corrida votando para conceder um impulso extra aos pilotos favoritos durante as disputas.

“Acredito na tecnologia, na transição para carros elétricos que a mobilidade urbana global já está passando, ajudei a desenvolver a categoria e corro há 8 anos nela, desde o começo”, enfatiza. Apesar de ainda soar como novidade para o público brasileiro, a Fórmula E já teve e tem outros pilotos do país entre os destaques, como Nelson Piquet Jr, Felipe Massa e Bruno Senna.

 

Lucas Di Grassi com Felipe Massa no Formula E, no Zurich E-Prix 2018 - Foto Audi Communications Motorsport

Lucas Di Grassi com Felipe Massa no Formula E, no Zurich E-Prix 2018 – Foto Audi Communications Motorsport

 

Hoje, Lucas Di Grassi corre pela Venturi, depois de anos representando a Audi. “Minhas memórias mais marcantes na categoria com certeza foram a primeira vitória e quando ganhei o campeonato em 2017, no Canadá, onde fiz duas corridas com a perna quebrada, sem saber, e ainda assim fui para o pódio”, lembra.

Plataforma para o desenvolvimento de tecnologias tão importantes para a mobilidade, a Fórmula E reflete inovações que já estão nas ruas e que ainda farão parte da rotina de milhares de pessoas. Foi assim com inovações como espelho retrovisor, cinto de segurança, motor a turbo e freios ABS, que foram inventados e utilizados primeiro no automobilismo, antes de fazer parte da vida de todo motorista. “Correr de carro é solucionar problemas de forma mais eficiente e rápida, e a sociedade tem muitos problemas, como a poluição do ar provocada pela queima de combustíveis fósseis.”

 

Lucas Di Grassi é campeão, em 2016 - Foto Adam Warner | LAT Photographic

Lucas Di Grassi é campeão, em 2016 – Foto Adam Warner | LAT Photographic

 

Carbono zero

É preciso ir além do discurso e agir. Em 2016, o piloto levou um carro de corrida para acelerar na calota polar ártica. O objetivo era chamar a atenção para a aceleração do derretimento do gelo e o consequente aquecimento global. “Foi uma grande aventura!”, diz. Confirmando o alerta, em agosto de 2020, um estudo revelou que a calota gelada da Groelândia não deve mais voltar aos níveis normais.

Por ações como essa e por ser a personalidade brasileira que mais defende internacionalmente a transformação dos carros em veículos elétricos, Lucas foi apontado como embaixador do Programa da Organização das Nações Unidas Para o Meio Ambiente. O foco do trabalho em palestras e articulações é a luta para melhora da qualidade do ar nos grandes centros. Segundo a ONU, a poluição atmosférica causa mais de 4 milhões de mortes anualmente. “Essa tecnologia literalmente melhorará a vida das pessoas!”

A pandemia pode ter paralisado as corridas de Fórmula E, assim como as de outras categorias, mas a mente e a interlocução do piloto não pararam. Em 2020 e 2021, Lucas Di Grassi realizou o Zero Summit – evento que reúne ideias e tecnologias voltadas para um futuro com redução drástica de carbono na atmosfera. “Foi o primeiro evento totalmente focado nisso, é um grande orgulho”, celebra. A programação promove o encontro de líderes dos setores público e privado que acreditam em inovação para melhorar a qualidade de vida, e terá uma nova edição ainda neste ano.

 

Foto divulgação

Foto divulgação

 

Inclusão de verdade

“Não penso que o caminho seja levantar cartazes para uma maior inclusão no automobilismo, a diversidade vai prevalecer quando houver condição de maior igualdade na base, abrindo oportunidades desde o colégio para as meninas, por exemplo, ficarem mais próximas de karts, e educar engenheiras que integrarão as equipes”, reflete o piloto, que não vê imposições de leis e regras como um caminho eficaz e perene.

Para isso, mais uma vez Lucas agiu. “Criamos o primeiro campeonato mundial de patinete elétrico, em que homens e mulheres competem juntos, e a última campeã foi uma mulher!”, conta. O Electric Scooter Championship (eSC) foca tanto no esporte quanto no incentivo à implantação da micromobilidade em todo o mundo.

O campeonato de patinetes elétricos, projetados pela equipe Williams de F1, utiliza novos equipamentos de alta performance para competir no coração das principais cidades do mundo. A iniciativa tem Lucas Di Grassi como sócio e embaixador mundial, a primeira etapa aconteceu em Londres, e a segunda na Suíça, neste ano. No dia 20 deste mês, a terceira corrida acontecerá na Itália. “Vimos um nicho, muitas pessoas têm contato com patinete, porque utilizam a micromobilidade nas cidades, é barato começar e crescer na categoria, o que torna tudo muito mais democrático, acessível e inclusivo do que nas grandes categorias automobilísticas.”

Lucas discursa no Climate Week NYC - Foto Audi AG

Lucas discursa no Climate Week NYC – Foto Audi AG

 

De pai para filhos

Casado com a artista plástica e designer gráfica Bianca Diniz Caloi, Lucas Di Grassi é pai de Leonardo, com 4 anos, e Beatriz, nascida no ano passado. Em constante aprendizado, já que vê a educação como algo que não termina, o piloto agora se dedica à paternidade com atenção. “Acredito no conceito de desenvolvimento, a grande diferença é o quanto você trabalha um talento”, explica. “Fazer com que a criança resolva problemas e estimule sua mente por meio de interesses que ela tem, é algo que tento fazer dentro casa!”

 

Lucas Di Grassi no pódio de Fórmula E, com seu filho Leonardo - Foto Audi Communications Motorsport

Lucas Di Grassi no pódio de Fórmula E, com seu filho Leonardo – Foto Audi Communications Motorsport

 

Tanto é que o casal escreveu e ilustrou o livro “Os três porquinhos espaciais”, em que recontam a clássica história infantil, mas com elementos siderais, aproveitando o interesse de Leonardo pelos planetas e pelas estrelas. O menino, inclusive, recebeu esse nome pela admiração do pai a Da Vinci. “Digo com toda a certeza de que hoje trabalho para ter recursos para dar a educação que os meus filhos quiserem, esse é meu maior objetivo!”

Para o garoto que começou correndo de kart em Itu, em São Paulo, e tinha, claro, Ayrton Senna como referencial, o trabalho nas pistas e fora delas segue trazendo muito impacto. “Senna morreu quando eu tinha 9 anos, vi o Brasil ficar de luto por dias, foi muito marcante para o menino Lucas, lá atrás pensei ‘se eu tiver 1% do impacto dele, está de ótimo tamanho”, conta. A melhor parte é que os frutos dessa dedicação não somente os fãs de automobilismo colhem, e as transformações e inovações fomentadas pelo piloto trazem muito mais que 1% de impacto. E os números não mentem.

 

Foto da capa da edição CGH e VCP: Rokit Venturi Racing

Lucas Di Grassi – Foto Rokit Venturi Racing