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Presidente da ABF, André Friedheim explica por que o franchising se mantém forte mesmo em meio a sucessivas crises

Presidente da ABF, André Friedheim explica por que o franchising se mantém forte mesmo em meio a sucessivas crises

“Fomentar o franchising brasileiro para que ele se mantenha próspero, sustentável, inovador, inclusivo e ético”. É assim que André Friedheim, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), define o propósito da instituição que coordena. Fundada em 1987, a entidade representa oficialmente o sistema de franquias nacional em toda a sua pluralidade.

Setor de franchising continua forte, segundo Friedheim

André Friedheim, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF)

Atualmente, a ABF conta com mais de 1380 associados em todo o país. Franqueadores, franqueados, advogados, consultores, fornecedores e stakeholders constroem a organização voltada para aperfeiçoar este mercado de sucesso.

Quem decide investir em uma franquia já sai na frente, segundo Friedheim. Entre as vantagens, há o fato de que o modelo de negócio já é desenhado e testado. “O franqueado tem acesso a processos, tecnologias, fornecedores, poder de compra, ações compartilhadas e o conhecimento de um empresário mais experiente, o franqueador. Por fim e tão importante quanto, o empreendedor opera com uma marca já reconhecida, e que ajuda na atração de clientes”, diz Friedheim.

Qual é o perfil do franqueado atualmente?

Assim como o franchising e o próprio Brasil, o perfil do franqueado é muito variado. Como traços comuns posso citar a faixa etária entre 30 e 55 anos, algum grau de experiência profissional e a graduação. Temos um bom equilíbrio entre homens e mulheres, embora o primeiro ainda predomine. Grande parte também já teve algum negócio próprio, mas vem crescendo os empreendedores de “primeira viagem”.

A maior parte dos empreendedores está concentrada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Eu diria que são profissionais que acreditam na força da iniciativa privada, na economia do Brasil e nos benefícios da atuação em rede.

Qual foi a influência da crise econômica nesse mercado?

A crise, certamente, estimulou o empreendedorismo por necessidade, ou seja, muitas pessoas abriram seu primeiro negócio por falta de oportunidade no mercado de trabalho. Aparentemente, podemos achar que se trata de um público menos preparado, mas a maior parte desse grupo é formada por executivos de carreira que, demitidos ou sem perspectivas em suas empresas de origem, optaram por esse modelo de negócio.

O setor de alimentação é responsável pelo primeiro emprego de grande parte de jovens brasileiros

Também houve o crescimento de jovens, que decidem se lançar no empreendedorismo diretamente pelo franchising. A porcentagem desse perfil ainda é pequena, mas se faz presente. Creio que a crise também deixou empreendedores e redes mais criteriosos em sua seleção. Vemos que os candidatos a franqueados têm estudado mais o setor, o segmento e a rede de interesse.

O que o franchising representa para o país hoje?

Um forte polo gerador de postos de trabalho formais e formador de mão de obra. De acordo com nossa última pesquisa, no segundo trimestre houve um aumento de 10% no número de empregos diretos do franchising, frente ao mesmo período de 2018. O total de trabalhadores registrados subiu de 1.224.987 para 1.348.235. Esse desempenho foi impulsionado pela significativa abertura de novas unidades e pelas novidades introduzidas pela reforma trabalhista. O franchising também tem um longo histórico de empregar jovens, especialmente no setor de alimentação. Eles são treinados, orientados tanto pelo franqueado como pela franqueadora, dando os primeiros passos em suas carreiras.

Quais são as expectativas para 2020? Em que setores devemos ficar de olho?

Até o final de 2019, o setor deve crescer cerca de 7%. Frente às incertezas que enfrentamos este ano não é um resultado ruim, mas esperamos que em 2020 o franchising acelere e chegue a registrar um crescimento próximo de 10%. As reformas da previdência – tributária e, quiçá, administrativa, impulsionarão a confiança dos agentes econômicos.

Todos os negócios têm riscos. Há um índice de risco médio no investimento em franquias? Quando comparado a outros empreendimentos, ele é menor?

O franchising é, comprovadamente, um modelo de negócio com menor risco. A taxa de mortalidade do setor há anos está em torno de 5%, enquanto em um negócio isolado ela pode ser superior a 30%. Isso porque a franquia oferece acesso a um modelo de negócio, produto ou serviço já formatado e testado. Dá acesso também ao compartilhamento de recursos, estratégias e ações, tendo sempre a supervisão e treinamento da franqueadora. Operar com uma marca já reconhecida e com fornecedores credenciados também faz toda a diferente. Logo, é todo um ambiente mais preparado para empreender, ainda mais para quem está abrindo seu primeiro negócio.

Fundadora da Sodiê Doces, Cleuza Maria da Silva começou fazendo bolos para complementar sua renda

Fundadora da Sodiê Doces, Cleuza Maria da Silva começou fazendo bolos para complementar sua renda

Hoje, fazer bolo é uma terapia: Cleusa escolhe um final de semana e reúne a família para experimentar uma de suas criações deliciosas. Mas nem sempre foi assim. Durante dois anos, a auxiliar de limpeza Cleusa Maria da Silva fazia bolos para complementar sua renda, quando chegava em casa à noite depois de um dia inteiro de trabalho. “Era pela sobrevivência”, lembra. A história de trabalho duro e ascensão social desta empresária de 53 anos é a origem da Sodiê Doces, uma rede de franquias em crescimento expressivo, com 314 lojas no país e a inauguração, neste mês, de sua primeira unidade internacional, em Orlando, nos Estados Unidos.

Sodiê chega em Orlando

Franquia acaba de inaugurar sua primeira unidade internacional

Cleusa trabalhou como boia-fria, foi cortadora de cana e empregada doméstica. De Bandeirantes, no Paraná, ela rompeu com um ciclo de trabalho braçal pesado que perpetuava entre as gerações de sua família. “Meu orgulho é ver que meu filho estudou e não será mais um boia-fria”, diz a empresária, cuja marca, Sodiê, nasceu da junção dos nomes dos filhos Sofia e Diego.

Em 1997, Cleusa abriu sua primeira loja em Salto, no interior de São Paulo. “Eu levava os bolos para os clientes a pé”, recorda. Aprimorou as receitas e, quatro anos depois, mudou o empreendimento para um espaço de 80 m², quatro vezes maior do que o primeiro – um quartinho. Tendo como sócios irmãos e familiares, foi abrindo outras lojas em cidades próximas, como Sorocaba, Americana, Itu e Indaiatuba. “Acho que o meu diferencial foi ter paciência e foco. Os primeiros ganhos com as vendas eu reinvestia nas lojas e não saía gastando”.

Dez anos e muito trabalho depois, em 2007, a Sodiê Doces virou franquia, um termo que a empresária antes desconhecia. Questionada por um cliente, ela não sabia do que se tratava. Mas foi atrás. Após muita pesquisa e cursos diversos, Cleusa inaugurou sua primeira franquia em São Paulo – justamente pelas mãos desse cliente. “Em dois anos, vieram 50 lojas. Fiquei impressionada”, confessa. Ter alguém com essa história de trabalho duro na ponta dos negócios faz a marca crescer. “Tenho medo de que as pessoas invistam tudo o que têm na nossa marca e percam seu sustento, por isso tenho um canal aberto com todos, uma consultoria”.

Bolo aerado com mousse de chocolate, da Sodiê Doces

Bolo de chocolate, recheio de creme de chocolate ao leite e meio amargo aerado, creme de chocolate branco aerado, cobertura de mousse de chocolate, raspas de chocolate branco, riscas de chocolate ao leite e Suflair. Esse é o bolo preferido de Cleusa, o aerado com mousse, gostosura que ela não prepara mais. “Dá muito trabalho, passo em uma Sodiê mais próxima e levo para casa”, ri. A empresária agora quer descansar, ler mais e caminhar na praia sempre que possível.

Pesquisa da ABF aponta que setor de franchising emprega 10% mais e tem faturamento anual de quase R$ 180 milhões

Pesquisa da ABF aponta que setor de franchising emprega 10% mais e tem faturamento anual de quase R$ 180 milhões

Dados da pesquisa trimestral do setor, desenvolvida pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), demonstram aumentos significativos no faturamento anual e na geração de empregos. O estudo também aponta que todos os 11 segmentos de franquias tiveram variação positiva, em comparação ao mesmo período do ano passado, e que o movimento de expansão para além do eixo Rio-São Paulo continua.

Setor de franchising emprega 10% mais do que no mesmo período de 2018. Fonte: CAGED / ABF

Em um ano, a receita acumulada do setor cresceu 6,9%, passando de R$ 168,360 bilhões para R$ 179,933 bilhões. Segundo o relatório da ABF, o bom desempenho foi impulsionado por fatores como a abertura de novas unidades, eficiência nas operações, inovação implementada pelas redes nos últimos anos e o engajamento de franquias de serviços. O balanço entre a abertura e o fechamento de lojas teve um saldo positivo de 2,1%, com 4,3% franquias abertas contra 2,2% fechadas. Até junho deste ano, a pesquisa contabilizou um total de 159.656 unidades em operação no país.

A ABF classifica as franquias em 11 segmentos diferentes – todos eles tiveram uma variação positiva no segundo trimestre deste ano, quando comparados com o mesmo período de 2018. Dentre eles, o que teve o maior crescimento foi Serviços e Outros Negócios, com alta de 8,9%. Segundo o relatório do estudo, o avanço foi estimulado pelo aumento da procura por serviços administrativos e processos de automatização. A atuação de fintechs e fornecedores da cadeia de meios de pagamento e crédito também contribuíram para a expansão do segmento.

Os Serviços Educacionais cresceram 8,7%, ocupando o segundo lugar. De acordo com o diagnóstico setorial de educação de 2019, divulgado pela ABF, parte desse sucesso se deve à diversidade de modelos de ensino, como o home-based e os cursos híbridos (parte presencial e parte online). Já a venda de acessórios e a demanda pelo reparo de aparelhos foram os fatores que garantiram ao segmento de Comunicação Informática e Eletrônicos a medalha de bronze, com crescimento de 8,5%.

Quanto à geração de empregos, o número de trabalhadores contratados cresceu 10% em comparação com o mesmo período de 2018. O total de funcionários registrados em franquias subiu de 1.224.987 para 1.348.235. Para André Friedheim, presidente da ABF, “a principal razão para a alta das contratações deriva do reaquecimento da expansão das redes de franquias pelo país no período”.

Na pesquisa, a ABF observa a continuidade de expansão para além do eixo Rio-São Paulo. A participação das regiões Sul, Nordeste e Centro-Oeste aumentou tanto em termos de faturamento quanto no número de unidades de franquias. Os estados que mais ganharam participação foram Santa Catarina, com aumento de 0,5% no faturamento; Mato Grosso, com 0,2%; e Minas Gerais, também com 0,2%.

Segundo o diretor executivo da ABF, Marcelo Maia, as redes continuam a cultivar sua estratégia de buscar novos mercados e consumidores, aumentando sua capilaridade: “O Brasil é um país muito grande, com várias ilhas de prosperidade nem sempre tão conhecidas. Esses mercados apresentam menos concorrência, custos menores e um consumidor ávido por grandes marcas, sendo uma ótima oportunidade para o setor”.