Fiquei surpresa quando me convidaram para escrever esta coluna sobre a noite de São Paulo na Revista 29HORAS. Não fiquei surpresa pelo tema, afinal sou uma notívaga compulsiva, mas me perguntei se os leitores estranhariam as divagações de uma aposentada sobre um assunto que costuma ser de domínio dos jovens. Veja, eu tenho idade para ser chamada de senhora, e se você me visse na rua teria uma primeira impressão errada de mim. Mas o pessoal da redação foi enfático: disse que não era para eu me preocupar com a opinião dos outros e que talvez eu trouxesse uma perspectiva diferente da noite paulistana.
Eu moro ali perto do Baixo Augusta e um dos meus passeios preferidos é sair de casa lá pelas dez, onze da noite, e caminhar pela rua sem rumo. Fico fascinada com o tanto de gente diferente que eu vejo. Pois bem, estava eu fazendo minha caminhada quando paro na esquina da Augusta com a Marquês de Paranaguá. E imediatamente me vem memórias da minha juventude. Porque é ali, no número 379 da Augusta, que se encontra a histórica rotisseria Bologna.
Devia ser quase meia-noite e o lugar estava aberto. Você não imagina a minha surpresa. Eu frequento a rotisseria há anos e eu não tinha ideia que ela era 24 horas. E olha, se você acha que conhece o Bologna porque já foi lá de dia, tenho certeza que não o conhece à noite.
Durante a madrugada eles fecham a parte de trás da loja, a rotisseria, e fica só o balcão. Mas se tiver sobrando, por exemplo, um frango assado às duas da manhã, você pode pedir para um funcionário buscar para você levar. A cozinha fecha, mas todo o resto como chapa, lanches, salgados, continua sendo servido normalmente.
E a clientela noturna é só moçada. Um dos funcionários me falou que eles vão lá para fazer o tal do “esquenta”. O que mais vi sair naquele horário foram as coxas creme de dinossauro (R$ 12,20) e de camarão rosa empanado (R$ 16,90). Já as moças gostam mesmo das bombas de chocolate (R$ 4,65). Me contaram também que tem gente que sai das festinhas às três da manhã e aproveita para fazer as compras do café da manhã.
O Bologna está fazendo 93 anos de existência e desde 1957 se encontra no endereço da Augusta. Passou por uma reforma em 2012 e hoje é também panificadora, confeitaria, pizzaria, restaurante e lanchonete. Se você passar lá de dia vai ser recebido pelo Seu Dirceu e pelo Seu Gerson, funcionários com mais de 50 anos de casa e que cuidam do balcão. Se bobear eles devem até se lembrar de quando trombei com o Alfredo, meu falecido marido, no salão principal, em 1968.
Domingo, 20 de julho de 1969. Ivair tinha nove anos. Nesta data, lá na cidade interiorana de Moema, em Minas Gerais, junto aos seus vários familiares, ele viu pela primeira vez uma televisão e, na tela desta, viu também o primeiro homem pisar na Lua.
Um dia, a mãe de Ivair se lamentou. “Queria ter nascido no fim do século XX, e não no início dele, assim eu poderia aprender tudo sobre átomos, planetas e galáxias”. Mas se ela não pôde fazer isso, seu filho se encarregou da tarefa: graduou-se em Física pela Universidade Federal de Minas Gerais, mesma instituição em que concluiu seu mestrado em óptica. Depois disso? Doutorado em optoeletrônica na Universidade de Glasgow, na Escócia, e dois pós-docs, um na Universidade Heriot-Watt, em Edimburgo, e outro na UCLA, a Universidade da Califórnia em Los Angeles.
O físico já estava perto o bastante dos átomos, planetas e galáxias, mas não descansou até conseguir um emprego na tão sonhada NASA. Dito e feito. Conquistou seu posto no JPL (Jet Propulsion Laboratory), centro tecnológico responsável pelo desenvolvimento e manuseamento de sondas espaciais não tripuladas.
Segunda-feira, 5 de agosto de 2012. Nesta data, o veículo-robô Curiosity – destinado a explorar a superfície marciana – pousava no planeta vermelho. Tudo correu bem graças ao trabalho de uma imensa equipe de engenheiros, físicos e outros profissionais. Todos eles comemoravam, inclusive o brasileiro Ivair Gontijo, responsável pela construção do coração do radar do Curiosity.
Curiosity: o veículo-robô no qual Ivair Gontijo trabalhou
A paixão de Ivair pela ciência, sua trajetória e os bastidores da NASA e das históricas missões a Marte são alguns dos temas tratados com leveza pelo físico no livro “A caminho de Marte”, lançado em março pela editora Sextante.
Abril é o mês oficial para falar sobre arte na cidade de São Paulo. Isso acontece principalmente em razão da grandiosa SP-Arte, feira anual que reúne galerias do Brasil e do mundo no pavilhão da Bienal para comercialização de obras. No entanto, como afirma Tiago Mesquita, crítico de arte, “as feiras são importantes, mas o discurso do mercado da arte não pode ser o hegemônico, tampouco as feiras devem ser os únicos lugares para se conhecer arte”. Por essas e outras, em paralelo a este grande evento, uma série de espaços culturais – que vão além das galerias – articulam exposições e atividades para mostrar aquilo que têm e a que se propõem.
Vista de um dos espaços internos do Pivô
O Pivô, localizado no edifício Copan, é um desses endereços. Seus 3500 m2 de espaço autônomo são voltados para a arte contemporânea, não têm fins lucrativos e são abertos ao público. Uma de suas propostas é que os artistas e curadores convidados desenvolvam projetos de exposição que dialoguem com a arquitetura do entorno, concebida por Niemeyer. Outro diferencial do Pivô é o Pivô Pesquisa, programa de residências da instituição. Anualmente, há espaço para que cerca de 16 artistas ou curadores desenvolvam projetos artísticos ali dentro.
Obra participante da exposição coletiva no espaço BREU
Além do Pivô, em um galpão localizado na Barra Funda está o BREU: um ateliê expandido que funciona também como espaço de experimentação de seis artistas, entre eles, Pedro Ivo Verçosa. “O BREU busca ser um espaço autônomo, que não dependa completamente da lógica do mercado da arte ou dos editais institucionais”, diz Verçosa. No térreo do local há um vão livre para a implementação de exposições, performances, oficinas, cursos e grupos de estudos.
Já no segundo andar se situam os ateliês dos seis artistas que dirigem o espaço e mais três ateliês temporários. Uma intenção do coletivo é conectar aqueles que pensam e produzem arte e cultura, estejam eles dentro ou fora das instituições.
Abertura da exposição “imannam”. Projeto desenvolvido a partir da articulação entre três artistas – Ana Linnemann, Anna Maria Maiolino e Laura Lima – com obras que propõem a busca do diálogo com o outro, a partir de operações de reversão do espaço e de objetos do mundo.
O “apartamento dos desapegos” é um projeto de Rita Mourão, no qual ela abre ao público sua coleção pessoal, localizada em uma quitinete do edifício Copan. Há também uma visita guiada ao terraço do edifício. É necessário RSVP pelo e-mail contatodesape@gmail.com.
5/4 e 6/4, das 14h30 às 16h30, R. Barra Funda, 444
Para Carolina Jabor, os assuntos que falam sobre a sociedade em transformação são os mais empolgantes. “São temáticas reais que despertam reflexão. O que me importa é o olhar do espectador e seus questionamentos”, diz a cineasta.
Um exemplo instigante e provocador é o seu novo filme, “Aos teus Olhos”, que será lançado no dia 12 de abril.
Mergulhado em um contexto bem atual, o filme, baseado na peça “O Princípio de Arquimedes”, do espanhol Josep Maria Miró, conta a história de um professor de natação infantil que sofre um julgamento apressado nas redes sociais. A tensão é o fio condutor de uma trama que cabe perfeitamente nos dias de hoje. “O raio de ação na internet é muito grande. Você pode acabar com a vida de alguém em alguns cliques”, reflete Carolina.
Com o ator Daniel de Oliveira como protagonista – “Ele arrebenta!”, define a cineasta –, o filme tem colecionado prêmios aqui e lá fora: venceu o Festival do Rio, o Prêmio Petrobrás de Cinema, o 25º Mix Brasil e foi contemplado no 39º Festival de Havana.
Feliz com a repercussão deste que é o seu segundo longa de ficção – o primeiro é “Boa Sorte”, de 2013 –, a cineasta também anda curtindo seu outro filhote: a nova série “Desnude”, sobre sexualidade feminina, para o GNT. “O recorte é a fantasia, em uma produção feita exclusivamente por mulheres”. Na vida pessoal, seus rebentos são João, de dez anos, e Alice, de cinco, do seu casamento com o diretor Guel Arraes. Além da influência do marido, Carolina não nega a herança cultural que recebeu do pai, o cineasta Arnaldo Jabor: “Essa criatura maravilhosa que é meu pai me ensinou muito sobre a arte, foi quem me educou artisticamente”, ela diz, emocionada.
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