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Reciclagem e iniciativas inovadoras são passos certos para um mundo melhor

Nunca o carioca esteve tão engajado em projetos de reciclagem para preservação do meio ambiente. Bares, restaurantes, lojas, supermercados, iniciativas isoladas e até uma igreja abraçam essa missão. Reciclar é preciso, pois viver é preciso.

De baldinho e bicicleta

As sobras e restos de alimentos representam mais da metade do que jogamos fora todos os dias, e hoje são um verdadeiro desastre ambiental nos aterros e lixões. Para mudar esse cenário, Lucas Chiabi criou o Ciclo Orgânico em 2015, que oferece uma solução prática e fácil para a destinação de lixo orgânico: a compostagem.

reciclagem

Lucas Chiabi, criador do Ciclo Orgânico, projeto de reciclagem. Foto: Divulgação

Nos cinco anos de existência, o projeto já mudou o destino de mais de 882 toneladas de resíduos orgânicos, gerando mais de 547 toneladas de adubo e evitando, assim, mais de 662 toneladas de CO2 na atmosfera!

Sustentável também na mobilidade urbana, a empresa é a primeira do Brasil a coletar os resíduos usando bicicletas, com baldinhos para separar os resíduos. Os assinantes que se engajam no projeto recebem, ao final do mês, 2 kg do composto orgânico, um pacotinho de sementes diferentes a cada mês e ainda contribuem doando mais 2 kg do adubo para uma horta comunitária.

Hoje, Lucas atende a zona sul, parte da zona oeste, o centro e alguns bairros da zona norte carioca.

Vantagem no bolso

A companhia de energia do Rio tem um projeto de troca de materiais recicláveis por bônus na conta de luz; é o Light Recicla.

Implementado em 2011, o programa já beneficiou mais de 16 mil clientes, arrecadou 11 mil toneladas de resíduos e quase 80 mil litros de óleo de cozinha que seriam descartados sem tratamento adequado, e deu bônus de mais de R$ 1 milhão em contas de energia. Podem ser trocados papéis e papelão, plásticos, vidro, metal e óleo de cozinha. Já medicamentos e outros materiais podem ser reciclados em drogarias e postos espalhados pela cidade. Saiba mais no site.

São José das Tampinhas

O padre Omar Raposo, reitor do Santuário Cristo Redentor e pároco da Igreja São José da Lagoa, já chama sua paróquia de “São José das Tampinhas”.

Reciclagem na Igreja São José da Lagoa. Foto: Carlos Monteiro

Reciclagem na Igreja São José da Lagoa. Foto: Carlos Monteiro

O projeto iniciou com o recebimento de óleo comestível enviado a Pastoral do Meio Ambiente para destinação correta; depois passou a aceitar filtros de papel para coar café e garrafas PET usados, então utilizados na decoração das festas; e aí lançou a campanha para angariar lacres de latinhas para conversão em cadeiras de rodas.

Hoje, a paróquia recolhe tampinhas de plástico, cuja renda é destinada à compra de cadeiras de rodas doadas a ABBR. Já foram recolhidas mais de 60 toneladas, em um total maior que 100 milhões de unidades, que geraram mais de trezentas cadeiras, reduzindo, consideravelmente, a fila para esse equipamento naquela instituição. A paróquia conta ainda com sistema de captação da água da chuva, utilizada para os banheiros e rega dos jardins no seu entorno com o “triciclo regador”, geração de energia eólica e placas fotovoltaicas, sendo a primeira igreja do Brasil a gerar a sua própria energia.

Mobilidade: Grupo Metrópole Fluvial busca transformar os rios paulistas em hidrovias ativas

Mobilidade: Grupo Metrópole Fluvial busca transformar os rios paulistas em hidrovias ativas

Foi a partir do início do século 19 que os governantes brasileiros passaram a ver os rios como obstáculos ao progresso. A nossa urbanização foi feita de costas para os rios, usados como banheiro. Com o tempo, se priorizou cada vez mais o espaço para carros, desprezando a importância das águas correntes para as cidades. Em São Paulo, o rio Tamanduateí foi o primeiro a ser canalizado. Seguiram-se muitos outros que foram retificados, enterrados e esquecidos.

Fotomontagem do Canal Pinheiros na altura da raia olímpica da USP. Foto: Divulgação

Estima-se que São Paulo tenha de 300 a 500 rios embaixo dos nossos pés, sob ruas, casas e edifícios. São, de acordo com a iniciativa Rios e Ruas, que desde 2010 mapeia o ciclo das águas subterrâneas da capital paulista, cerca de três mil quilômetros de rios, riachos e córregos sob o asfalto. “Queremos trazer os rios para perto do nosso olhar, é impossível cuidar do que não vemos”, diz o geógrafo Luiz de Campos Jr, da Rios e Ruas. A iniciativa tem expedições para sensibilizar as pessoas a respeito da proteção fluvial. Se esses rios enterrados corressem livres e limpos, a céu aberto, não teríamos as enchentes atuais, causadas pela impermeabilização do solo, entre outros fatores.

E os que estão visíveis, poluídos e repletos de esgoto, como os rios Pinheiros e Tietê? Para Alexandre Delijaicov, que coordena o Grupo Metrópole Fluvial, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, é preciso resgatar e integrar novamente os rios urbanos. A navegação fluvial é um dos sistemas mais baratos e limpos que existem e pouquíssimo usada no Brasil, dependente do transporte rodoviário.

O grupo desenvolveu um projeto para a construção de um hidroanel metropolitano e prevê a conexão e o pleno aproveitamento das hidrovias que circundam 14 cidades da Grande São Paulo, melhorando a mobilidade urbana, reduzindo a poluição e fazendo uso inteligente e sustentável das águas. Delijaicov estuda o assunto há mais de três décadas e se inspirou em países como Holanda, Alemanha, França, Estados Unidos e China, usuários de vias navegáveis para transporte de cargas e pessoas. Além dos ganhos econômicos, a pegada ecológica é expressiva. “Com a potência de um motor de caminhão podemos transportar, em uma embarcação, o equivalente a carga de 40 caminhões. E a proposta do Grupo Metrópole Fluvial é usar embarcações ‘autopropelidas’, com motores elétricos”, diz Delijaicov, lembrando que o transporte hidroviário pode ser 7 a 8 vezes mais barato que o rodoviário, e 3 a 4 vezes mais barato que o ferroviário.

O projeto, que estima uma redução de 30% no tráfego de cargas em São Paulo, prevê a construção de um ambiente urbano com uma infraestrutura que preserve as águas, ao mesmo tempo que oferece espaços públicos de convivência e lazer na orla fluvial. As embarcações seriam destinadas ao transporte de cargas e passageiros, como também ao lazer e passeios turísticos. Utopia? Isso já é comum em grandes cidades do mundo e é possível também aqui. Mas é preciso a união de todos – universidade, governos, empresariado e sociedade – para que seja concretizado. O ganho é imenso em todas as áreas, para as pessoas e a cidade.

Crescem os conflitos mundiais pela água

Crescem os conflitos mundiais pela água

As disputas em torno da água estão se alastrando, tanto no Brasil como no exterior. Elas acontecem de diferentes formas, são confrontos entre nações, modelos de gestão, grupos de interesse e classes sociais. Quando esses embates reduzem o acesso de populações à água de qualidade, é de se esperar que haja a propagação de doenças e, muitas vezes, o aumento do número de mortos. Frente a essa realidade, segue a questão: é possível assegurar que todos tenham acesso a esse recurso?

Entre os desafios, está o fato de que aproximadamente 2,1 bilhões de pessoas (29% da população mundial) não têm acesso à água potável em casa, segundo dados do último relatório da OMS em parceria com a UNICEF. Apresentada em 2017, a pesquisa também aponta que cerca de 4,5 bilhões de pessoas (55%) carecem de um sistema seguro de saneamento. Em um balanço de 17 anos, iniciado em 2000, o estudo mostra que o acesso a serviços de água potável e a saneamento seguro tiveram uma progressão média anual de respectivamente 0,48% e 1,02%.

Foto: Getty Images

Água, um campo minado

O Water, Peace and Security é uma ferramenta que mapeia a possibilidade de conflitos por água no Sudeste Asiático, no Oriente Médio e em todo o continente africano. Patrocinada pelo governo holandês, a plataforma foi apresentada para o conselho de segurança da ONU antes de seu recente lançamento. Ela prevê altos índices de conflito por água no Iraque, Irã, Mali, Nigéria, Índia e Paquistão ainda este ano.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, nas Colinas de Golã. Foto: GPO/Fotos públicas

“É importante dizer que a guerra por água não é uma guerra clássica. Ela ocorre em uma luta por posições estratégicas para manter o acesso aos recursos hídricos”, aponta Wagner Costa Ribeiro, professor de geografia da USP e autor do livro “Geografia Política da Água”. Um exemplo é a disputa pelas Colinas de Golã, responsável por um terço do abastecimento de água de Israel. O país tomou a região da Síria em 1967 e, desde então, seu governo ocupa e administra as colinas, apesar de a maioria da comunidade internacional reconhecer o território como sírio.

O Movimento Pelos Direitos do Povo Palestino e Pela Paz no Oriente Médio e a Anistia Internacional também acusam Israel de privar o acesso à água ao povo palestino. Segundo Ribeiro, o estado israelense proibiu a Palestina de construir uma cisterna, pois o armazenamento promovido por ela diminuiria o volume de água que chega ao rio e, consequentemente, a vazão para Israel. Os conflitos pela água não acontecem apenas na escassez do Oriente Médio.

O Brasil possui a maior concentração de água doce do planeta, cerca de 12% das reservas estão aqui. Mesmo assim, muitas populações e locais sofrem para ter acesso ao recurso em quantidade e qualidade adequadas. Desde 2002, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) contabiliza os conflitos por água no território nacional. No primeiro ano foram registrados 8 conflitos em todo o território brasileiro; no último relatório, referente a 2018, houve um recorde de 276 conflitos por água. O número é crescente desde 2010 e a CPT estima que mais de 2,7 milhões de pessoas foram envolvidas nesses conflitos. Segundo os dados de 2018, as principais vítimas dos conflitos por água foram, respectivamente, ribeirinhos, pescadores, geraizeiros (populações tradicionais do cerrado mineiro), assentados e pequenos produtores. Já os maiores causadores foram mineradoras (50,36% dos conflitos), empresários (26,45%), hidrelétricas (11,96%) e fazendeiros (9,78%).

O número é crescente desde 2010 e a CPT estima que mais de 2,7 milhões de pessoas foram envolvidas nesses embates. Segundo os dados de 2018, as principais vítimas foram ribeirinhos, pescadores, geraizeiros, assentados e pequenos produtores. Já os maiores causadores foram mineradoras (50,36% dos conflitos), empresários (26,45%), hidrelétricas (11,96%) e fazendeiros (9,78%).

Desastre em Brumadinho. Foto: Ibama/Fotos públicas

As regiões com mais conflitos são o Nordeste com 133 casos (48,1%), seguido do Sudeste com 85 (30,80%), e em terceiro o Norte (18,84%). Bahia e Minas Gerais foram os estados mais afetados, com 65 casos (23,55%) cada um. O relatório destaca disputas consequentes da tragédia de Mariana; a luta pela manutenção do modo de vida das 55 comunidades do Baixo São Francisco contra os interesses especulativos e imobiliários; e 30 ações da refinaria Hydro Alunorte contra as comunidades paraenses, do município de Barcarena – que terminou com o assassinato de duas lideranças comunitárias (a empresa nega a associação entre as suas atividades e as ações contra os moradores de Barcarena, e declara que condena firmemente qualquer ação dessa natureza).

Para o autor de “Geografia Política da Água”, o uso inteligente dos recursos disponíveis, alinhado com tecnologias que já existem, seria capaz de suprir as demandas por água de todas as populações. Porém, falta a vontade política e econômica daqueles que detêm o controle das fontes de água potável. “O problema não é a transferência de água, mas o fato de ela estar sendo feita com foco central no lucro e não no compromisso de ofertar uma substância fundamental para a manutenção da vida”.

Mercado líquido

A água também é protagonista de uma batalha simbólica, voltada para decidir se ela é uma mercadoria ou um direito humano. Há dois grandes tipos de negócio para a substância: o comércio de água engarrafada; e os serviços ligados a ela, como a distribuição e o tratamento de esgoto. Em vários países, grandes bancos e corporações como o Deutsche Bank, Credit Suisse, JP Morgan Chase,Goldman Sachs, Allianz e HSBC Bank, entre outros, já compraram vastos hectares de terra com aquíferos e lagos, além dos seus direitos de exploração deles e várias companhias de água (segundo o eco-engenheiro Jo-Shing Yang, autor do livro Solving Global Water Crises) .

Fábrica de engarrafamento de água. Foto: Getty Images

André Martin, professor da Universidade de São Paulo especializado em geopolítica, comenta por que não apoia que esses grupos controlem o recurso: “ Na procura de investimentos de alta lucratividade, as companhias de água associadas ao capital financeiro vão tentar transformar a água em raridade”. Para o professor, parte da escassez que acontece no mundo foi induzida para que houvesse rentabilidade. “Esse sistema vai contra a natureza humana. Foi comprovado empiricamente que os homens são mais solidários na sede do que na fome. Reparte-se mais água que comida”.

O modelo de gestão privada de recursos hídricos existe desde a virada do século XIX para o XX, e teve um boom mundial a partir da década de 1990. Wagner Ribeiro afirma que dados coletados nos últimos 30 anos comprovam cientificamente que a privatização gera aumento do preço da água e perda de qualidade. “É evidente que o principal objetivo do modelo privado é obter lucro e não promover o acesso à água de qualidade e barata. Além disso, é muito difícil que uma empresa vá estimular a redução do uso da água. Pelo contrário, ela quer que você use mais água para poder te cobrar. Então a privatização da água, além de produzir efeitos negativos para o consumidor final também é antiambiental”.

Nova York, Berlim, Paris, Madrid, Buenos Aires e Jacar, na Indonésia, são algumas das 235 localidades que nos últimos 15 anos reestatizaram seus serviços de águas e esgoto após constatarem um péssimo desempenho do setor privado. O geógrafo avalia que essa é uma tendência global, principalmente em países desenvolvidos, e que o Brasil está na contramão. Em fevereiro, o BNDES anunciou que promoverá ainda esse ano leilões de concessão de serviços de saneamento de quatro estados (RJ, AC, AP, AL). Ribeiro argumenta que a gestão estatal é menos corrupta, pois há um controle social maior quando o estado atua, o que resulta em parâmetros mais rigorosos de qualidade da água.

Odor e gosto de terra

A crise recente da Companhia de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae) parece contrapor esse ponto de vista. Em muitas localidades da região metropolitana da capital, a água que saía das torneiras era amarronzada, com odor e gosto de terra. Atualmente, a privatização da estatal está sendo considerada por muitos, inclusive pelo governador Wilson Witzel (PSC), como a única solução para os problemas. O geógrafo rebate essa alternativa e afirma que a crise é na verdade decorrente das ações do governo que encaminha a estatal para a privatização.

Witzel fala à impresa e bebe água após visita a Guandu. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Em 2017, o estado fez um acordo com o Governo Federal que permitia suspender o pagamento dos juros de sua dívida com a União. Uma das exigências era encaminhar a privatização da Cedae. O lucro líquido da empresa registrado em 2018 foi de R$ 832 milhões, quase o triplo do ano anterior, R$ 280 milhões (não foi encontrado o valor do ano passado). Uma investigação, feita pelo UOL, apontou que o Pastor Everaldo (PSC) influenciou a demissão de 54 funcionários, muitos deles técnicos e engenheiros com anos de experiência. O presidente da Cedae, Hélio Cabral, que ocupou o cargo do início de 2019 até fevereiro, também foi indicação política do pastor. O ex-presidente era conselheiro da Samarco indicado pela Vale na época da tragédia de Mariana. Quando assumiu o cargo ele ainda era réu, acusado por homicídio com dolo eventual, mas depois foi inocentado.

Especialistas apontam que o problema foi causado pelo composto orgânico chamado geosmina, produzido por um tipo de alga presente nas águas que abastecem a estação Guandu. Em 2001, o Rio teve o mesmo problema, e foi resolvido em 7 dias pelos técnicos da Cedae com o uso de raspadores que retiravam o lodo, de acordo com o então diretor da Cedae, Flávio Guedes, em entrevista para o UOL.

Na mesma reportagem, ele afirmou que hoje em dia não há recursos para isso e, em nota, a atual gestão da Cedae reconheceu a necessidade de colocar em operação os raspadores. Porém, a companhia afirma que a aquisição desse equipamento faz parte de um plano de dois anos, com investimentos de R$ 700 milhões para Estação de Tratamento Guandu. Apesar dos altíssimos lucros, poucos investimentos foram feitos para garantir a área de proteção ambiental, onde os recursos hídricos são explorados. A empresa também responde a um processo pelo lançamento de esgoto em cinco estações, despejados na Baía de Guanabara e no oceano.

“A situação é crítica. Lamentável, eu diria. Ela ocorre devido a esse processo errado e nada contemporâneo de insistir na privatização, quando na verdade o estado deveria estar mais presente para garantir a qualidade do serviço de água para a população”, argumenta o professor. Ribeiro também desaprova a forma como o país faz uso dos seus recursos hídricos. Segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA), o maior consumo de água no país acontece na irrigação (66,1% do volume total), seguido por uso animal (11,6%), indústria (9,5%) e abastecimento urbano.

O sistema de irrigação que mais cresce no Brasil é o pivô central. O Levantamento da Agricultura Irrigada por Pivôs Centrais quantifica que, em 2017, havia 1.476.101 hectares equipados para irrigação por pivôs centrais. Para o geógrafo, essa é uma prática que acarreta muito desperdício e a agricultura deveria adotar técnicas mais sustentáveis como o plantio direto e o gotejamento. Outra imprudência que aumenta a demanda de água do setor é que muitas espécies são introduzidas em terras que não são propícias para elas. “O cultivo tem que ser analisado à luz da oferta hídrica da localidade. Temos que diminuir o volume de água utilizado na agricultura e fazer escolhas mais adequadas às condições geográficas e ambientais. Há lugares que não são bons para plantar soja ou cana e, mesmo assim, as pessoas plantam porque dá dinheiro. Isso exige muito mais água do que o normal para ter um desenvolvimento adequado e essa operação ser rentável”.

Fonte contaminada

Avião despejando agrotóxicos em uma plantação. Foto: Getty Images

Mais um ponto preocupante é o altíssimo nível de agrotóxicos presente em muitas reservas de água doce, decorrência da água que irriga as plantações e chega aos mananciais. A Agência Pública apresentou dados reveladores do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (SISAGUA), que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento. Agrotóxicos foram detectados na água de 92% dos municípios testados em 2017. Esse número teve um crescimento constante nos últimos anos e estima-se que em breve não haverá mais água.

São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis e Palmas são algumas das capitais com contaminação de múltiplos agrotóxicos. Além dessas dez cidades, mais 1386 municípios detectaram na água todos os 27 pesticidas que foram obrigados por lei a testar. Desses, 16 foram classificados pela Anvisa como altamente tóxicos e 11 estão associados com o desenvolvimento de câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas. Na União Europeia, 21 desses agrotóxicos são proibidos.

“A questão é: estamos cuidando da nossa água? Não estamos. Estamos contaminando nossas reservas, ora com lixo, ora com esgoto ou com agrotóxicos. Isso tudo é má gestão”, conclui Ribeiro. “Precisamos discutir seriamente a quantidade de água para cada uso. Devemos pensar um reservatório para a preservação humana e ambiental fundamental, para a geração de energia, lazer, pesca etc. Todas as possibilidades devem ser pensadas à luz dos ciclos naturais da água. Hoje temos tecnologia para quantificar o tipo de atividade econômica que pode ser feita em cada localidade, seja industrial, agrícola ou de consumo populacional. Enquanto não tiver esse tipo de ação, as crises serão recorrentes, quando não muito mais intensas”.

Hotéis e companhias de cruzeiros promovem ações de preservação ambiental

Hotéis e companhias de cruzeiros promovem ações de preservação ambiental

A hotelaria passou a absorver cada vez mais a sustentabilidade como um de seus pilares. Hoje, 75% dos hóspedes consideram essas iniciativas um fator potencial para reservar um quarto, segundo a pesquisa Futuro da Hotelaria, feita pela empresa Mapie. A utilização de painéis solares para aquecimento da água, hortas para o consumo nos restaurantes, além da lavagem consciente de toalhas e lençóis, já são práticas conhecidas no turismo. Então, o que diferencia uma ação sustentável de tantas outras é o impacto positivo que ela pode trazer para o meio ambiente e para a comunidade onde atua. Conheça oito inspiradoras iniciativas de hotéis e companhias de cruzeiros:

Santuário na floresta

preservação ambiental

Passeio de canoagem do hotel Cristalino Lodge, na Amazônia. Foto: Cristian Dimitrius/Divulgação

Eleito um dos 25 melhores ecolodges do mundo pela National Geographic Traveler, o hotel Cristalino Lodge conserva diretamente 11.399 hectares de floresta primária, na Amazônia. Suas ações incluem energia solar nos quartos, reciclagem e separação do lixo, tratamento dos efluentes cinzas e negros, arquitetura sustentável, atividades guiadas na natureza com grupos de até 8 pessoas e uma culinária que prioriza produtos orgânicos e da estação. Além disso, mantém a Fundação Cristalino, que faz trabalhos de educação ambiental com crianças de Alta Floresta e Novo Mundo, e estudos em botânica e vida animal com importantes instituições.

Zero esgoto

preservação ambiental

Sofitel Jequitimar Guarujá. Foto: Divulgação

O hotel Sofitel Jequitimar Guarujá, da rede Accor, conta com três Estações de Tratamento de Água (ETAs), uma exclusiva para a água das chuvas, uma para as águas negras (esgoto) e outra para as águas cinzas (proveniente de chuveiros, banheiras, lavatórios etc.), que são reaproveitadas em jardins e torres de refrigeração. Em um ano, o hotel conseguiu evitar o despejo de 40 milhões de litros de esgoto no meio ambiente.

Lagoas limpas

preservação ambiental

Grand Hyatt Rio de Janeiro. Foto: Divulgação

O Grand Hyatt Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca, construiu tubulações para interligar o esgoto gerado no hotel à Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE), atendendo também os condomínios próximos. A obra foi inteiramente custeada pela rede hoteleira e doada para a CEDAE. Com essa ação, o empreendimento contribuiu para a redução de esgoto sem tratamento despejado nas lagoas do bairro e recuperou a área verde da região.

Responsabilidade socioambiental

preservação ambiental

Grande Hotel Senac Campos do Jordão. Foto: Divulgação

O Grande Hotel Senac Campos do Jordão tem ações sustentáveis que envolvem funcionários, alunos do Centro Universitário Senac, e a comunidade local. O Projeto Escola Sustentável ajuda escolas municipais de Campos a implantar sistemas de gestão ambiental. Já o Campos sem Frestas aplica revestimento nas paredes de casas em condições precárias, evitando a entrada de frio. No hotel, as ações incluem a gestão completa de resíduos, compostagem e horta orgânica.

Primeiro hotel lixo zero do Brasil

preservação ambiental

Ilha de Toque Toque Boutique Hotel. Foto: Divulgação

O Ilha de Toque Toque Boutique Hotel (ITTBH), em São Sebastião, litoral norte de São Paulo, conquistou um certificado do Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB), que reconhece e fiscaliza o processo de tratamento do lixo implementado. O ILZB é o único representante no país com as credenciais do Zero Waste International Alliance. No hotel, recipientes para shampoo e condicionadores foram substituídos por suportes com refil, entre outras substituições que visam a retirada do plástico.

Conscientização local

preservação ambiental

Txai Resorts, na Bahia. Foto: Divulgação

Em Itacaré, na Bahia, o Txai Resorts desenvolveu o Instituto Companheiros do Txai, que realiza o trabalho de conscientização com a comunidade local sobre a importância de conservar a biodiversidade. Uma das iniciativas faz programas constantes nas escolas públicas e núcleos educacionais da região ao ministrar aulas sobre as boas práticas socioambientais. O hotel ainda instalou nas cozinhas e áreas de serviços redutores de vazão com o objetivo de evitar desperdício de água.

Mares protegidos

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Navio da Norwegian. Foto: Divulgação

Para tratar o esgoto a bordo, todos os navios da Norwegian Cruise Line (NCL) são equipados com sistemas de purificação avançada de águas residuais (AWP), seguindo regulamentos internacionais. As águas coletadas em espaços de máquinas e motores não são descartadas sem antes passar por um processo rígido. Os navios são equipados com um dispositivo de parada automática e um medidor de conteúdo de óleo. A água que não puder ser descarregada mesmo após esses processos é entregue a um fornecedor certificado em terra.

Autossuficiência hídrica

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Cruzeiro do MSC. Foto: Divulgação

Como a água doce é um recurso finito, a MSC Cruzeiros toma medidas para reduzir o desperdício por meio de investimento em tecnologias e campanhas de conscientização. A água consumida nos navios da companhia é produzida a bordo, graças a plantas de produção de água doce presentes em toda a frota, que transformam água do mar para o consumo. Nos maiores navios, a capacidade de transformação é de até 3 milhões de litros por dia.