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Rodeada pela floresta amazônica e um mar de água doce, Manaus é o ponto de partida para aventuras selvagens

Rodeada pela floresta amazônica e um mar de água doce, Manaus é o ponto de partida para aventuras selvagens

o teatro é o principal cartão postal de Manaus

O Teatro Amazonas é um dos mais importantes do Brasil

Manaus é a mais populosa cidade da Região Norte, ainda mantém vários resquícios de seu esplendor, durante o Ciclo da Borracha, é o maior centro de comércio de arte indígena do país e possui ainda várias outras atrações. Mas uma viagem à capital do Amazonas só se torna inesquecível quando inclui passeios pela majestosa selva e pelos rios que parecem braços do mar, de tão largos e caudalosos. Manaus é a porta de entrada para esse ecossistema único, misterioso e cercado de lendas. Uma dessas lendas, a propósito, explica a origem do nome da região.

Muita gente – compreensivelmente – não entende por que uma floresta na América do Sul tem um nome que remete à Grécia Antiga. É que, no século XVI, quando o explorador espanhol Francisco Orellana comandou uma expedição pela selva, teve seus homens atacados pelas guerreiras da tribo indígena icamiaba, em que as mulheres lutavam nuas e viviam em grupos isolados, sem homens. Em seu relato à coroa espanhola, ele descreveu o território como “Selva das Amazonas”, em uma referência às heroínas da mitologia grega. O nome pegou e a região tornou-se mundialmente conhecida como Amazônia.

A propósito, a partir de Manaus, é possível visitar tribos indígenas e conhecer seu modo de vida. Na Aldeia Dessana, do Núcleo Indígena Cipiá, dá para comprar colares e cocares feitos com penas e sementes pelos índios e assistir a uma apresentação de danças ritualísticas sob a gostosa sombra de uma taba bem organizadinha. Ao final, oferecem carne de peixe e de jacaré assada no moquém (espécie de grelha) e formigas defumadas, que têm um sabor que lembra o de bacon crocante.

Essa tribo fica às margens do Rio Negro que, não bastasse ser um dos mais bonitos da região, é um dos raros cursos d’água livres de mosquitos. A mesma seiva de árvores que deixa as suas águas escuras também acaba impedindo a proliferação de larvas de insetos como pernilongos, muriçocas e carapanãs.

Hotel Rio Negro Queen é um hotel flutuante de luxo

É pelas águas do Rio Negro que desliza o imponente Rio Negro Queen, hotel flutuante com três decks que é praticamente desconhecido entre os brasileiros, mas anualmente hospeda centenas de estrangeiros em suas trinta suítes panorâmicas e em seu restaurante comandado pelo conceituado chef francês Roland Villard.

Concebido para oferecer pacotes desenvolvidos sob medida, de acordo com as preferências de cada passageiro, o Rio Negro Queen é uma experiência exclusiva, acessível para poucos: um tour a bordo do barco-hotel com uma semana de duração custa cerca de US$ 10.000.

Com um escritório de vendas nos Estados Unidos, o hotel tem 70% de norte-americanos entre seus hóspedes e promove expedições mais voltadas aos fanáticos por pesca esportiva. Para saber mais sobre os roteiros do hotel flutuante, acesse www.captpeacock.com.

Subindo pelo Rio Negro, chega-se ao Parque Nacional de Anavilhanas, um arquipélago fluvial com 400 ilhas e paisagens de tirar o fôlego. É lá que fica um dos mais fabulosos hotéis de selva do planeta, o Anavilhanas Jungle Lodge, que abriga seus hóspedes em bangalôs no meio da selva e promove passeios de canoa pelos igarapés e igapós, incursões pela selva para visualizar aves, macacos e antas, e visitas a um rio habitado por brincalhões botos cor-de-rosa.

Mais próximo de Manaus, o Juma Amazon Lodge é outra excelente opção para quem quer se hospedar no meio da floresta. Ele oferece grandes emoções desde o percurso que vai da cidade até a sua localização, às margens do Rio Juma. Para chegar lá, o barco tem de passar pelo famoso Encontro das Águas, um impressionante espetáculo da natureza formado pelas águas escuras do Rio Negro, que seguem paralelamente ao leito barrento do Rio Solimões até que finalmente se misturam quilômetros adiante, para enfim formar o Rio Amazonas.

O Juma Amazon Lodge tem apenas 19 confortáveis bangalôs totalmente integrados com a floresta e erguidos sobre palafitas, o mesmo método usado pela população ribeirinha da Amazônia para construir suas casas. Além de explorar a biodiversidade sem igual da região, no Juma os hóspedes podem também se esbaldar com a observação de astros no céu estrelado, que é vasculhado com a ajuda de um potente telescópio.

Hotel Juma Amazon Lodge, no meio da floresta amazônica

Entre os passeios oferecidos pelo hotel estão a caminhada noturna pela selva, quando os animais emitem mais sons e a luminosidade mínima cria uma atmosfera instigante, a visita a árvores gigantescas e centenárias, e uma parada no Flutuante do Pirarucu, onde é possível ver de perto, dar comida e depois experimentar um prato feito à base deste que é um dos maiores e mais saborosos peixes da rica fauna amazônica: o pré-histórico pirarucu, que pode chegar a 200 kg e três metros de comprimento!

Agora, se você não pretende fazer uma imersão no esquema 24h por dia na selva, acomode-se na cidade mesmo. As boas opções não são muitas, mas temos duas ótimas sugestões: o Villa Amazônia, hotel design que tem apenas 30 quartos e mistura com muito bom gosto a arquitetura do início do século XX com um décor contemporâneo, e o Juma Ópera, um hotel boutique sustentável instalado dentro de um casarão tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. Ele deve abrir suas portas ainda neste segundo semestre, com uma bonita piscina em seu rooftop.

Instalado na cidade, fica mais prático visitar o Musa – Museu da Amazônia (parque ecológico com aquário, viveiro de serpentes e jardim botânico com orquídeas e bromélias), o Teatro Amazonas (construção de 1882 que sedia o festival de ópera), o Mercado Municipal (onde os pescadores da região exibem e vendem peixes das mais variadas espécies) e os melhores restaurantes da cidade, como o refinado Banzeiro, o imponente Caxiri e o japonês Shin Suzuran, onde o simpático Hiroya Takano prepara deliciosos usuzukuris de vitória régia.

Por fim, fique esperto ao programar a sua viagem: de março a agosto, o nível dos rios sobe com as chuvas e configura-se o período da cheia, ideal para apreciar as regiões alagadas da floresta. Já nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, durante a “estiagem”, os rios minguam e a paisagem fica bem menos atraente. De todo modo, visite a Amazônia o quanto antes. Ela está seriamente ameaçada pela ausência de políticas ambientais claras e efetivas e é patrimônio inestimável que precisa ser preservado. O turismo é uma das formas de exploração que traz mais benefícios às comunidades locais, causando menos danos à natureza. Dê a sua colaboração e entre nessa corrente do bem em que todos os envolvidos saem ganhando!

Restaurante manauara inaugura filial no Itaim

Formiga Sauva com espuma de mandioquinha, do Banzeiro

Comandado por Schaedler, vencedor de vários prêmios de melhor restaurante e de chef do ano em Manaus segundo a edição “Comer e Beber” da “Veja”, o Banzeiro, inaugurado em São Paulo no final de agosto, traz para a capital paulista todo seu borogodó amazônico.

No salão decorado por bonitas fotos clicadas pelo bilionário e fotógrafo nas (muitas) horas vagas Sergio Coimbra, o chef serve receitas que não se limitam ao “trivial amazonense”. O cardápio tem como base os peixes da Amazônia, mas eles aparecem em versões contemporâneas. As costelinhas de tambaqui, por exemplo, vêm envoltas em um rico molho teriyaki, e o pirarucu surge curado no missô, ganhando novas camadas de sabor, com toques agridoces e ricas em umami. Além disso, tem risoto de cogumelos yanomami, queijo coalho grelhado e servido com redução de guaraná e, para quem busca algo mais ousado, a dica é a saúva servida sobre espuma de mandioquinha ou a salada de vitória-régia com sagu de açaí.

“A ideia é que o Banzeiro seja uma ponte de ligação entre o centro e o norte do Brasil. As pessoas precisam conhecer a Amazônia e acredito que a gastronomia tem grande potencial para despertar essa curiosidade”, explica o chef, que apoia pequenos produtores de frutas, brotos, cogumelos e pimentas dos arredores de Manaus, além de só adquirir peixes de fornecedores que respeitam os ciclos reprodutivos das espécies que brilham em seus menus.

Banzeiro SP

Rua Tabapuã, 830, Itaim, tel. 2501-4777.

Atração do Rock in Rio, Alok rompe os limites da música eletrônica e surpreende por sua história

Atração do Rock in Rio, Alok rompe os limites da música eletrônica e surpreende por sua história

Alok foi uma das atrações do festival de música eletrônica

Alok no festival Sunrise em Colberga, na Polônia, em julho deste ano. Fotos: Alisson Demetrio

Na noite de 27 de setembro, abertura da sétima edição do Rock in Rio, o goiano Alok irá se apresentar no gigantesco festival. Frequentador do ranking de melhores DJs do planeta elaborado pela revista britânica “DJ Mag”, bíblia da música eletrônica, ele estará no Palco Mundo, o maior do evento, diante de quase 100 mil pessoas. Alok não se assusta com multidões.

Em julho, foi uma das atrações do Tomorrowland, na Bélgica, o mais badalado festival de música eletrônica do mundo, que recebeu 400 mil pessoas em seis dias. Aos 28 anos, ele acumula uma década e meia de precoce experiência nessa cena musical. Além de bem-sucedido, Alok não é, definitivamente, um DJ como outros.

Apesar de muita gente acreditar que Alok seja pseudônimo artístico, o nome que aparece nos seis passaportes que já teve, lotados de carimbos, é Alok Achkar Peres Petrillo. Na escola, brincadeiras foram inevitáveis, mas hoje ele acredita que não conseguiria escolher nome melhor. “É forte, só quatro letras, fácil, gosto muito. E não conheço outro Alok”, diz, rindo. Filho de DJs que ele chama carinhosamente de “meio hippies, malucões”, seu nome veio de experiências do casal na Índia. Alok, que em sânscrito significa “luz”, tem um irmão gêmeo, não idêntico, chamado Bhaskar, e uma irmã, Jaya.

O nome incomum é hoje apenas um detalhe divertido numa carreira incomparável. Por que ele foi convidado para figurar num Rock in Rio que terá uma constelação pop que inclui Foo Fighters, Drake, Bon Jovi e Iron Maiden? Porque Alok carrega o título de “o brasileiro mais ouvido no mundo”.

Seu som se espalha em performances nos maiores eventos do gênero e pelas músicas que produz e lança de modo incessante. Apenas este ano, ele já soltou dez singles. Os números de visualizações e audições desses hits nas plataformas digitais são medidos na casa das dezenas de milhões de execuções.

Alok rompe os limites da música eletrônica, apresenta um som que mistura gêneros pop sem pudor e com ótimos resultados, aumentando a cada dia sua legião de seguidores. Um bom DJ precisa ter experiência. É necessário passar por vários lugares diferentes para, no jargão desses artistas, saber “ler a pista”, perceber o que o público quer ouvir.

Alok tocou para milhares no maior evento de música eletrônica

Alok se apresentou no festival Tomorrowland, na Bélgica, em julho último

“A escolha das músicas que funciona em um lugar pode fracassar totalmente em outro”, explica. “Já aconteceu de estar tocando e abrir um buraco na pista, a galera perder o interesse. Na minha primeira vez em Portugal, saí vaiado. Eu aprendi. Hoje vou lá e tudo fica lotado. Fui muito à China, lá muda tudo. Não dá para impor o que a gente acha certo para outra cultura, tem que ter versatilidade e ler a pista”.

Ele também sente as diferenças dentro do Brasil. Diz que há influência do nível social das festas e do perfil da casa. Depois de produzir e gravar com estrelas como Matheus & Kauan e Simone & Simaria, ele já lotou muitas vezes o VillaMix, maior reduto paulistano do sertanejo moderno. “Quando eu vou tocar ali, sei que não é o público eletrônico. O ambiente da festa faz com que eles entendam como vou tocar. Quando é uma festa eletrônica, não posso fazer um set igual ao do VillaMix”.

A versatilidade é um ponto fundamental na sua carreira. Ainda pré-adolescente, formou com o irmão o projeto Lógica. Por muitos anos, a dupla criou e apresentou música eletrônica. Em 2010, quando partiu para a carreira solo, abriu a cabeça, como ele mesmo define. Pegou gosto por mashups, as misturas reverenciadas no eletrônico. “Pego a música de um artista, o vocal de outro, a batida de um terceiro. Fazer isso dar certo é precioso para um DJ”.

Seu set tem hoje Pink Floyd, Queen, até Legião Urbana, com músicas como “Pais e Filhos”. “Quando me perguntam, principalmente lá fora, qual é o meu estilo musical, respondo que sou um espírito livre. Faço o que eu acho que é legal”. As parcerias com nomes da cena eletrônica já seriam suficientes para diversificar seu som, mas ele assumiu riscos grandes.

“Fazer som com Matheus & Kauan foi importante naquela aproximação do eletrônico com o sertanejo, eles estavam bombando. Poderia ser um tiro no pé, mas eu acreditava que o meu mercado também poderia ser o sertanejo, então estaria me sabotando se recuasse. Deu supercerto!”

Alok não é apenas um DJ, é um produtor musical e compositor. “Gravo, faço toda a produção. Só não canto, esse dom eu realmente não tenho”. Ele revela que pede ajuda a alguns compositores nas letras, porque acredita ainda não ter a sensibilidade para escrever tão bem em inglês. Cita um exemplo. Pensou no verso “let’s live forever together” (vamos viver juntos para sempre). Depois de um trabalho em parceria, ficou “let’s write our names in the trees” (vamos escrever nossos nomes nas árvores), maneira bem mais lírica para uma jura de amor eterno.

O inglês de Alok é muito bom. Chega a ser engraçado descobrir que ele abandonou a faculdade de relações internacionais. Afinal, aos 17 anos tinha feito turnê com o irmão por 19 países. Já era um adolescente cidadão do mundo. Até agora sua música o levou a 51 países. “Talvez 52, fiz a conta outro dia, mas é difícil ter certeza”.

Alok tem sua própria gravadora e negocia com companhias maiores a distribuição de suas músicas. Tudo é digital, sem lançar CD ou vinil. O ritmo é frenético. Nos últimos meses, soltou dois singles com uma semana de diferença. “Ninguém tem tempo para consumir um álbum”.

As parcerias, em sua maioria, são feitas à distância, trocando arquivos sonoros pela internet. “Já terminei música sem encontrar o parceiro, que acabo conhecendo pessoalmente depois. Alguns eu nunca encontrei. Escrevo alguma coisa, gravo, recebo um vocal, então não gosto e peço outro. E assim vai”.

Claro que existem os parceiros favoritos. Seu maior sucesso chegou com dois amigos. Em 2016, ele, o DJ Bruno Martini e o cantor Marcos Zeeba fizeram uma versão de “Hear Me Now”, composta por Zeeba. Com ela, Alok se tornou o primeiro brasileiro a ter uma música que ultrapassou 100 milhões de audições no Spotify. Sua popularidade permite que trabalhe com nomes poderosos da cena eletrônica mundial e, no Brasil, amplie parcerias com estrelas como Luan Santana e Anitta.

“Eu me vejo hoje como um artista pop que se expressa pelas pick-ups. Quando recebi o convite do Rock in Rio, vi que tinha feito a escolha certa lá atrás. Fiz o certo ao não colocar limites, ao buscar o público sertanejo, as crianças, aceitar tocar em grandes festas de São João no Nordeste. Planejar isso é impossível. Acho que existe uma magia, coisas que você não consegue explicar. Seguir o coração, estar no lugar certo na hora certa. Se disser que tem fórmula para isso, vou estar mentindo.”

Alok diz acreditar que sua vida pessoal, com atuação em projetos sociais, afeta positivamente sua vida profissional. “Se parar de trabalhar por um bem coletivo, acho que minha carreira desanda na hora. É assim que tenho equilíbrio, é com isso que eu faço sentido, sabe?”

Quando já era um sucesso mundial, Alok foi diagnosticado com depressão profunda. Questionava se a vida era apenas ter dinheiro. Mas, aos poucos, foi deixando de se revoltar com o que considerava “gente fútil, preocupada com preços de vinho e relógios”. Pensou em criar um Instituto Alok para filantropia, mas desistiu quando percebeu que embarcaria numa trip de vaidade. “Tinha começado a fazer, tomei um prejuízo enorme, mas vi que o melhor era apoiar causas já estruturadas”.

Com crianças do projeto Fraternidade sem Fronteiras em Moçambique, na África

Ele atua no projeto Fraternidade Sem Fronteiras. Ajudou a construir escolas e hospitais em regiões de extrema pobreza na África. Depois, ao ver pessoas nas mesmas condições no sertão baiano, colocou de pé o projeto Vila da Esperança, em Canudos. Dar uma olhada no WhatsApp de Alok, exibido ao repórter pelo próprio DJ, é perceber que ele faz muito mais do que dar dinheiro. São incontáveis mensagens trocadas com os voluntários dos projetos, trazendo atualizações sobre os trabalhos e discussões sobre as ações.

“Gosto de participar. O lado DJ é uma ferramenta para fazer essa outra parte. Não falo isso numa dimensão religiosa. Falo de equilíbrio, de plantar e colher. O universo tem um caminho a seguir.”

Em qualquer negociação que envolva sua música, ele busca colaboradores. Negocia agora com uma grande empresa do país um contrato que vai além do entretenimento. O dinheiro servirá para levar água a regiões do semiárido do Nordeste.

Esse lado “bom moço” surpreende ainda mais quando fica evidente que ele permanece “careta” num universo de excessos. “Agradeço a Deus ter nascido nessa família bem hippie, alternativa. Essa bagagem é uma das grandes razões por eu ter chegado até aqui. Desde menino sempre tive acesso a tudo, sem tabus”.

Ele considera hipocrisia negar as drogas na cena eletrônica. “Tive a chance de escolher e escolhi. Nunca precisei cheirar pó, aprendi vendo os outros. Já bebi, mas não curto, não gosto de perder a noção. Mas não julgo. A droga é uma fuga, pode ser uma necessidade para se manter são. As pessoas dão duro sem ganhar o que merecem, tomam esculacho do patrão, sofrem violência. Então no fim de semana querem uma anestesia, na droga ou na bebida. Eu não julgo ninguém”. Na rotina alucinante de estúdios e palcos, Alok tem praticamente a agenda de 2020 fechada. Mas sua vida ganhará um novo e muito aguardado integrante. Sua mulher, a baiana Romana Novais, espera o primeiro filho do casal.

Ele acha graça quando é indagado sobre os efeitos que um bebê poderá ter em sua rotina de viagens pelo mundo. “Tenho um time muito bom para cuidar das coisas no trabalho e um time melhor ainda dentro de casa. Estou tranquilo porque sei que a minha mulher será uma mãe incrível”.

No começo de 2020, a chegada da criança coincide com um bom período de Alok no Brasil. “Este ano ainda vou para Estados Unidos e Japão, mas depois o Brasil pega fogo no verão. Tem Réveillon, festivais nas praias, Carnaval, depois as grandes festas de São João. Amo ficar por aqui”.

Atriz Ana Beatriz Nogueira estrela peça “Um Dia a Menos”, no teatro Petra Gold

Ana Beatriz estreia na peça em setembro

Na peça, com texto de Clarice Lispector, a atriz Ana Beatriz Nogueira luta contra a solidão e a rotina. Foto: André Arruda

Para alguns, o tempo voa. Para outros, um dia equivale a uma eternidade. Na peça “Um Dia a Menos”, uma adaptação do conto homônimo de Clarice Lispector, escrito um ano antes de sua morte, o espectador tem a oportunidade de acompanhar um fragmento do cotidiano de Margarida, uma mulher que tem diante de si a árdua tarefa de atravessar um dia inteiro sozinha, dentro de casa.

Nossa anti-heroína acorda, cozinha, come, cuida da casa, lê, fica de bobeira sem fazer nada e sonha. O tempo todo, reflete sobre a vida. É uma surra de melancolia e solidão, mas que traz também uma mensagem de que a vida, ao final das contas, vale a pena. Ou pelo menos faz com que a gente se questione: vale a pena?

Em cartaz até 13 de outubro no Teatro Petra Gold, o espetáculo é um solo da atriz Ana Beatriz Nogueira, conhecida por dezenas de trabalhos no cinema (como o longa “Vera”, de Sérgio Toledo, que lhe rendeu o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim, em 1986) e 17 obras na TV, além de 14 peças de teatro.

A transposição para a cena da história de Margarida tem momentos engraçados e outros patéticos, como a vida de qualquer pessoa. “O que mais me encantou neste texto da Clarice foi justamente essa humanidade da minha personagem. Toda mulher reconhece um pouco de si na Margarida. Somos todas Margaridas!”, comenta Ana Beatriz.

No palco, a expressão dessa humanidade prescinde do apoio de muitos elementos cênicos. Isso explica a ausência de cenários exuberantes, de troca de figurinos e de um elenco numeroso. A ação foca no texto contundente e emocionante de Clarice e no trabalho da talentosa Ana Beatriz. A economia de recursos é um caminho para chegar ao essencial do teatro: o ator e a ideia contida no texto, transmitida de forma clara, terna e envolvente.

“Esta montagem de ‘Um Dia a Menos’ é incrivelmente complexa na sua simplicidade, é uma reafirmação da crença no poder de comunicação do teatro que, se resiste há cinco mil anos e sobrevive a todas as crises, é porque pode abrir mão de tudo, menos do humano. Do elemento, do questionamento e do pensamento humanos. Ainda temos muito o que entender sobre nós mesmos”, analisa Leonardo Netto, que assina a direção da peça.

Quando tudo começou: confira como foi a 1ª edição do Rock in Rio

Quando tudo começou: confira como foi a 1ª edição do Rock in Rio

A banda Queen, com o líder Freddie Mercury, no Rock in Rio de 1985

Rio, 11 de janeiro de 1985. Faltam apenas alguns instantes para às 18 horas e, no afastado bairro de Jacarepaguá, mais de 100 mil pessoas estão prestes a viver um momento inesquecível. “Uou Uou Uou Uou Uou Rock in Rio!”, o jingle do festival é entoado por metaleiros, hippies, punks, pais e até crianças que compartilham o gramado, erguendo luvas verde-fosforescentes para comemorar o fim de tanta espera.

Há vinte minutos que um helicóptero fez uma aterrissagem arriscada, próxima ao palco, para Evandro Teixeira entrar pelos bastidores para fotografar a capa do Jornal do Brasil; a multidão, iluminada sob os holofotes, está aglomerada na Cidade do Rock desde a hora do almoço; há dias, o tempo anda nublado, a cidade cheia, o trânsito parado, os hotéis lotados e os ingressos esgotados; por décadas, brasileiros anseiam pela chance de ver ao vivo seus ídolos internacionais; e nunca antes no país houve algo assim.

A espera acabou. Pontualmente às 18 horas, Ney Matogrosso faz a abertura e, nos próximos nove dias, o Rock in Rio faria história como um dos maiores eventos de música de todos os tempos. Com um público de quase 1,4 milhão de pessoas, o festival possibilitou uma reunião até então inimaginável de bandas, ritmos e nações.

Ozzy Osbourne com a camiseta do Flamengo no festival

Queen, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Rod Stewart, James Taylor, AC/DC, Scorpions, Rita Lee, Gilberto Gil, Barão Vermelho e Paralamas do Sucesso são alguns dos nomes dessa primeira edição. “O cardápio era perfeito. Pensávamos ‘faltou fulano?’ Então, víamos na lista e não, não faltava ninguém. Naquele momento, o Brasil passou a ser a capital da música, foi algo muito bonito e colorido”, conta Orlando Brito, editor de fotografia responsável pela cobertura do Rock in Rio para a revista Veja.

Se hoje em dia incontáveis artistas internacionais de peso visitam o Brasil para se apresentar é porque o Rock in Rio abriu os caminhos para isso. “Antigamente, a imagem do Brasil era um desastre lá fora”, conta o criador do festival, Roberto Medina. Na época, a maioria das bandas se recusava a vir para cá. Havia todo tipo de preconceito quanto ao show bizz brasileiro: músicos tinham medo de terem os equipamentos roubados, produtores temiam sofrer um calote e a descrença na competência técnica dos brasileiros era generalizada.

“Demos uma aula de profissionalismo com o Rock in Rio. Mostramos para o mundo inteiro que sabíamos fazer as coisas e ainda melhor do que os outros”, relembra Medina, orgulhoso, e declara que o Brasil hoje é exportador de infraestrutura para os espetáculos no exterior. A marca Rock in Rio é um sucesso global e conta também com os festivais em Lisboa, Madrid e Las Vegas. Partindo hoje para a 19ª edição do festival, Medina se sente realizado com esse sonho.

Capa do Jornal do Brasil de 12 de Janeiro de 1985 com a abertura de Ney Matogrosso e a notícia sobre a volta da democracia

Capa do Jornal do Brasil de 12 de Janeiro de 1985

Quando o empresário começou a vislumbrar o festival que mudaria sua vida, havia também uma motivação política por trás: ele queria fazer um evento para comemorar a liberdade que vinha com o fim da ditadura. Em 1984, o Brasil vivia o último ano do regime militar e milhões de brasileiros tomaram as ruas exigindo eleição direta para presidente. O movimento ficaria conhecido como “Diretas Já” e, apesar do alvoroço, o projeto de lei não foi aprovado. Os brasileiros tiveram que esperar as próximas eleições para eleger seu presidente, mas ainda havia esperança no ar.

“Na ditadura, a minha família passou por uma época difícil e eu queria fazer um movimento da juventude pela paz. Eu achava que tinha que comemorar e foi um movimento político […] Na minha adolescência, o rock não era música, era um comportamento, era a liberdade. O Rock in Rio nunca foi para ver essa ou aquela banda. A ideia era se juntar para fazer festa e criar um momento inesquecível na vida das pessoas”, explica Medina.

Durante o Rock in Rio, o candidato das diretas, Tancredo Neves, foi eleito por voto indireto, o primeiro presidente civil eleito após vinte anos. O fotógrafo Evandro Teixeira, que cobriu o evento e as diretas, comenta: “O Brasil precisava desse evento para mudar tudo. O regime militar estava acabando e o povo precisava de mudanças. O Rock in Rio caiu como uma luva porque todo mundo precisa de alegria e mudança, e nada como a música para entrar no coração das pessoas.”

Cartaz da programação da primeira edição