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Deserto do Atacama reserva paisagens exóticas, em uma viagem para “outro mundo”

Deserto do Atacama reserva paisagens exóticas, em uma viagem para “outro mundo”

Há séculos, grande parte da humanidade sonha em conhecer a Lua e planetas como Marte, Vênus e Saturno. Mas esta é uma experiência restrita apenas aos astronautas. No entanto, quem quiser ter uma boa amostra do que é caminhar pela superfície desses astros tão distantes pode vivenciar uma experiência semelhante visitando o deserto do Atacama, no norte do Chile, a duas horas de voo saindo de Santiago.

Deserto do Atacama

Caminhadas pelas paisagens exóticas do deserto do Atacama fazem com que o viajante se sinta como se tivesse embarcado em uma expedição para outro planeta. Fotos: Divulgação

Lá, os grandes planaltos cobertos de rochas e de sal, os vales inóspitos repletos de desfiladeiros e cavernas, os vulcões que exalam fumaça e parecem estar se preparando para a próxima erupção, e os gêiseres que expelem jatos de água fervente das profundezas do solo compõem uma paisagem que tem tudo a ver com aquilo que imaginamos ser o habitat desses outros mundos.

Também, pudera! O local já foi cenário de incontáveis filmes de ficção científica, como “50 Anos na Lua”, “Expedição: Marte”, “Odisseia Espacial” e “Guia de Viagens Interplanetárias”. Isso explica em parte a “coincidência” entre aquilo que acreditamos ser um ambiente extraterrestre e o que encontramos no Atacama.

A diferença é que, em vez de dragões que cospem fogo, monstros gigantes e aves capazes de soltar feixes de raio laser pelos olhos, como nos filmes, a fauna da região é composta por graciosos flamingos, fofas viscachas (tipo de coelho), ariscos zorros (espécie de raposa) e pacatos camelídeos como lhamas, guanacos, vicunhas e alpacas. Todos convivendo em perfeita harmonia, em meio a cactos enormes de três ou até cinco metros de altura.

Localizado entre a Cordilheira dos Andes e as montanhas da região de Antofagasta, o deserto do Atacama é considerado um dos mais áridos do planeta. Mas quem visita a região fica surpreso com a quantidade de lagoas que existem por lá. É que muitas delas são abastecidas pelas águas oriundas do degelo da neve do alto da Cordilheira. E essa fonte nunca seca! Várias dessas lagoas devem obrigatoriamente fazer parte do seu roteiro.

Flamingos na Lagoa Chaxa. Foto: Getty Images

Mesmo no inverno, ninguém resiste a experimentar a sensação de flutuar nas águas da ultrassalgada lagoa Cejar – que tem muito mais sal do que o Mar Morto, em Israel. Na lagoa Tebinchique, o pôr do sol é uma visão inesquecível, com as montanhas refletidas em suas tranquilas águas depois que o astro-rei desaparece no horizonte. E as chamadas lagoas escondidas de Baltinache impressionam pela tonalidade azul turquesa de suas águas, enquanto a Lagoa Chaxa é famosa por ser o lar de um bando de flamingos.

Outros passeios obrigatórios são os trekkings pelo Vale da Lua, pelo Vale da Morte e pelos gêiseres de El Tatio (tour que começa no meio da madrugada, para que o nascer do sol seja acompanhado já em meio a essas nascentes que jorram água quente e vapor, enquanto é servido o café da manhã).

Por fim, ainda na série das atrações imperdíveis, não deixe de participar de um dos chamados Tours Astronômicos. A região do Atacama é conhecida pelo seu céu extremamente claro (por causa da ausência de umidade no ar) e, não por acaso, é lá que se encontra o A.L.M.A., o maior centro de observação de estrelas e de captação de sons do espaço, onde trabalham astrônomos do mundo inteiro.

Céu estrelado no deserto do Atacama

Nos últimos anos, a região virou a meca dos “space freaks”, com dezenas de observatórios de pequeno, médio e grande porte, dedicados a cientistas e curiosos. Por menos de US$ 25 você poderá ouvir histórias sobre os astros e ver de perto, com o auxílio de poderosos telescópios, buracos negros em galáxias distantes, estrelas dezenas de vezes maiores do que o Sol, planetas vizinhos e muito mais.

Em uma noite de lua nova, quando você se afastar do “perímetro urbano” de San Pedro de Atacama e se embrenhar pelas quebradas da região, certamente vai ficar boquiaberto com a abóboda celeste toda salpicada de coruscantes estrelas, como se fosse uma cortina negra bordada com cristais Swarovski!

Essas e outras excursões podem ser acertadas em qualquer uma das dezenas de agências de turismo que ocupam boa parte das casinhas que se alinham ao longo da Calle Caracoles, que não é a rua principal da cidade de San Pedro de Atacama – ela é praticamente a única rua do vilarejo!

Evite pagar adiantado por esses passeios, apesar de os chilenos serem muito corretos. É sempre bom ficar esperto. Duas agências com brasileiros no comando são boas alternativas caso você estiver desconfiado e com medo de ser ludibriado por conta de problemas de comunicação: a Araya (de Roberta Gameiro) e a FlaviaBia, de Flavia Beatriz. A primeira agência é eficiente e com excelentes preços, mas sem nenhum mimo especial para te agradar. Já a segunda trabalha com valores bem acima da média, mas oferece um serviço bem mais personalizado e com ótima infraestrutura.

Cactos na Quebrada de Guatin

Essa mesma dicotomia é encontrada quando o assunto é comida e hospedagem. Quando a fome bater, você pode recorrer sem receio a uma das centenas de casas que servem PFs baratinhos, mas também pode ir a um bom restaurante especializado em carnes (como o La Casona) ou em cozinha chilena (como o Adobe). Se quiser provar um hambúrguer de carne de lhama, dirija-se ao pub Ayllu, na Calle Toconao, onde é servida também uma cerveja temperada com folhas de coca.

Na hora de dormir, a galera mochileira se abarrota nos hostels, que têm diárias a partir de US$ 20 por noite. Tem gente que prefere se aboletar em uma barraca de glamping (camping com glamour) – e neste caso a diária sobe para a casa dos US$ 50.

Mas há também quem faça questão de um hotel com quartos decentes e um pouco mais de conforto e segurança. Para essa turma, a sugestão da 29HORAS é o charmoso hotel Desértica, que tem diárias na casa dos US$ 250 para casal. Rústico, mas decorado com bom gosto e extremamente bem localizado, em uma das extremidades da Calle Caracoles, ele pertence a Jorge Zabaleta, galã de novelas da TV chilena.

Tierra Hotel, no Atacama

Agora, se você quiser mesmo curtir dias memoráveis no Atacama, faça já sua reserva em um dos quatro grandes hotéis da cidade: o Awasi, o Explora, o Alto Atacama ou o Tierra. Nesses, as diárias começam na casa dos US$ 500, mas incluem quartos espaçosos e com decoração minimalista, comidas e bebidas em sistema all-inclusive e – para completar – todos os passeios que você quiser fazer, em um veículo exclusivo para o seu grupo, com um guia poliglota que entende de tudo que você eventualmente quiser saber sobre o local visitado. Ah, e em quase todos os passeios é servido um almoço ou um piquenique com vinhos, queijos e outras maravilhas tipicamente chilenas.

No Tierra, que faz parte de uma rede com hotéis também na Patagônia, na região dos lagos de Chiloé e na estação de esqui de Portillo, a arquitetura de suas instalações já vale a viagem. Boa parte dos quartos tem grandes janelas voltadas para o imponente vulcão Licancabur, o guardião da cidadezinha de San Pedro, que tem seu pico a 5.920 metros de altitude em relação ao nível do mar.

Além de massagens relaxantes e terapias revigorantes, o spa do Tierra tem uma piscina aquecida perfeita para você descansar entre um trekking, uma pedalada e uma cavalgada – passeios que também estão incluídos, claro!

Pisco sour com ryca-ryca, servido no charmoso bar do hotel

No bar, mixologistas experientes podem te servir um – ou três, como você preferir – pisco sour incrementado com ryca-ryca, uma perfumada ervinha típica dos altiplanos. Para te dar aquele “up”, no balcão sempre há uma jarra de coca ice tea, bebida preparada com folhinhas dessa planta estimulante típica da vizinha Bolívia, que fica a poucos quilômetros dali.

No restaurante, todas as refeições têm deliciosas opções de pratos elaborados com ingredientes regionais (como o lombo de guanaco e os bolinhos de quinua) ou com os famosos frutos do mar das águas geladas do Oceano Pacífico, como as vieiras, os mexilhões, os locos e a centolla. Tudo isso acompanhado de excelentes vinhos chilenos! Eu já falei que tudo isso está incluído? Então, para comemorar, na hora da sobremesa, não deixe de provar o sorvete de chañar, uma castanha atacamenha com delicioso sabor amendoado e notas de caramelo.

O passeio pela Duna Vale da Lua

Mas ainda tem mais: o Tierra é um hotel que investe pesado em sustentabilidade. Quase toda a energia consumida em suas dependências vem de painéis solares e toda a água utilizada pelos hóspedes é retirada de poços profundos e filtrada em uma estação própria de tratamento. Para reduzir a quantidade de resíduos, toda operação no hotel é praticamente 100% livre de plásticos. Você não verá por lá canudinhos e outros itens descartáveis que só entulham o meio ambiente. A empresa tem como mantras a preservação da natureza, a recuperação de áreas degradadas e o investimento nas pessoas da região.

Por fim, é sempre bom lembrar: existem duas viagens ao Atacama. No verão, o calor é forte e é quando as hordas de jovens mochileiros tomam de assalto o lugar. No inverno, muitos dias têm temperaturas abaixo de zero e várias montanhas da região ficam cobertas de neve. Avalie bem os prós e contras de cada uma dessas opções para evitar perrengues e boa viagem!