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Atração do Rock in Rio, Alok rompe os limites da música eletrônica e surpreende por sua história

por | set 1, 2019 | Pessoas & Ideias | 0 Comentários

Alok foi uma das atrações do festival de música eletrônica

Alok no festival Sunrise em Colberga, na Polônia, em julho deste ano. Fotos: Alisson Demetrio

Na noite de 27 de setembro, abertura da sétima edição do Rock in Rio, o goiano Alok irá se apresentar no gigantesco festival. Frequentador do ranking de melhores DJs do planeta elaborado pela revista britânica “DJ Mag”, bíblia da música eletrônica, ele estará no Palco Mundo, o maior do evento, diante de quase 100 mil pessoas. Alok não se assusta com multidões.

Em julho, foi uma das atrações do Tomorrowland, na Bélgica, o mais badalado festival de música eletrônica do mundo, que recebeu 400 mil pessoas em seis dias. Aos 28 anos, ele acumula uma década e meia de precoce experiência nessa cena musical. Além de bem-sucedido, Alok não é, definitivamente, um DJ como outros.

Apesar de muita gente acreditar que Alok seja pseudônimo artístico, o nome que aparece nos seis passaportes que já teve, lotados de carimbos, é Alok Achkar Peres Petrillo. Na escola, brincadeiras foram inevitáveis, mas hoje ele acredita que não conseguiria escolher nome melhor. “É forte, só quatro letras, fácil, gosto muito. E não conheço outro Alok”, diz, rindo. Filho de DJs que ele chama carinhosamente de “meio hippies, malucões”, seu nome veio de experiências do casal na Índia. Alok, que em sânscrito significa “luz”, tem um irmão gêmeo, não idêntico, chamado Bhaskar, e uma irmã, Jaya.

O nome incomum é hoje apenas um detalhe divertido numa carreira incomparável. Por que ele foi convidado para figurar num Rock in Rio que terá uma constelação pop que inclui Foo Fighters, Drake, Bon Jovi e Iron Maiden? Porque Alok carrega o título de “o brasileiro mais ouvido no mundo”.

Seu som se espalha em performances nos maiores eventos do gênero e pelas músicas que produz e lança de modo incessante. Apenas este ano, ele já soltou dez singles. Os números de visualizações e audições desses hits nas plataformas digitais são medidos na casa das dezenas de milhões de execuções.

Alok rompe os limites da música eletrônica, apresenta um som que mistura gêneros pop sem pudor e com ótimos resultados, aumentando a cada dia sua legião de seguidores. Um bom DJ precisa ter experiência. É necessário passar por vários lugares diferentes para, no jargão desses artistas, saber “ler a pista”, perceber o que o público quer ouvir.

Alok tocou para milhares no maior evento de música eletrônica

Alok se apresentou no festival Tomorrowland, na Bélgica, em julho último

“A escolha das músicas que funciona em um lugar pode fracassar totalmente em outro”, explica. “Já aconteceu de estar tocando e abrir um buraco na pista, a galera perder o interesse. Na minha primeira vez em Portugal, saí vaiado. Eu aprendi. Hoje vou lá e tudo fica lotado. Fui muito à China, lá muda tudo. Não dá para impor o que a gente acha certo para outra cultura, tem que ter versatilidade e ler a pista”.

Ele também sente as diferenças dentro do Brasil. Diz que há influência do nível social das festas e do perfil da casa. Depois de produzir e gravar com estrelas como Matheus & Kauan e Simone & Simaria, ele já lotou muitas vezes o VillaMix, maior reduto paulistano do sertanejo moderno. “Quando eu vou tocar ali, sei que não é o público eletrônico. O ambiente da festa faz com que eles entendam como vou tocar. Quando é uma festa eletrônica, não posso fazer um set igual ao do VillaMix”.

A versatilidade é um ponto fundamental na sua carreira. Ainda pré-adolescente, formou com o irmão o projeto Lógica. Por muitos anos, a dupla criou e apresentou música eletrônica. Em 2010, quando partiu para a carreira solo, abriu a cabeça, como ele mesmo define. Pegou gosto por mashups, as misturas reverenciadas no eletrônico. “Pego a música de um artista, o vocal de outro, a batida de um terceiro. Fazer isso dar certo é precioso para um DJ”.

Seu set tem hoje Pink Floyd, Queen, até Legião Urbana, com músicas como “Pais e Filhos”. “Quando me perguntam, principalmente lá fora, qual é o meu estilo musical, respondo que sou um espírito livre. Faço o que eu acho que é legal”. As parcerias com nomes da cena eletrônica já seriam suficientes para diversificar seu som, mas ele assumiu riscos grandes.

“Fazer som com Matheus & Kauan foi importante naquela aproximação do eletrônico com o sertanejo, eles estavam bombando. Poderia ser um tiro no pé, mas eu acreditava que o meu mercado também poderia ser o sertanejo, então estaria me sabotando se recuasse. Deu supercerto!”

Alok não é apenas um DJ, é um produtor musical e compositor. “Gravo, faço toda a produção. Só não canto, esse dom eu realmente não tenho”. Ele revela que pede ajuda a alguns compositores nas letras, porque acredita ainda não ter a sensibilidade para escrever tão bem em inglês. Cita um exemplo. Pensou no verso “let’s live forever together” (vamos viver juntos para sempre). Depois de um trabalho em parceria, ficou “let’s write our names in the trees” (vamos escrever nossos nomes nas árvores), maneira bem mais lírica para uma jura de amor eterno.

O inglês de Alok é muito bom. Chega a ser engraçado descobrir que ele abandonou a faculdade de relações internacionais. Afinal, aos 17 anos tinha feito turnê com o irmão por 19 países. Já era um adolescente cidadão do mundo. Até agora sua música o levou a 51 países. “Talvez 52, fiz a conta outro dia, mas é difícil ter certeza”.

Alok tem sua própria gravadora e negocia com companhias maiores a distribuição de suas músicas. Tudo é digital, sem lançar CD ou vinil. O ritmo é frenético. Nos últimos meses, soltou dois singles com uma semana de diferença. “Ninguém tem tempo para consumir um álbum”.

As parcerias, em sua maioria, são feitas à distância, trocando arquivos sonoros pela internet. “Já terminei música sem encontrar o parceiro, que acabo conhecendo pessoalmente depois. Alguns eu nunca encontrei. Escrevo alguma coisa, gravo, recebo um vocal, então não gosto e peço outro. E assim vai”.

Claro que existem os parceiros favoritos. Seu maior sucesso chegou com dois amigos. Em 2016, ele, o DJ Bruno Martini e o cantor Marcos Zeeba fizeram uma versão de “Hear Me Now”, composta por Zeeba. Com ela, Alok se tornou o primeiro brasileiro a ter uma música que ultrapassou 100 milhões de audições no Spotify. Sua popularidade permite que trabalhe com nomes poderosos da cena eletrônica mundial e, no Brasil, amplie parcerias com estrelas como Luan Santana e Anitta.

“Eu me vejo hoje como um artista pop que se expressa pelas pick-ups. Quando recebi o convite do Rock in Rio, vi que tinha feito a escolha certa lá atrás. Fiz o certo ao não colocar limites, ao buscar o público sertanejo, as crianças, aceitar tocar em grandes festas de São João no Nordeste. Planejar isso é impossível. Acho que existe uma magia, coisas que você não consegue explicar. Seguir o coração, estar no lugar certo na hora certa. Se disser que tem fórmula para isso, vou estar mentindo.”

Alok diz acreditar que sua vida pessoal, com atuação em projetos sociais, afeta positivamente sua vida profissional. “Se parar de trabalhar por um bem coletivo, acho que minha carreira desanda na hora. É assim que tenho equilíbrio, é com isso que eu faço sentido, sabe?”

Quando já era um sucesso mundial, Alok foi diagnosticado com depressão profunda. Questionava se a vida era apenas ter dinheiro. Mas, aos poucos, foi deixando de se revoltar com o que considerava “gente fútil, preocupada com preços de vinho e relógios”. Pensou em criar um Instituto Alok para filantropia, mas desistiu quando percebeu que embarcaria numa trip de vaidade. “Tinha começado a fazer, tomei um prejuízo enorme, mas vi que o melhor era apoiar causas já estruturadas”.

Com crianças do projeto Fraternidade sem Fronteiras em Moçambique, na África

Ele atua no projeto Fraternidade Sem Fronteiras. Ajudou a construir escolas e hospitais em regiões de extrema pobreza na África. Depois, ao ver pessoas nas mesmas condições no sertão baiano, colocou de pé o projeto Vila da Esperança, em Canudos. Dar uma olhada no WhatsApp de Alok, exibido ao repórter pelo próprio DJ, é perceber que ele faz muito mais do que dar dinheiro. São incontáveis mensagens trocadas com os voluntários dos projetos, trazendo atualizações sobre os trabalhos e discussões sobre as ações.

“Gosto de participar. O lado DJ é uma ferramenta para fazer essa outra parte. Não falo isso numa dimensão religiosa. Falo de equilíbrio, de plantar e colher. O universo tem um caminho a seguir.”

Em qualquer negociação que envolva sua música, ele busca colaboradores. Negocia agora com uma grande empresa do país um contrato que vai além do entretenimento. O dinheiro servirá para levar água a regiões do semiárido do Nordeste.

Esse lado “bom moço” surpreende ainda mais quando fica evidente que ele permanece “careta” num universo de excessos. “Agradeço a Deus ter nascido nessa família bem hippie, alternativa. Essa bagagem é uma das grandes razões por eu ter chegado até aqui. Desde menino sempre tive acesso a tudo, sem tabus”.

Ele considera hipocrisia negar as drogas na cena eletrônica. “Tive a chance de escolher e escolhi. Nunca precisei cheirar pó, aprendi vendo os outros. Já bebi, mas não curto, não gosto de perder a noção. Mas não julgo. A droga é uma fuga, pode ser uma necessidade para se manter são. As pessoas dão duro sem ganhar o que merecem, tomam esculacho do patrão, sofrem violência. Então no fim de semana querem uma anestesia, na droga ou na bebida. Eu não julgo ninguém”. Na rotina alucinante de estúdios e palcos, Alok tem praticamente a agenda de 2020 fechada. Mas sua vida ganhará um novo e muito aguardado integrante. Sua mulher, a baiana Romana Novais, espera o primeiro filho do casal.

Ele acha graça quando é indagado sobre os efeitos que um bebê poderá ter em sua rotina de viagens pelo mundo. “Tenho um time muito bom para cuidar das coisas no trabalho e um time melhor ainda dentro de casa. Estou tranquilo porque sei que a minha mulher será uma mãe incrível”.

No começo de 2020, a chegada da criança coincide com um bom período de Alok no Brasil. “Este ano ainda vou para Estados Unidos e Japão, mas depois o Brasil pega fogo no verão. Tem Réveillon, festivais nas praias, Carnaval, depois as grandes festas de São João. Amo ficar por aqui”.

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