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Eduardo Srur usa a cidade de São Paulo como tela para alertar sobre os problemas ambientais

Eduardo Srur usa a cidade de São Paulo como tela para alertar sobre os problemas ambientais

“Barco sobre um Rio Enterrado“, na margem do rio Pinheiros

A capital paulista é a plataforma de trabalho e o laboratório de pesquisa do artista plástico Eduardo Srur. Desde 2002 esse paulistano de 45 anos, que tem seu ateliê localizado bem em frente ao rio Pinheiros, surpreende com suas intervenções artísticas, focadas nos problemas ambientais.

Srur já colocou 150 caiaques com manequins de plástico nas poluídas águas do rio Pinheiros, espalhou garrafas PETS gigantes nas margens do Tietê, suspendeu uma carruagem a 30 metros de altura na Ponte Estaiada, empilhou quatro mil carrinhos de brinquedo no MAC USP e ocupou o Vale do Anhangabaú com “Farol”, escultura formada por ratos, entre outras obras instigantes.

São trabalhos que chamam a atenção para a poluição dos nossos rios, o consumo de plástico e a mobilidade centrada no carro. Já a construção com 20 mil ratos de borracha nasceu da horrenda constatação de que a metrópole tem uma das maiores populações de ratos do planeta: 170 milhões de roedores, ou seja, 15 por habitante.

“E pelo significado da palavra anhangabaú, que em tupi significa ‘rio do diabo’, porque os índios acreditavam que o local era assombrado. Hoje a cidade encobre este poluído rio e seus afluentes contaminados”, diz Srur, que vê a paisagem urbana como um cenário perfeito para criar, trazendo a reflexão e um novo olhar das pessoas.

Eduardo Srur com seus ratos, parte da escultura “Farol”

O artista se concentra principalmente nos erros ambientais que se naturalizam. “O problema é a gente se anestesiar, achar normal o rio estar morto, a cidade estar entupida de automóveis, poluída, e seguir com a vida de sempre. Outro dia levei a minha filha de cinco anos para pedalar na ciclovia do rio Pinheiros e ela falou do cheiro. E eu expliquei que a gente mora ao lado de um rio muito sujo, uma vergonha. Não dá para esconder essas distorções. Quando as crianças crescem encarando isso como normalidade elas tendem a ser passivas no futuro”.

A mais nova intervenção de Srur está no rio que ele avista diariamente de sua janela. A obra “Barco sobre um Rio Enterrado“ foi colocada no final de junho na margem do rio Pinheiros, perto da ponte Cidade Jardim. “O barco ficará ali para provocar: ele navega ou não navega?”. O artista irá documentar o barco ao longo do tempo, mostrando sua desintegração pela sujeira e pelo descaso.