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Fernanda Abreu, a garota do Rio 40 Graus

Fernanda Abreu, a garota do Rio 40 Graus

Toda semana ela está na ponte aérea. A carioquíssima Fernanda Abreu é casada há seis anos com o músico paulistano Tuto Ferraz e os dois preferem viver em suas cidades de origem. “Assim, nossos encontros ficam ainda melhores”, ela diz, com seu sotaque carioca cheio de charme.

A conversa com a cantora e compositora, que atualmente viaja pelo Brasil com o seu show “Amor Geral”, aconteceu em um café do Bossa Nova Mall, o shopping colado ao Aeroporto Santos Dumont que tem uma belíssima vista para a Baía da Guanabara.

Em quase uma hora de papo Fernanda mostrou sua indignação com o cenário político do país, se emocionou ao falar de Tuto e de suas filhas, Sofia, 25 anos, e Alice, 19, e relembrou a fase da Banda Blitz nos anos 1980, um fenômeno pop rock que começou debaixo das lonas do Circo Voador, no Arpoador, e em pouco tempo invadiu rádio e tevê, contagiando toda uma geração. “As minhas filhas perguntam como era, e eu digo que era como Justin Bieber: a gente fazia shows em estádio de futebol, os fãs ficavam no hotel gritando, gente procurando no aeroporto, uma loucura”, ela conta.

A garota que foi backing vocal de Evandro Mesquita na Blitz, aos 19 anos, depois se lançou em carreira solo de sucesso, sendo conhecida como a precursora da dance music, a primeira estrela da música pop no Brasil.

Autora de hinos cariocas irreverentes e dançantes como “Rio 40 Graus”, “Veneno da Lata”, “Garota Sangue Bom” e “Kátia Flávia”, Fernanda hoje se surpreende com o público jovem que a segue pelo Youtube e o Spotify. “Eles acham que essas músicas foram feitas agora!” E elas realmente são atuais e cheias de frescor, como é essa artista que completará 57 anos em 8 de setembro com corpo e flexibilidade de bailarina. Confira a seguir os principais trechos da entrevista com Fernanda Abreu.

ENTRE O RIO E SÃO PAULO

“Eu e o Tuto Ferraz, baterista e produtor musical, resolvemos ficar nessa ponte aérea, em uma relação que mistura a nossa vida pessoal, o trabalho e o Rio e São Paulo. Quando vem para cá, ele adora surfar, andar de skate e caminhar pela orla. E eu amo a vida cultural de São Paulo, as exposições e a qualidade dos serviços. Aqui eu tenho a minha casa, com estúdio, onde moro com as minhas filhas. O Tuto também tem um estúdio na casa dele, no Sumaré, um bairro lindo. A gente não pensa em morar junto porque desse jeito está ótimo”.

 

AMOR GERAL

“O meu mais recente trabalho, “Amor Geral”, lançado em 2016, foi motivado pela vontade de falar sobre o amor. Não só do amor romântico, mas do amor da coletividade, do desejo de enxergar o outro e aceitá-lo. Porque o respeito é a base do amor. Nesse período de grande intolerância nas redes sociais, ódio, cinismo e indiferença, o amor é o verdadeiro antídoto. A violência contra a mulher, contra os gays, o preconceito contra o negro, isso para mim é barbárie. Não é século 21, é a involução do ser humano.”

 

INSPIRAÇÃO E PAIXÃO

“O encontro com o Tuto deu um up na minha vida, porque nessa época eu estava passando por um momento muito difícil. Estava sofrendo com a doença da minha mãe, que ficou durante seis anos em coma, ao mesmo tempo que vivia um processo de separação do meu casamento de 27 anos com o designer Luis Stein. A paixão pelo Tuto e essa energia nova me inspiraram a criar o CD “Amor Geral”.

 

COMO JUSTIN BIEBER

“Comecei no pop rock nos anos 1980 na Banda Blitz. Era a geração dos Paralamas, Barão Vermelho, Legião Urbana, Titãs, Kid Abelha… Foi com o compacto “Você Não Soube Me Amar” que a Blitz estourou no Brasil: a gente vendeu um milhão de discos. As minhas filhas perguntam como era, e eu digo que era como Justin Bieber: shows em estádios, os fãs ficavam no hotel gritando, gente procurando no aeroporto, uma loucura.”

 

CAETANO VELOSO NA AREIA

Quando eu tinha 17 anos e ia muito ao posto 9, na praia de Ipanema, olhava para o lado e via, numa canga bem grande, a Regina Casé, o Caetano Veloso e o Cazuza tomando sol. Eu pensava: ‘quando eu fizer música, vou querer ser igual ao Caetano Veloso, todo relax’. Eu nunca deixei de andar a pé, de cumprimentar o jornaleiro, de ir à praia e encontrar as pessoas na rua. Fico triste quando vejo os prédios no Rio e em São Paulo cheios de grades, as pessoas com insulfilm. Devia ser o contrário, pois isso não provoca o encontro, a gente não vê o coletivo no Brasil. Uma das coisas mais bacanas da vida é encontrar as pessoas. Não adianta chegar ao final da vida cheio de bens materiais se você não teve encontros incríveis. Isso é que faz valer a pena viver”.

 

DANÇA COMIGO!

“Em 1990 eu lancei o “Sla Radical Disco Dance Club”, o primeiro disco da minha carreira solo e que inaugurou o pop dançante, foi realmente inovador na época. O pop é a minha praia, sempre foi. Gosto de soul, de black, de batida, de música dançante. Nos meus shows as pessoas dançam o tempo todo. Gosto tanto de dança que quis trazer para o centro do palco uma bailarina, que participa de todos os shows. No ano passado, no Rock in Rio, acabou rolando uma coisa ainda mais especial com a companhia de dança Focus, e o espetáculo ficou maravilhoso.”

 

VALORES DE FAMÍLIA

“A minha filha Sofia está se formando em medicina no final do ano pela UFRJ, e está fazendo prova para neurologia. A Alice acabou de passar no vestibular de história e de moda. As duas são bem situadas. Eu acredito que a família e a convivência com os pais, com os avós, trazem valores importantes e o exercício do pensamento crítico. Isso é que forma a criança e o adolescente para ter um olhar reflexivo sobre o que está acontecendo. São valores que a gente tem que estar o tempo todo martelando, porque o mundo vai puxando para tudo que é lugar. Os ímãs são imensos.”

 

COMO NOSSOS PAIS

Meu avô chegou em 1946 de Portugal e foi ser vitrinista da Mesbla, e ao lado da minha avó, que trabalhou como caixa na loja, conseguiu botar os dois filhos na universidade. Meu pai é arquiteto, meu tio era pintor. O trabalho foi um valor importante para a minha família. A minha mãe também trabalhou a vida inteira e sempre passou para mim a mensagem de que a força do trabalho é a independência. Ela dizia: ‘Não tem essa coisa de marido, de casar. Isso é uma consequência se você se apaixonar por alguém, mas a sua vida é você quem faz’. Aprendemos muito com os pais. Ao longo da vida a gente vai percebendo que os ensinamentos são muito profundos e poderosos”.

 

O RIO HOJE

“Sou apaixonada pelo Rio e vejo que estamos passando por um momento bem difícil, depois de anos de governança complicada e muita corrupção. A cidade não é administrada de forma a capitalizar o que ela tem de importante, como o turismo. O turismo ecológico, as cachoeiras, as praias, a gente vê que nem se liga para isso, é uma coisa até desprezada. Em cidades como Praga, que recebe sete milhões de turistas por ano, há uma economia fantástica e todo um incentivo para esse mercado. O Rio é uma cidade moderna, cosmopolita, e ao mesmo tempo tem essa coisa lúdica da natureza, da paisagem. É uma grande cidade que tem cachoeiras, lagoas, trilhas, praias, um privilégio e um patrimônio que não são trabalhados há anos”.

 

SEM RESPOSTA

“Nos últimos anos eu tenho sentido o carioca mais desanimado. Não só com a cidade, mas com a corrupção que deprime o brasileiro e leva o país para um lugar de ainda mais desigualdade, o que gera violência. A morte da Marielle é um  exemplo disso. As famílias, o Rio, o Brasil e o mundo ainda estão sem resposta sobre os mandantes desse crime político e desse atentado à democracia.”

 

INCLUSÃO NECESSÁRIA

“Mais lamentável que o Bolsonaro é a quantidade de jovens que curtem os seus comentários violentos e homofóbicos e pensam em votar nele. Isso me assusta. Hoje as pessoas precisam falar mesmo sobre isso, sobre a questão do gênero, porque tem muitas crianças e jovens que não se veem nos seus corpos. Isso é a coisa boa da nossa época: conseguir falar, conseguir ter uma voz. Mostrar para uma parte da sociedade que elas podem se olhar e se reconhecer, que não devem se sentir excluídas.”

 

JUNTO E MISTURADO

“Estou fazendo a turnê do CD ‘Amor Geral’, que está indo muito bem. Também lancei a ‘Torcida Brasil’ para a Copa, com dois novos singles, e vou lançar neste segundo semestre um CD de participações especiais, o ‘Mixturado’, que reúne músicas espalhadas que gravei e que vou compilar para os fãs. Os DJs adoram meu som e vou fazer um remix bacana. E em 2019 pretendo lançar um novo disco.”

 

“Uma das coisas mais bacanas da vida é encontrar as pessoas. Não adianta chegar ao final da vida cheio de bens materiais se você não teve encontros incríveis. Isso é que faz valer a pena viver”

 

A GAROTADA NOS SHOWS

“Além do público de 35 a 60 anos que me acompanha, tem uma garotada que entrou em contato com meu trabalho pelo Spotify, pelas novas plataformas, pelo Youtube e está indo aos shows e ficando fã. Aí começa a procurar o material antigo. Outro dia, veio um menino falar comigo: ‘Nossa, a sua música nova, Kátia Flávia!’. Eu ri e expliquei que essa música tem 21 anos… Mas ela parece que foi feita ontem, é como o ‘Rio 40 graus’, que tem uma letra impressionante”.

 

ESPACATES NO PALCO

“Eu adoro dança e continuo fazendo balé, além de pilates e yoga. Eu me formei no Rio com a Tatiana Leskowa, que hoje está com 96 anos e é uma bailarina e uma mulher incrível. Ela viaja pelo mundo a convite de companhias como o Balé da Ópera de Paris, pois é a testemunha das coreografias do russo George Balanchine, com quem trabalhou. O balé me deu determinação, disciplina e humildade. Porque você sempre pode estar melhor nos ensaios, sempre pode ir além, nunca deita nos seus louros. A gente tinha aula de música, sentava e aprendia compasso, leitura. Uma formação que eu levo até hoje e que está nas minhas células.”

 

ENVELHECER COM RUGAS

“Existe essa pressão de ficar bem, jovem e magra, mas a gente tem que entender que o corpo é uma máquina que não vai funcionar da mesma maneira para sempre. É preciso respeitar isso. Não penso tanto no envelhecimento, e sinto que a minha energia vital é muito potente. Acho interessante poder mostrar uma imagem de alguém que envelhece com rugas, afinal a vida é assim, né? Ter exemplos de mulheres que envelhecem bem: Maria Bethânia, Fernanda Montenegro. Meu sonho de consumo é chegar aos quase 90 anos com a lucidez, a inteligência, a beleza, a vivacidade e a forma física dessa atriz maravilhosa.”

29HORAS NO RIO COM FERNANDA ABREU:

“São tantos lugares…”, diz a cantora. “Tem o Museu do Amanhã, o Museu do Mar, o Boulevard Olímpico e a Praça Mauá, a parte revitalizada do Porto. Também adoro caminhar na Pista Claudio Coutinho na Urca e aproveitar e subir o Bondinho, especialmente se tiver rolando um show lá em cima”. Ela também ama o bairro de Santa Tereza, comer no Aprazível. E para um dia na zona sul sugere esses programas:

Manhã: “Dar um mergulho no mar e tomar um café da manhã no Talho Capixaba, no Leblon.” Av. Ataulfo de Paiva, 1022, Leblon, tel. 21 2512-8760

Tarde: “Caminhar na Lagoa e almoçar no Bar Lagoa.” Av. Epitácio Pessoa, 1674, Lagoa, tel. 21 2523-1135

Noite: “Jantar com amigos no Restaurante da Jojô, no Horto, e depois esticar para o Bar Cervantes, em Copacabana”. Jojô Café Bistrô – Rua Pacheco Leão, 812, Horto, tel. 21 3565-9007. Bar Cervantes – Av. Prado Júnior, 335, tel. 21 2275-6147

 

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Conheça a Ístria, a Toscana croata

Conheça a Ístria, a Toscana croata

Motovun, na Ístria central, mostra semelhanças com a Toscana/ Foto de Opis Zagreb via Shutterstock

No alto das colinas, campanários e muros medievais de pequenos vilarejos, como Motuvun, com menos de mil habitantes, se sucedem numa paisagem verde dominada pelos olivais e vinhedos e por uma surpreendente gastronomia. Toscana? Não. Estamos na Ístria, uma das gratas surpresas da Croácia, país recentemente escancarado ao mundo por seus bravos futebolistas e uma simpática presidente vestindo roupa quadriculada de vermelho, como a bandeira do país.

Quase impossível não comparar a península da Ístria, a noroeste da Croácia, com a Toscana. Ainda mais que, em algumas dessas cidades, boa parte da população é de etnia italiana e a língua de Dante Alighieri é falada amplamente pela população. Mas as semelhanças continuam.

Na Ístria são produzidos azeites campeões em concursos internacionais que podem ser picantes, harmoniosos ou suaves, dependendo do solo. As produções são pequenas e cuidadas com esmero, geralmente pelo dono, já que não há latifúndios por lá. Mas os moradores da região também se orgulham de seus vinhos, especialmente os brancos elaborados com a Malvazija, a uva local, ou os tintos Teran e Refošk, ou ainda o Muscat. Graças à sua posição geográfica, clima e composição do solo, a Ístria central reúne dezenas de produtores de vinhos de alta qualidade, especialmente espumantes que, segundo conta a lenda, foram introduzidos no país graças a um soldado das tropas napoleônicas. Ferido e acudido por uma jovem croata, ele teria ensinado a ela o segredo dos espumantes. Si non é vero….

Pršut, a versão croata do prosciutto/ Foto DagmarPapp via Shutterstock

Outro patrimônio da Ístria são os embutidos, e em especial o pršut, presunto defumado que tem certificado de proteção da União Europeia. Os queijos – feitos tanto de leite de ovelha como de vaca – são maravilhosos e, ao lado das trufas negras e brancas, abundantes sob os carvalhos da região, compõem o tesouro de delícias da região. Nas adegas e nas produtoras de azeite os proprietários estão prontos a oferecer essa experiência aos estarrecidos visitantes. Na rota dos azeites de Buzeština, por exemplo, um verdadeiro caminho gourmet – com paradas em diversos produtores para conhecer as variedades e chuchar pão em potinhos de azeite em cada uma delas – espera o visitante. Dá para resistir? (www.tz-buzet.hr/en/gourmet/olive-oil-trails).

A posição geográfica da ensolarada Ístria (2.400 horas de sol por ano), vizinha da Itália e “pendurada” sobre o mar Adriático, favoreceu a invasão de Roma, da República de Veneza, do Império Austro-Húngaro, de Napoleão, e a ocupação italiana entre guerras. Cada qual deixou sua marca que, associada à origem eslava, deu características especiais à região. Os pequenos burgos medievais estão ali com suas casas de pedras e seus terraços avistando vales. Grožnjan é um deles, encarapitado numa colina, com suas casas seculares, janelas floridas de gerânios e uma imensa sensação de paz. Muitas dessas edificações acolhem estúdios de artistas plásticos e galerias, que dão um colorido ainda maior ao passeio. 

A riviera croata

O charme da riviera em Rovinj/ Foto Andrew Mayovskyy via Shutterstock

Se o interior da Ístria parece a Toscana, Rovinj, disputado destino turístico no litoral, lembra a riviera italiana e tem um jeitão da Ligúria, com seus casarões grudados uns nos outros debruçados sobre o Adriático. Combina o charme do emaranhado de ruelas estreitas e íngremes repletas de ateliês de artistas plásticos e artesãos, onde carro não entra, com um agito de praias, bares e restaurantes. Vale a pena caminhar à beira-mar, se enveredar por vielas na parte antiga e terminar na praça da feira para comprar azeite trufado ou pasta de trufas, levando na mala o sabor mais típico da Ístria.

Peixes e frutos do mar dominam a gastronomia no litoral que, como no restante do país, tem águas limpíssimas e que garantem sabor especial ao pescado. 

Nesses pouco mais de 3 mil km² de território a Ístria ainda abriga outras peculiaridades. Hum é um exemplo: trata-se da menor cidade do mundo, com apenas 17 habitantes e nascida na era medieval. Ela é completamente cercada por muros antigos. O município de Pula, onde a presença romana na península está testemunhada pelo Coliseu de Pula, lindamente preservado, é outro lugar imperdível. Hoje tem sido palco de shows de rock e de música erudita, quando chega a abrigar até 8 mil pessoas.

O Coliseu da cidade de Pula/ Ivana Vrnoga via Shutterstock

Muitos caminhos levam à Ístria. Por via aérea, o aeroporto internacional de Pula é uma opção, mas também é possível cruzar o mar Adriático com ferry boats a partir de Veneza no verão. E durante o ano todo, via rodoviária, de Trieste ou de Zagreb, a capital da Croácia.

De bike pela Ístria

Aos amantes das magrelas, a Ístria pode ser especial, com rotas muito bem demarcadas e sinalizadas, apoio terrestre e cenários variados. Pedalando nas cidades, nas trilhas dos bosques e nas rotas que atravessam campos e vinhedos é possível chegar a lugares que não constam nos programas turísticos. Escritórios locais fornecem mapas e rotas que têm o apoio de hospedagem e acompanhamento por guia licenciado (biketours-istria.com/bike-bed). As rotas na Ístria somam cerca de 300 km e podem explorar as montanhas ou o litoral com programas variados. istria-bike.com.

O paraíso das trufas

É nos bosques de Motovun (Motovunska šuma), junto ao rio Mirna, aos pés da muralha da cidade de mesmo nome, que se esconde o principal habitat da trufa branca, a Tuber Magnatum Pico. Essa joia que dorme aos pés dos carvalhos pode alcançar os três mil euros por quilo. E foi ali que encontraram a trufa maior do mundo, com 1,31 kg, devidamente registrada no Guiness de Records. O outono é a estação das trufas, quando acontecem as “caçadas” e também o festival que a celebra, nos Tartufi Days, com feira, degustação e uma série de eventos (sajamtartufa.com). Participar da caçada às trufas é possível a qualquer visitante, aos sábados e domingos, durante o festival. Um caçador licenciado, acompanhado de seus cachorros, se embrenha com o grupo pelos bosques de Motovun, em busca desses cogumelos. Neste ano, a aventura irá acontecer de 15 de setembro a 18 de novembro. Para quem quer apenas experimentar essa delícia, é possível provar o sabor peculiar da trufa em omeletes ou risotos.

Especial Saúde: A contribuição da tecnologia nas cirurgias

Especial Saúde: A contribuição da tecnologia nas cirurgias

Foto de rawpixel via Unsplash

Cirurgia robótica

A medicina está em constante mudança e durante a sua história é possível observar marcos verdadeiramente revolucionários. Tratamentos que hoje temos como básicos e indispensáveis são frutos de décadas de evolução e estudo. Basta imaginar que havia uma época em que realizar cirurgias sem o uso de anestesia era uma realidade.

Já houve grandes conquistas, como o surgimento dos exames por imagem e também da videolaparoscopia – intervenção cirúrgica minimamente invasiva e com auxílio de vídeo. A cirurgia com apoio da robótica é, na verdade, usada como um upgrade desta técnica, tendo surgido no início dos anos 2000, inicialmente muito forte na urologia, principalmente no tratamento do câncer de próstata.

O cirurgião oncologista e líder médico da Cirurgia Robótica do A.C. Camargo Cancer Center, Stênio de Cássio Zequi, comenta: “O primeiro passo foi a saída da cirurgia aberta para as minimamente invasivas. As incisões diminuíram e surgiu a videolaparoscopia. Os europeus desenvolveram bastante essa técnica que tem, contudo, algumas limitações. Ela permite uma visão 2D, sem noção de profundidade, e as pinças não são articuladas. Além disso, o cirurgião opera em pé, o que cansa mais. Nesse sentido, cirurgias mais complexas, que exigem, por exemplo, a reconstrução de um órgão, ficam mais trabalhosas. Por isso, a robótica foi uma evolução”.

Stênio menciona algumas das vantagens: “A assistência robótica permite que o cirurgião tenha uma visão tridimensional. Você ganha noção de profundidade, uma qualidade superior de visão, e as pinças são articuladas, o que permite mais movimentos.”

Além disso, ele observa que o paciente tem seu tempo de internação reduzido – até porque tem um sangramento menor –, com a vantagem de poder voltar mais cedo a suas atividades profissionais ou mesmo esportivas. Isso também interfere no próprio ambiente administrativo hospitalar, uma vez que o paciente fica menos tempo no leito.

O A.C. Camargo Cancer Center alcançou em julho a marca de duas mil cirurgias robóticas realizadas em cinco anos. Entre seus equipamentos estão o robô Da Vinci e o HIFU, um ultrassom de alta intensidade – é uma técnica minimamente invasiva que ataca, de forma focalizada, alvos diminutos e os destrói sob uma temperatura de 90 graus.

Inteligência Artificial para o diagnóstico

Se existe um avanço tecnológico que pode ser a próxima revolução na medicina, ele é a Inteligência Artificial. O conceito de Inteligência Artificial é amplo e abrange uma variedade de subcampos e técnicas, como aprendizado de máquina (machine learning) e processamento de linguagem natural. Uma das empresas mais reconhecidas nessa área é a IBM, criadora do IBM Watson, plataforma de inteligência artificial na nuvem para negócios que tem como objetivo emular algumas das capacidades cognitivas dos seres humanos como aprendizado (por meio da coleta de resultados e feedback) e entendimento (pelo processamento e a interpretação de dados em grande escala).

No caso do Watson Health, a plataforma é voltada para solucionar grandes desafios do setor de saúde, como oncologia, diabetes e desenvolvimento de novas drogas, entre outros.

Gustavo Bravo, especialista nas soluções de Watson Health e responsável pelo suporte a clientes, menciona alguns cases de uso da IA no Brasil: “No Instituto do Câncer do Ceará, é utilizada a plataforma de suporte à decisão médica, Watson for Oncology, que auxilia o médico na coleta de informações do paciente e explora opções de tratamento com suas devidas evidências científicas orientadas ao perfil. Já para o Fleury foi desenvolvido o exame Oncofoco, que combina a metodologia de sequenciamento de DNA com a tecnologia cognitiva do Watson for Genomics para avaliação do perfil genético tumoral, o que auxilia na assistência personalizada dos pacientes com casos de câncer complexos.”

Gustavo acredita em uma parceria entre a tecnologia e o ser humano que possa trazer o melhor dos dois mundos. Algo que podemos definir como “inteligência aumentada”. “O Watson pode auxiliar o médico em tarefas que são humanamente impossíveis, como a leitura de milhões de artigos científicos em segundos. Ao mesmo tempo, isso pode possibilitar que o médico tenha mais tempo para promover o que é realmente insubstituível, que é a interação maior com o paciente, um terreno repleto de nuances que a máquina não consegue detectar. Portanto, juntos podemos melhorar a forma como a medicina é praticada”, conclui o especialista.