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Normandia: a paisagem viva das obras impressionistas

Normandia: a paisagem viva das obras impressionistas

Nas paisagens da Normandia, as telas grandes artistas impressionistas, como Claude Monet

Foi o cenário romântico de Honfleur, com suas ruas medievais entre duas colinas e o velho porto, na Normandia, que atraiu, no início do século 19, paisagistas e aquarelistas de diferentes nacionalidades à região. Mas quem definitivamente colocou Honfleur no mapa das artes foi Eugène Boudin, nascido nessa pequena aldeia de pescadores ao norte da França e conhecido como um dos precursores do impressionismo.

Em caminhadas pela costa normanda, pintando ao ar livre, Boudin apresentou as pinceladas soltas e a valorização da luz ao jovem Claude Monet que, mais tarde, seria o mais aclamado entre os impressionistas franceses.

Além da pequena Honfleur, a rota do impressionismo na Normandia tem dois outros destinos imperdíveis: Giverny, onde a casa e os jardins de Monet testemunham a sua história, e Auvers sur Oise, o último endereço de Vincent Van Gogh.

Quase duzentos anos se passaram desde que Boudin reunia amigos como Pissarro, Renoir, Cèzane, Jongkind, Monet, além de poetas como Baudelaire, para temporadas, a 40 francos por mês, na La Ferme Saint-Simeon – a hospedaria, berço do movimento impressionista, que foi transformada, em 1964, em um belíssimo hotel cinco estrelas da rede Relais Chateaux (20, Route Adolphe Marais).

Honfleur mantém seu encanto e ainda atrai pintores com seus cavaletes diante da baía de Santa Catarina, hoje povoada não mais por barcos de pesca mas por veleiros de lazer.

Nas vielas estreitas da Honfleur medieval, cujos primeiros registros são do século 11, as velhas casas abrigam hoje boutiques que, com a elegância e o bom gosto típico francês, vendem de tudo com uma dose extra de charme: de sabonetes e cremes artesanais a cerâmicas e chocolates ecológicos. Honfleur foi o cais de onde partiram os franceses que fundaram Quebec e, por estar às margens do Sena, foi importante na rota comercial com a Inglaterra.

Porto Le Havre, em Honfleur

Hoje o Le Havre, ali pertinho, é o principal porto, e Honfleur um balneário que atrai milhares de turistas no verão, ampliando em muito sua população de aproximadamente 8 mil habitantes.

Os visitantes vão atrás de joias arquitetônicas seculares, como a igreja de Santa Catarina, construída entre 1466 e 1497 toda em madeira. A gastronomia é outro ponto de atração: uma vez ali, não deixe de experimentar a galette, um tipo de panqueca recheada quase sempre com queijo gruyère. Também são imperdíveis os pratos de frutos do mar – especialmente as moules, os mexilhões à francesa acompanhados de sidra, bebida típica da Normandia.

Visitando Monet

Claude Monet já passava dos 40 anos quando comprou a propriedade abandonada que ele transformou em obra de arte floral com suas próprias mãos e se tornou o principal tema de suas pinturas.

Giverny, onde ficam a casa e os jardins de Monet, é um dos passeios mais encantadores perto de Paris. Fica a apenas 30 quilômetros da capital francesa, bem no início da Normandia. O lugarejo tem apenas 500 habitantes, entre eles muitos aposentados em busca de melhores preços e sossego – este item nem sempre é possível para quem mora próximo à casa e aos jardins de Monet, que recebe anualmente mais de meio milhão de visitantes.

Visitar os Jardins de Monet é como estar na casa de um amigo, tão familiares são aqueles jardins tantas vezes mostrados, seja em fotos ou na reprodução das pinturas. Andando fora ou dentro da casa, magnificamente preservada com mobiliário e objetos, tal qual era, o visitante é capaz de sentir a atmosfera que reinava por lá… Ou ainda devanear visualizando o próprio pintor em seu estúdio, admirando os jardins que ele mesmo plantou.

A casa de Monet, em Giverny

O passeio começa sempre pelo Jardim Normando, o primeiro que Monet formou como uma verdadeira paleta de cores, misturando espécies rústicas com rosas e dálias, colocando arcos metálicos no caminho central onde capuchinhas, rosas perfumadas, dálias, peônias, papoulas, íris e narcisos continuam a encantar os visitantes, numa mistura aparentemente desordenada, mas que segue uma incrível harmonia de cores.

A etapa seguinte leva ao Le Jardin D’Eau, que Monet começou a formar dez anos após se instalar em Giverny, acessível por travessia subterrânea. É ali que você reconhece as muitas telas que celebrizaram Monet, especialmente as “Nympheas”, série de 250 telas que ele pintou nos últimos trinta anos de sua vida.

Antes de visitar a casa de Monet, vale a pena andar por Giverny e sentir a atmosfera de encantamento, com os muitos ateliês de pintura e casas com janelas românticas e cortinas quadriculadas, como se espera do cenário do interior da França.

A Casa de Van Gogh

Depois de peregrinar por inúmeros endereços na França, Vincent Van Gogh alugou, por 3,5 francos por dia, um pequenino quarto de 7m² com uma única claraboia no Auberge Ravoux, em Auvers-sur-Oise. Neste vilarejo a 30 km de Paris ele passou os últimos 70 dias de sua vida e produziu mais do que uma tela por dia. A cidade ainda respira Van Gogh.

O Auberge Ravoux continua lá, e seu restaurante, decorado da mesma forma, funciona regularmente. O quarto nº 5, fechado durante cem anos, permanece como era quando o artista ali morreu ao lado de seu irmão, Theo, após alguns dias de agonia. As visitas ao quarto nº 5 são possíveis de quarta a domingo (6 euros por pessoa) de março a novembro, precedidas de apresentação de audiovisual sobre a vida de Van Gogh em Auvers-sur-Oise.

O albergue onde Van Gogh viveu

O passeio ao último endereço de Van Gogh inclui caminhada pelo vilarejo durante a qual é possível reconhecer a igreja, as casas, as ruas, o castelo e os campos pintados por ele.

Mais do que os impressionistas

Em razão da proximidade de Paris, geralmente os passeios guiados a Giverny e Auvers-sur-Oise combinam os dois destinos num único dia, o que permite ver, mas não favorece em nada a vivência dos lugares. Se você tiver mais tempo, a viagem certamente será enriquecida.

Já Honfleur, a 192 km de Paris, demanda mais dias e se encaixa perfeitamente em rotas da Normandia. É lá que fica Rouen, a cidade de Joana D’Arc, patrona do país, e Lisieux, o Santuário de Santa Teresinha, além das praias do histórico desembarque do Dia D, na Segunda Guerra Mundial. É na Normandia que se produz o original queijo Camembert e também o Calvados, destilado de maçãs com denominação de origem.

Conheça a Ístria, a Toscana croata

Conheça a Ístria, a Toscana croata

Motovun, na Ístria central, mostra semelhanças com a Toscana/ Foto de Opis Zagreb via Shutterstock

No alto das colinas, campanários e muros medievais de pequenos vilarejos, como Motuvun, com menos de mil habitantes, se sucedem numa paisagem verde dominada pelos olivais e vinhedos e por uma surpreendente gastronomia. Toscana? Não. Estamos na Ístria, uma das gratas surpresas da Croácia, país recentemente escancarado ao mundo por seus bravos futebolistas e uma simpática presidente vestindo roupa quadriculada de vermelho, como a bandeira do país.

Quase impossível não comparar a península da Ístria, a noroeste da Croácia, com a Toscana. Ainda mais que, em algumas dessas cidades, boa parte da população é de etnia italiana e a língua de Dante Alighieri é falada amplamente pela população. Mas as semelhanças continuam.

Na Ístria são produzidos azeites campeões em concursos internacionais que podem ser picantes, harmoniosos ou suaves, dependendo do solo. As produções são pequenas e cuidadas com esmero, geralmente pelo dono, já que não há latifúndios por lá. Mas os moradores da região também se orgulham de seus vinhos, especialmente os brancos elaborados com a Malvazija, a uva local, ou os tintos Teran e Refošk, ou ainda o Muscat. Graças à sua posição geográfica, clima e composição do solo, a Ístria central reúne dezenas de produtores de vinhos de alta qualidade, especialmente espumantes que, segundo conta a lenda, foram introduzidos no país graças a um soldado das tropas napoleônicas. Ferido e acudido por uma jovem croata, ele teria ensinado a ela o segredo dos espumantes. Si non é vero….

Pršut, a versão croata do prosciutto/ Foto DagmarPapp via Shutterstock

Outro patrimônio da Ístria são os embutidos, e em especial o pršut, presunto defumado que tem certificado de proteção da União Europeia. Os queijos – feitos tanto de leite de ovelha como de vaca – são maravilhosos e, ao lado das trufas negras e brancas, abundantes sob os carvalhos da região, compõem o tesouro de delícias da região. Nas adegas e nas produtoras de azeite os proprietários estão prontos a oferecer essa experiência aos estarrecidos visitantes. Na rota dos azeites de Buzeština, por exemplo, um verdadeiro caminho gourmet – com paradas em diversos produtores para conhecer as variedades e chuchar pão em potinhos de azeite em cada uma delas – espera o visitante. Dá para resistir? (www.tz-buzet.hr/en/gourmet/olive-oil-trails).

A posição geográfica da ensolarada Ístria (2.400 horas de sol por ano), vizinha da Itália e “pendurada” sobre o mar Adriático, favoreceu a invasão de Roma, da República de Veneza, do Império Austro-Húngaro, de Napoleão, e a ocupação italiana entre guerras. Cada qual deixou sua marca que, associada à origem eslava, deu características especiais à região. Os pequenos burgos medievais estão ali com suas casas de pedras e seus terraços avistando vales. Grožnjan é um deles, encarapitado numa colina, com suas casas seculares, janelas floridas de gerânios e uma imensa sensação de paz. Muitas dessas edificações acolhem estúdios de artistas plásticos e galerias, que dão um colorido ainda maior ao passeio. 

A riviera croata

O charme da riviera em Rovinj/ Foto Andrew Mayovskyy via Shutterstock

Se o interior da Ístria parece a Toscana, Rovinj, disputado destino turístico no litoral, lembra a riviera italiana e tem um jeitão da Ligúria, com seus casarões grudados uns nos outros debruçados sobre o Adriático. Combina o charme do emaranhado de ruelas estreitas e íngremes repletas de ateliês de artistas plásticos e artesãos, onde carro não entra, com um agito de praias, bares e restaurantes. Vale a pena caminhar à beira-mar, se enveredar por vielas na parte antiga e terminar na praça da feira para comprar azeite trufado ou pasta de trufas, levando na mala o sabor mais típico da Ístria.

Peixes e frutos do mar dominam a gastronomia no litoral que, como no restante do país, tem águas limpíssimas e que garantem sabor especial ao pescado. 

Nesses pouco mais de 3 mil km² de território a Ístria ainda abriga outras peculiaridades. Hum é um exemplo: trata-se da menor cidade do mundo, com apenas 17 habitantes e nascida na era medieval. Ela é completamente cercada por muros antigos. O município de Pula, onde a presença romana na península está testemunhada pelo Coliseu de Pula, lindamente preservado, é outro lugar imperdível. Hoje tem sido palco de shows de rock e de música erudita, quando chega a abrigar até 8 mil pessoas.

O Coliseu da cidade de Pula/ Ivana Vrnoga via Shutterstock

Muitos caminhos levam à Ístria. Por via aérea, o aeroporto internacional de Pula é uma opção, mas também é possível cruzar o mar Adriático com ferry boats a partir de Veneza no verão. E durante o ano todo, via rodoviária, de Trieste ou de Zagreb, a capital da Croácia.

De bike pela Ístria

Aos amantes das magrelas, a Ístria pode ser especial, com rotas muito bem demarcadas e sinalizadas, apoio terrestre e cenários variados. Pedalando nas cidades, nas trilhas dos bosques e nas rotas que atravessam campos e vinhedos é possível chegar a lugares que não constam nos programas turísticos. Escritórios locais fornecem mapas e rotas que têm o apoio de hospedagem e acompanhamento por guia licenciado (biketours-istria.com/bike-bed). As rotas na Ístria somam cerca de 300 km e podem explorar as montanhas ou o litoral com programas variados. istria-bike.com.

O paraíso das trufas

É nos bosques de Motovun (Motovunska šuma), junto ao rio Mirna, aos pés da muralha da cidade de mesmo nome, que se esconde o principal habitat da trufa branca, a Tuber Magnatum Pico. Essa joia que dorme aos pés dos carvalhos pode alcançar os três mil euros por quilo. E foi ali que encontraram a trufa maior do mundo, com 1,31 kg, devidamente registrada no Guiness de Records. O outono é a estação das trufas, quando acontecem as “caçadas” e também o festival que a celebra, nos Tartufi Days, com feira, degustação e uma série de eventos (sajamtartufa.com). Participar da caçada às trufas é possível a qualquer visitante, aos sábados e domingos, durante o festival. Um caçador licenciado, acompanhado de seus cachorros, se embrenha com o grupo pelos bosques de Motovun, em busca desses cogumelos. Neste ano, a aventura irá acontecer de 15 de setembro a 18 de novembro. Para quem quer apenas experimentar essa delícia, é possível provar o sabor peculiar da trufa em omeletes ou risotos.