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Professor de História comenta eventos marcantes como o que vivemos

Professor de História comenta eventos marcantes como o que vivemos

Os historiadores narram eventos da humanidade, interpretando-os à luz de seu tempo. E eles terão muito trabalho para elucidar e compreender as mudanças que a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) imprimem na sociedade contemporânea. De acordo com o professor de História do Colégio Marista Arquidiocesano, em São Paulo, Cauê Caic Gomes, a humanidade atinge novos conhecimentos a partir de grandes acontecimentos históricos.

“A história nunca se repete, mas uma observação atenta permite compreender semelhanças e diferenças, traçar comparações e analogias que possam colaborar na construção de ações ou movimentos que enfrentam adversidades na atualidade”, explica o docente.

Professor Cauê Caic Gomes

Professor Cauê Caic Gomes

O professor cita alguns exemplos que ocorreram ao longo da história e que podem nos ajudar nessas comparações e na busca por respostas ao que enfrentamos:

Descoberta da Penicilina

A Europa, devastada pela Primeira Guerra Mundial, viu surgir, a partir de um experimento frustrado de Alexander Fleming, a penicilina, o antibiótico mais utilizado na contemporaneidade no tratamento contra bactérias. “Sua criação inaugurou uma nova era no campo da Medicina, mesmo em um contexto em que ascendia o autoritarismo nazista”, frisa o professor.

Criação do Departamento Nacional de Saúde Pública

No período final da Primeira Guerra Mundial eclode um vírus que, segundo estimativas, matou 50 milhões de pessoas: a Influenza A, popularmente conhecida por Gripe Espanhola. Afirma-se que tenha recebido esse nome não por ser oriunda da Espanha, pois na época havia pouca exposição de dados dos países envolvidos, mas justamente porque o país ibérico democratizava essas informações, o que orientou a imprensa a noticiar os fatos. “No Brasil, a doença matou em torno de 35 mil pessoas e propiciou a criação de um Departamento Nacional de Saúde Pública, que visava promover saúde de acesso universal e gratuita à população. Anos depois, o Departamento deu origem ao Ministério da Saúde como o conhecemos”, pontua Cauê.

Produção das obras Decamerão e Macbeth

Outro evento que tencionou a questão da saúde pública data da Idade Média e foi a chamada Peste Negra ou Peste Bubônica. De caráter mortal e excessivamente infecciosa, a doença surgiu no extremo Oriente e alastrou-se da China a partir de 1333, tendo chegado ao continente europeu no ano 1347. O incremento da atividade comercial entre Europa e Extreme Oriente propiciou o rápido alastramento da doença que, segundo historiadores medievalistas e da epidemiologia, matou 1/3 da população europeia, colapsando a saúde coletiva e impondo medidas quarentenais ao continente.

E foi nesse contexto de isolamento que alguns conseguiram ressignificar o ócio e torná-lo produtivo. “É o caso do poeta e dramaturgo Giovanni Boccacio, que redigiu o clássico Decamerão durante esse período. Anos depois, no contexto da Grande Praga de Londres (denominação que explicita outro momento do surto da epidemia), William Shakespeare redigiu Macbeth, clássico que discorre sobre a maldade humana em diversas esferas”, conta o docente.

Surgimento do Movimento negro americano

Rosa Parks, mulher negra americana, que em 1955 recusou-se a ceder seu lugar para brancos no ônibus, e que por isso foi presa, fez com que os discursos de um pastor ganhassem notoriedade. “Seu nome era Martin Luther King, e a luta engajada por essa fatalidade liderou movimentos que questionavam o racismo institucionalizado na sociedade americana, que em última instância, além de promover mudanças na estrutura étnico-racial da sociedade estadunidense, abriu portas para que em 2008 chegasse ao poder o primeiro presidente afro-americano, Barack Obama”, ressalta o professor.

Por que as pessoas resistem?

Viktor Frankl viveu os horrores de ser aprisionado em um campo de concentração nazista, na Segunda Guerra Mundial. Frankl expõe no livro “Em busca de sentido” suas experiências aterrorizantes como prisioneiro do regime nazista alemão. A obra narra a história de jovens e velhos, confinados nas prisões, possuidores de destinos condicionados para além da fatalidade, por seu ímpeto e gana em sobreviver àquele pesadelo. “O livro demonstra como jovens podiam morrer de acometimentos banais como resfriados, enquanto pessoas de mais idade, engajadas em sobreviver àquele horror, resistiam, pois tinham como sentido criar seus filhos, contar suas histórias e sobreviver ao mal dos homens”, explica Cauê.

A mobilidade urbana no mundo pós-pandemia

A mobilidade urbana no mundo pós-pandemia

É fato que nada será como antes quando a crise da Covid-19 passar. Estaremos diferentes e o mundo à nossa volta também. “Depois de um evento extremo e global como esse, muitas tendências que já estavam em curso serão impulsionadas”, explica o filósofo e historiador Leandro Karnal. Segundo ele, há três fatores que aceleram processos que já vinham despontando. São eles as guerras, as revoluções e as pandemias.

“E o importante é transformar o tempo de crise em tempo de oportunidade. O mundo conectado e com uma causa comum irá alterar, definitivamente, o nosso valor à vida e para melhor”, diz Karnal.

O isolamento devido à pandemia tem nos mostrado outros horizontes – inclusive o céu claro e limpo, sem poluentes –, e é bem provável que haja uma grande mudança no campo da mobilidade urbana. Especialistas preveem que, após vencermos a batalha do vírus, haverá uma valorização dos transportes sustentáveis e ativos, que favorecem a saúde.

O valor à vida ficou muito mais urgente e nítido com a pandemia, e é inegável o impacto poluidor dos veículos a combustão. As escolhas de mobilidade tendem a ser mais reconhecidas, até mesmo pela experiência, durante o isolamento, de vivenciar o home office, respirar um ar mais puro e perceber a inviabilidade de perder tempo e saúde em congestionamentos. Em São Paulo, a população passa, por ano, o equivalente a um mês e meio parada no trânsito.

As tendências para o mundo pós pandemia incluem modais mais sustentáveis e saudáveis

As tendências para o mundo pós-pandemia incluem modais mais sustentáveis, saudáveis e coletivos

Veja algumas tendências mundiais que tendem a favorecer a mobilidade na pós-pandemia:

1.

Devido ao home office e o teletrabalho, ela estará bem mais fluida e prazerosa. Afinal, boa parte das pessoas não precisará sair nos horários de pico. A tendência é que elas, ao se mover, também procurem modais saudáveis e sustentáveis, como a bicicleta e o pedestrianismo.

2.

Além de valorizar moradias nas regiões centrais, perto de eixos de transporte coletivo e próximas de serviços que podem ser acessados a pé, haverá a necessidade de suprir, com transporte coletivo, ciclovias, escolas, empregos e equipamentos públicos, os bairros periféricos das grandes cidades, criando oportunidades para que as pessoas se mantenham e se desenvolvam nessas regiões.

3.

A coletividade e a empatia são palavras-chave nesse momento de pandemia. E são esses valores que devem nortear os próximos passos da sociedade, segundo refletem historiadores e especialistas. O individualismo será criticado, e haverá um grande incentivo ao desenvolvimento do transporte coletivo, seja ele o metrô, o trem ou o ônibus.

4.

As pessoas se sentirão mais responsáveis pelos impactos no planeta. SUVs e carrões levando apenas uma pessoa, estarão em baixa. Caem ainda mais a ostentação e o status na mobilidade e sobem a bicicleta, a caminhada e o uso do transporte coletivo (agora sempre com uso de máscara).

5.

Haverá uma busca maior por espaços abertos, como parques, jardins e praças, evitando aglomerações e lugares fechados. Essa tendência irá impulsionar uma transformação urbanística, tornando as metrópoles mais agradáveis, com ruas fechadas para carros, calçadas largas, mais verde e ciclovias. É o conceito de “Cidades para pessoas”, difundido pelo urbanista dinamarquês Jan Ghel, que há anos constrói cidades mais humanas, cicláveis e felizes.

CFO da Agência Bullet traz conselhos para o home office

CFO da Agência Bullet traz conselhos para o home office

Antes das mudanças geradas pelo novo coronavírus (Covid-19), muitas empresas já adotavam a política de deixar os profissionais em home office, mas devido à pandemia que atinge todo o mundo, isso agora virou um regime praticamente obrigatório. Mas será que todos estão preparados para trabalhar dessa forma?

Adriana Ribeiro, CFO da Agência Bullet

Adriana Ribeiro, CFO da Agência Bullet

Para entender mais e se adequar a esse novo cenário, a CFO da agência Bullet, Adriana Ribeiro, dá algumas dicas de como ser produtivo trabalhando de casa. Confira:

Horário

Tenha disciplina. Programe-se como se fosse sair para o trabalho, estipule seu horário e o cumpra, ao acordar, passando pelo café da manhã, até sentar-se na mesa de trabalho. Isso inclui a roupa, pode até vestir-se com algo confortável, mas não fique de pijama.

Mesa

Arrume um lugar fixo em sua casa. Deixe-o como se fosse o seu escritório na empresa, com canetas, lápis, agendas e papel de rascunhos.

Planejamento

Tenha um planejamento claro de suas atividades do dia. Entrega de projetos e reuniões marcadas online. Ter flexibilidade de horário é diferente de não ter horário.

Diretrizes

A executiva ainda ressalta a importância da empresa ter as diretrizes claras para os seus profissionais em home office e os líderes precisam estar comprometidos diariamente com as atividades de sua equipe. Ferramentas de comunicação como hangouts, room meetings e whatsapp são importantíssimas.

“Se você tem filhos, faça para eles também um planejamento das atividades, assim você também consegue controlar melhor as interrupções. Pelo fato de trabalharmos com flexibilidade, muitas vezes não percebemos que trabalhamos direto, sem pausa. Faça normalmente o seu horário de café e almoço. Essas pausas são super importantes para a criatividade e foco nos objetivos. Por fim, não esqueça de manter a limpeza do seu ambiente de trabalho. Afinal, se você estivesse no escritório não iria querer trabalhar em um ambiente sujo, bagunçado e desorganizado”, avalia Adriana.

Se depois dessas dicas você ainda encontrar obstáculos e sentir que não está sendo produtivo, pare e reveja cada um dos passos e se concentre no trabalho, no início pode parecer difícil, mas depois de um tempo você vai ver que as coisas vão se encaixando e conseguirá se adaptar.

29HORAS em casa: Alguém precisa falar umas verdades

29HORAS em casa: Alguém precisa falar umas verdades

Acordei pouco antes das 7h. Vesti o robe de chambre, peguei o computador e fui para o jardim de inverno ler os jornais.

O dia estava bonito. Sol forte, mas com um vento frio. Silêncio. Quase nenhum carro nas ruas. A Nutella, nossa Shi-Tzu de quase cinco anos, me olha e diz:

– Vamos. Vou te levar para passear. Tenho que fazer os números 1 e 2. E acho que você precisa tomar um ar, pegar um pouco de sol e dar uma arejada. Essa quarentena está te deixando pálido.

Vesti uma calça de abrigo e um moletom e, em menos de cinco minutos, estava abrindo a porta da área de serviço.

– Não vai colocar a máscara? Outro dia vi o João falando na televisão que a partir de hoje tinha que sair sempre de máscara.

– Bem lembrado, Nutella. É que como quase não tenho saído nesses últimos 40 dias…

Mal chegamos e ela fez xixi. O dia realmente estava lindo. Procuramos caminhar no sol para evitar o vento. Moro em uma rua tranquila e arborizada, que a essa hora da manhã e, com o isolamento, fica ainda mais sossegada.

– Sei que você está gostando de ficar mais em casa comigo, cuidando de mim e me fazendo carinho, mas estou preocupada com você.

– Preocupada por quê? Está tudo bem.

– Estou te sentindo meio triste e angustiado. Sei que o momento é complicado, que a gente não sabe o que vai acontecer com o mundo. Talvez seja melhor você assistir menos a CNN e a Globo News. Não bastassem os problemas de saúde e da economia, ainda tem a política né?

– Pois é. Talvez você tenha razão mesmo. Preciso dar uma “desligada”. Ler mais livros nas horas vagas, jogar mais baralho, fazer palavras cruzadas. É que o que estamos passando é tudo muito novo.

– Peraí. O coronavírus pode ser um inimigo novo e desconhecido. Mas já os políticos…

– Melhor mudarmos de assunto, por favor.

Depois de uns dez minutos e de a Nutella fazer cocô, chegamos a uma avenida mais movimentada. Ela para, olha para os dois lados e me pergunta:

– Desculpa, mas tenho que voltar ao tema. Olha isso! Você não acha que tem muito carro na rua? Nem parece que a recomendação é para todo mundo que puder ficar em casa. Assim vai ser difícil controlar o vírus. Falo isso por vocês, porque esse tal corona não me afeta.

– Você tem razão, Nuttelinha. Parece um dia normal.

– Sabe, não entendo vocês humanos. Será que não viram o que aconteceu na Europa e nos Estados Unidos? Por que não ouvem os médicos e a ciência e insistem em sair de casa? No início da quarentena vocês estavam indo bem, mas agora largaram mão? E ainda tem gente que faz barulho para a vida voltar ao normal o quanto antes. Por favor, me explica isso.

– Quando me convidou para passear disse que eu precisava arejar a cabeça. Agora que estamos aqui você só fala nisso.

– Tem razão. Me perdoa. Vamos falar de você. Está sentindo falta dos amigos e de ir para o trabalho, né? Do futebol na TV, da ginástica e de suas corridas.

– Ah isso estou sim, Nutella. Essa parte está complicada. Ficar trabalhando em casa e não fazer exercícios está me fazendo muito mal.

– Bom, e do jeito que você anda comendo e tomando cerveja…

– Chega. Acabou o passeio. E, se for para me falar essas coisas, não me convide mais.

Nutella, cachorrinha de cinco anos

Nutella, cachorrinha de cinco anos

29HORAS em casa: Ajudar do sofá está valendo

29HORAS em casa: Ajudar do sofá está valendo

O mundo pré-pandemia costumava nos dizer que era necessário levantar do sofá e agir nas ruas se quiséssemos ver alguma mudança nas realidades duras que existem por aí. Não estávamos errados, o “textão” no Facebook, muitas vezes, ficava por ele mesmo. Por mais que romper o silêncio já seja um passo importante. 

Só que hoje, em meio a maior crise sanitária da atualidade, segundo a Organização da Saúde (OMS), é justamente a ajuda que vem de dentro de casa que pode mudar tudo. Diversas campanhas de doações de alimentos, produtos de higiene, entre tantos itens essenciais à vida, além de arrecadação de kits médicos e pressões políticas por financiamento de pesquisas e melhores condições de trabalho para diversos profissionais, estão em todas as redes sociais. Basta um clique ou até mesmo mirar a câmera no QR Code para fazer parte de um movimento. 

As lives de tantos cantores contam com parcerias de empresas que destinaram grandes quantias de dinheiro e alimentos para diversas famílias. A exemplo de Sandy e Júnior, que arrecadaram mais de mil toneladas de alimentos para pessoas em situação de risco por causa do novo coronavírus no Brasil.  A apresentação chegou a ter 2,5 milhões de pessoas assistindo ao mesmo tempo. Para participar da campanha de doação, bastava mirar o celular na tela. 

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde, é uma das mais destacada instituições de ciência e tecnologia em saúde da América Latina

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde, é uma das mais importantes instituições de Ciência e Tecnologia em Saúde da América Latina

Para além de uma boa ação, existem ainda as mobilizações online. O humorista e ator Gregorio Duvivier lançou em seu programa semanal da HBO, o “Greg News”, a campanha “Mais do que palmas”, para pressionar parlamentares a aprovarem garantias trabalhistas aos profissionais de saúde e na linha de frente contra a Covid-19. A mobilização já gerou resultado e um dos tópicos segue em votação na Câmara. O Projeto de Lei 2007/2020 prevê o pagamento de um auxílio mensal para os dependentes de profissionais de saúde ou de atividades auxiliares à saúde que venham a falecer em decorrência do coronavírus. Ainda dá para continuar pressionando aqui.

Instituições tradicionais de pesquisa do país também estão recebendo doações de pessoas físicas e de empresas para continuarem a todo vapor no estudo de um tratamento e vacina. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, é um exemplo e lançou o programa “Unidos contra a Covid-19”, que lembra a importância da união das esferas pública e privada para o fortalecimento das ações de combate à pandemia. Pelo site, é possível fazer uma doação e fomentar as pesquisas e a compra de kits médicos. 

A ajuda a quem está do lado vale, e muito! Vizinhos continuam mobilizados para fazer compras para pessoas do grupo de risco em seus condomínios. Basta um comunicado para o síndico ou um recado no elevador para saberem que você está disposto a agir. 

E, claro, ficar em casa em si já é a maior contribuição que todos podem fazer para frear a curva de contágio e não sobrecarregar os hospitais do país. Se você pode trabalhar de casa, faça isso. Chamar amigos para uma “house party” está fora de cogitação e passa longe do bom senso, lembre-se. De dentro de casa, é possível fazer muito e, assim, continuarmos unidos nesta luta diária!