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Preocupadas com a preservação ambiental, empresas investem em ações e produtos sustentáveis

Preocupadas com a preservação ambiental, empresas investem em ações e produtos sustentáveis

Muitas marcas brasileiras oferecem produtos de pouco impacto ambiental – no caso dos cosméticos, eliminam os testes em animais, sendo cruelty-free –, além da produção de embalagens recicláveis, de iniciativas que compensam as emissões de carbono, do uso de fontes de energia sustentáveis e da redução da quantidade de água utilizada em seus processos.

produtos sustentáveis

Centro de Pesquisa e Inovação da L’Oréal, no Rio de Janeiro. Foto: Divulgação

O ranking da revista Corporate Knights, divulgado em janeiro em paralelo ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, mostrou que algumas corporações brasileiras são exemplares nesse sentido. Banco do Brasil, Cemig e Natura estão entre as 100 mais sustentáveis do planeta. O mundo empresarial vem se voltando, cada vez mais, à racionalização de recursos naturais, resíduos e emissões, ao mesmo tempo em que investe em produtos verdes e boas práticas com os funcionários e com a comunidade.

Eficiência hídrica e energética

Um exemplo é a fábrica da GM em Joinville (SC), uma das mais sustentáveis da montadora no mundo todo. A unidade foi a primeira a implantar um conjunto de sistemas pioneiros na área de eficiência energética e proteção ao meio ambiente: energia fotovoltaica, gerada a partir da luz do sol; reciclagem de água industrial por meio de osmose reversa; e tratamento inédito de efluentes e esgotos por meio de jardins filtrantes.

Fábrica da GM, em Joinville. Foto: Divulgação

A fábrica catarinense também possui 100% dos resíduos industriais reciclados ou reutilizados (zero aterro). Outras iniciativas, como a troca de torres de resfriamento, o melhor direcionamento da água pluvial e a substituição dos carregadores de bateria, fizeram com que a fábrica se tornasse ainda mais eficiente, gerando redução do consumo de água equivalente ao gasto de 43 residências no período de um ano e de energia elétrica na ordem de 106 residências por ano.

A fábrica da L’Oréal Brasil, em São Paulo, foi a ganhadora do Prêmio de Conservação e Reúso e Água promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em 2018. A marca se destacou pelo projeto Fábrica Seca, que objetiva a redução do consumo de água em todas as atividades – desde as etapas de produção até o uso em áreas administrativas. Os resultados obtidos são significativos: decréscimo de 44% de litros/unidade em 2017, em comparação com 2005, o que equivale a 35 piscinas olímpicas.

Ainda no mundo da beleza, a The Body Shop, rede inglesa de cosméticos que hoje faz parte do grupo Natura, lançou uma linha de embalagens feitas de plástico reciclado, fruto de uma parceria com a Plastics For Change, fabricante indiana de plástico reciclável de alta qualidade. A iniciativa faz parte do programa de comércio justo da marca, que compra matérias-primas sustentáveis de 31 comunidades presentes em 23 países.

Foco socioambiental

A sustentabilidade faz parte do DNA da Movida desde a sua fundação, em 2006, quando ela implantou seu programa pioneiro, o Carbon Free. A empresa é a primeira locadora com projeto sustentável que neutraliza as emissões de CO2 geradas durante a locação e agora é também a primeira brasileira desse nicho a receber a Certificação de Empresa B, movimento global que identifica corporações alinhadas com as questões socioambientais. “Temos um Comitê de Sustentabilidade e um modelo de negócios alinhado com esses valores”, explica Edmar Lopes, CFO da Movida.

Tuk Tuk da Movida. Foto: Divulgação

Desde 2019, foram plantadas 51.226 árvores em parceria com a ONG SOS Mata Atlântica, responsáveis por neutralizar 8,3 mil toneladas de CO2 em mais de 300 mil m², o equivalente a 42 campos de futebol iguais ao Maracanã.

Além do Programa Carbon Free e do Comitê, a empresa apoia o projeto Gerando Falcões, que busca criar oportunidades para jovens da periferia; estimula a integração de modais, com o aluguel de bikes elétricas – e mais recentemente o Tuk Tuk, em Vitória, em parceria com a Uber –; e ampliou a licença maternidade para seis meses e a licença paternidade para 20 dias.

Com o consumo de peças usadas, os brechós trazem um estilo de vida mais sustentável

Com o consumo de peças usadas, os brechós trazem um estilo de vida mais sustentável

Considerando que a indústria da moda utiliza litros e mais litros de água em sua produção – é a segunda indústria que mais polui o meio ambiente, depois do petróleo –, investir em brechós é uma atitude mais do que sustentável.

E a boa notícia é que o consumidor brasileiro está pegando gosto em comprar em brechós. Segundo dados levantados pelo Sebrae, nos últimos cinco anos o número de empreendimentos desse tipo no Brasil aumentou cerca de 210%.

brechós

Brechó B.Luxo, nos Jardins. Foto: Karen Kohatsu/29HORAS

Minimizar danos ao meio ambiente, como o consumo de água, prolongando a vida útil de itens que seriam descartados, é uma das vantagens desse consumo. Mas há muitas outras. Em brechós é possível encontrar exclusividade, singularidade e qualidade, valores inexistentes no chamado “fast fashion”, conceito que prioriza a venda de produtos baratos e que chegam rápido às lojas. E também história: a memória de décadas passadas em tecidos, estampas, modelagens e acabamentos vira um aspecto bastante sedutor, especialmente para os que buscam propósito e personalidade na moda.

Em contrapartida, se fortalece cada vez mais o slow fashion, que tem como objetivo desacelerar o consumo de produtos da moda, investindo em qualidade e durabilidade. Um valor que reflete o poder da escolha de cada um, e como ela pode influenciar e impactar o meio ambiente.

Nos brechós, a regra dos cinco Rs – repensar, reduzir, recusar, reutilizar e reciclar – é uma realidade. Já quando se produz uma nova peça de roupa, a água e a energia consumidas são muito grandes. Os processos de lavagem, dimensionamento, branqueamento, enxague, tingimento, impressão e finalização são longos, dispendiosos e nada sustentáveis. Apenas para produzir um quilo de algodão são utilizados mais de 20 mil litros de água, fora os gastos com energia. É comum o uso intensivo de pesticidas associado ao cultivo de algodão, prática que leva à contaminação de rios, lagos e lençóis freáticos. E há ainda as etapas de embalagem e transporte, que também consomem bastante.

Brechó Belchior. Foto: Reprodução/Facebook

Ao comprar em brechós, renovamos o ciclo das roupas, evitando que elas terminem suas vidas em lixões e aterros sanitários. Um agravante é que as peças geram resíduos sólidos, que demoram bastante para se degradar no meio ambiente.

Pensando no pós-consumo, a indústria da moda pode contribuir com o ciclo sustentável. São ações que envolvem, por exemplo, o uso de estoques de tecidos antigos, a customização, o reaproveitamento, a reciclagem e o upcycling. E quando essas mesmas peças não servirem mais, o melhor a fazer é encaminhá-las para instituições de caridade, onde serão de grande utilidade para muitas pessoas.

Brechós de todos os tipos

E-commerces, brechós que parecem antiquários, lojas especializadas em peças de grifes internacionais, brechós que fazem parte de instituições do terceiro setor, geralmente ligados a ONGs, e projetos colaborativos que visam o bem-estar social. Há de tudo um pouco nesse produtivo e criativo universo. Uma curiosidade é que a palavra brechó foi inventada no Rio de Janeiro a partir da corruptela do nome de um comerciante, chamado Belchior, que abriu uma loja de produtos usados. De Belchior passou a brechó e daí para o mundo.

No Rio, o Brechó Belchior, nascido em 2013, usa o histórico nome em uma loja repleta de preciosidades. Os donos, que começaram com eventos mensais itinerantes, garimpam pessoalmente as peças em cidades como Nova York, São Francisco e Barcelona, além do Brasil. “Aqui todos ganham: quem compra paga menos e cuida do meio ambiente”, diz Kim Courbet, um dos sócios.

Giovanna Nader. Foto: Reprodução/Facebook

Em São Paulo, o brechó Minha avó Tinha, aberto em 1992, apresenta mais de 25 mil produtos, entre roupas, acessórios, calçados, móveis e louças, em um espaço que é, por si só, inspirador. A casa, aberta pelo engenheiro Franz Ambrósio, se tornou uma referência para quem procura roupas de época.

Dudu Bertholini vê os brechós como grandes parceiros de um mundo que minimiza desperdícios. “Você ressignifica à sua maneira peças descartadas, e ainda veste looks únicos que não encontra ninguém mais usando. Enaltecer seu estilo pessoal é uma ótima forma de ser consciente!” afirma Dudu, referência do uso do vintage.

Para Giovanna Nader, atualmente no GNT como uma das especialistas da série “Se Essa Roupa Fosse Minha”, e criadora do Projeto Gaveta, que promove a troca de roupas, o brechó é uma grande oportunidade para as pessoas reciclarem suas peças e incrementarem o guarda-roupa com itens novos e estilosos.

“Procuro ressignificar uma roupa. Você pode transformá-la, reformar, dar uma nova cara à peça. E se não for usar pode também doar para alguém, além de presentear o meio ambiente”, diz Giovanna.

Lugares para você garimpar no Rio:

Belchior Brechó

R. Fernandes Guimarães, 60, Botafogo, @belchiorbrecho

Brechó o Cacareco

R. São Clemente, 245, Botafogo, tel. 2246-1205.

Abapha Vintage Club

Rua do Senado, 51, Centro.

Em SP:

Brechó Minha Avó Tinha

R. Thomé de Souza, 100, Lapa, tel. 3865-1759.

Frou Frou Vintage

Rua Augusta 725, tel. 2506-8954.

B. Luxo

R. Augusta, 2566B, tel. 3062-5696.

Plataforma A Moda Pela Água conecta produtores e consumidores visando a utilização recursos hídricos de forma responsável

Plataforma A Moda Pela Água conecta produtores e consumidores visando a utilização recursos hídricos de forma responsável

“A água é o nosso maior bem e nossa missão é usar a moda, o design e a beleza para espalhar a urgência no uso responsável do recurso hídrico”, diz Chiara Gadaleta, explicando o surgimento da plataforma A Moda Pela Água (AMPA), idealizada por ela no início de 2019.

Trata-se de uma empreitada pioneira no Brasil: a união de empresas de um setor tradicionalmente tão egocêntrico em prol de uma mesma causa. A Moda pela Água é uma iniciativa inovadora porque, pela primeira vez, há um espaço dedicado a reunir indústria e sociedade civil para conversar, compartilhar questões, mostrar propostas e encontrar soluções.

A Moda Pela Água

Encontro de Empresas Guardiãs da Moda pela Água, com Chiara Gadaleta (à esq.) e a jornalista Andrea Vialli. Fotos: Rodolfo Trevisan/Divulgação

“Esse é um assunto que só tem condição de mudança se trabalhado em grupo e, como não podemos escolher se queremos ou não mudar – temos que mudar – a união em torno desse propósito se faz necessária”, comenta.

A plataforma funciona como um rico espaço neutro para que as empresas do setor possam conviver não através da concorrência, mas por um ponto em comum e urgente. Como ela diz, “o ‘eu’ não tem voz. O ‘nós’, tem”.

“Trabalhamos com sustentabilidade de forma egoísta e marqueteira. A necessidade de sair do umbigo empresarial e olhar para o todo é urgente. Essa forma de operar em conjunto é muito alinhada com os 17 ODS da ONU, órgão do qual sou embaixadora do Pacto Global no Brasil. O problema não pertence a uma única empresa e sim à sociedade de forma geral”, complementa Chiara.

Vicunha, Marisa, Abrapa/Sou de Algodão, Damyller, ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Grupo Lunelli e Farm são empresas signatárias, chamadas de Empresas Guardiãs, que junto com o Movimento Ecoera, abriram suas agendas para ouvir e discutir o tema da água na indústria da moda, que sabemos consumir 80 bi de m³ de água por ano.

A equipe saiu em pesquisa de campo para entender como as empresas do setor estavam tratando o recurso hídrico – ninguém sabia dizer o quanto gastava em água. “Visitei lugares onde os rios estão mortos há muito tempo. Alguns polos de produção de jeans sofrem com escassez e outros ficam inundados pelas chuvas”, ressalta Chiara. Para ela, a empresa que abre a cadeia de valor a fim de analisar como está usando a água em seus processos se mostra engajada em fazer parte das mudanças que o mundo pede hoje, mas é necessário um olhar técnico e a vontade de abordar questões delicadas e encontrar soluções.

A Moda Pela Água

Representantes dos grupos Ecoera, Somma-Farm, Marisa, Vicunha, Damyller, Abrapa, Abit e Sou de Algodão

Uma das dificuldades que se encontra é a consistência nas boas práticas das empresas. “A sustentabilidade não é tendência, é garantia de futuro”, enfatiza. De forma coletiva e colaborativa, as empresas podem trocar know-how e ajudar a buscar alternativas para o mercado como um todo. É isso que prega o ODS 17: Parcerias em prol das metas. Assim fica mais fácil medir os impactos e estabelecer metas de redução nas emissões de gases e no uso irresponsável da água.

Chiara e o Time Ecoera podem dizer que estão no caminho certo. E não estão sozinhos: em agosto de 2019, o presidente francês Emmanuel Macron lançou no encontro do G7 o Pacto da Moda pelo Meio Ambiente, um acordo de sustentabilidade global com big players da indústria têxtil e de moda. O Fashion Pact, como é originalmente chamado, reúne marcas e grupos concorrentes, sinalizando a urgência de um movimento real de mudança. Adidas, Nike, Puma, Burberry, Chanel, Prada, Giorgio Armani, Ralph Lauren, Stella McCartney, H&M, marcas do grupo Inditex, além de Carrefour, Galeries Lafayette, entre outros, se encontraram com Macron para firmar o pacto.

Neste primeiro ano de AMPA, chamado de Ciclo 1, as empresas abriram suas agendas para discutir o uso consciente da água. O grupo reuniu-se presencialmente quase todos os meses, mesclando pautas setoriais da moda, necessidades e dificuldades de cada empresa guardiã, conversas com especialistas renomados em sustentabilidade e foco na água, além de trocarem notícias atuais e impressões sobre o tema.

Houve também avanços concretos das empresas. Um exemplo é a parceria firmada entre duas signatárias da AMPA, a varejista Marisa e a Vicunha, maior fabricante de jeans no país. A dupla lançou uma coleção experimental com tecidos que usam menos água no processo de fabricação. A economia foi em média de 85%, comparando a processos tradicionais. As peças disponíveis apenas na loja da Av. Paulista, em São Paulo, esgotaram-se em poucas horas.

A Farm e a Aqualung promoveram o mutirão de limpeza na praia de Copacabana no Dia Mundial da Limpeza. O Grupo Lunelli, por sua vez, por meio da marca Lez a Lez, lançou uma linha de camisetas assinada pela surfista Maya Gabeira. As peças foram feitas com viscose ecológica, que agride menos o meio ambiente. Grande fabricante e varejista de roupas em jeans, a Damyller lançou a linha recollect – em parceria com artistas, ela propôs a releitura de peças reutilizando restos de matéria-prima.

Manequins exibem as peças da coleção feita em conjunto por Marisa e Vicunha

A Abit, Associação Brasileira das Indústrias Têxteis, que também participa da plataforma, se engajou em apoiar eventos que unem moda e sustentabilidade. Já o Movimento Sou de Algodão, iniciativa da Abrapa (Associação Brasileira dos Plantadores de Algodão), emocionou a plateia em seu desfile-manifesto na Casa dos Criadores, assinado por diversos estilistas, onde mostrou histórias e pessoas reais da cadeia do algodão.

A Abrapa não se engajou na Moda pela Água por acaso. Para Silmara Salvati Ferraresi, gestora do movimento Sou de Algodão/Abrapa, essa bandeira se alinha com os propósitos da associação. “A iniciativa nos encoraja a pensar que podemos fazer ainda mais pelo meio ambiente e pelas futuras gerações”.

Em 2019, convidada a colaborar com o levantamento da pegada hídrica de uma calça jeans no Brasil, a Abrapa aceitou o desafio. Afinal, 92% de sua produção da pluma se dá em regime sequeiro, apenas com as águas da chuva. “Além de debater o tema água, pensamos em compartilhar com a cadeia têxtil o trabalho em prol da sustentabilidade que o setor produtivo do algodão promove com o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) em suas fazendas, há mais de uma década”, diz Silmara.

Limpeza na praia de Copacabana. Foto: Divulgação

Para ela, a plataforma tem sido um fórum importante para refletir sobre ações sustentáveis e colaborativas. “Ali, a cadeia têxtil se une para pensar em iniciativas como entregar a rastreabilidade do algodão certificado da fazenda até a peça final que o consumidor veste”.

Em março de 2020, próximo ao Dia Mundial da Água, encerra-se o Ciclo 1 da Moda Pela Água com um evento no Unibes Cultural, onde serão apresentadas várias iniciativas implementadas pelas empresas guardiãs ao longo desse ano.

E em seguida, inicia-se o Ciclo 2, onde, com mais maturidade, as empresas partem para um período de mentorias que facilitarão mudanças concretas e sustentáveis.

Novas empresas interessadas poderão se tornar guardiãs, ampliando o debate e fazendo parte da transformação. Sempre atenta a qualidade das discussões, Chiara afirma que “tratar de temas tão complexos como a redução de impactos negativos em toda a cadeia produtiva, indo até o pós-consumo, não é missão fácil e não pode ser feita de maneira superficial”.

Ela enxerga longe e já vislumbra o Ciclo 3 do AMPA para 2021/22, quando as empresas signatárias terão maturidade para atuar como mentoras de seus colaboradores e cadeia produtiva.

Dia do Consumo Consciente alerta para este seja incorporado no cotidiano das pessoas, a fim de reduzir danos ao planeta

Dia do Consumo Consciente alerta para este seja incorporado no cotidiano das pessoas, a fim de reduzir danos ao planeta

Todas as nossas atividades geram impacto ao meio ambiente, à economia e à sociedade. O consumo faz parte da vida e não existe consumo sem impacto. O consumo consciente, então, não significa deixar de consumir, mas fazê-lo de modo diferente, sem excessos, considerando toda a cadeia produtiva. A busca por um caminho mais sustentável e com menos riscos ao planeta e à vida faz do dia 15 de outubro o Dia do Consumo Consciente no Brasil.

Produtos da plataforma “Uma Vida Sem Plástico”

Rio de Janeiro e São Paulo já sancionaram lei que proíbe o fornecimento de canudos plásticos em restaurantes e bares. Marcas e projetos que incentivam a mudança de hábitos como a menor geração de lixo são realidades no país, a exemplo do e-commerce “Uma vida sem plástico”, que oferece itens como escovas de dente de bambu, canudos de metal, absorventes de pano, marmitas e garrafas de inox, entre outros diversos produtos.

Para Fernanda Iwasaka, Analista de Conteúdos do Instituto Akatu, que trabalha pela mobilização da sociedade para o consumo consciente, é perceptível a pressão por produções mais sustentáveis no mundo. “As marcas e empresas percebem a necessidade de atender a uma grande demanda por atributos ligados à sustentabilidade”, afirma. Um deles é a atuação com transparência, que envolve a boa relação com a comunidade, com o meio ambiente e com a gestão de pessoas, além do acesso ao consumidor das informações sobre a rede de fornecedores da empresa.

A Pesquisa Akatu 2018 mostra que, dentre as oito principais causas que mais mobilizam o consumidor a comprar um produto de determinada marca, cinco estão associadas ao cuidado com as pessoas.

Em primeiro lugar está a atuação das empresas no combate ao trabalho infantil (45%), seguido pelo tratamento igualitário dos funcionários (43%), investimento em programas de contratação de pessoas com deficiência (38%), contribuição para o bem-estar da comunidade onde está localizada (38%) e oferta de boas condições de trabalho (36%). E, segundo a empresa Nielsen,75% das pessoas de 21 a 34 anos já consideram mudar seus hábitos de compra para reduzir seus impactos ao meio ambiente.

Essa preocupação faz sentido dentro de um cenário preocupante em que estamos inseridos. Atualmente, consumimos 75% mais recursos do que a Terra é capaz de regenerar em um ano. Em 2019, o Dia de Sobrecarga da Terra ocorreu em 29 de julho, o que indica que consumimos todo o “estoque” de recursos programado para o ano todo e, a partir desse dia, a Terra entrou no “cheque especial”. “Por isso, cabe a cada um ter a consciência de que seus atos de consumo têm impacto e que precisam ser modificados em prol de todo o planeta”, enfatiza Fernanda.

Arquitetura consciente junta o bonito com o sustentável e já coleciona bons exemplos pelo Brasil

Arquitetura consciente junta o bonito com o sustentável e já coleciona bons exemplos pelo Brasil

Projeto para a Fazenda da Grama, do escritório Triptyque

Criar espaços que não sejam apenas bonitos e funcionais, mas que também tragam benefícios como redução da temperatura, economia de água e de energia, melhora da qualidade do ar e do bem-estar, além de respeitar os ecossistemas nativos. Esses são alguns dos princípios da arquitetura sustentável, que tem como objetivo elevar a qualidade de vida das pessoas e minimizar os impactos causados ao meio ambiente. Não se trata de um modismo passageiro ou de uma tendência, mas de uma necessidade vital no mundo de hoje.

De acordo com dados da Worldwatch Institute, a construção civil consome de 40% a 75% dos recursos do planeta. No Brasil, cerca de 35% de todos os materiais extraídos da natureza (madeira, metais, areia, pedras etc.) anualmente são usados por esse setor. Além dos recursos naturais utilizados, mais de 50% de toda a energia produzida no Brasil é usada para abastecer casas, edifícios e condomínios.

Para evitar o desperdício de matérias-primas, água, energia e o descarte monumental de resíduos, arquitetos e construtores têm trabalhado com afinco para desenvolver novas e mais inteligentes tecnologias de construção, cada vez mais valorizadas no mercado imobiliário. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) prevê que que, até 2030, a construção de novos prédios sustentáveis deve gerar no mundo mais de 6,5 milhões de postos de trabalho.

Muitos prédios já vêm sendo construídos com sistemas de reuso de água cinza (a água dos lavatórios e chuveiros) e equipados com cisternas no subsolo, onde, depois de captada e tratada, a água da chuva será usada para lavagem de áreas comuns.

A arquitetura sustentável não adota apenas sistemas construtivos ecologicamente corretos, como o uso de energia solar e eólica; ela também busca a integração com a comunidade local e prioriza as atitudes socialmente justas.

Natureza no ambiente

Um condomínio projetado recentemente pelo escritório de arquitetura Triptyque, conhecido por suas construções sustentáveis, foca na presença do verde. Desenvolvido para a Fazenda da Grama, em Itupeva, no interior de São Paulo, o projeto envolve casas de campo com layouts amplos e arejados, com intenso contato com a natureza e uma tecnologia que dispensa muitas vedações ou divisórias. O verde é levado para dentro de casa por meio das portas e janelas em vidro e pelo pátio central que acomoda um denso jardim.

Casa Folha, em Angra dos Reis

Já a Casa Folha, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, mostra um trabalho inspirado na arquitetura brasileira indígena. Uma grande folha é o telhado que protege do sol todos os cômodos da casa, assim como os espaços livres entre eles. Essa estrutura armazena a água vinda da chuva e possibilita um ambiente mais fresco a essa casa de praia, construída com madeiras de reflorestamento, madeiras provenientes de antigos postes de luz e tramas de bambu.

O melhor das Américas

Premiado pelo BREEAM Awards 2018 como o melhor edifício sustentável das Américas, o Centro Sebrae de Sustentabilidade, projetado pelo arquiteto e urbanista José Portocarrero em Cuiabá, faz jus à sua função. Em formato ogival, o edifício foi fundamentado na cultura indígena dos povos do Xingu (especificamente do povo Yawalapiti), que tem casas consideradas exemplares em termos de arquitetura bioclimática.

O processo de construção incluiu o reaproveitamento de resíduos (madeiras, pedras etc.) e o projeto se adaptou ao terreno em declive, evitando a terraplanagem e preservando a vegetação nativa. A cobertura em duas cascas, que possibilita o resfriamento interno e a captação de água da chuva, é outro destaque, assim como a instalação de vermicompostagem, que recebe resíduos orgânicos da lanchonete e da poda de árvores e plantas. Além da iluminação, foram implantadas duas microusinas de geração solar fotovoltaica no telhado, reduzindo o consumo de energia elétrica em cerca de 40%. O selo BREEAM está presente em 77 países e já certificou mais de 250 mil edificações em vários continentes.