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Dira Paes revela suas opiniões sobre a nação

Dira Paes revela suas opiniões sobre a nação

Dira Paes, 2018

Um trem transbordando minérios passa por Marabá, município localizado na região sudeste do Pará. São tantos vagões que, olhando fixamente para um mesmo ponto do extenso modal, é possível observá-lo por longos minutos. O trem torna a aparecer de tempos em tempos, carregando mais minérios. Provavelmente o destino final desta carga é o Terminal de Ponta da Madeira, próximo ao Porto de Itaqui, no litoral do Maranhão. Nessa paisagem, além do trem repleto de matéria-prima para a produção de bens tecnológicos, há pessoas necessitadas, pedindo um saco de farinha que seja, para matar a fome.

Quem observou atentamente esta cena foi Dira Paes, a atriz brasileira cuja fama chegou de modo exponencial com as interpretações de Solineuza, em “A Diarista”, Norminha, em “Caminho das Índias”, Celeste, em “Amores Roubados”, Beatriz Raposo em “Velho Chico” e por aí segue a lista de atuações na TV e no cinema. “De onde está saindo essa matéria-prima? É inesgotável? Por que há gente passando fome diante destes vagões carregados de riqueza? Para mim esta cena é incongruente, lastimável”, desabafa, inquieta, a mãe e ativista de 49 anos.

Nascida em Abaetetuba, no Pará, Ecleidira Maria Fonseca Paes cresceu na capital do estado, em uma realidade extremamente privilegiada. “Eu aprendi a nadar nos igarapés (rios amazônicos), pude presenciar o movimento das águas, tive contato com sabores e cheiros brasileiros, com a poesia, com a prosa, com óperas”. Quando adolescente, ela queria ser engenheira, frequentar grandes obras, edificar construções. Mas aos quinze anos seu talento para a atuação foi descoberto pelo professor de literatura do colegial, que recomendou a aluna fazer o teste de elenco para participar de um filme que estava recrutando meninas com traços indígenas. Dentre centenas de garotas, ela foi escolhida para atuar na produção americana “Floresta das Esmeraldas” (1985). Com este trabalho – remunerado em dólar –, Dira conseguiu sua independência financeira e, depois de muito pensar, embrenhou-se na carreira de atriz, no Rio de Janeiro, com 17 anos.

Vivendo há décadas na Barra da Tijuca, Dira se cansou da tarja de “atriz paraense”. “Assim como não utilizam como principal característica das atrizes do Rio o fato delas serem do Sudeste, não quero ser definida sempre e primeiramente como atriz do Pará”. Ela explica: “Eu sou o Pará. Eu nasci lá, sou uma cabocla amazônica. Mas é preciso olhar para o nortista com um olhar de integração, não de regionalização. Sou uma atriz brasileira. O resto do país costuma enquadrar tudo e todos que vêm do Norte como ‘exótico’. Temos muito orgulho da nossa cultura, mas conectada a ela há muita modernidade, nós somos muito mais do que ‘o exótico’.”

AMARELO MANGA

Crescer em contato com a natureza amazônica proporcionou a Dira o que todo cidadão do mundo deveria ter: consciência ambiental. A atriz cresceu com o sonho de ter uma casa ecologicamente correta. “É uma tentativa de estar de acordo com as demandas do novo mundo, do novo tempo e do novo normal”. E ela conseguiu. Edificada em uma ilha na Barra da Tijuca, a atriz mandou construir uma casa do zero, com sistema de drenagem de água da chuva, coleta seletiva, energia solar e água de reuso para os vasos sanitários – coisa que pouca gente faz. Ela conta que o terreno na ilha foi um caso de paixão à primeira vista. “Coqueiros, mangueira, jabuticabeira, caramboleira, jaqueira, abacateiro, araçazeiro, pé de graviola, de pitanga, de acerola. Havia só árvores e mais nada”. Atualmente, em seu sítio urbano, há muitas outras árvores plantadas, além de sua delicada coleção viva de orquídeas.

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“Me senti muito privilegiada por poder ter toda essa vegetação em casa. A relação com com a vitalidade da natureza é muito gratificante”. Dira relembra, inclusive, daqueles que ela considera os verdadeiros guardiões da floresta. “Temos muito a aprender com os índios do Brasil: a terra é a grande mãe e eles respeitam muito o fato de que ela nos dá tudo”. A crítica vem em seguida: “Os índios estão muito atentos ao que está acontecendo e lutam sozinhos, enquanto nós, ‘civilizados’, queremos continuamente destruir tudo – veja só o que aconteceu com a Mata Atlântica!”.

2 FILHOS

Nascida em uma família de sete filhos, na qual ninguém era privilegiado em relação ao outro, Dira é feliz por não ter tido filho único. Ela deu à luz Inácio, hoje com dez anos, e Martim, que este mês completa três. Uma das principais preocupações da atriz é ensinar os meninos que trabalhar é bom e faz bem, por isso fez questão de levá-los aos sets de todos os filmes que gravou este ano. “Todo mundo deveria levar os filhos ao trabalho ao menos uma vez na vida, pois eles precisam dimensionar a ausência dos pais”. Diariamente, a mãe-onça despede-se das crias com um sorriso no rosto, ao invés do tristonho clássico “a mamãe tem que trabalhar”.

Nas horas vagas, Dira brinca com os pequenos de esconde-esconde, de correr, de pular, de carrinho, de avião, de super herói. Nas férias escolares, no entanto, ela faz questão de levá-los para a Amazônia. Em razão destas visitas, Martim, o filho mais novo, acha normal comer maniçoba (feijoada amazônica feita com a folha da maniva triturada e cozida por seis dias) e tem como fruta preferida o taperebá – tanto o prato quanto a fruta são desconhecidos para muitos brasileiros.

Em viagem recente a Marabá, os dois aprenderam a dançar carimbó e marujada – e amaram. “Quero muito que eles carreguem esta identidade, pois tudo que é original, tudo que você sabe por experiência de vida, é muito mais genuíno. Ao invés de virar uma pessoa verbal, você vai se transformando em uma pessoa que conta as coisas através do corpo, das vivências”.

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PRÓXIMOS TRABALHOS

Na próxima novela das 19h, “Verão 90 Graus”, de Jorge Fernando e Isabel Oliveira, Dira será Janaína. A novela será uma celebração aos anos 1990, com sol, praia, música e humor. “As gerações de agora são os filhos dos anos 1990, então creio que muitos ficarão curiosos para saber como era a vida dos pais na juventude”.

Além da TV, a atriz atuou em três longas este ano, ainda sem previsão de lançamento: “Divino Amor”, de Gabriel Mascaro (diretor de Boi Neon), “Veneza”, de Miguel Falabella, e “Pureza”, de Renato Barbieri. “Estou muito feliz com estas produções, pois tive a chance de brincar com o colorido de três personagens bem diferentes entre si”. Em “Divino Amor”, ela será Joana, uma escriturária religiosa que tenta impedir que as pessoas se divorciem quando vão ao cartório. Em “Veneza”, será Rita, uma das meninas do Casa da Gringa (um bordel). E, por último, em “Pureza”, interpretará a personagem de nome homônimo. Baseado em uma história real, o filme retrata a vida de Dona Pureza, uma fazedora de tijolo e mãe de um filho que saiu de casa a fim de uma nova chance na vida e que não volta para casa. Preocupada, ela resolve sair pelo Brasil a procurá-lo e, nessa jornada, acaba deflagrando o trabalho escravo contemporâneo, fazendo as primeiras imagens desta atividade ilegal. “Eu me senti convocada para interpretar Pureza. É um marco para mim, um encontro de atriz e cidadã num mesmo lugar”.

HUMANOS DIREITOS

Apresentadora do “Criança Esperança” e diretora geral da ONG Humanos Direitos – movimento de pessoas públicas que buscam dar visibilidade a causas que não têm visibilidade –, desde pequena Dira se envolve com causas sociais. No colégio, fazia parte dos movimentos estudantis e já se preocupava com a Amazônia e as injustiças sociais que presenciava por lá.

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“Eu sempre tive a preocupação de olhar para as pessoas que estão nos interiores do Brasil, pois de uma maneira ou de outra, nas cidades você tem visibilidade, e no interior não – isso em um país extremamente rural. Nós viramos as costas para o Brasil rural”. A ativista convida os leitores a estacionarem os olhares sobre as frutas de suas casas: “Provavelmente houve uma demanda muito grande de pessoas e mãos para estas frutas chegarem até a fruteira. É preciso valorizar as frutas e pensar sobre a origem de cada produto”.

ESTAMOS JUNTOS

“Acho que precisamos colocar mais mulheres na política, merecemos mais espaço”, responde Dira ao ser questionada sobre as eleições deste mês. Em segundo lugar, veio à cabeça da artista a questão do discurso político polarizado. “Tenho amigos que pensam diferente de mim, mas que querem as mesmas coisas que eu. Então vamos caminhar juntos?”

Quanto aos aspectos estruturais da política brasileira, ela reflete inconformada sobre os males quinhentistas da nação. “A corrupção é um dos grandes problemas do país, mas há corrupção no mundo todo, então não é possível que esta seja a única justificativa para o país não dar certo. Eu não tenho respostas, mas tento me desdobrar, pois tenho dois filhos e quero um Brasil melhor para eles”. Ela finaliza o tema com uma triste comparação: “Ora, a corrupção existe no Japão também, um país que consegue se recuperar de um tsunami em dois meses, enquanto nós não fomos capazes nem de terminar o metrô para a Copa e as Olimpíadas”. E emenda: “Se tivéssemos investido nas novas gerações com o mesmo ímpeto que nos preparamos para estes megaeventos, com certeza estaríamos colhendo muito mais frutos”.

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A GRANDE FAMÍLIA

Peregrinação do Círio de Nazaré, Belém do Pará. Logo pela manhã, no segundo domingo do mês de outubro, cerca de dois milhões de pessoas caminham juntas, em uma congregação de amor e paz, da Catedral da Sé até a Praça Nossa Senhora de Nazaré. Nestes dias, os bairros ficam tranquilos e existe um respeito divino entre todas as religiões presentes na cidade, que oram juntas. Quem descreve esta cena é, mais uma vez, Dira Paes. O evento que acontece em Belém há mais de 300 anos – e que é o momento ideal para quem quer se encontrar com a cultura paraense – vem na memória de Dira quando questionada sobre fé. “Sou devota de Nossa Senhora Aparecida. Acredito em Deus, nessa força maior que rege a energia de tudo e todos”. Para a atriz, esse grande potencial energético está em todos os seres vivos, inclusive no próprio homem, passível de transformar e transferir essa energia. “Acredito muito no poder de mudança que existe dentro de cada ser humano”.

Pitty: Essência rock’n’roll

Pitty: Essência rock’n’roll

Longe da estrada há anos, desde que deu à luz sua primeira filha, Madalena, a cantora e compositora Pitty volta aos palcos com tudo. Dia 21 de setembro ela apresenta no Audio Club o show “Matriz”, que em breve deve dar origem ao 6º álbum de sua carreira.

“Quero algo diferente para esse tour, fundindo o que é simples e básico na sonoridade, na música e na estética visual, chegando em algo novo que converse mais com o meu momento atual. Um conceito de simplicidade baseado na experiência com a música. Diferente da minha última turnê, que foi mais tecnológica, quero experimentar uma coisa mais humana”, conta Pitty.

A baiana de 40 anos está iniciando um novo ciclo, uma nova forma de trabalhar as músicas. Contrariando os moldes tradicionais, nos quais primeiro é lançado um álbum e depois a turnê, desta vez os shows estão acontecendo simultaneamente ao lançamento das músicas que entrarão no disco.

Entre essas novas canções, três já são grandes sucessos nas rádios e nas plataformas digitais: “Na Pele”, “Contramão” e “Te Conecta”. A primeira foi gravada com a luxuosa participação de Elza Soares. “Contramão” foi interpretada com Emmily Barreto (da banda Far From Alaska) e Tássia Reis. “Compus essa música há anos, e um dia tive um insight, vendo que ela tinha que ter mais vozes, cores, sons e linguagens. Então pensei em outras mulheres pra cantar comigo e chegar nessa mistura. Foi aí que chamei a Emmily e a Tássia”, diz a cantora. E “Te Conecta” traz um ritmo mais próximo do reggae e do dub. “Talvez as pessoas não saibam, mas desde cedo escutei coisas muito diferentes, não apenas rock. Essa canção traz essa coisa do roots, do rústico, da ideia primal do som bem mais orgânico usando alguns elementos da eletrônica”.

Sobre a letra, ela conta que foi escrita num período de muita reflexão pessoal. “Senti a necessidade de encontrar meu tempo e espaço nesse girar rápido do mundo. ‘Te Conecta’ fala sobre isso, sobre achar o silêncio e olhar um pouco para si mesmo. A minha questão nessa letra é: ‘onde é que está o meu lugar?’. Porque eu tenho buscado esse lugar e quero enxergar as coisas sob uma perspectiva menos urgente”.

Após o show em São Paulo, a turnê segue pelo país, passando por Fortaleza (dia 29/9), Natal (12/10), Belo Horizonte (26/10) e Curitiba (10/11).

CCBB inaugura exposição do arquiteto Athos Bulcão

CCBB inaugura exposição do arquiteto Athos Bulcão

Máscara criada por Athos Bulcão inspirada no filme 2001, uma Odisséia no Espaço

Máscara criada por Athos Bulcão inspirada no filme 2001, uma Odisséia no Espaço

O Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo exibe a mostra “100 Anos de Athos Bulcão”, que celebra o nascimento, em 1918, deste grande artista. Pintor, escultor, desenhista e artista gráfico, o carioca Bulcão foi assistente do pintor Cândido Portinari e trabalhou com Oscar Niemeyer na construção de Brasília.

A exposição do CCBB procura homenagear o talento do artista que se conectou com a arquitetura, mas também com telas, tintas, pincéis, azulejos, fotografia e até cenários e figurinos. Um universo rico e fascinante, mapeado pelos curadores Marília Panitz e André Severo, que selecionaram mais de 300 trabalhos, alguns dos quais inéditos, criados entre os anos 1940 e 2005.

Dividida em vários núcleos, a mostra destaca a pintura figurativa do artista realizada nos anos 1940 e 1950; sua relação com a pintura sacra; os croquis feitos para o grupo de teatro O Tablado, do Rio de Janeiro; figurinos que ele fez para as óperas “Amahl e os Visitantes da Noite” de Menotti; e até os lenços que desenhou quando estava em Paris.

Serviço

CCBB – Rua Álvares Penteado, 112, Centro, tel. 3113-365. Entrada franca. Até 15 de outubro.

Há 109 anos, nascia Roberto Burle Marx

Há 109 anos, nascia Roberto Burle Marx

A espécie Bombax embeleza o jardim de Burle Marx na Fazenda Vargem Grande

Considerado um dos maiores paisagistas do mundo, Burle Marx nasceu em São Paulo no dia 4 de agosto, mas passou a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Aos 18 anos, foi morar na Alemanha para tratar um problema de visão e lá conheceu a vegetação brasileira no Jardim Botânico de Dahlen, em Berlim.

A partir daí, passou a compor jardins nos quais combinava a natureza brasileira com plantas tropicais de outras origens. Segundo uma estética europeia, as plantas dos jardins brasileiros da época eram importadas.

Entre seus mais de dois mil jardins e praças projetados no Brasil e em vinte países há muitas preciosidades. O Aterro do Flamengo, o Itamaraty, o Parque do Ibirapuera e o Parque Municipal Roberto Burle Marx, em São José dos Campos, são algumas de suas obras mais famosas.

Mas há outros jardins feitos por ele, lindíssimos, que podem ser visitados, caso do conjunto paisagístico da Fazenda Vargem Grande, em Areias, onde Burle Marx transformou o antigo terreiro de café em um jardim com cinco espelhos d’água, esculturas de pedras, 19 quedas d’água e duas piscinas de água corrente natural, divididos em três níveis.

Foram cerca de dez anos entre a criação e a conclusão da obra, na década de 1970. Esse mágico jardim repleto de vitórias-régias, ninfeias, bromélias e agaves está aberto para visitação. A Fazenda Vargem Grande também acolhe – em quatro quartos, no casarão da sede – hóspedes interessados em vivenciar as belezas dessa fazenda de café, construída em 1837.

Fazenda Vargem Grande

www.fazendavargemgrande.com.br

Semana de Arte realiza segunda edição no Pavilhão das Culturas Brasileiras

Semana de Arte realiza segunda edição no Pavilhão das Culturas Brasileiras

Semana de Arte: Frans Krajcberg, pintura, 122 x 77 cm, óleo sobre papel moldado em tela (1961)

Frans Krajcberg, pintura, 122 x 77 cm, óleo sobre papel moldado em tela (1961)

Com curadoria do mexicano Pablo León de la Barra, responsável pela seção de arte latino-americana do Guggenheim e curador do MAC Niterói, a Semana de Arte acontece no início de setembro com muitas novidades.

Comandado pelos galeristas Luisa Strina e Thiago Gomide, pelo curador Ricardo Sardenberg e pelo empresário cultural Emilio Kalil, o evento se organiza em torno de uma feira de artes visuais, mas também traz sessões de filmes documentários, um ciclo de palestras e passeios arquitetônicos pela capital paulista. Enquanto no ano passado a programação era espalhada por diversos endereços, neste ano todas as atividades – com exceção das excursões pela cidade – se concentram em um lugar só.

O evento, que reúne um seleto grupo de 43 galerias de arte do Brasil e do mundo, com artistas de destaque como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Frans Krajcberg e Lygia Pape, acontece às vésperas da 33ª Bienal de São Paulo, cuja inauguração é no dia 7 de setembro.

Pavilhão das Culturas Brasileiras – Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, Ibirapuera. Das 12h às 20h. Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia).