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Rádio Vozes: Disco de Gilberto Gil é dedicado a seus afetos

Rádio Vozes: Disco de Gilberto Gil é dedicado a seus afetos

Aos 76 anos, o compositor lança o álbum “OK OK OK”

Na música brasileira temos uma tradição de compositores cronistas. Desde Noel Rosa, Wilson Batista, fomos abençoados com sambistas clássicos que traduziram seu tempo com humor e ironia. Mas poucos usam esse suporte, a música, para uma reflexão tão profunda como Gilberto Gil. E não falo aqui somente do cotidiano, mas também de filosofia, de existência, de religião.

Você que me lê certamente conhece algumas dessas canções a que me refiro. “Se eu Quiser Falar com Deus” – escrita originalmente para Roberto Carlos, a partir de um pedido dele –, é um exemplo. Roberto não gravou porque a canção não retratava o Deus de sua crença, mas um “vazio-Deus” como explicou o autor. A filosofia budista aparece em “Aqui e Agora”, de 77: “a situação confortável que deveria ser buscada e atingida pelo homem, de integridade na vivência de cada momento”. A música “Quanta”, com o seu “Cântico dos Quânticos”, é uma reflexão sobre a física quântica que se aproxima do misticismo, se refere à Bíblia e à ciência ao mesmo tempo.

São muitos os exemplos. Até mesmo em “Super-Homem, a Canção”, um sucesso romântico que tocou muito no rádio em todo o Brasil, Gil faz suas reflexões profundas sobre a condição de ser homem numa sociedade que necessita mudanças. Todas as aspas aqui são do livro “Todas as Canções”, organizado por Carlos Rennó, e que traz as observações de Gilberto Gil sobre sua obra. É um livro maravilhoso!

Mas todo esse preâmbulo é também para falar de “OK OK OK“, seu novo disco. Mais um lindo disco em sua história. Ele mesmo diz que é a primeira produção de sua velhice – Gil completou em agosto 76 anos. Um trabalho produzido por seu filho, Bem Gil, que traz a voz e o violão desse maravilhoso cantor e compositor para o primeiro plano. Nesse sentido, todos os arranjos foram feitos a partir das canções geradas por seus principais instrumentos.

É um disco amoroso, dedicado aos seus afetos. Ao neto, aos médicos que cuidaram dele na doença, aos amigos, às filhas, a Flora, sua mulher. Tem participações de João Donato, Yamandu Costa e Roberta Sá. Ouça inteiro. Mas se demore em “Prece”, “Ouço” e “Afogamento”. Aliás, se demore na obra de Gilberto Gil. Lembrando que o melhor lugar é aqui e agora e que a boa música promove a sua conexão com o divino – seja o que for divino pra você. Boa viagem.