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Bon Vivant: opções culinárias boas, baratas e bacanas

Bon Vivant: opções culinárias boas, baratas e bacanas

Dez anos atrás, em uma das primeiras edições da 29HORAS, escrevi nesta coluna (então intitulada “Comer, Beber, Viver”) sobre o mesmo assunto. Dez anos depois a diferença é que, para ser bom e barato, não é mais necessário falar apenas de restaurantes chineses, italianos ou árabes. A diversidade culinária invadiu a nossa cidade de tal forma que as dicas desta edição serão somente de gastronomias que até então sequer eram encontradas (ou apenas em bairros de nichos dos respectivos imigrantes).

São Paulo está repleta de opções culinárias boas e baratas

Bibimbap do Komah. Fotos: Divulgação

Eu me lembro que para poder provar a comida coreana, eu e o Pedro, publisher desta revista, tínhamos que ir ao bairro da Aclimação – e ainda assim acompanhados dos nossos colegas coreanos da faculdade, que tinham familiaridade com a região.

Hoje temos um representante desta colônia na Barra Funda que está na categoria Bib Gourmand (boa relação custo/qualidade) do guia Michelin: o Komah, que é realmente um lugar especial. Tanto pela qualidade da comida quanto pela personalidade do ambiente, mesmo tão simples. É uma mistura de alma com qualidade.

Outro exemplo de diversidade culinária é a grega. Há cerca de cinco anos era necessário ir ao Bom Retiro para sentir o gosto dos pratos gregos. O Acrópoles era o único representante do seu país em São Paulo. Em 2015, o Myk trouxe o conceito de comida grega para os Jardins e agradou tanto que o mesmo grupo expandiu o conceito com a bandeira Kousina. Hoje, eles têm outros três endereços. A coisa é parecida quando se trata da cozinha espanhola.

Ceviche da Comedoria Gonzales

Lembra quando o Don Curro era a única opção? Ou então você tinha que ir até o Los Molinos, no Ipiranga, para poder degustar uma paella, uma lula en su tinta ou simplesmente um jamon ibérico? Sem contar que tínhamos que formar mesas grandes para justificar o tamanho dos pratos servidos…

Agora existem vários representantes de qualidade da Espanha com o formato de“bar de tapas”, servindo pequenas porções para compartilhar. Entre eles destaco o Teus, na Vila Madalena; o Maripili, em Santo Amaro; e o Museo Veronica, em Moema. Os dois últimos são do mesmo grupo e tão genuínos e despojados quanto competentes. Não devem nada para os originais espanhóis.

Outra onda que acertou os paulistanos em cheio é a dos ceviches. A iguaria peruana aportou há menos de dez anos por aqui e se proliferou numa velocidade recorde. Um exemplo desta delícia é a Comedoria Gonzales, do chef boliviano Checho Gonzales. Além de ter preço razoável, ainda traz o benefício de uma dieta saudável.

Instalada em um lugar despretensioso (fica no box 85 do Mercado de Pinheiros), com um ar bem genuíno, a Comedoria serve ceviches primorosos, realmente delicados e muito bem feitos. À revista 29HORAS, Checho explica que se trata de “comida de imigrante”: “É comida simples, de raiz boliviana e alma andina, feita com ingredientes frescos e de qualidade”, ele diz. Um lugar para comer sem frescura, já que os pedidos são feitos e retirados no balcão (e por isso não há taxa de serviço), e em pratos, copos e talheres descartáveis. O foco é realmente a comida, como as outras opções acima. Bom apetite e até!

Bon Vivant: Alimentação saudável na primavera

Bon Vivant: Alimentação saudável na primavera

Vieiras com ovas do Imakay

Está chegando a estação mais leve e mais sutil do ano. Para mim é a mais bonita e a mais inspiradora. A luz do sol e as cores das plantas nos fazem sorrir. A gente se sente bem, feliz e disposto. A primavera tem um ar de saúde…

É a época perfeita para tomar decisões relativas ao nosso bem-estar. O fato é que grande parte das pessoas que apreciam uma boa mesa vive inventando dificuldades para mudar de hábitos, como se para isso tivesse que abrir mão do prazer. Seja para pegar mais leve no estresse do dia a dia e na alimentação ou até mesmo para fazer alguma atividade física.

Mas uma coisa é certa: essa mudança começa por uma alimentação mais saudável. E São Paulo oferece tantas opções que não é sacrifício nenhum adotar uma alimentação mais leve ou até mesmo vegetariana ou vegana.

Mesmo quem procura casas estritamente veganas (com zero proteína animal) encontra opções cada vez mais sedutoras. Poucos meses atrás, o festejado carioca Teva desembarcou por aqui, no bairro de Pinheiros. Os pratos são tão ricos em ingredientes e sabores que você nem se lembra que a casa é vegana… é de dar água na boca. Que tal uma lasanha de ricota de tofu, tomate seco com espinafre sauté e mussarela de castanha de caju? Aliás, o saudável está tão em alta que grande parte das melhores casas de São Paulo já incorporou pratos vegetarianos e veganos no cardápio.

Tofu orgânico agridoce e polenta do restaurante Nou

No badalado baixo Pinheiros, o contemporâneo Nou acabou de incluir cinco opções veganas, uma mais interessante que a outra, como o tofu orgânico agridoce e o tartar de cenoura.

E a verdade mesmo é que tem comida leve e saudável para todos os gostos. Em uma levada parecida com a culinária japonesa, uma das febres atuais é o poke, prato típico do Havaí que mistura cubos de peixe fresco com arroz estilo gohan, molho de soja, castanhas e até frutas. São Paulo já conta com mais de trinta endereços dessa iguaria light.

Na mesma linha do mar e saudável, está começando a virar febre a comida peruana, que entrou no circuito com o ceviche e vem ganhando sofisticação. No recém-aberto Imakay, por exemplo, as vieiras canadenses são levemente grelhadas e regadas com molho de mel e azeite em cima de crocante de quinoa. O que não falta ali são composições de peixe, ovas e algas. Ou seja, não existe a desculpa de falta de opções apetitosas. E não vamos esquecer que essa leveza toda traz ainda mais disposição para outras práticas saudáveis, né?

Resumindo, pouco importa a religião culinária de cada um. O verão chegará em três meses e já sabemos que as temperaturas irão bater recordes. Vamos chegar lá mais leves, dispostos e, principalmente, bem humorados?

Até!

Bon Vivant: A alegria de sair de casa (e dos apps)

Bon Vivant: A alegria de sair de casa (e dos apps)

O discernimento na hora de usar os apps é fundamental para não perder de vista o prazer de jantar fora, ir ao cinema ou até mesmo tomar um sorvete na rua

Quero alertar a todos os bon vivants sobre um fenômeno relativamente novo, mas que de dois anos para cá vem se tornando assustador. Me segurei até agora porque achei que podia ser considerado um tipo de preconceito ou de radicalismo, sei lá, afinal de contas tenho uma clara tendência saudosista quando o assunto é prazeres urbanos, ainda mais quando a cidade em questão é São Paulo, com tudo o que ela tem a oferecer.

Eu me refiro aos serviços de entrega, mas não apenas aos deliveries de restaurantes, mas também aos de supermercados, sorvetes e tantos outros que nos oferecem até os últimos lançamentos do cinema sem sair de casa.

Os apps querem, e pelo jeito estão conseguindo, nos tirar o prazer de ir jantar fora ou de ir ao cinema e até mesmo de fazer umas comprinhas no supermercado… Socorro!!! Sou a favor de todos os serviços, mas se não houver discernimento, vamos nos enclausurar para poder ficar mais tempo ainda pendurados no celular ou para conseguir ver mais um capítulo da série do momento… No final das contas, um aplicativo leva a outro.

Vamos deixar esse tipo de recurso para dias de chuva ou para situações específicas, quando não podemos manter o programa original que é sair, ver gente, encontrar amigos, ver o que tem de novo na rua ou simplesmente socializar com a nossa cidade.

No Carrefour ao lado da minha casa, fiquei pasmo ao ver uma funcionária do Rappi fotografando uma fatia de salame para perguntar ao seu cliente se a espessura estava boa. Me perguntei se é possível viver sem avaliar e escolher nós mesmos as frutas, legumes e até as flores que irão entrar em casa. Só de pensar que alguém que nunca vi vai fazer essas escolhas por mim, já me diz que algo está errado. A não ser em caso de emergência, claro.

Por isso, acho que todos nós que gostamos de frequentar bares, restaurantes, cinemas e livrarias temos que levantar a bandeira de uso consciente desse exército de apps. Mesmo que você faça sua pipoca e assista a um filme na TV, vamos combinar que não se compara com uma saída com direito a cinema e pipoca original. Assim como a gentileza do garçom ou a crocância do seu sanduíche não conseguem chegar à sua casa, por mais eficiente que seja o seu aplicativo…

Me lembra um pouco a história da caminhada no parque e da esteira na sala… resolve o fisiológico, mas não abastece o coração. Temos que resistir à quantidade de apps que invadiram o nosso dia a dia e que tentam a todo momento nos convencer de que eles podem fazer “tudo” o que estamos acostumados e gostamos de fazer nós mesmos…

Eu sei que tudo é motivo para cair no conforto e ficar em casa, mas tente, por exemplo, encarar o lado bom do frio deste inverno e convide o seu amor ou os seus amigos a ir comer uma das tantas boas sopas de São Paulo. Vai ser alegria, na certa.

Até, bom passeio.

Alguns restaurantes que servem sopas e valem a pena: Spot (pera com alho poró, banana ao curry), La Casserole (sopa de cebola), Le Jazz (sopa de cebola), Quinta de Santa Maria (caldo verde), Rancho Português (caldo verde).

Bon Vivant: o lado B dos “Jardins”

Bon Vivant: o lado B dos “Jardins”

Vieiras no bouillon de gengibre do Tonton

Desde sempre a denominação “Jardins” significou “in”, “chique” e, principalmente, sinônimo de endereço sofisticado. Tipo aquele bairro onde estão as lojas e restaurantes mais bacanas e onde tudo é “desejo”. É ali que ficam ruas do tipo Oscar Freire e Haddock Lobo, onde é gostoso ver e ser visto…

Até hoje o perímetro entre a Alameda Tietê, a rua Peixoto Gomide, a rua Estados Unidos e a rua Melo Alves é endereço obrigatório para flagstores, que nunca dividiu a glória com nenhum outro bairro. No máximo avançou um quarteirão, por exemplo, até a Alameda Casa Branca. Até agora… Mas as coisas estão mudando. A gastronomia, a nobreza e o charme do programa preferido do paulistano atravessaram a avenida Nove de Julho e invadiram o lado até então calmo e tranquilo do Jardim Paulista.

É entre a rua Pamplona e a Avenida Brigadeiro Luiz Antônio que bistrôs e novidades gastronômicas estão fincando bandeira desde o ano passado. Se até então esse lado mais residencial dos Jardins já abrigava alguns clássicos como a pizzaria Camelo, o árabe Miski, a Lellis Trattoria e o lendário italiano Tatini, recentemente alguns novos restaurantes charmosos e com personalidade vieram reforçar esse bairro tão agradável de se explorar a pé, seja de dia ou de noite.

É o caso do francês Tonton e de seu primo italiano Tontoni, os dois tocados pelo competente e já premiado Gustavo Rozzino. O mesmo acontece com o cool and clean Mimo e com o mais que japonês (até o cardápio é em japonês) Quito Quito. Bem no meio desse novo circuito está a Alameda Campinas, que começou com o concorridíssimo Insalata (agora são duas unidades no mesmo quarteirão) e reúne algumas bandeiras de sucesso como a pizza Bráz Elettrica e a gelateria Bacio di Latte em um mosaico de sushis, cevicherias e outras propostas culinárias exóticas.

Eu recomendo sair flanando por esse bairro e se aventurar na porta que lhe parecer mais simpática, mas se quiser aproveitar a viagem para fazer qualquer tipo de compras (de supermercado a cosméticos), também vale passar no Shopping Pamplona (onde era o famoso supermercado Eldorado), com direito a muitas outras opções de restaurantes no seu rooftop…

Realmente esses poucos quarteirões do lado de cá dos Jardins se tornaram uma opção agradável para um jantar charmoso ou para um almoço executivo. Aliás, até para um café (da manhã ou não), já que bem na Alameda Campinas, quase esquina com a Estados Unidos, também está a concorrida Padaria da Esquina, do renomado chef português Victor Sobral.

Bon appétit!

Bon Vivant: São Paulo abriga restaurantes de regiões icônicas da Itália

Bon Vivant: São Paulo abriga restaurantes de regiões icônicas da Itália

Spaguetti Pettirosso, da Osteria del Pettirosso

Seria impossível escrever em poucas linhas sobre todos os bons restaurantes italianos que permeiam São Paulo. Entre trattorias e restaurantes refinados poderíamos ocupar a revista inteira… e isso sem falar das pizzarias.

É por esse motivo que a homenagem do Bon Vivant à Italia paulistana vai para apenas duas casas que nasceram e se mantêm até hoje representando exclusivamente uma região específica da bota.

A primeira homenageada é a Sicília, tão conhecida pelo resto do mundo por sua beleza, seu povo e suas histórias, que renderam inúmeros clássicos da literatura e do cinema.

Taormina é considerada por muitos a mais linda cidade da ilha e deu nome a este restaurante simples e aconchegante na Alameda Itu, nos Jardins. Para ter uma ideia da legitimidade do lugar, seu Salvatore, marido de dona Helena Zamperetti Morici, que hoje toca a casa e a cozinha, era cônsul da Sicília em São Paulo.

Aberto desde 2003, o Taormina funciona só no almoço e muda o cardápio todos os dias, o que garante o frescor dos ingredientes e explica os sabores acentuados. São duas opções de entrada (tipo berinjela à parmegiana ou à caponata ou até mesmo uma pera ao forno com gorgonzola e pinoli).

Já o prato principal traz cinco opções, uma mais saborosa que a outra. Entre elas, as obrigatórias pasta à la Norma, o fusilli à calabrese ou o sofiotti negro de tinta de lula com recheio de frutos do mar. O café vem na cafeteirinha típica italiana Bialetti e acompanha um legítimo canollo sicilianni espetacular. E o melhor, é classificado como bom e barato.

Outra cultura culinária muito bem representada é a da cidade de Roma. A Osteria del Pettirosso, apesar de ser um restaurante de ticket mais alto, com certeza vale a visita de quem aprecia a cozinha romana. Ali, Marco Renzetti, chef da casa, pode começar com uma porção típica dos embutidos romanos que reúne guanciale (bochecha de porco), pancetta bem carnuda, presunto de cordeiro, lonza de maiale (contrafilé suíno) e bresaola.

Completam presunto de Parma e mortadela italiana. Outra entrada imperdível é o crudo de lagostim e ouriço. Depois vem os pratos clássicos como rigatoni de pajata (tripa de cordeiro em molho de tomate picante) ou tonnarelli ao queijo pecorino e pimenta do reino, até criações autorais como a porchetta (porco desossado e recheado de lombo e copa ao aroma de alecrim, sálvia e pimenta-do-reino).

Essa sugestão ganha a companhia de purê de batata e tomate cereja confit. De sobremesa não complique, vá no impecável tiramissu à Roma ou no fondente de cioccolato. Erika, sua esposa, cuida do salão e da carta de vinhos.

É claro que para diferenciar estes lugares das dezenas de outros bons italianos de São Paulo é necessário conhecer um mínimo da origem dessas culinárias, mas, acreditem, é para italiano nenhum botar defeito.

Arrivederci!