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Destaque no surf mundial, Maya Gabeira luta pela preservação dos recursos hídricos

A água é a casa, o lazer e o ganha-pão de Maya Gabeira. Ou seu templo, onde interage com forças da natureza e o imponderável. Surfista profissional premiadíssima, Maya viaja pelo mundo há 18 anos, sempre atrás das melhores ondas. Melhores e maiores. Sua especialidade é domar as ondas gigantes.

Entre uma rodada e outra da atual temporada, fomos localizar nossa big rider em Nazaré, Portugal, onde mora há cinco anos. Na última década, a pacata vila de pescadores virou parada obrigatória para os surfistas mais radicais. Hoje, do alto do forte da cidade, construído no século XVII, é possível acompanhar atletas valentes desafiando ondas selvagens de até 30 metros de altura.

Maya Gabeira é porta-voz da luta pela preservação dos recursos hídricos. Foto: Divulgação

Maya Gabeira é porta-voz da luta pela preservação dos recursos hídricos. Foto: Divulgação

“Aqui é ótimo”, elogia Maya em conversa com a 29HORAS. “É um lugar bastante  com a verde, com praia e muita natureza. E temos um estilo de vida calmo e simples”.

Criada no Rio, onde aprendeu a surfar aos 12 anos, ela parece não ter planos de deixar Nazaré. Foi lá, na Praia do Norte, que a carioca bateu um recorde com direito a registro no Guinness Book. Em janeiro de 2018, encarou uma muralha d’água de 20,72 metros de altura. Imagina isso: um vagalhão de cinco andares, furioso, um vento danado de ruim, água gelada, e a Maya deslizando tudo desde lá do alto, reinando sozinha durante uma eternidade medida em segundos. Tenso, mas lindo de ver.

A façanha teve gosto ainda mais especial porque foi justamente na mesma praia, em 2013, que Maya sofreu um grave acidente na tentativa de vencer as alturas das ondas.

Atingida por uma massa de água descomunal, ela foi derrubada da prancha, ficou submersa um bom tempo e saiu da água desacordada e com um tornozelo quebrado.

Foram momentos escabrosos, mas ela foi resgatada pelo surfista Carlos Burle, seu companheiro de equipe, reanimada e levada para o hospital. Maya passou por duas cirurgias na coluna, caiu dentro do apoio psicológico, ficou de molho durante alguns meses e correu atrás da recuperação plena.

O susto gigante virou lição de vida a ser considerada até por quem nunca chegou perto de uma praia. Vem daí, aliás, uma reflexão muito válida:

Maya Gabeira com seu recorde registrado no Guinness Book. Foto: Arquivo Pessoal

Maya Gabeira com seu recorde registrado no Guinness Book. Foto: Arquivo Pessoal

“Vivo com essa filosofia: não desistir, usar os erros e barreiras para evoluir, crescer e levar à frente os desafios. Você deve estar sempre buscando se superar, não desistir”, ensina Maya.

A propósito, foi com essa mesma raça – que naturalmente contou com o reforço de Iemanjá, Netuno e outras entidades das águas – que Maya se manteve em pé novamente sobre as ondas, com cada vez mais habilidade. E foi nessa fé que, em 2018, voltou à mesma praia do acidente para tornar-se a primeira mulher a surfar uma muralha daquele tamanho.

Esse episódio já rendeu inúmeras reportagens em todo o mundo e, não por acaso, a gente aqui considera a surfista carioca uma heroína – que, de fato, é. Ela se diz muito feliz nesse momento em que está de volta às águas do mar, com saúde e autoconfiança. É lindo de ver.

O que entristece a surfista é a crescente poluição nas praias – em todas por onde andou, nos cinco continentes. E elas não foram poucas em seus 32 anos de vida.

Maya Gabeira começou a competir aos 15. Dois anos depois, foi morar na Austrália e, em seguida, no Havaí, capital interplanetária do surfe. Foi nesse tempo que a carioca tomou contato e apaixonou-se pelas ondas gigantes. Desde então, a prancha voadora não sossegou mais: África do Sul, Indonésia, Polinésia Francesa, Taiti etc. Até no mar do Alasca ela fez seu nome.

Justamente a intimidade com esse mundão que permite seu veredicto: “A degradação ambiental é problema mundial, talvez o maior desafio da humanidade neste momento, e ainda vai dar muito trabalho para todos nós”, diz a surfista. “Não dá para apontar para um lugar ou outro que esteja livre dessa questão”.

Maya com seus colegas no mar. Foto: Reprodução/Instagram

O que é mais evidente, no seu dia a dia, é a quantidade de lixo despejado nos litorais. Sobretudo, plástico. E é mesmo um volume assustador. Segundo relatório publicado em 2019 pela organização World Wide Fund for Nature (WWF), com dados do Banco Mundial, oito milhões de toneladas de lixo plástico vão parar nos oceanos, ano após ano. Nesse ritmo, diz a ONU, em 2050 haverá mais plásticos do que peixes nos mares do planeta.

Maya relata sua experiência pessoal, que é comum à de muitos de seus parceiros de esporte e de ofício: “Cada vez mais a gente sente falta de peixes e da fauna marinha em geral. Em alguns pontos, onde havia abundância de espécies, elas começam a ficar escassas mesmo, ou pela pesca em maior escala, ou porque deixam seu ambiente pela falta de alimentos”, afirma ela, já sem a tranquilidade natural da sua voz. “São muitas questões envolvidas, mas há cada vez menos vida no mar, que está mais sujo. Essa é uma combinação bem nítida. Lugares onde havia pesca submarina fácil agora têm cada vez menos peixes”.

Sempre que pode, dá sua opinião e dicas sobre como contribuir com a causa ecológica.

“Há milhões de coisas que a gente pode fazer no dia a dia, tipo não usar garrafa plástica ou os sacos do supermercado, nem tomar banhos tão longos para evitar desperdício… Qualquer tipo de economia é importante”, sugere ela, sem deixar de fora uma mensagem deveras instigante. “Temos que fazer um consumo consciente tanto da energia quanto da água e dos bens materiais. Vamos aprender a consumir menos e, assim, produzir menos lixo por pessoa”.

A surfista em Nazaré, em Portugal. Foto: Luiza de Moraes/Divulgação

Muito bom, considerando que o consumismo é mesmo uma doença de larga escala e de longa data. No que toca ao meio ambiente, as ações individuais são necessárias, claro, mas Maya também reforça que a solução para a degradação acelerada passa sobretudo por decisões e políticas veementes de governos, entidades e, claro, empresas de todos os tamanhos.

“Do jeito que estamos, a gente vai ter que se mexer muito para mudar essa maré de poluição e de problemas ambientais. A crise é cada vez mais séria. Da parte dos governos, precisamos de novas leis. E as grandes empresas já começaram a olhar para isso de forma mais ativa, agindo para reverter esse quadro insustentável”.

Eis aí um recado direto, sem marola, de quem vê bem de perto os efeitos desastrosos dessa lixarada assassina.

Sangue verde

Pelo menos no caso da cidadã Maya Reis Gabeira, podemos garantir que brigar pelo meio ambiente é coisa que vem de berço. Ela é filha da estilista Yamê Reis, fundadora do Rio Ethical Fashion, reconhecida por seu trabalho na moda sustentável, e do jornalista Fernando Gabeira (foto), um dos fundadores do Partido Verde do Brasil, em janeiro de 1986.

Naquela época, a ideia de haver um partido pre ocupado com as questões ecológicas e sociais era bastante respeitada na Europa, e só. Aqui ainda dominava a visão ambiental atrasada, de que somos detentores de riquezas naturais ilimitadas, e que, por isso, essa pauta não é fundamental.

O tempo mostrou que a sustentabilidade deixou de ser uma preocupação regional e se tornou uma questão planetária, crucial para o bem-estar das próximas gerações.

Fernando Gabeira, pai de Maya. Foto: Reprodução/Facebook

Eleito deputado federal do PV em 1994, Gabeira completou quatro mandatos em Brasília e, desde 2012, se dedica ao jornalismo e às palestras. Em suas viagens pelo Brasil, para o seu programa no GloboNews, ele se concentra em temas ambientais e sociais e, principalmente, na questão da água.

“A água é vida, tem uma importância fundamental, e o Brasil, por falta de saneamento básico e outros fatores, destrói permanentemente o seu patrimônio hídrico. A ausência de saneamento não é um problema de falta de educação, mas sim de política pública. É o grande fracasso da atual geração de políticos no Brasil”, afirma Gabeira, ressaltando que o consumo de serviços públicos, como saneamento, deve vir antes do consumo de eletrônicos.

Orgulhoso da filha Maya (ele também é pai de Tami, psicóloga), Gabeira acompanha carinhosa e atentamente a carreira da filha no mar. Tanto é que os dois têm um combinado: assim que a jovem sai da água, em campeonatos, liga para ele.

Logo após o acidente de 2013, quando Maya já estava devidamente longe de riscos, o pai zeloso não escondeu, numa entrevista ao jornal O Globo, uma opinião curiosa sobre as surpresas da filha:

“Preferia que a Maya fosse tenista, mas ela não seria a mesma pessoa. Então está ótimo assim”.

Pois é. Longe do surfe, Maya Gabeira não seria a mesma pessoa. Então está ótimo assim.

Destaque no surf mundial, Maya Gabeira luta pela preservação dos recursos hídricos

Destaque no surf mundial, Maya Gabeira luta pela preservação dos recursos hídricos

A água é a casa, o lazer e o ganha-pão de Maya Gabeira. Ou seu templo, onde interage com forças da natureza e o imponderável. Surfista profissional premiadíssima, Maya viaja pelo mundo há 18 anos, sempre atrás das melhores ondas. Melhores e maiores. Sua especialidade é domar as ondas gigantes.

Entre uma rodada e outra da atual temporada, fomos localizar nossa big rider em Nazaré, Portugal, onde mora há cinco anos. Na última década, a pacata vila de pescadores virou parada obrigatória para os surfistas mais radicais. Hoje, do alto do forte da cidade, construído no século XVII, é possível acompanhar atletas valentes desafiando ondas selvagens de até 30 metros de altura.

Maya Gabeira é porta-voz da luta pela preservação dos recursos hídricos. Foto: Divulgação

Maya Gabeira é porta-voz da luta pela preservação dos recursos hídricos. Foto: Divulgação

“Aqui é ótimo”, elogia Maya em conversa com a 29HORAS. “É um lugar bastante  com a verde, com praia e muita natureza. E temos um estilo de vida calmo e simples”.

Criada no Rio, onde aprendeu a surfar aos 12 anos, ela parece não ter planos de deixar Nazaré. Foi lá, na Praia do Norte, que a carioca bateu um recorde com direito a registro no Guinness Book. Em janeiro de 2018, encarou uma muralha d’água de 20,72 metros de altura. Imagina isso: um vagalhão de cinco andares, furioso, um vento danado de ruim, água gelada, e a Maya deslizando tudo desde lá do alto, reinando sozinha durante uma eternidade medida em segundos. Tenso, mas lindo de ver.

A façanha teve gosto ainda mais especial porque foi justamente na mesma praia, em 2013, que Maya sofreu um grave acidente na tentativa de vencer as alturas das ondas.

Veja a matéria completa em nosso site do Rio.

Maria Ribeiro está sempre buscando novas formas de expandir sua obra

Maria Ribeiro está sempre buscando novas formas de expandir sua obra

Maria Ribeiro gosta de falar – e deixa isso claro logo no início da conversa com o repórter. Diz até que tem que se controlar porque fala alto. Nem é bem assim, mas uma coisa é certa: parece já ter refletido sobre qualquer assunto que apareça. Seja sobre a insana política brasileira ou os doces dramas do cotidiano, a atriz sempre tem algo a comentar. Ela está de olho em tudo.

Não foi à toa que, depois de quase duas décadas como profissional das artes cênicas, nos últimos anos Maria se descolou um pouco dos textos alheios e abriu caminhos para suas próprias palavras. Como quem não quer nada, em dois tempos tornou-se comentarista do programa “Saia Justa”, na TV a cabo, cronista na grande imprensa, escritora, diretora e autora de peças teatrais e de documentários. Mas mantém-se, sobretudo, atriz.

Única artista da da família, Maria Ribeiro apresenta seu olhar de repórter a todo momento. Fotos: Jorge Bispo

“Eu AMO trabalhar”, diz ela, cariocamente enfática. “Acordo às seis já cheia de ideias, chamo amigos para os projetos. Não paro quieta nem um minuto. Amo”.

A julgar pela sua agenda próxima, eis aí o tipo de amor (ou paixão) fértil. Entre o finzinho de 2019 e 2020, Maria Ribeiro enfileira muitas estreias: tem o documentário “Outubro”; “Isso Não é Aqui”, longa de Felipe Nepomuceno com o ator Alexandre Nero; a segunda temporada de “Desalma” e a série “Todas as Mulheres do Mundo”, ambas no GloboPlay. Tem também o monólogo “Pós F”, baseado na obra da escritora, roteirista e atriz Fernanda Young, grande amiga que morreu em agosto deste ano. Nessa correria, promete revirar a gaveta dos afetos e trabalhar no documentário “Leonídio”, sobre o próprio pai, morto em 2013.

Veja a matéria completa em nosso site do Rio.

Maria Ribeiro se reinventa a cada dia, encontrando novos caminhos para expandir sua obra

Maria Ribeiro se reinventa a cada dia, encontrando novos caminhos para expandir sua obra

Maria Ribeiro gosta de falar – e deixa isso claro logo no início da conversa com o repórter. Diz até que tem que se controlar porque fala alto. Nem é bem assim, mas uma coisa é certa: parece já ter refletido sobre qualquer assunto que apareça. Seja sobre a insana política brasileira ou os doces dramas do cotidiano, a atriz sempre tem algo a comentar. Ela está de olho em tudo.

Não foi à toa que, depois de quase duas décadas como profissional das artes cênicas, nos últimos anos Maria se descolou um pouco dos textos alheios e abriu caminhos para suas próprias palavras. Como quem não quer nada, em dois tempos tornou-se comentarista do programa “Saia Justa”, na TV a cabo, cronista na grande imprensa, escritora, diretora e autora de peças teatrais e de documentários. Mas mantém-se, sobretudo, atriz.

Maria Ribeiro

Única artista da da família, Maria Ribeiro apresenta seu olhar de repórter a todo momento. Fotos: Jorge Bispo

“Eu AMO trabalhar”, diz ela, cariocamente enfática. “Acordo às seis já cheia de ideias, chamo amigos para os projetos. Não paro quieta nem um minuto. Amo”.

A julgar pela sua agenda próxima, eis aí o tipo de amor (ou paixão) fértil. Entre o finzinho de 2019 e 2020, Maria Ribeiro enfileira muitas estreias: tem o documentário “Outubro”; “Isso Não é Aqui”, longa de Felipe Nepomuceno com o ator Alexandre Nero; a segunda temporada de “Desalma” e a série “Todas as Mulheres do Mundo”, ambas no GloboPlay. Tem também o monólogo “Pós F”, baseado na obra da escritora, roteirista e atriz Fernanda Young, grande amiga que morreu em agosto deste ano. Nessa correria, promete revirar a gaveta dos afetos e trabalhar no documentário “Leonídio”, sobre o próprio pai, morto em 2013.

Com produtividade em alta, falta um romance para o currículo de Maria. Ou talvez não, porque assunto ela tem de sobra – e já tem até editora, o que costuma ser o mais difícil. Difícil mesmo, no caso, é ela se quietar para escrever.

“Sou superindisciplinada”, diz ela. “E preciso ver se tenho realmente algo a dizer”. Certamente não há razão para esse receio, como se vê pelas crônicas semanais que publica no jornal O Globo desde 2016. Quem a acompanha já percebeu que a – escritora tem pelo menos uma característica essencial para quem vive da palavra: a curiosidade.

“Sou daquelas que perguntam mesmo. Não tenho medo de perguntar”, explica. “Tenho muito interesse nos outros, tenho alma de repórter, quero saber da vida das pessoas. E, como pergunto sem maldade, até coisas íntimas vêm à tona”.

Elenco de “Todas as Mulheres do Mundo”

Essa alma de repórter não sossega. Tomando seu café pingado em um bistrô carioca, com um olho atento ao redor, outro olho no interlocutor, nada do que é humano lhe escapa; parece mesmo que está fazendo anotações mentais. E está, porque tudo pode virar material de trabalho.

É assim que Maria exercita o pensa mento ágil e abre o verbo, sem medo (nem – intenção) de chocar. Quer apenas se expressar, como todos. E, vá lá, se chocar, é só um pouquinho, o bastante para chacoalhar as ideias que pairam sobre a mesa. Faz bem; reforça sua presença. Mas nem sempre foi tão fácil. A depender da família, de um estilo tão tradicional como há tempos já não se vê por aqui, o papel de Maria no planeta seria mais discreto.

“Tive uma infância bem burguesa, nada artística, até porque não havia artistas na família. Como sempre fui boa de falar, meu pai dizia que seria capaz de convencer todo mundo se eu fosse advogada”.

Aos 14, a menina entrou na companhia “Atores de Laura” e caiu naquela vida acelerada de ensaios intermináveis. Encontrou sua turma. Pela família, tudo bem, contanto que essa coisa de teatro não virasse profissão. Como se sabe, a família perdeu essa batalha, mas a caçula da Marina e do Leonídio teve que comprar muito barulho para seguir nos palcos. Teve até que encarar uma faculdade e tirar um diploma – e foi por isso que se formou em jornalismo pela PUC do Rio, embora tenha tido a sensatez de não exercer o ofício.

Maria Ribeiro e o ator Alexandre Nero no longa “Isso Não é Aqui”

Quando a família viu, Maria do Amaral Ribeiro já estava lá metida com teatro – principalmente depois de conhecer Domingos Oliveira (1936-2019), cineasta genial que retratou como poucos as pequenezas e as grandiosidades dos relacionamentos contemporâneos:

“O Domingos foi arrebatador, mostrando o tipo de dramaturgia que eu queria”.

Não é por acaso que outro projeto da atriz para 2020 é publicar parte dos 25 anos da sua troca de correspondências com Domingos. Já tem até parceiro para organizar a relíquia. No dia a dia, nos palcos ou nas telas, a influência do amigo sobre a obra de Maria Ribeiro é notável. Pode-se dizer, sem medo, que ela herdou do cineasta esse dom, ou tom, de espalhar afetos.

As colunas no jornal tratam disso. Bem, tratam de qualquer coisa, mas relacionamentos são um tema-chave, assim como a política. Ela chega ao ponto de misturar esses dois assuntos numa sacada que Domingos certamente assinaria:

“Nossa democracia é assim como o casamento: você percebe que já acabou, mas ainda fica torcendo para dar uma virada”.

Frases assim – tão domingueiras – chamam a atenção de leitores de todas as faixas etárias ou socioeconômicas. Tanto que o pequeno “Crônicas para Ler em Qualquer Lugar” (Editora Todavia, 2019), que reproduz textos seus e dos amigos-irmãos Gregório Duvivier e Xico Sá, tem recebido elogios entusiasmados Brasil afora.

Ao lado de Gregório Duvivier e Xico Sá, em viagem pelo sertão do Brasil

Maria conta que, na esteira de lançamento do livro, os três percorreram cidades incríveis de um país que a gente ignora.

“Pirei com o sertão”, confessa. “É deslumbrante. Brasileiro não conhece o sertão. Vai para o Marrocos, mas não vai pro sertão. Não pode”.

Nas estradas, ao lado dos outros dois coautores, ela esteve com milhares de pessoas e, melhor de tudo, ouviu muitas histórias. Amou:

“Sou do tipo que se emociona com as coisas, as situações, e sempre vejo o que tem de arte atrás daquilo. É meio uma deformação profissional. Então tento ir fundo e tornar aquele momento uma dramaturgia”.

Pelo jeito, ela sempre consegue.

Outubro inesquecível

Aos 44 anos de idade, Maria Ribeiro está animadíssima com a série “Todas as Mulheres do Mundo”. Serão cinco episódios baseados em histórias do amigo Domingos Oliveira e escritas por Jorge Furtado. Idealizadora da série, ela acredita que é preciso falar de amor. “Neste momento da primavera feminista, todo mundo está à flor da pele, então é importante falar disso”.

Diferente da maioria dos seus pares, ela não gosta de se esconder quando o assunto é política. Pelo contrário. Sempre foi presença certa em palanques e eventos da esquerda. Prova disso está no documentário “Outubro”, que dirigiu com Loiro Cunha e será exibido no Festival de Cinema do Rio, em dezembro.

Maria Ribeiro em cena de seu documentário, “Outubro”

De tênis e vestida de noiva (mas sem véu nem buquê), ela acompanhou, nas ruas de São Paulo, a semana que antecedeu o segundo turno das eleições de 2018. “Agora entendemos que Bolsonaro foi eleito e que ele é mais parecido com o Brasil do que a gente gostaria. Ele representa uma indelicadeza institucionalizada, que acha OK ser grosseiro, desumano, racista, desigual. Mas essa coisa “eles e eu” não adianta. É o nosso país”.

Para Maria, agora é hora de gestar “Leonídio”. Tendo o pai como personagem central da história, o filme será montado a partir de cenas gravadas há quinze anos, numa casa de praia da família. As imagens ficaram intocadas durante todo esse tempo e devem render boa poesia. A casa foi vendida, outras viriam; o pai partiu, os filhos crescem. São dois: João, de 16 anos, fruto do casamento com o ator Paulo Betti, e Bento, de 9, filho dela e do também ator Caio Blat.

Djavan: de craque nos gramados, na infância, a mestre na música

Djavan: de craque nos gramados, na infância, a mestre na música

Djavan roda o Brasil a partir de março com seu novo álbum

Djavan tem um desejo peculiar: conhecer o metrô carioca. Ele mora no Rio desde os anos 70, mas nunca teve tempo de dar uma voltinha pelos subterrâneos da cidade. É assim, afinal, a vida de quem não para de trabalhar, sempre jogando nas onze. Eis aí uma boa analogia.

No seu campo, Djavan é um jogador sem posição fixa: ataca de poeta, compositor, instrumentista, cantor, arranjador e produtor, e se defende até na cenografia e no figurino dos shows. Ossos do ofício? Não! Prazeres do ofício. “Nasci para isso. Faço tudo sem sofrimento. Me divirto muito”, diz Djavan à revista 29HORAS.

Acumular tarefas – e executá-las – é uma alegria para o músico alagoano. E o resultado é evidente. Com 40 anos de estrada e 24 discos, umas tantas coletâneas e milhares de espetáculos mundo afora, parece que ele só compôs clássicos: “Flor de Lis”, “Sina”, “Samurai”, “Oceano”, “Meu Bem Querer”, “Pétala”, “Se” e por aí vai. Um show só com seus sucessos seria coisa de três, quatro horas de duração. Sem contar o bis.

Na verdade, Djavan acostumou-se a tocar grandes hits desde o início da carreira – mesmo que não fossem de sua autoria. Ainda nos anos 60, por exemplo, quando circulava com a banda LSD pelas cidades alagoanas, seu repertório era basicamente dos Beatles.

— Eu era o Paul McCartney – conta ele, divertindo-se com histórias de tantas décadas. — Preferia cantar a parte do John Lennon, mas esta estava com meu colega de banda. Olhar para a vida pregressa de um criador como Djavan é quase inevitável, mas não é algo que o atraia. Ele nem ouve seus discos antigos (que chegam a valer até R$ 500 em sites).

Mais que isso, o músico comete mesmo o pecadilho de garantir – num exagero típico de poetas – que seu passado é zero. Como assim? Ele responde com a mais perfeita tradução de o que significa djavanear:

Capa do álbum “Vesúvio”

— Eu me entediaria se tivesse que contar com o passado. Meu passado é zero, não me eleva; não vou esperar que o meu futuro se faça baseado no passado. O que já foi… já foi. Uma pessoa assim gosta do desafio, do difícil, não por ser difícil, mas por impor a conquista. É disso que eu gosto. Gosto de conquistar, de ir à luta.

É esse gosto pelo futuro que faz sua obra ter a mudança como característica permanente. Parece ensinamento budista, ou talvez seja uma contradição, mas tem a ver – até porque falamos de arte, não de gramática. A cada disco, pode-se esperar algo bem longe da mesmice pouco artística que tanto tem empesteado nossas rádios.

Agora mesmo, no CD “Vesúvio”, lançado no fim de 2018, o músico alagoano surpreende apresentando a lírica “Madressilva”, que é nada menos que uma valsa. Quem, em pleno século XXI, ainda compõe valsas? Dá até saudades de velhas serestas d’outrora:

— Acho bom fazer esse tipo de coisa ainda. É uma valsa não do século passado, mas de 2018, com harmonização complexa e desafios de que não abro mão. E obedece à minha diversidade.

Outra canção em que o poeta brinca feliz com as palavras é “Orquídea”. Conhecedor e colecionador dessas belas plantas, fez um samba aproveitando nomes científicos de algumas espécies. O estranhamento é inevitável – e muito sedutor: “Lembra aquela Phalaenopsis que você me deu?/ Me deixou com Sophronitis por um beijo seu/ Pleurothallis, Paphiopedilum/ Cores demais, nada comum”. Nada, nada comum. Por isso mesmo, bem Djavan, do início ao fim.

O craque dos gramados

Nascido em Maceió em 1949, Djavan Caetano Viana entrou na adolescência ensaiando uma bela carreira no futebol. Chegou a atuar na equipe juvenil do CSA, time querido da capital alagoana. Talvez venha daquele tempo sua manha para administrar o meio de campo, tocando a bola pra frente, valorizando o jogo e a plateia. Como se sabe, seu destino não era o futebol, o que não o impediu de jogar suas peladas durante muito tempo.

— Não pendurei definitivamente as chuteiras. Mas, como trabalho muito, tenho medo de me machucar. Gosto dos jogadores que veem o futuro antes da galera que está na arquibancada. Eles conseguem driblar até a plateia.

Essa paixão o leva a assistir aos jogos do seu Flamengo e de gigantes como Barcelona, Real Madrid e Juventus – mas ele diz que não é mais a mesma coisa. O futebol mudou, e os talentos de hoje têm sua atuação limitada pelo jogo duro.

— Não diria que o futebol de hoje impossibilita a inteligência, mas ele é limitante. O Neymar, que é inteligentíssimo, vive machucado, porque alguém vem e quebra ele. Esse vigor está ao alcance de qualquer perna de pau. Mas o futebol jogado com inteligência é uma grande arte.

Pelo jeito, o músico e poeta também seria um bom comentarista dos jogos da rodada. Contanto, claro, que isso não atrapalhe suas turnês.

Uma grife musical

A música salvou Djavan das botinadas inglórias que certamente levaria nos gramados . Para abraçá-la de vez, teve pelo menos dois grandes incentivadores. A primeira foi a própria mãe, Virgínia, fonte de sua musicalidade desde sempre, fã da Rádio Nacional e que nunca se opôs a vê-lo abraçado ao violão – como seria comum à época.

— Muita gente queria que eu optasse pelo futebol. Só minha mãe insistia na música – lembra ele.

Por essas e por outras, devemos uma sincera reverência à Dona Virgínia. A ela e ao médico Ismar Gatto, pai de um amigo da escola pública. Gatto abriu-lhe sua discoteca. Foi lá que o garoto talentoso, à época com 13 anos, deixou-se conduzir de vez pela música. Não poderia ser diferente:

— Eu tinha uma curiosidade absurda por aquele mundo, e o Dr. Gatto me deu esse presente. Eu não queria sair da casa dele quando via aquele universo incrivelmente raro, onde conheci a música africana, que me deixou louco, o flamenco, o jazz, R&B e a música brasileira em geral. Tinha Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Duke Ellington, John Coltrane, Charlie Parker… Mas acima de todos estão Luiz Gonzaga e Beatles.

Seu mais antigo LP, “A Voz, o Violão, a Música de Djavan”, é de 1976

A coisa se concretizou mesmo quando, além de cantar, o ex-jogador adotou o violão, já aos 16 anos. Foi então que tantas influências começaram a produzir frutos no caldeirão que é a cabeça de Djavan, sempre atento a informações de todos os cantos.

Não é por acaso que a obra do músico alagoano ecoa sons universais que ele conheceu lá naquela época – o que certamente o ajudou a sedimentar seu sucesso em outros países. Suas melodias jazzísticas e, ao mesmo tempo, brasileiríssimas, são sua marca registrada – assim como suas tranças e o sorriso generoso.

Embarque imediato

O trabalho é intenso, mas Djavan nem sabe exatamente de qual das etapas da produção de um CD ele gosta mais:

— A hora da criação é a mais importante e é onde realmente me expando e coloco minha mente. Nesse momento desfruto de uma grande felicidade. Mas é no advento da gravação que sou mais íntegro, é onde me revelo, e eu nasci para me revelar, sei que tenho que pôr as coisas pra fora. Agora, tem também o outro lado, o palco, um complemento totalmente necessário. Essas etapas me deixam num estado de felicidade total.

Sinal de que vem mais felicidade por aí, porque Djavan e banda já estão devidamente afinados para a turnê que levará as músicas de “Vesúvio” – e alguns clássicos djavânicos – a mil cantos do mundo. A turma deverá circular por um ano e meio, pelo menos.

O primeiro show está marcado para o dia 22 de março, em Santos. A partir daí, a turnê segue para Campo Grande, São José do Rio Preto, Rio de Janeiro e por onde mais o público demandar. É ele quem manda, no fim das contas. E Djavan nunca vai deixá-lo.