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Venda online de vinho cresce e o momento é de imersão

Venda online de vinho cresce e o momento é de imersão

Os canais de venda tradicionais foram a pique. Restaurantes, bares e lojas estão fechados ou trabalhando com delivery, absolutamente fora de sua proposta. As importadoras de vinho se adaptaram a essa modalidade de venda. Afinal, é o que restou. 

Quem se deu bem e muito bem, foram os supermercados que estão funcionando normalmente. Para se ter uma ideia, o Pão de Açúcar cresceu em 50% as vendas de vinho desde março. Um salto impensável. Outro setor que cresceu foi a venda virtualcomo os clubes de vinho que também experimentam um crescimento semelhante. 

Importante observar que há diversas propostas nesse mercado, há clubes que vendem vinhos de rotulagem linda e com vinhos muito simples dentro e outras que vendem produtos mais selecionados de preços mais altos e de volumes limitados. O fato é que, mesmo com esse crescimento todo, o volume não cobre a perda que se observa.  

Venda online de vinho cresce e o momento é propício para uma imersão em livros e cursos

Venda online de vinho cresce e o momento é propício para uma imersão em livros e cursos

De um lado, cresce o consumo na residência por motivos óbvios, mas de outro as pessoas se restringem com gastos, o resultado é o crescimento dos vinhos mais simples. Eu diria que na faixa de preço de até 50 reais. Os vinhos brasileiros saem ganhando e esses se encontram nos supermercados, como Aurora Varietais, os Almadén e os Salton Classic. 

Isso também se explica porque o câmbio cresceu quase 50% em dois meses e isso reflete em tudo. Os vinhos estão mais caros e vão ficar ainda mais. Um momento muito difícil. Penso que agora os produtores brasileiros deveriam intensificar ofertas e delivery e promover seus vinhos. 

As pessoas não conhecem vinho, não sabem das suas diversas alternativas, de regiões, de estilos, de produtores, etc., e então acabam confiando em quem lhe indica o vinho. Os clubes sempre falarão bem dos vinhos que estão oferecendo, porém para quem é do ramo sabe que hoje, um vinho vendido a 30 reais custou lá fora 1 euro. Isso é algo que os consumidores deveriam ter em mente e dar preferência a um vinho feito em seu país, que nesse momento precisa sobreviver. 

Eu acho que hoje o consumidor deveria primeiro escolher um importador ou um produtor brasileiro em quem confia, quem cuida bem de seus vinhos e são honestos. Então a partir daí você pode escolher entre muita variedade. Hoje todos entregam, é uma facilidade. 

Há também um fator bom para o vinho nisso tudo. As pessoas estão dentro de casa e estão sem a possibilidade de sair, assim podem prestar mais atenção ao vinho que bebem. O vinho precisa disso, pois há diferenças entre eles, entre as castas, entre os assemblages. Quando a pandemia passar, os consumidores estarão mais familiarizados com os vinhos, tenho certeza.  O importante é experimentar, variar, esquecer as notas e palpites de experts de vinho, acredite em você. 

Mergulhe!

“Confissões de uma amante de vinhos” de Jancis Robinson

E informe-se, há inúmeros cursos de vinho e livros maravilhosos para se curtir nestes tempos de confinamento, sugiro de cabeça os seguintes: A História do Vinho de Hugh Johnson,A experiência do gosto de Jorge Lucki, “A Arte de Degustar o Vinho” de Enrico Bernardo, Confissões de uma Amante de Vinhos de Jancis Robinson, Vinho para Iniciantes e Iniciados de José Oswaldo Albano do Amarante, Presença do Vinho no Brasil” de Carlos Cabral e “O Gosto do Vinho” de Émile Peynaud e Jacques Blouin. 

Eu tenho um curso que vez por outra é lançado na web, sugiro que o leitor interessado se inscreva em “O vinho é simples 2020” e acompanhe o próximo lançamento. Saúde!! 

Bom de copo: Portugal é referência em vinhos orgânicos

Bom de copo: Portugal é referência em vinhos orgânicos

Com a matéria do Natale Giramondo sobre Cascais e Algarve, não poderia deixar de falar dos vinhos portugueses. Quem já foi a Portugal sabe da excepcional amabilidade daquele povo que tanto gosta de ouvir nossa maneira de falar sua língua. Eu tenho a sorte de todos os anos ir a Portugal, curtir esse acolhimento. E, no mês de fevereiro, acontece o “Simplesmente… Vinho”, um encontro para o qual sou sempre convidado.

Encontro “Simplesmente… Vinho”de 2018, na cidade do Porto

O “Simplesmente… Vinho” é, na verdade, um salão off de vinhos, arte e música. Um verdadeiro espetáculo para quem gosta de vinhos puros e sinceros – aqueles que são feitos sem produtos químicos, de forma artesanal.

Se você pretende ir a Portugal nesse período, tem que visitar esse salão. Pense o que é ter cem produtores de vinhos, todos orgânicos, naturais e alguns biodinâmicos! Cada um deles com cinco, seis, sete amostras diferentes do que produz… Impossível, trata-se de uma Disneylândia de vinhos para alguém como eu. E esse país abriga uma diversidade impressionante.

Você sabia que Portugal, depois da Itália, é o país com a maior quantidade de castas autóctones? E essa nação tão pequena tem ainda uma diversidade de terroir inacreditável. A ideia é priorizar sempre os vinhos da região onde estiver, pois você irá aprender mais. Os vinhos portugueses estão em uma fase de grande frescor e muita tipicidade das castas. Não perca!

Vinículas familiares para conhecer em Portugal

Quinta Casal Figueira

Propriedade familiar na região de Lisboa, em A-dos-Cunhados, produz vinhos com práticas biodinâmicas, como Roussanne, Marsanne, Petit Manseng. O primeiro Casal Figueira saiu em 1995, demorou muito tempo a ter o devido reconhecimento, mas agora está entre os melhores.

Casa de Mouraz

Foi fundada em 2000 em Mouraz, no coração do Dão, região conhecida como a Borgonha portuguesa. Surgiu como um projeto familiar de viticultura sustentável e produção de vinhos autênticos e naturais com a riqueza do seu terroir de origem. Conta com vinhas velhas com cerca de 50 anos e vinhas recém-plantadas.

Quinta das Bágeiras

Da região de Sangalhos, a vinícola familiar de 1989 produz vinhos de grande longevidade, sejam tintos, brancos ou espumantes. Esses últimos são elaborados somente na versão Bruto Natural, quando há pouca concentração de açúcar.

Outras para conhecer:

Aphros Wine, Quinta de Saes, Quinta da Palmirinha, Dominó, Quinta do Arcossó, Quinta do Romeu, Vadio, Mapa, Olho no Pé, Vale da Capucha, Quinta do Mouro, Antonio Madeira, Quinta da Pellada, Quinta do Infantado, Viúva Gomes e Bago de Touriga. Saúde

Bom de copo: A moda do vinho Bio – a novidade que está conquistando os paulistanos

Bom de copo: A moda do vinho Bio – a novidade que está conquistando os paulistanos

Antônio e Bruno Faccin com seu vinho familiar

Hoje o vinho Bio (na Europa significa orgânico), ou biodinâmico, natural, está definitivamente na moda. E não é só por aqui não, está no mundo todo. Na França, os vinhos Bio cresceram nos últimos cinco anos nada menos do que 276%! O dado foi divulgado pela revista francesa La Revue du Vin de France, que trouxe sua capa de junho dedicada ao tema dos orgânicos, biodinâmicos e naturais. Nesse momento, o importante é você priorizar a boa informação e procurar checar sobre os produtores, pois os oportunistas aparecem sempre onde há demanda.

Para experimentar um vinho realmente puro, lembre-se de dar uma visitadinha no site do produtor e olhar suas fichas técnicas, procurando, por exemplo, sobre a fermentação. Veja se é espontânea ou se menciona leveduras indígenas. Quem produz vinho assim, faz questão de dizer em suas fichas. Esses são os vinhos mais autênticos que você encontrará, pois as leveduras indígenas, naturais do vinhedo, são a garantia do sotaque daquele local.

Isso não quer dizer que esses vinhos sejam melhores que outros, até porque gosto é algo particular e cada um tem o seu – inclusive, as pessoas se acostumam com um determinado gosto. Porém, eu gostaria de convidar você a abrir seu paladar para experiências de autenticidade, pois no futuro é isso que os bons apreciadores de vinho procurarão, um vinho que represente de fato sua origem, a família que o produziu. Acredite.

Autenticidade

Confira alguns dos brasileiros naturais, que devem realmente ser experimentados. Saúde!

Atelier Tormentas

Sediado em Canela (RS), Marco Danielle é um produtor absolutamente livre e que está fazendo história. Não conheço outro caso de vinho brasileiro que tenha arrancado no mundo tantos elogios.

Era dos Ventos

Na Serra Gaúcha, Luís Henrique Zanini produz de modo artesanal vinhos de personalidade. Seu Era dos Ventos Peverella foi apresentado como destaque em junho em Nova York, em um seminário sobre vinhos naturais.

Entre Villas

Eles são feitos de forma artesanal, sem adição de sulfitos, na serra da Mantiqueira, em São Bento do Sapucaí (SP). Entre as castas, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Shiraz, Malbec e Pinot Noir.

Faccin Vinhos

Produzidos em Monte Belo do Sul, na Serra Gaúcha, com vinhedos próprios, os ótimos vinhos da marca têm fermentação de leveduras selvagens contidas na casca da uva. Segundo a família Faccin, são “vinhos que dão alegria sem dar ressaca”.

Vinhedo Serena

Uma família superunida que vive em Pinto Bandeira, no nordeste do Rio Grande do Sul, onde cultiva vinhos com certificação orgânica, manejo biodinâmico, cores e sabores diversos. Um resgate de tradições e antigos saberes.

Famiglia Boroto

Em Garibaldi, os Boroto produzem vinhos orgânicos desde 1986. Hoje fazem vinhos com as uvas próprias e sem nenhum aditivo nem SO2. Alguns de seus vinhedos são centenários.

Bom de Copo: Angelo Gaja revolucionou a qualidade do vinho no Piemonte

Bom de Copo: Angelo Gaja revolucionou a qualidade do vinho no Piemonte

Barbaresco, do produtor italiano Angelo Gaja

Falar de vinho em uma edição especial sobre a Itália requer espaço para uma revista inteira… Imagine falar de Vêneto, Verona, Friuli, Piemonte, Lombardia, Abruzzo, Emilia Romagna, Toscana, Lácio, Sicília! E cada uma com seu estilo, sua história, suas castas autóctones! Não é a toa que os gregos chamavam a Itália de “Terra do Vinho”: Enotria.

Mas eu escolhi apenas um nome para representar a Itália nesta página dedicada ao vinho. Falo de Angelo Gaja, um raro consenso nesse universo como o homem mais importante do vinho italiano. Gaja foi o responsável pela valorização e qualificação do vinho italiano no mundo.

Seu trabalho mudou de patamar a imagem e a qualidade do vinho italiano. Seu Barbaresco está certamente entre os melhores e mais elegantes vinhos do mundo. É o maior ganhador do Prêmio Tre Bicchieri no guia de vinhos italianos Gambero Rosso e o único a merecer as “tre stelle” do guia, que o classifica em primeiro lugar na Itália.

Eu tive o privilégio de estar com Angelo Gaja diversas vezes e tenho mais de quinze vídeos no youtube feitos com ele. Aos 79 anos, Gaja é uma aula ambulante e uma simpatia imensa. Fala com uma convicção e uma autoridade que parecem de um general romano dos tempos de César… Na última vez em que esteve no Brasil, tive a gratíssima surpresa de saber por ele que estava se convertendo ao biodinamismo, o que para mim é prova de inteligência e respeito ao meio ambiente. Todos os vinhos de Gaja, que devem ser experimentados uma vez na vida, são encontrados na importadora Mistral.

Humor e carisma

Em 2011, Gaja esteve em São Paulo às vésperas de um 1º de abril. Eu cheguei a ele e perguntei se na Itália também havia a brincadeira do dia da mentira. Ele disse que sim e eu perguntei se ele toparia me responder uma questão absurda para esse dia. Ele, bem-humorado como sempre, topou. E eu então lhe perguntei por que Gaja estava desenvolvendo um prosecco tinto. Ora, prosecco é um espumante de uvas brancas, a Glera, e não poderia nunca ser tinto.

Gaja também não tem espumantes em seu portfólio. Ou seja, um absurdo total. Pois ele dá uma enorme gargalhada e responde que sim, que quer tentar todas as possibilidades para difundir o vinho italiano! Foi superengraçado e eu postei no dia 1º de abril de 2011. Se você quiser assistir ao vídeo, acesse o youtube digitando: Angelo Gaja e seu Prosecco Rosso. Vale ver a simpatia de um extraordinário personagem do mundo do vinho italiano.

Bom de Copo: Os vinhos do Uruguai

Bom de Copo: Os vinhos do Uruguai

Bodega Bouza, adega familiar em Montevidéu, no Uruguai

Eu comecei a falar bem dos vinhos do Uruguai há mais de uma década. Era voz solitária na época. Fui criticado. Hoje vejo com alegria jornalistas do mundo todo elogiando os vinhos deste país maravilhoso, de gente maravilhosa e de gastronomia maravilhosa.

Inclusive, colegas meus que me criticaram e ironizaram meus textos hoje rasgam elogios aos vinhos do Uruguai. Que bom, não estava nem louco nem errado… O Uruguai é conhecido pela tannat, a uva do Madiran, sudoeste francês onde até hoje se produzem ótimos rótulos com esta cepa.

Lá, o processo pede anos de garrafa para que o vinho amacie… Confesso que gosto dele mais rústico. Não há harmonização melhor para uma carne sangrando, acredite. Mas devo dizer que a grande vantagem do Uruguai é que a quase totalidade de seus produtores é formada por pequenas famílias, gente da melhor espécie, uma mistura de bascos franceses e italianos que tratam você como alguém do próprio clã. Isso não tem preço.

Para você ter uma ideia, certa vez, numa viagem por lá, um produtor ficou de me pegar no hotel para irmos à vinícola. Trata-se do Daniel Pisano, uma espécie de embaixador do Uruguai: efusivo, dinâmico e que produz vinhos espetaculares. Pois eu entro no carro e ele abre um embrulho mal feito de papel, e dentro tinha um pedaço de pizza! Deliciosa! E me disse: “Desculpe, Didú, minha mãe que fez e está tão gostosa que eu tinha que te trazer um pedaço…” Precisa dizer mais?

O Uruguai é isso. Cada família tem um bom vinho, nenhum é parecido com nenhum, pois eles têm muita personalidade e são muito teimosos, dando as costas para vizinhos e, inclusive, para o exterior. Fazem o que acham certo e de maneira praticamente artesanal. Aqui no Brasil as melhores importadoras têm algum produtor de lá.

Saúde!