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Novos restaurantes resgatam o brilho da Rua Amauri

Novos restaurantes resgatam o brilho da Rua Amauri

A capital paulista é uma cidade marcada por suas ruas temáticas, para cada demanda há um lugar certo para procurar. Quer um carro importado? Vá para a Avenida Europa. Instrumentos musicais? Na Teodoro Sampaio você encontra a tuba, o trombone e a trompa. Eletrônicos e outras bugigangas? Vasculhando a Santa Ifigênia, você pode até montar um foguete com peças made in China.

Já a gastronomia se espalhou por toda a cidade, tamanha é a sua importância. Mas uma via em particular, a Amauri, ruela espremida entre as movimentadas avenidas Nove de Julho e Brigadeiro Faria Lima, ficou famosa no início dos anos 2000 por concentrar, em menos de 300 metros, muitos dos restaurantes mais requintados da cidade. Com a crise, sofreu baixas, enquanto surgiam outros polos gastronômicos. Mas, recentemente, novos empreendimentos vieram para recolocar a Amauri de volta ao pódio culinário. Confira aqui algumas das novidades que estão dando água na boca.

Orgânico e sustentável

Diversas opções de hambúrguer no Muda. Foto: Divulgação

No Muda Organic Burguer & Bar, o conceito orgânico e a prática sustentável são levados a sério. Tudo ali foi pensado para construir um ambiente ecologicamente correto. O cardápio contempla receitas criativas que agradam a carnívoros, vegetarianos e veganos, com ótimos hambúrgueres. No bar, drinques com vodca, cachaça e gim orgânicos.

Avenida Brigadeiro Faria Lima, 2.885, esquina com Rua Amauri, tel. 3078-2393.

Para os amantes do gim

Ginteria é a casa do gim. Foto: Divulgação

Misto de bar, restaurante e balada, a Ginteria tem um ar nova-iorquino e decoração industrial. Seja na pista de dança, no rooftop ou no bar interno, são servidos ótimos drinques com gim. Do clássico Dry Martini a criações modernas, como o Watermelon G, com xarope de melancia, orange bitter e fever tree. Pratos como o carré de cordeiro, o fetuccine ao triplo burro e o risoto de grãos harmonizam bem com a bebida celebrada.

Rua Amauri, 284, tel. 2539-0267.

Glamour francês

Bagatelle traz o primor da culinária francesa para a Amauri. Foto: Thays Bittar / Divulgação

Referência quando o assunto é culinária francesa, com unidades em Nova York, Ibiza, St. Barth, Saint-Tropez, Londres e Monte Carlo, entre outras, o Bistrot Bagatelle traz todo seu charme à rua Amauri. A decoração franco-inglesa e as salas independentes, ideais para eventos pequenos e exclusivos, tornam o restaurante uma locação perfeita para almoços e jantares sofisticados. Experimente o carpaccio de peixe branco marinado com rabanete e crouton de mandioca e a lagosta grelhada e flambada servida com pasta fresca.

Rua Amauri, 244, tel. 99809-7549.

Obra de arte nipônica

Restaurante Miu é novidade na Rua Amauri. Foto: Thays Bittar / Divulgação

No Miu, mais novo japonês da Amauri, paisagens do extremo oriente ganham vida: galhos floridos de cerejeiras, estatuetas e telas de gueixas e carpas criam com elegância essa atmosfera, enquanto você desfruta a culinária japonesa no conforto de uma poltrona aveludada. Um diferencial são as ótimas robatas, preparadas no carvão, com carnes, legumes e frutos do mar. Para os fãs dos bons e velhos sushi, sashimi e temaki, a casa oferece várias opções.

Rua Amauri, 244, tel. 96581-8899.

Cebiches incríveis

Arroz criollo, da Cebicheria Peruana. Foto: Thays Bittar / Divulgação

Receitas típicas e criações inspiradas no país andino são as atrações da Cebicheria Peruana, assinadas pelo jovem chef peruano Diego Zararu. Ex-filial do La Mar no Brasil, o restaurante tem foco na tradição e no respeito pelos ingredientes peruanos. Confira o Arroz Criollo, o Lomo Saltado e o Polvo e panceta. Os cebiches são ótimos e aparecem também em uma degustação especial, por R$ 97.

Rua Amauri, 328, tel. 3073-1213.

Para ouvir jazz e dançar

O Café Society, a mais notívaga das casas da Amauri, é um charmoso “dining club”: reúne gastronomia e música, uma referência aos clássicos nights clubs. Perfeito para bebericar drinques ao som de bandas e artistas selecionados do jazz, do soul e do blues; jantar muito bem e, claro, dançar.

Noites no Café Society prometem gastronomia e música de ponta

Tudo isso até alta madrugada. Toda quarta-feira, a partir das 19h, a noite “Dinner Dance”, criação do promoter Edinho Veneziani, reúne os adeptos da dança de salão: bandas e DJ tocam estilos diversos e os personal dancers agitam o público, convidando todo mundo para dançar. O clima lembra os night clubs dos anos 70 e 80, como Gallery e Hippopotamus. A noite é democrática, misturando jovens e a galera que frequentou essa era de ouro da noite paulistana, e o som vai do cheek to cheek no melhor estilo Sinatra até uma seleção especial da disco, incluindo bolero, salsa e tango.

Rua Amauri, 334, tel. 3197-4410.

Drag queen mais famosa do país, Pabllo Vittar surpreende com a sua doçura, alegria e simplicidade

Pabllo Vittar

Encarnando a drag queen mais famosa do Brasil, com seus 8,6 milhões de seguidores, ou na pele de Phabullo, o garoto que adora ficar em casa, em Uberlândia

Quem chegou para a entrevista na sala Diamante do hotel Blue Tree Morumbi, em São Paulo, não foi o Phabullo Rodrigues da Silva, o menino de 24 anos e 1,87 m de altura que adora ficar em sua casa em Uberlândia, em Minas Gerais, de camiseta e bermuda, estirado no sofá vendo Netflix. Quem apareceu – ou melhor, irrompeu – para conversar com o time da revista 29HORAS foi a drag queen Pabllo Vittar. Maquiada, toda montada, divertida, contagiante, a personagem que o jovem maranhense Phabullo criou há três anos é uma diva que seduz quem está à sua volta e hoje tem um séquito de 8,6 milhões de seguidores no Instagram.

“O Phabullo é muito tímido, gosta mesmo de ficar em casa… Já a Pabllo, não. A minha drag é extrovertida, she is a beautiful girl… She is an angel!”, ela reforça em um inglês perfeito e com uma entonação exagerada, arrancando risos dos presentes.

Perguntada sobre como gostaria de ser chamada, se pelo artigo definido feminino ou masculino, Pabllo não tem dúvidas: “Como você quiser, mas acho que se estou aqui toda linda e arrumada é como a Pabllo, né?”.

Ela se diz no momento “mais feliz” da sua vida. “Eu tenho tido prazer de levar minha música para outros países. Fico contente de ver nativos de diversos lugares consumindo minha música e entendendo a mensagem que quero passar”. Nem sempre foi assim, ela conta.

O garoto nordestino que passou a infância no Maranhão e a adolescência no Pará, na cidade de Santa Isabel, sofreu muito bullying e preconceito, desde criança. “Não tenho mágoa, porque esse sentimento só faz mal a você. Mas passei, sim, por muita coisa. O preconceito pode não só machucar, mas destruir as pessoas. O respeito é fundamental”.

Se ela se imaginava chegar onde chegou? “Menina, você acredita que não? Quando eu comecei, o meu foco era ser conhecida no meu bairro, não era nem na cidade. Mas agora eu sou conhecida fora do meu país. Fico muito feliz”.

Em 2015, Pabllo teve seu primeiro hit: o clipe “Open Bar”, que em menos de um mês atingiu a marca de 1 milhão de visualizações no Youtube. De lá para cá, ela já cantou no Rock in Rio 2017 com Fergie; foi a primeira drag queen indicada para o Grammy Latino; deu dicas de maquiagem no Youtube da Vogue americana; superou o número de seguidores de uma das drags mais famosas do mundo, RuPaul; foi destaque da Beija-Flor no Carnaval do Rio 2018; estrelou campanhas publicitárias de marcas famosas; participou de gravações musicais com figuras como Major Lazer, Charli XCX, Sofi Tukker, Anitta e Diplo; e já ultrapassou 478 milhões de streamings no Spotify. Agora está gravando o seu terceiro álbum de estúdio, “111”, uma referência ao dia do seu aniversário, 1 de novembro.

Pabllo e o dj Diplo

“Sou de escorpião, nasci no dia de todos os santos, sou que nem paetê: quando não brilha, corta”. A artista conta que esse projeto resume o seu desejo de experimentar coisas novas, com canções em inglês e espanhol e participações de artistas
em algumas faixas.

Para além dessas experiências, há algo que está sempre presente no trabalho de Pabllo. Ela é uma fonte de inspiração para a comunidade LGBTQI+, ajudando as pessoas a se aceitarem como realmente são. “Esse moralismo de hoje me dá muito gás para poder levar minha mensagem mais longe ainda. Nunca foi fácil para a comunidade ser quem é, mas ultimamente tudo tem sido ainda mais difícil, parece que a gente vem sendo encurralada. Enquanto eu puder fazer e gritar, eu vou fazer pela comunidade, junto com as minhas amigas que também dão voz a esse processo de respeito e aceitação”.

Pabllo sente que tem um papel político: o de representar pessoas que precisam ser respeitadas. “Quando eu era pequena, eu não tinha alguém que me representasse. Hoje, a minha maior alegria é receber mensagens de gente que diz que agora pode falar com a mãe sobre a sua homossexualidade e que as coisas têm sido mais fáceis. Isso não tem preço. Nos shows que faço aqui e no exterior eu me sinto muito amada e abraçada. As pessoas vêm contar histórias e dizer que estão se aceitando e se amando”.

Apoiada desde sempre pela mãe e as duas irmãs, ela teve amigos que sofreram rejeição familiar. “Eles não podiam fre quentar os lugares que eu frequentava porque tinham medo da reação dos pais, e na minha cabeça isso era tão louco: você não poder ser você…”, reflete.

Pequeno, Phabullo já gostava de dançar e se expressar com o seu corpo. Fez balé clássico durante oito anos com a sua irmã gêmea, Phamella – “Você vê, minha mãe já estava me treinando” –, também foi para o jazz e o forró e até ganhou um concurso de axé aos treze anos. “Coisa horrível de se ver, mas tem no Youtube”, entrega a artista. Seu som não nega as origens familiares. “Minha mãe escutava muita música regional do Pará: pinduca, carimbó… Tanto que minhas canções têm muito de tecnobrega, melody… e eu AA-MOOO! Sou muito Calypso lover!”

Verônica, a matriarca, é a sua grande inspiração. “Ela me ensinou a ser agradecida às pessoas que estão ao meu lado, às coisas que a gente conquista. Eu levo isso muito ao pé da letra”, explica. “Sou muito grata a tudo o que me acontece na vida, tanto de bom quanto de ruim. Tudo é aprendizado e eu aprendo alguma coisa todos os dias nesse rolê de viagem, de shows…”

Phabullo e a sua mãe, Verônica

São muitos os compromissos, aqui e no exterior. Em abril e maio, a cantora fez a sua primeira turnê internacional, com shows no México, na Argentina e no Chile, além de espetáculos na Europa. Em junho, se apresentou em sete paradas LGBTQI+ na América do Norte: Los Angeles, Boston, Miami, Chicago, Toronto, Nova York e San Francisco.

Também tem se multiplicado em shows e aparições Brasil afora. Quem imaginaria encontrar Pabllo Vittar dormindo no aeroporto? Pois foi o que aconteceu depois de um show em Salvador, quando fez escala no aeroporto de Viracopos. “Depois de nove horas de viagem, acabei dormindo umas quatro horas no chão do aeroporto mesmo. E olha que a minha coluna nunca esteve tão boa! Eu tenho muita vontade de viver, então todo dia pra mim é como se fosse o the last”, ela diz, entre gargalhadas cênicas.

As pausas em meio a essa rotina frenética são curtidas em um lugar muito especial: a casa da artista, em Uberlândia. “Eu não escolhi Uberlândia, eu costumo dizer que Uberlândia é que me escolheu. As pessoas me perguntam por que eu não moro no Rio ou em São Paulo, mas eu amo viver em um lugar tranquilo. Na minha rua não tem barulho e lá eu sou o Phabullo, mesmo. Foi lá que tudo aconteceu”, ela diz, pensativa.

Em Uberlândia ela viu pela primeira vez o reality show “RuPaul’s Drag Race”, um marco em sua vida. “RuPaul me inspirou a me montar e a cantar em uma balada, um lugar que eu frequento até hoje e onde os donos são meus amigos”. Foi lá também que Pabllo se viu empreendedora, contratou empresários e produtores e começou a voar.

“Amo passar temporadas no Rio e em São Paulo para trabalhar porque é tudo muito uau…, mas adoro sossego, acho que por isso a minha pele é tão boa”, ela solta. Outro motivo para a pele sedosa, ela explica, é a alimentação regrada, as oito horas de sono e os exercícios. “Como tenho uma rotina louca e preciso estar bem de saúde e bem-humorada, eu me cuido muito. Não sou uma pessoa que gosta de fazer as coisas pela metade, então vivo para dar o meu melhor”. Linda, livre, leve e solta: é assim que Pabllo Vittar se apresenta para o mundo.

Que sua drag é espetacular, a maioria já sabe – o visual impecável e a sensualidade dão muito o que falar, até para quem critica. Mas, talvez, poucos conheçam a doçura desse jovem artista, uma pessoa fofa, gentil, carinhosa, grata pelas experiências incríveis e difíceis que a vida lhe trouxe. Encara as adversidades com otimismo e bom humor, consciente do seu papel neste mundo.

“Não sei o que virá, mas eu quero estar fazendo o meu trabalho com um nível de evolução bafo e levando minha mensagem para todos os lugares. Eu sempre digo: se alguém duvidar que você não pode fazer alguma coisa, vai lá e faça duas vezes (ela faz um som estalado de beijo)! E tire uma foto de preferência!”

Confira o Ping Pong 29 com a cantora:

Flávia Alessandra completa 30 anos de carreira com novos projetos e desejo de curtir mais família

Assídua na ponte aérea, Flávia Alessandra conta que já se acostumou, nas filas no aeroporto, com os comentários sobre a sua Rita de Cássia, personagem que interpreta na novela global “O Sétimo Guardião”, escrita por Aguinaldo Silva. Para quem ainda não a viu nesse divertido papel, vale a explicação: ela encarna com brilho a sensual esposa do delegado da cidade, o Machado (Milhem Cortaz), cujo fetiche é usar calcinhas.

O choque inicial de Rita ao ver o marido vestido com a sua lingerie se transformou depois em uma cumplicidade que apimentou a relação do casal. “No aeroporto, tem sempre alguém me contando que tem um amigo da época da faculdade que pegava as calcinhas da namorada ou que conhece alguém com essa fantasia. Comecei a ouvir tanta história, que acho que deve ser mais normal do que a gente imagina”, ri Flávia.

“Na verdade, acho que todo mundo tem fantasias, e não só no âmbito sexual. A fantasia tem que existir nas nossas vidas, ela é o sonho, o desejo que nos impulsiona”. Para ela, a única regra da fantasia é não ferir o outro, é o respeito: “Se existe um consentimento mútuo, vale tudo para o casal ou para quem quiser”.

A atriz conta que se surpreendeu ao ver que a aceitação dos personagens foi enorme, e entre pessoas de todas as faixas etárias e gêneros. “É um tema delicado, sem dúvida. Mas a gente trouxe à tona essa cumplicidade e esse respeito que eles têm um pelo outro. Os dois formam um casal verdadeiro, querido. Está sendo muito bom trabalhar com o Milhem, um companheirão de cena. Aprendo diariamente com ele”.

O timing do humor

Para mergulhar nesse papel, ela se inspirou na atriz Sophia Loren. Reviu todos os filmes da diva italiana, símbolo da exuberância natural. “Quando li os textos que falavam da personagem na cachoeira, só me vinha o “La Dolce Vita” (1960) na cabeça. Em alguns filmes, a Sophia Loren é aquela mulher de chinelo, sainha, fazendo a pobre, que quando chega na feira é aquele mulherão. E eu tinha essa leitura da Rita”.

Com Milhem Cortaz, companheiro de cena na novela

Depois de ter interpretado grandes vilãs – como a Cristina, de “Alma Gêmea”, e Sandra, de “Eta Mundo Bom” –, muitas mocinhas e alguns papéis cômicos, Flávia curte o retorno ao humor. “Desta vez não é uma comédia rasgada, como “Pé na Jaca”, mas um viés de humor romântico. É um caminho que adoro fazer, embora difícil. Tem que ter todo um timing para fazer rir”. E ela tira de letra a missão, com leveza e carisma.

Parece incrível, mas Flávia Alessandra está comemorando trinta anos de carreira. Aos 44 anos, rosto e corpo de menina, cresceu nos bastidores da tevê. Começou aos quatorze e não parou mais. Diz, rindo, que a grande sorte é que não trabalhou um só dia nessas três décadas: “Eu me diverti nesses trinta anos, porque, de fato, eu amo fazer isso. Caramba, é uma realização!”, se empolga.

Outra fonte de satisfação é a família. Flávia é casada há doze anos com o apresentador Otaviano Costa, com quem tem Olivia, de oito, e é mãe de Giulia, de 18, de seu casamento com o diretor Marcos Paulo, falecido em 2012. Para ela, o segredo de um relacionamento é a cumplicidade. “É a premissa para qualquer casal. Ao mesmo tempo, eu e o Otaviano combinamos de estilo. A gente costuma dosar para ter um tempo com as meninas e o nosso tempo para namorar. É importante manter esse amor, esse querer estar junto”.

Peixe frito, sacolé e pôr do sol

As horas de folga são curtidas na natureza, essencial na vida dessa simpática geminiana

O quarteto está sempre unido, seja no dia a dia carioca ou em passeios e viagens. Sempre que pode, Flávia dá uma fugida para Arraial do Cabo, onde nasceu, para curtir o mar e a vida tranquila dessa bela cidade, a 160 km do Rio. Seu próximo plano é viajar em março com Otaviano e as meninas para participar da pesca da lula, que ocorre nessa época em Arraial. “A pesca acontece em noite de lua cheia, é um momento lúdico e lindo”.

Ela busca o mar para se reequilibrar, para voltar às suas raízes. “Lá eu volto a ser a Flávia de verdade, a Flávia que come peixe na praia, toma sacolé, fica de biquíni o dia inteiro, vê o pôr do sol e adora meditar”.

Outra paixão da atriz é o trabalho social. Pouca gente sabe que Flávia Alessandra é engajada em diversos projetos. Conselheira da organização I Know My Rights (IKMR), que abraça a causa dos refugiados, ela também faz parte dos projetos Movimento Amor Sem Fronteiras e Cidades Invisíveis, e é embaixadora da Brazil Foundation.

“Eu tinha uma certa resistência de falar sobre isso, aquela coisa de que o bem deve ser praticado em silêncio… Mas eu mudei, porque acho que as coisas boas têm que ser propagadas. É uma cultura muito normal para um americano, por exemplo. Quando ele conhece alguém, a primeira pergunta que faz é onde a pessoa mora; a segunda é: ‘que projeto social você ajuda?’ A filantropia faz parte da cultura deles, é natural”.

Flávia com seu marido, Otaviano Costa, e suas filhas, Giulia e Olivia

Recentemente, ela foi para o Líbano visitar assentamentos e conhecer o trabalho com refugiados. “Na IKMR são mais de 150 famílias, a maior parte veio da Síria e de países da África. A gente tenta dar melhores condições para as pessoas recomeçarem. Desde a documentação até material escolar, atendimento médico, emprego…”

Já na Brazil Foundation, Flávia tem se empenhado na campanha Abrace Minas Gerais, para apoiar as vítimas de Brumadinho. As filhas acompanham a mãe nesse trabalho solidário. “Elas entendem que o nosso desequilíbrio social é muito grande e que algo precisa ser feito”. Além das doações, ela gosta de conhecer a fundo os projetos, visitando os lugares, as organizações e conversando com as pessoas. “No Brasil, toda ação pode fazer a diferença.”

Confira o Ping Pong 29 com a atriz:

Caco Ciocler abre 2019 como personagens, diretor e seu apaixonante papel de avô

Caco Ciocler abre 2019 como personagens, diretor e seu apaixonante papel de avô

Quando era menino, Caco Ciocler aguardava a quinta-feira ansiosamente. Era o dia em que seu avô paterno, Samuel, chegava cedo à sua casa para visitá-lo, ocasião em que uma brincadeira se repetia. Caco se escondia e ia se esgueirando pelos móveis e cortinas até conseguir, sem ser notado, estalar um beijo na careca do avô.

Aos 47 anos, Caco Ciocler mudou o estilo de vida e virou galã cobiçado nas redes sociais

O clássico ritual marcou a vida do ator e está no livro lançado por ele em novembro de 2017, “Zeide – A Travessia de um Judeu entre Nações e Gerações”, que conta de forma romanceada a história de sua família. “Meu avô Samuel não era uma pessoa com quem eu tinha grandes conversas, ele também nunca foi me assistir no teatro, pois era contra, mas foi a maior referência afetiva da minha vida”, confessa.

Nesse enredo literário é curioso o desfecho do último capítulo: Caco se torna avô e reproduz com a neta a brincadeira que fazia. “Quando escrevi, eu estava longe de me imaginar avô, mas na noite de lançamento eu soube que o meu filho Bruno seria pai. Foi muito mágico, quase uma premonição, ver a história se repetindo”, lembra o ator, emocionado.

A linda bebê Elis, filha de Bruno, de 22 anos, e de sua namorada, Juliane, é o centro das atenções de Caco, de 47, um avô jovem e assumidamente coruja. “Estou curtindo muito”, diz ele. “Mas a coisa mais bonita de ser avô é ver meu filho exercendo a paternidade do jeito dele. Eu também fui pai jovem, e o que mais gostei foi descobrir minha maneira particular de me relacionar com meu filho. Ver o Bruno nesse processo, com todo o respeito, é a coisa mais bonita. A minha relação com ele se ressignificou sem que a gente precisasse falar”, reflete.

O momento atual propicia uma viagem no tempo: Caco relembra os seus 24 anos, quando – deixou o curso de engenharia química na Politécnica (USP) para abraçar a carreira teatral.

“Nessa fase aconteceu tudo na minha vida. Eu soube que ia ser pai, e isso significava sair da casa dos meus pais, ter uma profissão, sustentar minha família”. E uma semana depois que ele soube da gravidez da Lavínia (Lorenzon, atriz e sua ex-mulher), recebeu um convite para fazer um teste na televisão. Uma realidade distante, porque ele era um estudante de teatro da Escola de Artes Dramáticas (EAD). “Foi quando começou minha carreira, e passei muitos anos aflito com isso, porque estava assumindo uma nova profissão e ela tinha que dar certo. Era uma questão de honra sustentar aquela família”.

Com o pai, o filho e a neta Elis: quatro gerações

Agora quem sai de casa com mulher e filha, com uma nova missão, é seu rebento Bruno. “Ele vai plantar café orgânico no sul de Minas. E olha a coincidência: a minha primeira novela foi “O Rei do Gado”, na mesma temática. Pela primeira vez, eu me vejo encarando a minha profissão sem tanta responsabilidade financeira, apenas experimentando a alegria. É muito bom”, desabafa.

Outro motivo de entusiasmo é a coletânea de projetos queridos que ele vem colocando em prática nesses últimos anos. Em pleno Réveillon, – ele dirigiu o road-movie “Partida”, – no Uruguai, um documentário sobre a viagem da atriz Georgette Fadel em busca de sua maior – referência, o ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica.

Ele também começou a gravar a segunda temporada da série “Unidade Básica”, do canal Universal, na qual é protagonista e atua como diretor. Como o médico Paulo, Caco vive a desafiante – rotina de uma unidade básica da periferia paulistana. Já “Simonal”, com estreia prevista para setembro, tem Caco interpretando o torturador Santana, em um longa que fala de ditadura militar, racismo e fake news – tema atualíssimo, diga-se de passagem. Está previsto para estrear em junho o filme “O Olho e a Faca”, do diretor Paulo Sacramento, e há ainda o longa “Boni Bonita”, de Daniel Barosa, que acaba de ser selecionado para o festival Slamdance, nos Estados Unidos.

Essa produção Brasil-Argentina mostra quatro momentos de Roger, um músico falido, e sua fã adolescente, Beatriz. Ele também estará no teatro este ano com a peça “Soror”, escrita por Luisa Micheletti, sua ex-namorada. Ainda no palco, dirigido por Felipe Hirsch, Caco atuou ano passado em “A Comédia Latino-Americana”, em que viveu brilhantemente o mercenário alemão Hans Staden.

Caco Ciocler em cena

Caco Ciocler na série “Unidade Básica”

Camaleão que é, Caco Ciocler se transforma a cada papel. No filme “Fica Mais Escuro Antes do Anoitecer”, de Thiago Luciano, ele vive o estranho dono de uma fábrica de gelo; já em “João, o Maestro” ele encarna o professor russo de piano que incentivou a carreira de João Carlos Martins. E tem ainda na tevê a série “Elis”, feita a partir do ótimo filme de Hugo Prata, na qual ele interpreta o pianista César Camargo Mariano, marido de Elis Regina. Detalhe: o próprio ator, que teve aulas de piano durante apenas um mês, toca de verdade nas cenas.

Disputado por diretores de cinema, teatro e tevê, Caco tem a habilidade rara de entrar na pele e na alma de um personagem e vivê-lo de forma absolutamente intensa e visceral.

Seus tipos na dramaturgia são os mais distintos e complexos – e como ele é muito produtivo, costuma emendar um trabalho no outro, sem pausas para recuperar o fôlego. “Adoro o meu ofício, porque cada personagem é uma oportunidade de enxergar o mundo a partir de um outro olhar. O meu exercício é basicamente este: ‘Quem é este cara? Como é o corpo dele? O que é importante para ele?’. Sou mais intuitivo do que pesquisador”, diz.

Com mais de 30 filmes na bagagem, 28 novelas e séries, 24 peças de teatro e onze prêmios, Caco hoje se diz aliviado por poder escolher o que quer fazer. “Já tem alguns anos que o teatro virou um lugar sagrado em termos de escolha, onde eu faço absolutamente aquilo que eu quero e trabalho com os diretores que me interessam, pesquisando linguagens, sem me preocupar com a questão financeira”.

Caco Ciocler, em seu personagem no filme

Ator estrela o filme “Simonal”

Na TV, ele não tem esse poder de escolha, mas consegue fazer da sua limonada o drinque do momento. Foi o que aconteceu na recente novela “Segundo Sol”, da Globo, quando trans formou o personagem Edgar – nas suas palavras, “um bundão, mimado, pessoa de pouca atitude e zero carisma” – em um cara interessante e sedutor. A ponto de ter virado, mais de vinte anos depois de sua estreia, um cobiçado galã pós-moderno nas redes sociais.

Caco conta que a atriz Fabíula Nascimento, com quem fez par romântico, o ajudou nesse processo. “Ela me chamou na chincha. Logo na primeira leitura do Edgar, ela me puxou num canto e disse: ‘A minha personagem vai precisar se apaixonar pelo seu. Se você vier assim, você vai me ferrar’, conta o ator, rindo. “Ela foi muito bacana”, reconhece.

O resultado é que Caco fez seu inseguro Edgar ganhar uma carapaça de potência e charme. Para ajudar, decidiu emagrecer cinco quilos e malhar como nunca havia feito antes. Ganhou não só o personagem e o ator, mas o homem. “Eu estava pré-diabético e não sabia. A dieta e a mudança de estilo de vida me fizeram muito bem”.

À vontade no papel de galã maduro, Caco planeja novos voos. Em março e abril irá estudar interpretação na New York Film Academy, nos Estados Unidos. “E tenho um projeto incrível de uma cineasta sobre a inquisição no Brasil, quero filmar no segundo semestre”, avisa.

Assíduo na ponte aérea Rio-SP, o ator, que tem residência fixa na capital carioca, leva a sua vida entre trabalhos, encontros com a família e com os amigos. Aliás, são estes sua maior inspiração. “Tenho poucos e bons amigos, que são os meus mestres. Eles são as pessoas que me inspiram com suas escolhas de vida, com suas escolhas emocionais, afetivas e racionais. São minha base”, diz o também inspirador Caco Ciocler.

André Trigueiro busca um modo mais sustentável para o mundo

O nome mais importante do jornalismo ambiental do país, André Trigueiro se multiplica para dar conta de todas as suas atividades. Professor e criador do curso de jornalismo ambiental da PUC-Rio, palestrante, editor-chefe do programa “Cidades e Soluções”, comentarista do programa “Estúdio i” (ambos do GloboNews) e articulista da Folha, ele também é autor de seis livros e conferencista espírita. Premiado por suas reportagens ligadas à temática socioambiental, André Trigueiro é um apaixonado pela causa, defensor da educação como forma de nos livrar do risco do colapso: “A gravidade da crise ecológica precisa ser objeto de atenção nas escolas, do contrário formaremos novas gerações de analfabetos ambientais”.

André Trigueiro

Jornalista que abraçou a causa do meio ambiente com rigor, André Trigueiro fala sobre a urgência de buscarmos um modelo de desenvolvimento sustentável

Em sua palestra na HSM você frisou a urgência de empresários e executivos investirem na sustentabilidade. O mundo corporativo evoluiu nesses últimos anos?

Sem dúvida, há avanços. Hoje as empresas buscam certificações ambientais, produzem relatórios de sustentabilidade, reduzem consumo de água e energia, dão destinação inteligente aos resíduos, entre outras ações. Há ainda mobilizações coletivas através de entidades como o Ethos e o CEBDS, assumindo publicamente compromissos em favor do meio ambiente ou cobrando ações do governo na mesma direção.

Entretanto, há ainda quem invista em campanhas publicitárias sem mudanças efetivas nos meios de produção ou, pior, induzindo deliberadamente o consumidor ao erro. O caso mais escandaloso de “maquiagem verde” foi o da Volkswagen, que burlou um sistema que aferia a emissão de poluentes de veículos movidos a diesel. A montadora foi obrigada a reconhecer a fraude e isso abalou gravemente sua imagem e a reputação. Onde há democracia, imprensa livre, Ministério Público atuante e redes sociais compartilhando informações rapidamente, erros como esse custam caro e podem ser fatais.

Qual é o papel das empresas na construção de uma sociedade sustentável?

Não há futuro para marcas que não sejam comprometida com o meio ambiente. Pesquisas de prospecção de cenários no mundo corporativo têm apontado o crescimento de uma nova categoria de consumidor, cada vez mais exigente em relação aos impactos causados pelo produto ou serviço que deseja adquirir. Como comer uma carne que tenha cheiro de floresta queimada ou digital de mão de obra escrava ou infantil?

A certificação da carne (rastreabilidade e selagem) está sendo negociada para atender as expectativas dos importadores (especialmente da Europa) e de um contingente cada vez maior de brasileiros. A expansão da consciência ambiental obriga o setor produtivo a fazer ajustes. Não fazê-los significa perder competitividade. Só permanecerão no mercado os que perceberem a inevitabilidade dessa nova cultura.

Por que não boicotamos produtos de empresas que agridem o meio ambiente, como acontece lá fora?

Esse nível de mobilização e consciência costuma acontecer em países onde o nível de informação, educação e cultura são altos. Mas não é impossível vermos isso acontecer por aqui, se as circunstâncias forem favoráveis. O agravamento da crise ambiental abre caminho para esse gênero de protesto.

A tragédia causada pela Samarco é sempre citada como “o desastre de Mariana”, minimizando a responsabilidade dessa empresa. O que podemos aprender com essa triste história?

Não foi acidente. Houve omissão e irresponsabilidade. Os erros que precederam o rompimento da barragem do Fundão foram tão escandalosos que o Ministério Público Federal acusou os responsáveis por homicídio doloso. O fato de até hoje ninguém ter sido preso, nenhuma multa ter sido paga, os que perderam suas casas ainda estarem em hotéis, e não haver previsão de quando será possível recuperar os quase 700 km da bacia do rio Doce (além do litoral capixaba na altura de Regência) configura um dos maiores vexames de nossa história. A Vale e a BHP Billiton (que estão por trás da Samarco) ficarão marcados pela tragédia e pelo que fizeram depois. É simplesmente um escândalo.

“Me pergunto quantas crises ainda precisaremos atravessar até aprendermos a usar com maior cuidado a água que temos”, diz André Trigueiro

20% da Amazônia já foram destruídos. Como evitar mais uma tragédia?

Um estudo recente do economista da PUC-Rio e diretor do Instituto Internacional para a Sustentabilidade, Bernardo Strassburg, revela em números o bom negócio da preservação da Amazônia e do Cerrado. Segundo ele, um hectare de floresta amazônica realiza serviços ambientais (produção de água, regulação do clima, manutenção da fertilidade do solo, prevenção da erosão, polinização das culturas) que, se convertidos em valores, somariam R$ 3.500 por ano. No Cerrado, esse valor seria de R$ 2.300 por ano.

Nos dois casos, os valores superariam com sobras o retorno do investimento no mesmo hectare de floresta desmatado para pecuária (R$ 60 a R$ 100) ou soja (R$ 500 a R$ 1.000) por ano.

Devemos estimular projetos que conciliem a exploração de madeira, minério, proteína animal e soja com a preservação desse monumental ativo que é a floresta. Do jeito que as coisas vão, nossa cultura desenvolvimentista se assemelha a uma praga de gafanhotos. O economista Ladislau Dowbor, da PUC (SP), resumiu em uma frase essa sanha de crescimento insustentável: “Crescer por crescer é a filosofia da célula cancerosa”.

Falando em água, as pessoas só economizam mesmo quando há risco eminente de uma crise. Esse “empurrar com a barriga” é característica da nossa cultura?

O Brasil é imenso, ocupa um território continental e isso explica o chamado “mito da abundância”, quando nos percebemos em “berço esplendido” vivendo no país que detém 12% da água doce do planeta. Ocorre que 70% de toda essa água estão concentrados na Região Norte, onde vivem apenas 7% da população. Ou seja, a escassez de água doce no Brasil é real e mensurável, e com a mudança do ciclo da chuva esse cenário tem se agravado.

Tive a honra de entrevistar um dos maiores hidrologistas do mundo, o saudoso professor Aldo Rebouças, da USP. Ele me disse que os países não são reconhecidos pela quantidade de água que têm, mas pelo uso que fazem dela. Israel é um país pequeno, tem metade de seu território situado em uma região desértica, e virou referência em dessalinização da água do mar e tecnologias de irrigação.

Me pergunto quantas crises precisaremos atravessar até aprendermos a usar com cuidado a água que temos. Lavagem de calçada com mangueira e ducha grátis em posto de gasolina (com água potável) são considerados crimes em outros países.

Fale um pouco de Niterói, onde o reúso de águas cinzas é lei.

Niterói depende de um único rio para abastecer 500 mil habitantes. A mudança do ciclo da chuva e a depredação da bacia hidrográfica inspiraram a aprovação de uma lei que tornou obrigatória a instalação nas novas edificações de hidrômetros individuais, coleta de água de chuva e de águas cinzas (água ensaboada da pia, chuveiro, tanque e máquina).

As águas coletadas são tratadas e recirculam nos condomínios como “água de reúso”, usadas para vasos sanitários, rega de jardim, lavagem de pisos etc. Usa-se, portanto, menos água potável (cada vez mais cara) para fins não nobres. O bolso agradece e a demanda de água dos mananciais se reduz drasticamente.

A Amazônia é um monumental ativo que precisa urgentemente ser protegido

Qual o futuro do Brasil na área ambiental? O que esperar da política do governo Bolsonaro para o meio ambiente?

Entre os aliados do presidente eleito encontram-se as principais lideranças da bancada ruralista, que defendem – entre outras ideias – a flexibilização da legislação ambiental e dos mecanismos de fiscalização e licenciamento. Mas boa parte do mercado internacional já sinalizou que poderia suspender a importação de grãos e de proteína animal se esses produtos determinarem o avanço do desmatamento ou o desrespeito aos direitos das comunidades indígenas.

Entendo que a expansão da fronteira agropecuária poderia acontecer sem qualquer novo desmatamento. Considerando apenas a área de pasto degradado, o Brasil já soma aproximadamente 50 milhões de hectares, o que equivale a duas vezes o Estado de São Paulo. O desenvolvimento não precisa ser sinônimo de destruição. Dá para fazer diferente. Espero que o presidente eleito siga nesta direção.

Como desenvolver um modelo de educação para sustentabilidade?

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC já consideram o meio ambiente um assunto transversal que deve ser abordado pelos professores em sala de aula. Mas precisamos avançar mais.

A singularidade do Brasil perante o mundo (somos o país com maior estoque de água doce, solo fértil e biodiversidade) deveria inspirar uma abordagem estratégica sobre as vantagens do desenvolvimento sustentável. Defendo também a prática da coleta seletiva em todas as escolas, visitas guiadas a aterros sanitários, estações de tratamento de água e de esgoto, e conteúdos criativos sobre a urgência do consumo consciente.

A gravidade da crise ecológica precisa ser objeto de atenção nas escolas, do contrário formaremos novas gerações de analfabetos ambientais. O conhecimento pode nos livrar do risco do colapso.

Em São Paulo e no Rio temos exemplos de grande descaso ambiental: os rios Pinheiros e Tietê e a Baía da Guanabara. O que poderia solucionar?

Por incrível que pareça, tanto nos casos dos rios Tietê e Pinheiros, quanto na Baía de Guanabara, houve avanços na redução dos esgotos despejados. No caso do Tietê, há hoje 122 km de mancha de poluição (em 2010 essa mancha era de 243 km).

Em apenas um ano, a mancha foi reduzida em 8 km. Na Baía de Guanabara, as novas estações de tratamento de esgoto reduziram o despejo de matéria orgânica em uma escala que tornou possível mergulhar sem riscos, dependendo do dia, em algumas praias da Ilha de Paquetá. É evidente que a situação ainda é preocupante e há muito que fazer. É preciso cobrar resultados com veemência. Os avanços são lentos e tímidos. Mas estão acontecendo.

André Trigueiro, em reportagem

André Trigueiro é o principal jornalista ambiental do Brasil

Fale um pouco sobre o ecocídio no Brasil. E qual é o país que você admira, pelo trabalho de proteção ao meio ambiente?

Uma possível definição sobre ecocídio seria a obstinação de uma coletividade reproduzir hábitos, estilos de vida e padrões de consumo insustentáveis, mesmo sabendo que eles podem levar ao colapso da civilização.

A verdade é que não se muda cultura por decreto. Não depende apenas dos governos, mas das empresas, do terceiro setor, das lideranças sociais e religiosas etc. Ocorre que, pela primeira vez na história da humanidade, precisamos fazer as escolhas certas em um intervalo de tempo curto.

China e Alemanha impressionam pelo empenho em investir em fontes limpas e renováveis de energia. A Califórnia, nos Estados Unidos, tem varias ações que vão nessa direção do senso de urgência. Florianópolis, para dar um exemplo daqui, tornou-se a primeira cidade “lixo zero” do Brasil, ao aprovar uma lei que reduz o envio de resíduos para aterros sanitários, estimulando a reciclagem e a compostagem.

O que você faz em seu dia a dia para tornar sua vida mais sustentável e verde?

Procuro ser um consumidor consciente evitando excessos e desperdício. Discrimino plástico descartável em todas as suas resoluções, uso copo retornável de água, não uso canudo e rejeito embalagens de isopor. Sou lixo zero dentro de casa porque separo materiais para reciclagem, crio minhocas que transformam lixo orgânico em adubo e pago R$ 60 por mês para a organização Ciclo Orgânico levar o que as minhocas não dão conta de digerir (6 kg de matéria orgânica por semana).

Esse material é levado de bicicletas para compostagem e é devolvido para mim na forma de adubo no fim do mês. Tenho um carro mil cilindradas que não lavo (no máximo uma vez por ano e com água de poço) e só abasteço com etanol por ser menos impactante para o clima. Não consigo me deslocar de bicicleta no Rio por causa dos meus trajetos e do trânsito enlouquecido e ameaçador da cidade.

Você lançou em 2017 um livro sobre suicídio. O que o motivou a mergulhar nesse assunto?

Quando lancei o livro “Viver é a Melhor Opção” (Editora Correio Fraterno), com 100% dos direitos autorais para o CVV (Centro de Valorização da Vida), muita gente estranhou porque esperava mais um livro sobre sustentabilidade.

Para mim, não houve mudança de assunto. Entendo que o suicídio é o mais grave desastre ambiental que existe, que o meio ambiente começa no meio da gente, e que a defesa da vida se resolve no macro (prevenção do ecocídio) e no micro (prevenção do suicídio). Entendo que a vida é sagrada, um bem precioso e inestimável, e que vivemos um tempo em que a psicologia e a psiquiatria desenvolveram importantes recursos terapêuticos para nos ajudar em momentos de crise. Quem sofre a ponto de pensar em abandonar a existência precisa de ajuda.

O CVV disponibiliza por telefone, pela internet ou presencialmente o precioso recurso da escuta amorosa, com atenção e respeito. É um trabalho reconhecido pelo Ministério da Saúde como de utilidade pública, porque o desabafo pode, muitas vezes, evitar tragédias. São três milhões de atendimentos gratuitos por ano, pelo número 188. A organização precisa urgentemente de mais voluntários para dar conta dos chamados. Fico feliz por ajudar a divulgar esse belo serviço de apoio emocional e prevenção do suicídio.