Dupla do vôlei de praia, Ágatha e Duda, conta como foi a preparação para as Olimpíadas de Tóquio

por | jun 30, 2021 | Entrevista, Pessoas & Ideias, Saúde & Bem Estar | 0 Comentários

Favorita em Tóquio, a dupla do vôlei de praia Ágatha e Duda teve bons resultados em circuitos nacionais e mundiais e segue focada para trazer mais medalhas para o Brasil.

A sergipana Eduarda dos Santos Lisboa é uma atleta prodígio no vôlei de praia. Cinco anos depois de iniciar na modalidade, aos 9 anos, na escola de vôlei de sua mãe, a ex-jogadora Cida Lisboa, ela se tornou a primeira a disputar, em um mesmo ano, os campeonatos mundiais de base de três idades diferentes. Conquistou um título sub-19 e um vice-campeonato sub-23. E não parou por aí. Em 2019, aos 20, Duda – como ela é conhecida no esporte – tornou-se a atleta mais jovem a levantar o troféu de campeã do Circuito Mundial.

Mais ainda: foi eleita a melhor atleta do mundo do vôlei de praia naquele ano. “O fato de sua mãe ter sido jogadora e de Duda, desde pequena, acompanhá-la nos torneios fez com que ela naturalizasse a competição”, opina Ágatha Bednarczuk, sua atual parceira na praia. “Aquele glamour que as meninas enxergam quando começam a jogar etapas do circuito brasileiro ou do mundial, sempre foi minimizado por Duda, porque ela já estava acostumada ao ambiente.”

 

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

 

Paranaense de 38 anos, Ágatha – que, ao lado de Duda, 22, forma a dupla de vôlei de praia brasileira com maior chance de medalha em Tóquio – é também jogadora de altíssimo nível e chega para a sua segunda edição olímpica como favorita por ter conquistado a medalha de prata nos Jogos do Rio de Janeiro. Em 2020, Ágatha e Duda venceram nove etapas do Circuito Brasileiro de vôlei de praia. Este ano, outras três em cinco finais que disputaram.

A seguir, a dupla formada em 2017 – líder do ranking do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia e primeira colocada do ranking de entrada do Circuito Mundial de Vôlei – abre o jogo, divide suas trajetórias e relata como foi a preparação em tempos de pandemia.

 

Ágatha e Duda chegam à final do Mundial em Cancún e levam a prata - Foto: Alejandro Gutiérrez Mora

Ágatha e Duda chegam à final do Mundial em Cancún e levam a prata – Foto: Alejandro Gutiérrez Mora

 

Como o vôlei de praia entrou na sua vida?

Ágatha: Iniciei no vôlei aos 5 anos, jogando na quadra. Eu e muitas garotas da minha geração somos atletas de quadra que migraram para a praia. Ainda mais porque sou do Sul, onde não havia centros de treinamento de praia, como encontramos facilmente no Rio de Janeiro e no Nordeste do Brasil. Eu me tornei atleta de vôlei de praia somente aos 18 anos. A Duda, por outro lado, já nasceu no esporte como atleta da praia. A mãe dela tem uma quadra de vôlei do lado da casa onde mora, em Aracaju, e foi técnica da Duda desde quando a filha era pequena. Muitas atletas já haviam jogado contra a mãe dela, que já brincava de vôlei com a Duda.

Você impressiona pelos títulos individuais e os que conquistou com a Ágatha. Foi eleita a melhor atleta do mundo, aos 20 anos. Como encara isso tudo?

Duda: Os feitos que conquistei vieram rapidamente. Eu não percebia a minha idade. Perdi, naturalmente, um pouco da minha juventude. Por exemplo, eu estudava à distância. Por outro lado, crescer no esporte era um desejo meu. Não fui forçada por ninguém. Tenho psicólogo, faço terapia e sempre respeitei as minhas limitações e o desenvolvimento do meu corpo. Assim, fui encarando as dificuldades e aprendi a andar com as próprias pernas. O esporte também acelera o nosso amadurecimento.

 

Ágatha no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Cancún, neste ano.   - Foto: Alejandro Gutiérrez Mora

Ágatha no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Cancún, neste ano. – Foto: Alejandro Gutiérrez Mora

 

Como você lidou com o cancelamento e, posteriormente, o adiamento dos Jogos Olímpicos?

Ágatha: Foi impactante, primeiramente. Imaginava que aconteceria o adiamento, porque muitos eventos seguiam esse curso. Mas eu sou uma atleta que procura sempre o lado positivo das coisas. Passamos a procurar soluções para o time ficar melhor com um ano a mais pela frente de preparação. Eu e a Duda ficamos longe uma da outra durante três meses e voltamos a trabalhar juntas em junho de 2020. Foram surgindo um torneio, em setembro, na Holanda, o Circuito Brasileiro e, neste ano, o internacional. A pandemia veio para que a gente enxergasse o hoje. Não dava mais para fazer planos. Tiramos o foco da Olimpíada. Isso fez com que a gente não sentisse tanta ansiedade. Funcionou. Jogamos oito torneios, vencemos seis e ficamos com a prata em outros dois.

O fato de ser sua primeira Olimpíada e o torneio ser realizado em Tóquio exige de vocês uma atenção especial?

Duda: Jogamos em Tóquio, em 2019. Era um torneio que serviu de ensaio de como será a Olimpíada. Fomos campeãs. Deu para perceber o clima, que é muito seco e varia muito. Ou seja, vamos precisar nos hidratar o tempo todo. E o fuso é complicado também. Mas chegaremos doze dias antes do início do torneio. Teremos, portanto, um bom tempo de aclimatação. Os japoneses aproveitam muito o dia, são educados e sempre querem saber se estamos bem, se precisamos de alguma ajuda. Sobre os times adversários, o nosso esporte está muito pareio e é difícil apontar qual dupla será mais complicada para nós.

 

Duda no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Cancún, neste ano. - Foto:  Alejandro Gutiérrez Mora

Duda no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Cancún, neste ano. – Foto: Alejandro Gutiérrez Mora

 

Sua estreia em Olimpíada foi no Brasil, em 2016. Como foi debutar em casa?

Ágatha: Eu não tirava o sorriso do rosto. Quando estou emocionada, recorro à risada e não ao choro, na maioria das vezes. Fomos para a Vila Brasileira que ficava na Urca, mais próxima da Arena onde competíamos, em Copacabana. Chegamos nela três dias antes do início dos Jogos e eu queria conhecer todos os cantinhos da Vila. O primeiro momento de que lembro foi saindo da minha casa, em direção ao Comitê Olímpico para receber os uniformes. Foi muito emocionante provar os uniformes, pegar a mala… estava acontecendo! Eu sorria de felicidade.

Olimpíada é algo tão especial que, por exemplo, o nadador norte-americano Michael Phelps treinou, literalmente, todos os dias durante quatro anos para chegar à Olimpíada de Pequim, em 2008, e fazer história. Tornou-se o recordista de medalhas de ouro (oito) em uma única edição.

Ágatha: Eu li sobre essa história do Phelps. Muitas vezes, a gente tem essa dedicação sem mesmo saber se irá à Olimpíada. Eu e a Duda fechamos parceria em janeiro de 2017. As pessoas imaginam, mas, de verdade, não têm ideia o que é um ciclo olímpico, não têm clareza sobre o tanto de abdicações que uma atleta encara. A nossa família sabe, porque perde o convívio conosco. É muita renúncia em relação à vida social, ao convívio com muitas pessoas, a viajar com amigos… Pode esquecer tudo isso! Casamentos, aniversários: a mesma coisa. Ainda bem que o preparador físico da nossa equipe é o meu marido (risos).

 

Ágatha no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Cancún. - Foto: Duda no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Cancún, neste ano. - Foto:  Alejandro Gutiérrez Mora

Ágatha no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Cancún. – Foto: Duda no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Cancún, neste ano. – Foto: Alejandro Gutiérrez Mora

 

O que é peculiar em nosso jeito de jogar vôlei de praia? Como o Brasil se define nessa modalidade?

Ágatha: Ter um país com um litoral extenso ajuda muito. A temperatura faz com que a gente possa praticar o esporte o ano inteiro. Temos um número grande de atletas e assim fica mais fácil de colher frutos para o alto rendimento. Os gringos, no inverno, ou treinam em quadras construídas em lugares fechados, ou viajam para outro lugar para treinar. Treinar em quadra fechada representa uma perda na preparação. E nós sempre contamos com muitos bons profissionais. Nossos técnicos seguem como referência no mundo. Exportamos técnicos mundo afora, hoje em dia. Também contribui o fato de a gente desfrutar há muitos anos de um circuito nacional de vôlei de praia. Isso faz com que a gente jogue o ano inteiro, algo que os gringos não possuem. Lá fora, isso só acontece no verão. Mas é algo que está mudando. Os países de fora estão mais preparados, importando os nossos técnicos, o que faz com que eles entendam mais sobre a modalidade. Os atletas estão mais altos e fortes. Ou seja, é sinal de alerta.

Muita gente cita a sua maturidade, apesar dos 22 anos, como uma característica importante para a sua carreira.

Duda: Eu sempre fui muito apegada a minha família. Prezo muito por isso. Como comecei muito nova no vôlei, logo passei a enxergar a vida como uma pessoa adulta, que já viajava, tinha responsabilidades. Eu amadureci muito. Sinto, logicamente, falta da minha família. Também namoro à distância. E isso tudo, então, dificulta um pouco. Por mais que o Rio de Janeiro, onde moro e treino, seja lindo, sigo muito caseira. Como vim do interior, onde sempre ficava com a minha mãe dentro de casa, continuei assim. Hoje, de tardezinha, tirei um cochilo e pela primeira vez sonhei que eu estava jogando a Olimpíada. No sonho, eu entrava na quadra, era em Tóquio, e tinha público na arquibancada. Aleluia!

Qual é a grande qualidade da Ágatha, sua parceira?

Duda: Ela tem várias. Mas citarei o comprometimento, a dedicação e o foco.

 

Duda no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Cancún. - Foto: Duda no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Cancún, neste ano. - Foto:  Alejandro Gutiérrez Mora

Duda no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Cancún. – Foto: Duda no Circuito Mundial de Vôlei de Praia, em Cancún, neste ano. – Foto: Alejandro Gutiérrez Mora

 

Você tem um projeto de vôlei em Paranaguá, no Paraná. Como surgiu a ideia?

Ágatha: Criei o projeto em 2008, é um centro de treinamento de esportes de areia. Nunca cobramos nada das crianças. Firmamos parcerias com o governo municipal e empresas da cidade. No começo, só ensinávamos vôlei de praia para crianças e adolescentes de 7 a 17 anos. Hoje, também ministramos treinamento funcional para adultos. A ideia, agora, é envolver a família inteira. Fazemos eventos durante o ano inteiro, pensando, principalmente, no que é importante para o crescimento das crianças, como levá-las ao cinema. Mais de 8 mil crianças e adolescentes já passaram por lá.

Onde você exibiria uma possível medalha olímpica?

Duda: Como moro de aluguel no Rio de Janeiro, queria ter um espaço em uma propriedade minha para exibir a medalha, seja qual for. Hoje, deixo com o meu pai, que guarda todos os meus prêmios no meu quarto, em Sergipe.

Onde está a sua medalha de prata olímpica? Como lida com a possibilidade real de ganhar o ouro dessa vez?

Ágatha: A prata está emoldurada em um quadro e fica exposta na parede do escritório de casa. Antigamente, eu a guardava em uma caixinha dentro do armário por medo de perdê-la. Mas aí o meu marido insistiu para deixá-la exposta na parede. E concordei. O nosso time, hoje, tem expectativa grande para essa Olimpíada. Mas para conquistar uma medalha, temos de chegar lá no nosso melhor. Se vier o ouro – enfim, a cor que for –, a medalha de Tóquio ganhará um lugar, em casa, ao lado da prata dos Jogos do Rio de Janeiro.

 

Foto: Divulgação

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