Memória viva de Tóquio, primeira cidade asiática a sediar as Olimpíadas

por | jul 8, 2021 | Olimpíadas | 0 Comentários

O legado de primeira cidade asiática a sediar as Olimpíadas, em 1964, deve ser trunfo de Tóquio na edição de 2021.

O desafio de abrigar o maior evento poliesportivo do mundo durante um momento histórico conturbado não é novidade para o Japão. Em 1964, muito antes da explosão do Covid-19, Tóquio sediava os Jogos Olímpicos pela primeira vez – e sob circunstâncias igualmente turbulentas.

 

Tocha olímpica na Olimpíada de Tóquio de 1964 - Foto: Reprodução

Tocha olímpica na Olimpíada de Tóquio de 1964 – Foto: Reprodução

 

“O país tinha acabado de sair arrasado da Segunda Guerra Mundial e, não bastasse, ainda se recuperava dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, em 1945”, comenta Katia Rubio, coordenadora do Grupo de Estudos Olímpicos da Universidade de São Paulo. “Apesar de as Olímpiadas terem acontecido na cidade 20 anos depois dessas fatalidades, o Japão ainda sentia os efeitos”, explica.

O país decidiu transformar a adversidade em potência. O status de sede olímpica serviu de pretexto para que Tóquio fosse catapultada a uma era de modernização sem precedentes. “O grande legado material dos Jogos de 1964 foi o trem-bala, que começou a funcionar na capital nove dias antes do início dos Jogos”, cita a pesquisadora. Foram construídas novas estradas e um monotrilho que liga o Aeroporto Internacional de Haneda ao centro da cidade – e funciona até hoje. “Outra característica que sublinhou as primeiras Olimpíadas de Tóquio foi a ode ao país e à sua cultura”, aponta Katia. O evento, que foi o primeiro da história a ocorrer no continente asiático, marcou a introdução do judô – arte marcial nativa japonesa – no rol de modalidades oficiais.

 

Estádio Nacional construído para a Olimpíada de Tóquio de 1964 - Foto: Reprodução

Estádio Nacional construído para a Olimpíada de Tóquio de 1964 – Foto: Reprodução

 

Para a campanha de 2021, a capital da tecnologia promete uma síntese entre pioneirismo e tradição. Dos 43 espaços reservados para competições, sete foram construídos em 1964 e serão reaproveitados este ano. Juntas, essas instalações formam a “Zona Herança”, região central da vila olímpica, com arenas que contam a memória da cidade.

Mesmo mantendo raízes no passado, a Tóquio de 2021 deve apontar para o futuro. “Tudo indica que essa seja a edição mais tecnológica da história”, prevê Katia. O Japão planeja usar sistemas de reconhecimento facial e rastreamento de atletas no evento. Com o público ainda impedido de acompanhar todas as competições presencialmente, robôs povoarão as quadras, trabalhando como “voluntários” recolhendo bolas e dardos durante as disputas.

Em uma temporada diretamente afetada pela pandemia de Covid-19, o passado retorna ao pódio, e “reconstrução” volta a ser a pauta principal. “É uma nova época, mas o desafio é o mesmo. Nasce mais uma chance de o Japão expor que, além da cultura e do folclore, a luta é a sua grande tradição”, finaliza.

 

obôs da Toyota, desenvolvidos para auxiliar no evento deste ano - Foto: Divulgação

obôs da Toyota, desenvolvidos para auxiliar no evento deste ano – Foto: Divulgação

 

Jogos Pandêmicos

Esta não será a primeira edição dos Jogos Olímpicos realizada durante uma pandemia. Em 1920, as Olimpíadas da Antuérpia aconteceram em meio a um surto global de gripe espanhola. “Essa província da Bélgica já havia sofrido muito com a Primeira Guerra Mundial e a doença veio logo em seguida”, explica Katia. Somadas, as duas tragédias deixaram cerca de 90 milhões de mortos. Para a estudiosa, apesar da similaridade pandêmica, a situação em Tóquio será diferente. “Na década de 1920 não houve tanta comoção dos espectadores ou quebras de expectativa, porque os Jogos não eram o fenômeno social e mobilizador que são hoje. O sentimento olímpico é uma repercussão atual e o fato de o evento não ter público deve fazer muito mais falta este ano”, explica.

 

Ginásio Nacional Yoyogi, projetado por Kenzo Tange, construído para os Jogos de 1964, e será novamente palco da Olimpíada. - Foto: Arne Müseler

Ginásio Nacional Yoyogi, projetado por Kenzo Tange, construído para os Jogos de 1964, e será novamente palco da Olimpíada. – Foto: Arne Müseler

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