Eduardo Sterblitch mostra que é um ator completo no musical “Beetlejuice” e em personagens mais dramáticos

por | out 31, 2023 | Cinema, Cultura, Entrevista, Espetáculos, Pessoas, Pessoas & Ideias | 0 Comentários

Encabeçando o elenco de um musical inspirado na comédia “Os Fantasmas se Divertem”, Eduardo Sterblitch mostra que é um ator completo. Versátil e multitalentoso, fora do palco ele investe em personagens menos cômicos e mais dramáticos, como o policial Sérgio na série “Os Outros” e o bandido Hermógenes, em uma inovadora versão para o cinema da obra de Guimarães Rosa

Em 1988, Michael Keaton interpretou o aloprado fantasma Beetlejuice no filme “Os Fantasmas se Divertem”, dirigido pelo excêntrico Tim Burton. Trinta anos depois, em 2019, o filme inspirou um musical da Broadway, indicado a oito Tony Awards. Até o dia 10 de dezembro, no teatro da Cidade das Artes, quem dá nova vida ao personagem é Eduardo Sterblitch, ator de 36 anos que – não por coincidência – é uma figura excêntrica. No palco, ele atua, canta, dança, emociona e faz rir. Tudo ao mesmo tempo, em uma versão abrasileirada da história do fantasma fanfarrão que “baixa” em um casarão assombrado toda vez que alguém grita o seu nome três vezes.

 

Eduardo Sterblitch como Beetlejuice – foto Leo Aversa

 

Nascido no Rio de Janeiro e conhecido nacionalmente desde que estreou no “Pânico na TV”, em 2009, de lá para cá Edu já mostrou sua verve em várias comédias no cinema e na TV, além de ter feito participações hilariantes e memoráveis em programas como “Amor & Sexo”, “Popstar” e “The Masked Singer Brazil”. Atuou também em uma novela (“Éramos Seis”) e, mais recentemente, começou a interpretar personagens mais sérios, como o policial Sérgio da tensa série “Os Outros” (Globoplay) e o bandido Hermógenes do longa “Grande Sertão: Veredas”, dirigido por Guel Arraes e com estreia prevista para o primeiro semestre de 2024.

Em entrevista à 29HORAS, Eduardo Sterblitch fala sobre sua preparação e seu trabalho de criação para o musical “Beetlejuice”, sobre seus personagens mais “sérios” e sobre a sua estreia como o papai do pequeno Caetano – fruto de seu relacionamento com a artista plástica e atriz Louise D’Tuani. Confira os principais trechos dessa conversa nas páginas a seguir.

 

Com Tatá Werneck na série “Shippados” – foto Estevam Avellar | TVGlobo

 

Você se define como comediante, ator, apresentador, performer, gênio ou apenas um cara meio abestado?
Eu prefiro não me definir, mas me identifico como um criativo. No fundo, o que eu quero ser é um artista brasileiro. Penso que os artistas brasileiros são os melhores do mundo, porque eles têm uma habilidade muito grande de lidar com o erro e possuem uma enorme capacidade criativa.

Reza a lenda que o seu interesse pelo humor e pela atuação surgiu quando você se encantou com o show da dupla de palhaços Xuxu & Xuxuzinho, contratada para animar a festinha do seu 3º aniversário – pelo menos é isso que consta no seu verbete na Wikipedia! Você tem alma de palhaço?
Eu sou um palhaço, com certeza – estudei para ser palhaço! Sou um palhaço quando exploro o humor físico, que não é tão falado. Eu recorro a essa formação em todos os meus trabalhos, todos os meus personagens têm um pouco desse palhaço que tenho dentro de mim. Até os dramáticos.

 

Eduardo na competição musical “Popstar” – foto RaphaelDias | TVGlobo

 

Agora no musical “Beetlejuice”, o que você traz da sua personalidade para o personagem? O diretor do espetáculo, Tadeu Aguiar, disse que “a montagem tem um olhar brasileiro, um humor nosso, de artistas com características histriônicas”. De que forma a sua excentricidade e sua loucura enriquecem o personagem?
O conceito da composição do meu Beetlejuice tem como base a mistura de todos os personagens que existem dentro de mim, que podem existir dentro de mim. Meu fantasma nesse musical é a mistura de todas essas vozes, timbres, gestos, energias, ritmos e dinâmicas. Foi essa a sacada que eu tive para criar o meu Beetlejuice, um personagem cheio de camadas. O do filme é uma coisa, o da Broadway é outra e o daqui da montagem brasileira é uma terceira versão – cada uma com suas peculiaridades.

Foi difícil para você chegar a um bom resultado ao misturar interpretação, canto e dança no palco, tudo ao mesmo tempo?
Sou de uma geração formada no Tablado. Minha tia era professora e dava aulas lá. Ela sempre repetia que ‘o artista completo tem de saber cantar, dançar e interpretar’. Tento muito fazer tudo isso – que nem os palhaços, que têm de saber fazer cascata, acrobacias e tocar um instrumento. No palco, eu me esforço ao máximo para fazer de tudo, para ser um artista o mais completo possível e encher de orgulho os meus ancestrais. A preparação para esse espetáculo foi como a de um verdadeiro atleta, bem puxada – até para que tenha fôlego, não faleça ou me lesione e possa cumprir a missão durante toda a temporada.

Em “The Masked Singer”, “Amor & Sexo” ou mesmo em “Shippados” e “Éramos Seis” deu para perceber que você é um mestre no improviso e nos chamados “cacos”. Você gosta de atuar sempre com essa liberdade total? E como está se saindo em um musical, em que tudo é cheio de marcações e praticamente não dá para sair do script?
Acho importante você estar muito dentro do roteiro, do script, da direção e de tudo o que está acontecendo para que o “caco” surja naturalmente. Eu me esforço para estar sempre absolutamente seguro do texto para que o improviso faça sentido e não seja só uma brincadeira aleatória, mas ajude a dar um respiro e enriqueça a história que está sendo contada. E “caco” não é necessariamente alguma palavra ou algo a ser dito. Pode ser uma forma diferente de se movimentar, de parar, de encostar no cenário. Para mim, é um recurso importante para evidenciar que o ator está vivo em cena, não é um ser que trabalha de forma repetitiva e mecânica.

 

Eduardo Sterblitch no programa “The Masked Singer” – foto Mauricio Fidalgo | TVGlobo

 

Já na série “Os Outros”, da Globoplay, você interpretou o ex-policial Sérgio, um personagem-chave nessa trama que é bem séria, sem espaço para o humor. Foi difícil segurar a onda, ainda mais para você, que é um cara engraçado?
Ao contrário do que muita gente pensa – assim como você –, eu não sou um cara naturalmente engraçado. Sou uma pessoa extremamente infantil, e talvez essa minha criança interior bem presente passe aos outros a falsa impressão de que sou divertido e brincalhão desde o momento em que acordo e até a hora em que vou dormir. Eu apenas sou livre, faço o que estou a fim, sem muitos bloqueios. Não ligo para o que a sociedade pensa de mim. Aliás, acho a sociedade absurda e só trabalho para ela! A trama de “Os Outros”, naquele condomínio surreal, é uma amostra perfeita desse absurdo todo. Mas, voltando à sua pergunta, para mim é mais fácil fazer um personagem dramático do que um na chave do humor. Afinal, o drama está muito mais presente nas nossas vidas, não é?

 

Na série “Os Outros” – foto Joao Miguel Junior | TVGlobo

 

Esse mesmo tom dramático também é a tônica da versão moderna de “Grande Sertão: Veredas”, que você acaba de rodar com Caio Blat, Luiza Arraes e Luis Miranda, não? O que podemos esperar da sua atuação como o bandido Hermógenes e desse filmaço dirigido por Guel Arraes, ambientado nas periferias urbanas da atualidade?
Em “Grande Sertão” a proposta é mais operística, é uma saga, uma coisa mais “hiper”. É supersônica, é uma linguagem diferente e muito instigante. É difícil de achar o tom certo, e para mim foi um desafio muito maneiro de encarar, quase uma guerra mesmo. Essa ideia de transpor a trama – que originalmente é ambientada no sertão mineiro – para uma comunidade periférica chamada Grande Sertão, que é supervigiada e militarizada, foi simplesmente genial! Meu personagem, o Hermógenes, que também é conhecido como “Demo”, é um diabo que toca o terror na área. Tive que mudar meu corpo, fiquei fortão para dar vida e veracidade a esse vilão da história.

 

No filme “Grande Sertão” – foto divulgação

 

Em março deste ano, você e sua esposa [a atriz e artista plástica Louise D’Tuani trouxeram ao mundo o pequeno Caetano. Como você está se saindo no papel de pai?
É muito bom ser pai e estou fazendo o possível para me sair bem, estou dando tudo de mim. Acho que não estou indo mal, mas a verdade é que só vai dar para saber se estou desempenhando bem esse papel quando o Caetano crescer. Apenas ele está habilitado para avaliar a minha performance. A opinião dele é a que interessa. A minha não vale nada, não importa.

 

Louise D’Tuani, sua esposa, com o filhinho do casal, Caetano – foto Reprodução Instagram

 

Olhando para trás, você tem mais orgulho ou arrependimento de ter participado do “Pânico na TV”? Quais são as melhores lembranças que você tem daquele período e como você avalia os posicionamentos reacionários que aquela turma acabou assumindo nesses últimos anos?
Eu amo ter o “Pânico na TV” no meu currículo, tenho muito orgulho de ter feito parte daquele fenômeno. Foi a minha faculdade na televisão, entrei com 17 anos e foi lá que comecei a editar, escrever roteiro, dirigir, produzir e atuar, sempre com total liberdade. No ar, a gente não contava uma piada, a gente “sangrava” ela, muitas vezes extrapolava e passava dos limites, mas depois pedia desculpas no ar e seguia em frente. Tenho muitas lembranças maravilhosas daquele período, e alguns traumas – mas eu coleciono traumas de todo lugar: da faculdade, da vida amorosa, do trabalho… Enfim, sou muito grato por tudo que eu aprendi e vivi lá. Quanto aos recentes posicionamentos políticos da turma, prefiro não opinar.

 

Como Freddie Mercury Prateado, do “Pânico” – foto Mauricio Fidalgo | TVGlobo

 

E agora, olhando para a frente, onde você imagina que o Eduardo Sterblitch estará em 2033? Ele será visto recebendo um prêmio na cerimônia do Oscar, vai comandar um talk-show dadaísta no Metaverso ou estará morando em um sítio em Lumiar, se divertindo com seus sete filhos?
Cara, adorei essa ideia de fazer um talk-show dadaísta no Metaverso! Mas acho que ficaria ainda mais interessante se ele fosse transmitido direto de um sítio em Lumiar inserido dentro do ambiente do GTA [Grand Theft Auto] e com todos os meus nove filhos ao redor. Na verdade, o que eu quero é estar trabalhando, realizando sonhos que ainda nem cheguei a sonhar. Quero ser surpreendido e surpreender. E para isso preciso ter ideias, trabalhar para seguir em frente, sem perder a pedalada do mundo. Quero estar criativo e conseguindo me comunicar com a galera. Quero fazer todo mundo se divertir, se sentir provocado, se emocionar, se inspirar… A vida é muito pouco revolucionária, então cabe a nós, artistas, criar algumas cenas e canções para – de alguma forma – driblar o inexorável tédio.

“Beetlejuice, o Musical” na Cidade das Artes
Avenida das Américas, 5.300, Barra da Tijuca, tel. 21 3328-5300.
Sessões de quinta a domingo até 10 de dezembro. Ingressos de R$ 100 a R$ 300.

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